Como também na semana [veja aqui] e mês anteriores [veja aqui], o presidente descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 08/05, repetiu que faria churrasco no Planalto durante o fim de semana [veja aqui], dizendo: ‘só estou convidando a imprensa. Já tem 180 convidados’ [1]. No dia seguinte, disse que era ‘fake’ o evento e criticou partido que ajuizou ação para sua sanção em razão do evento [2]. Também passeou de jet ski no Lago Paranoá e afirmou que Brasil vive neurose, voltando a repetir que 70% dos brasileiros pegarão o vírus [3] [veja aqui]. Neste mesmo dia, o país atingiu a marca de 10 mil mortos por coronavírus [4] e as cúpulas do Legislativo e do Judiciário decretaram luto [5]. Em 11/05, só após ser questionado sobre a marca de 10.000 mortes, o presidente disse que lamenta [6]. Nesse mesmo dia, ao comentar medida de lockdown em Recife, ele defendeu sua incorreção, repetindo que o vírus vai atingir 70% da população [7]. Em 12/05, voltou a repetir a cota dos 70%, de modo a diminuir a importância das medidas de isolamento social [8]. No dia 14/05, em reunião com empresários, criticou governadores e sugeriu pressão contra medidas de quarentena [veja aqui]. Entre 08 e 14/05, o número de infectados pela covid-19 subiu de 146.894 [9] para 203.165 [10] e as mortes somaram 13.999 pessoas [11], de acordo com dados das Secretarias Estaduais de Saúde.
Leia as análises sobre as declarações sem provas do presidente durante a pandemia e de onde vem o percentual de 70% de infectados, que o presidente sempre menciona.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.