O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, propôs audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) para discutir as alegadas “implicações psicossociais” que a boneca Barbie em homenagem a atriz Laverne Cox poderia causar em crianças [1]. A justificativa para o pedido é o de que o brinquedo ‘incorre num liberalismo teratológico que servirá para confundir as crianças sobre a natureza dos gêneros masculino e feminino, pois mulheres e homens são diferenciados pela própria natureza’ [2]. Além disso, o deputado diz que ser trans é uma ‘opção tardia’ [3] e acusa, equivocadamente, que a Barbie viria com ‘órgão sexual masculino [4]. A Comissão aceitou o pedido de Otoni [5]. O deputado propôs chamar o dono da empresa Mattel e membro do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos para debaterem [6]. A pasta é liderada por Cristiane Britto, que assumiu após Damares Alves deixar o posto que ocupou durante todo o governo para se candidatar ao Senado [7]. A deputada Vivi Reis (PSOL-PA) critica o requerimento e acusa os deputados de promoverem fake news e equipara o ato do bolsonarista com outros episódios de notícias falsas: ‘tentaram há um tempo falar de mamadeira de piroca, de kit gay, e agora vem com a história da Barbie com órgão genital para querer desviar a atenção dos reais problemas do país’ [8]. A Barbie, apresentada dias antes pela empresa Mattel, foi a primeira boneca trans da sua linha, desde a criação da marca [9]. A artista, atriz, produtora, escritora e ativista dos direitos LGBTQIA+, Laverne Fox, foi escolhida ‘pela Barbie® por toda a sua contribuição, impacto, autenticidade e legado’, segundo a empresa, que tem lançado bonecas que expressam a beleza da pluralidade, como o lançamento da Barbie com aparelho auditivo e do Ken com vitiligo [10]. A Barbie atacada pelo deputado faz parte da linha “Collection Tributo”, que celebra a história de mulheres visionárias em todo o mundo [11]. No Brasil, a previsão é que a sua venda inicie a partir de junho [12]. O governo Bolsonaro e seus aliados no Congresso já atacaram ações privadas de promoção à diversidade de gênero e sexual, como quando vetou campanhas publicitárias inclusiva de banco [refid=319]. Além disso, já atacou a comunidade LGBTQIA+ criando ou difundindo notícia falsas, por exemplo, quando a ex-ministra Damares Alves defendeu que discutir gênero é causa de sofrimento em jovens [veja aqui], Bolsonaro acusou a esquerda de tentar legalizar a pedofilia [veja aqui].