O presidente afirma em entrevista a programa da TV Bandeirantes que o novo coronavírus não teria potencial para matar pessoas. Em analogia com a chuva, defende que ‘o vírus é igual a uma chuva. Ela vem e você vai se molhar, mas não vai morrer afogado’ [1]. Na entrevista, Bolsonaro reconhece que pessoas mais pobres podem ter maior vulnerabilidade ao vírus, já que seriam ‘fracas por natureza, dada a falta de uma alimentação mais adequada’ [2]. O tom discursivo mudou em relação pronunciamento do dia anterior [veja aqui], em que o presidente pediu união e admitiu que o vírus é uma realidade. Essa manifestação se alinha ao pronunciamento de 24/03 do presidente, que gerou grande repercussão negativa em razão das diretrizes anti-isolamento social [veja aqui]. Dois dias depois da declaração, ele voltou a fazer a analogia a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, dizendo que 70% da população seria infectada e que ‘a sociedade não aguenta ficar dois, três meses parada, vai quebrar tudo’ [3]. Na ocasião, o presidente aproveitou para criticar João Doria, declarando que o governador de São Paulo estaria fazendo ‘terrorismo’ ao cobrar medidas do governo federal [4].
Leia as análises sobre a postura do governo Bolsonaro na crise e seu consequente isolamento e estudos sobre os efeitos positivos do isolamento social.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.