O Comando do Exército, órgão do Ministério da Defesa, baixa Portaria [1] que revoga três outras anteriores sobre identificação, rastreamento e marcação de armas sob determinação do presidente. Segundo Bolsonaro, as Portarias deveriam ser revogadas por não seguirem suas diretrizes [2]. Um dos responsáveis por sua edição é exonerado também [veja aqui]. A primeira das Portarias [3] criava sistema (SisNaR) [4] com o objetivo de fiscalizar e rastrear os produtos Controlados pelo Exército (PCE). A segunda Portaria [5] previa a definição de dispositivos de segurança e de identificação de armas de fogo e estipulava critérios mínimos para fabricantes, comercializadores e importadores formarem banco de dados sobre comercialização de armas e seus adquirentes. A última delas [6] regulava a marcação e rastreamento de embalagens e cartuchos de munição. Após as revogações, a Procuradora Regional da República Raquel Branquinho (PFDC/MPF) [7] e o 7ªCCR/MPF [8] solicitam a abertura de investigações e requerem informações diretamente ao Comando do Exército [9]. Em 22/04, o Ministério da Defesa e da Justiça e Segurança Pública edita outra Portaria na agenda armamentista [veja aqui]. Em 28/04, o Comando do Exército diz que revogou as Portarias para atender a demandas da ‘administração pública e mídias sociais’ ao MPF [10]. No mês seguinte, ao menos duas ações são ajuizadas por partidos da oposição no STF contra a Portaria revogatória [11] [12] por partidos da oposição e o MP junto ao Tribunal de Contas da União requer investigação do caso [13]. Contam-se também mais de 70 projetos legislativos que discutem a matéria armamentista, desde a série de decretos e portarias [veja aqui] editadas pelo governo federal no ano passado sobre o assunto [14]. Em 27/05, o Exército dá explicações ao STF, dizendo que as portarias poderiam ‘inviabilizar economicamente’ o setor [15] e é criticado por Ministro do Tribunal e por organização do terceiro setor [16]. Em agosto, a Controladoria Geral da União nega recurso para acesso à informação sobre a fundamentação da revogações e o processo de edição das portarias pelo Exército; tal postura seria extremamente grave, dada a ausência de marcação de armas e descontrole no setor desde a revogação dessas portarias [17] e instituição aponta explicações discrepantes do Exército para a revogação das normas [18]. No mês seguinte, pedido de acesso à informação revela que o sigilo teria sido mantido para evitar uma crise ‘institucional e midiática’ [19] e parte dos documentos é revelada, indicando que o governo contrariou estudos técnicos do Exército para revogar as portarias [20]. Dez meses depois, em fevereiro de 2021, o país ainda carece de novas normas, perdurando as lacunas no controle de artigos bélicos e impedindo o aprimoramento de regras para rastreio e identificação de armas de fogo e munições [21]. Em abril, completa um ano do cancelamento das normas e da falta de novas portarias [22].
Leia as análises sobre o conteúdo das portarias revogadas, as implicações a favor de milícias das revogações, a suspeita de interferência indevida, a comparação entre controle de armas antes e após o primeiro ano do governo Bolsonaro, as investidas armamentistas do presidente na pandemia e os retrocessos que as revogações indicam.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.