Pouco mais de dois meses após assumir a Secretaria Especial da Cultura, Regina Duarte é a quarta funcionária do alto escalão do governo dispensada durante a pandemia; com sua saída, Jair Bolsonaro lhe promete cargo na Cinemateca Brasileira [1]. Durante a crise da covid-19, Duarte deu declarações contrárias ao isolamento social [veja aqui] e, em entrevista, relativizou as torturas ocorridas durante a Ditadura Militar [veja aqui]. A demissão, porém, ocorre por outros fatores – ela vinha se desentendendo com o presidente e desautorizada no cargo [2]. Bolsonaro promete, em post no Twitter, cargo de diretoria a ex-atriz na Cinemateca (órgão voltado à preservação e difusão do audiovisual brasileiro, vinculado ao Ministério da Cidadania e gerido por uma organização social ou OS). Contudo, como a Cinemateca sofreu intervenção do antigo Ministério da Cultura em 2013, o cargo não existiria; ademais, não cabe ao Executivo, e sim à OS, indicar os cargos [3], embora o órgão esteja viculado à União [4]. Apesar disso, a Cinemateca vive crescente ocupação por militares em meio a preocupações com o ‘marxismo cultural’ [5]. Segundo petição virtual, assinada por ex-diretor-executivo da instituição, a entidade está em crise e nenhuma parcela do repasse anual de 2020 foi depositada [6]. Após a saída de Duarte, oficialmente exonerada três semanas depois (em 10/06) [7], o governo federal publica decreto que conclui a transferência da pasta da Cultura para o Ministério do Turismo [8] e, em 23/06, o ex-ator Mario Frias toma posse como novo secretário [9]. Em agosto, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), responsável por administrar a Cinemateca, anuncia a demissão de todos os funcionários do órgão [10].
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