Como no mês anterior [veja aqui], o presidente descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 01/06, disse que ‘apenas’ comparece aos atos pró-governo e contra os outros poderes, não sendo responsável por sua coordenação [1]. Em 02/06, voltou a defender o uso da cloroquina e disse que mortes seriam ‘o destino’ de todos [2]. Na noite desse mesmo dia, disse que não conhece ninguém que faleceu ‘por falta de UTI ou respirador’, que a mídia criou ‘pânico’ [3] e defendeu volta ao trabalho [4]. No dia seguinte, afirmou que o PT estaria tentando impedir o uso da hidroxicloroquina e pôs em dúvida o número de mortes pela doença [5]. Em 04/06, dia em que pesquisa apontou que letalidade da covid-19 no país é de uma pessoa a cada minuto [6], o presidente reforçou seu apoio à cloroquina [7]. Em 05/06, ao ser indagado sobre atrasos de dados da Saúde [veja aqui], ele apenas afirmou que teria acabado ‘matéria do Jornal Nacional’ e que ‘ninguém tem que correr para atender a Globo’ [8]. No mesmo dia, foi visitar o primeiro hospital de campanha federal do país sem máscara [9]. Em 06/06, recusou-se a comentar ausência na divulgação de mortes e casos de covid-19 durante visita a unidade do Exército sem máscara [10] [veja aqui], apesar de ter já compartilhado nota do MS em defesa da nova estratégia [11]. Em 07/06, criticou governadores e disse que ‘onda enorme de desemprego’ estaria a caminho [12]. Entre 01 e 07/06, o número de infectados pela covid-19 subiu de 529.405 [13] para mais de 680 mil pessoas [14] e as mortes somaram mais de 36 mil pessoas [15], de acordo com dados das Secretarias Estaduais de Saúde.
Leia a análise de infectologista sobre o patamar de uma morte por minuto no país.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.