O Ministério da Justiça e Segurança Pública, através de sua Secretaria de Operações Integradas (Seopi), abre ação sigilosa sobre 579 pessoas identificadas como antifascistas [1]. Dentre os investigados encontram-se dois ex-secretários nacionais de segurança pública e um ex-secretário nacional de Direitos Humanos, bem como professores universitários; o dossiê, que não foi confirmado pela pasta, contém fotografias e endereços de redes sociais em alguns casos [2]. Como fonte, o documento teria utilizado manifesto antifascista assinado por servidores da área de segurança pública nas manifestações antifascistas ocorridas em maio [veja aqui] [3]. A Seopi é dirigida por dois funcionários indicados pelo ministro André Mendonça [veja aqui], e seus atos não são acompanhados pela Justiça – um decreto do presidente Jair Bolsonaro a coloca sob o guada-chuva de serviço de inteligência [4]. De acordo com o ministério,ela buscaria informações sobre ‘atos criminosos de qualquer natureza que atentem contra a ordem pública’ [5]. Diversos órgãos teriam recebido o dossiê, incluindo a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência e ‘centros de inteligência’ da Seopi [6]. Entidades da sociedade civil se posicionam contra a ação, assim como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, afirmando que a atitude remonta à ditadura militar [7] e que o dossiê seria uma afronta ao livre pensamento [8]. No legislativo, o partido Rede apresenta ação pedindo abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) [9]; outro parlamentar da oposição representa na Procuradoria-Geral da República contra Mendonça [10]. Cármen Lúcia, ministra do STF, afirma em 04/04 que o dossiê seria incompatível com a democracia e pede esclarecimentos ao governo [11]. Na mesma data, Mendonça troca o comando da Seopi [12]. Dias depois, o ministro presta esclarecimentos no Congresso e lança nota sobre o compromisso de sua gestão com princípios da gestão pública [13]. Em 20/08 o STF determina a suspensão da elaboração dos informes que considera inconstitucional [14][15]. Vale notar outras ações do governo sobre servidores como avisos de monitoramento das redes sociais [veja aqui] e nota técnica afirmando possibilidade de punição por conteúdos publicados [veja aqui]. Em São Paulo, há denúncias de confecção de dossiê contra antifascistas pelo deputado estadual Douglas Garcia (PSL) [veja aqui].
Leia análises sobre os órgãos de inteligência, a posição de André Mendonça, entrevista com um dos investigados do dossiê, reportagem sobre o ministro da Justiça e ouça podcast sobre as ações do governo federal.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.