Um dia após decisão cautelar [1] do ministro relator do inquérito de fake news no Supremo Tribunal Federal (STF) [veja aqui], Alexandre de Moraes, determinando bloqueio de perfis em redes sociais de aliados do governo Bolsonaro – que vão desde influenciadores a empresários e envolvem até um político e assessores de deputado [2] – o presidente da República, Jair Bolsonaro, ajuíza uma ação [3] no STF, sob representação do Advogado-Geral da União. Ao fundamentar sua decisão, Moraes afirmou a necessidade de coibir discursos de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra institucional democrática [4]. Já o presidente argumenta que o tribunal deveria garantir a liberdade de expressão e eliminar a censura prévia de manifestações do pensamento; afinal, seria desproporcional suspender perfis em redes sociais: na prática, isso corresponderia à privação do cidadão de falar [5]. A ação de Bolsonaro é duramente criticada por ministros do STF, parlamentares, juristas e membro do Ministério Público, que enxergam a desvirtuação de funções da AGU e seu uso político, em detrimento do zelo por interesses da União [6] [7]; o caminho certo seria o acionamento do Ministério Público Federal, que defende os interesses de cidadãos [8]. Por outro lado, a medida de Moraes também foi vista como excessiva por ministros [9], que, entretanto, também enxergam que a ação de Bolsonaro não deve ter sucesso. Já a plataforma Twitter [10] deve recorrer da determinação [11]. Outro ponto alvo de críticas ao STF diz respeito à defesa do presidente da corte (Dias Toffoli), da decisão de Moraes, ao dizer que o tribunal serviria como ‘um editor’ do país, em alusão à sua posição como regulador e censor da sociedade [12], o que poderia ser compreensão equivocada do papel da corte [13]. Em maio, Moraes já havia determinado medidas contra os investigados e o presidente declarou seu descontentamento [veja aqui], sugerindo que as ordens seriam absurdas e não deveriam ser cumpridas. O Ministério da Justiça também já se envolveu em outro possível desvio de função, ao impetrar habeas corpus em defesa do ministro da Educação [veja aqui].
Leia as análises sobre os problemas tanto da ação do governo quanto da decisão de Moraes, a instrumentalização da AGU pelo presidente e a visão do STF como ‘editor da sociedade’.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.