Como no mês anterior [veja aqui], o presidente descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 01/07, interagiu com uma família sem máscara [1]. Em 02/07, fez videoconferência sem se atentar às regras de distanciamento social [2]. Em 03/07, encontrou-se com empresários e, novamente, não usou equipamento de proteção [3]. No dia seguinte, causou aglomeração e interagiu com apoiadores em Santa Catarina [4]. No mesmo dia, almoçou com embaixador dos EUA no Brasil e também descumpriu medidas de distanciamento [5]. Em 06/07, disse que a ‘grande maioria [que pegar o vírus] nem vai saber que pegou’ na Frente do Palácio do Alvorada [6]. Em 07/07, o presidente anunciou que contraiu o novo coronavírus e usou seu anúncio para defender o uso de cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada, bem como repetir posicionamentos anteriores, como o de que o vírus é que nem chuva e afetará quase todos [veja aqui], que não tem responsabilidade por definir políticas de isolamento [veja aqui] e que a crise está superdimensionada [7]. Durante o anúncio público de que está com covid, o presidente inclusive retirou sua máscara de proteção [8], o que levou a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) a anunciar que ajuizará ação contra o presidente por colocar a saúde de repórteres [9], bem como deputado da oposição [10]. No mesmo dia, gravou vídeo em suas redes sociais, mostrando como estaria funcionando seu tratamento com cloroquina [11]. Jornais nacionais levantaram que o presidente teria se encontrado sem máscara com ao menos 57 pessoas na última semana [12] – [13] e a mídia internacional frisou sua postura continuada de subestimar a pandemia [14]. Entre 01 e 07/07 o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 1,4 milhão [15] para mais de 1,7 milhão [16] e as mortes atingiram o patamar de cerca de 67 mil pessoas [17], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
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Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.