Na mesma entrevista em que disse que a desigualdade educacional no Brasil ‘não é um problema do MEC’ [veja aqui], o ministro da Educação, Milton Ribeiro, atribui a homossexualidade a ‘famílias desajustadas’ [1]. Ao ser questionado se já teria fornecido diretrizes para a revisão da Base Nacional Comum Curricular, Ribeiro disse que ‘o Enem tem sido um balizador dos conteúdos que a gente requer, porque senão começa a falar lá de ideologia, sabe tudo sobre sexo’ [2]. Já ao ser indagado sobre educação sexual para jovens, o ministro considera importante falar sobre prevenção de gravidez, ‘mas não incentivar discussões de gênero’, pois ‘a biologia diz que não é normal’ [3]. Ele complementa ao dizer que ‘a opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, não concordo’ [4]. O ministro também disse que os jovens que ‘optam por andar no caminho do homossexualismo’ – termo que remete a patologia e abolido há 28 anos pela Organização Mundial da Saúde [5] – tem um ‘contexto familiar muito próximo’ e que seriam ‘famílias desajustadas’ [6]. Questionado se seria contra um professor transgênero na sala de aula, Milton responde que tem ‘certas reservas’, e entende ser válida a revisão de materiais didáticos [7]. Após a entrevista, o senador Fabiano Contarato (Rede) apresenta ação no STF contra Ribeiro por crime de homofobia [8], a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados protocola pedido de impeachment contra Ribeiro na Procuradoria-Geral da República (PGR) [9], e a PGR solicita abertura de inquérito contra o ministro para apurar se o ministro cometeu crime de homofobia [10]. A Advocacia-Geral da União (AGU), responsável pela defesa de Ribeiro, recusa proposta de acordo com a PGR – na qual o inquérito não teria prosseguimento desde que o ministro confessasse o crime e cumprisse com os termos oferecidos pelos procuradores [11]. A AGU defende no caso ‘claríssima ausência’ de crime e diz que Ribeiro já se desculpou publicamente pelo comentário [12]. Em outras ações da gestão Bolsonaro que se alinharam com as falas de Ribeiro, o governo criou comissão para retirar ‘questões ideológicas’ do Enem 2019 [veja aqui]; Bolsonaro pediu ao MEC, em 2019, projeto de lei para proibir ‘ideologia de gênero’ [veja aqui], protocolando versão do projeto no Congresso em 2020 [veja aqui]; e ministro anterior da Educação propôs revisão de livros didáticos [veja aqui]. Em fevereiro de 2021, durante depoimento à Polícia Federal (PF), Milton Ribeiro se desculpa pelas declarações e afirma que não teve a intenção de ‘desrespeitar e de magoar a sociedade brasileira’ [13].
Entenda o papel do STF na contenção ao ataque à ideologia de gênero produzido pelo governo Bolsonaro
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.