Professores afirmam existir proibição da abordagem de determinados conteúdos (racismo, gênero, governos anteriores ou fatos recentes do noticiário) nas salas de aulas dos 14 colégios militares do país [1]. Sob a condição de anonimato, por temerem represálias, eles expõem a existência de procedimentos para controlar os tópicos cobrados em prova: os professores deveriam enviar as provas para avaliação da diretoria com, ao menos, um mês de antecedência e tais ‘processos de prova’ resultariam com frequência em vetos. [2]. Até conteúdos de ciências exatas e biológicas, como, hormônios sexuais do corpo humano teriam sido censurados em provas [3]. Como protesto contra tais medidas, Associação dos Professores do Colégio Militar de Porto Alegre (APROFCMPA) emitiu nota de repúdio, na qual afirma que a censura não corresponde ao que é previsto na legislação e vai contra a liberdade de cátedra [4]. Em 2019, o exército vetou a participação dos estudantes de colégios militares na Olimpíada Nacional de História do Brasil, alegando que a prova tem um ‘viés ideológico conflitante com os princípios do Exército Brasileiro’ [5]. Em junho de 2020, um professor que citou o fascismo foi afastado de um colégio militar [veja aqui]. A militarização do ensino é um dos principais projetos do governo Bolsonaro para educação – o presidente já afirmou que o modelo deve ser imposto às escolas [6], criticou governadores que não aderiram ao projeto de escolas cívico-militares [veja aqui] e disse que tais escolas formariam ‘bom liberal e não um militante’ [veja aqui]. Nesse modelo de gestão civil-militar de escolas, há, inclusive, manual de condutas severo, que instigou críticas ao governo [veja aqui]. Entretanto, mesmo esse setor da educação tem sofrido com cortes de verbas [7]. Recentemente, o governo do Paraná aprovou uma lei estadual para aumentar em mais de 200 o número de colégios cívico-militares no estado [8].
Leia análise sobre a proliferação do modelo das escolas militares e sobre os ataques à liberdade acadêmica no Brasil atual.