Em declaração dada a apoiadores no Palácio do Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro afirma que ‘o Brasil está quebrado’ e que ele não ‘consegue fazer nada’ [1]. O presidente ainda conclui que o coronavírus é ‘potencializado por essa mídia que temos’, que a ‘mídia’ é ‘sem caráter’ e trabalha incessantemente para ‘desgastar a imagem’ do presidente a fim de tirá-lo do cargo [2]. Algumas horas depois da afirmação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que o presidente se referia ‘à situação do setor público’ [3], e afirma que a ‘economia está voltando em V e o setor privado está decolando’ [4]. Além disso, o filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em suas redes sociais, assegura que o ‘Brasil é um dos países que se recupera mais rapidamente do caos econômico gerado pela pandemia’ [5]. A fala do presidente gera reações por parte de jornalistas [6] [7] e economistas especialistas na área [8]. Um economista diz que a afirmação do presidente está errada e que, em uma crise sanitária com tamanha proporção, a população depende de ações governamentais para não ‘morrer na rua’ [9]. Já outra critica a fala do presidente, pois ‘se o país está quebrado é porque nós não fizemos o dever de casa e nos recusamos a fazer alguma coisa agora’ [10]. A fala de Bolsonaro ocorre no mesmo dia em que o Brasil registra aumento 35 mil novos casos da doença e, pela primeira vez em 2021, mais de mil mortes por coronavírus [11]. Um dia após, Bolsonaro ironiza sua colocação e, em meio a risadas, diz que: ‘o Brasil está bem, está uma maravilha’ [12]. Vale lembrar que, em outras oportunidades, o presidente minimizou a pandemia e alegou que a imprensa espalha ‘pânico’ e ‘histeria’ [veja aqui], se negou a falar com jornalistas que, para ele, ‘inventam e aumentam’ [veja aqui], defendeu boicote à mídia [veja aqui] e insistiu na minimização da pandemia para a economia ‘não quebrar de vez’ [veja aqui]. Segundo levantamento de ONG especializada, a família Bolsonaro cometeu ao menos 580 ataques à imprensa em 2020 [veja aqui].
Veja análise sobre cenário econômico brasileiro.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.