Dias antes da eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados (CD), o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), afirma que pretende ‘participar e influir’ na eleição [1]. Os dois principais candidatos da disputa, Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), representam, respectivamente, o apoio e a oposição ao governo no Congresso [2]. Em 28/01, Bolsonaro se reúne com deputados do PSL e afirma que ‘viemos fazer uma reunião aí com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser, participar e influir na presidência da Câmara’ [3]. No mesmo dia, o então presidente da CD, Rodrigo Maia (DEM-RJ), liga para o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e critica a atuação de Bolsonaro, sugerindo interferência do Palácio do Planalto [4]. Maia também diz que a intervenção pode ‘deixar sequelas’ e que o presidente tentaria fazer do Congresso um ‘anexo’ do Planalto [5]. Em reação, Lira afirma que ‘ninguém terá influência’ em seu trabalho, caso seja eleito [6]. Em 01/02, Lira é eleito o novo presidente da CD ainda no primeiro turno, com 302 votos a favor, enquanto Rossi obtém 145 votos [7]. No dia seguinte, Bolsonaro diz que os parlamentares escolheram ‘bons candidatos’ e que ele ficou ‘apenas na torcida’ [8]. O presidente, no entanto, prometeu cargos e apoio na aprovação de emendas e de orçamento a parlamentares do ‘centrão’ em troca de apoio ao candidato Lira, segundo apuração da imprensa [9]. A definição da nova presidência da Câmara gerou expectativa por poder influenciar o prosseguimento ou não de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, uma vez que tal processo depende de atuação ativa do presidente da CD [10]. Bolsonaro acumula mais de 70 pedidos, a maioria relacionada à sua gestão na crise sanitária do coronavírus [11] [veja aqui]. Em outras oportunidades, ele acusou Maia de conspiração [veja aqui], se reuniu com empresários e incentivou embate com governadores [veja aqui], e disse estar convencido de que Maia, Ministros do STF e o governador de São Paulo queriam ‘derrubá-lo’ [veja aqui]. Já o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que Maia estaria ‘perdendo a mão’ em críticas ao governo federal [veja aqui].
Leia análise que aponta como a interferência de Bolsonaro mudou o rumo da eleição para presidência da Câmara