Após governo federal ter gasto mais de R$15 milhões na compra de leite condensado, fato que teve ampla cobertura pela imprensa, o presidente Jair Bolsonaro xinga a imprensa e faz afirmações sem mostrar evidências de sua veracidade [1]. O governo federal utilizou de recursos públicos para comprar mais de R$15 milhões em leite condensado no ano de 2020, valor que foi cinco vezes superior, por exemplo, ao repassado para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para monitorar, via satélite, o desmatamento e as queimadas na Amazônia e Pantanal durante o mesmo período [2]. Os gastos totais do governo federal em 2020 com alimentação ultrapassaram o montante de R$1,8 bilhão e foram amplamente repercutidos pela mídia [3] [4], tornando-se alvo de investigação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), após parlamentares da oposição apresentarem ação ao tribunal [5]. Dias após a repercussão midiática, o Portal da Transparência – que detalha os gastos públicos do governo federal – fica fora do ar [6] e o presidente Bolsonaro, durante almoço com ministros e aliados, ataca a imprensa: ‘Quando vejo a imprensa me atacar dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que o pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado’ [7]. Além dos xingamentos, Bolsonaro afirma que os gastos de seu governo foram inferiores aos realizados pela gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff em 2014, sem apresentar, contudo, evidências da afirmação [8]. Posteriormente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sai em defesa do presidente durante entrevista à rádio Jovem Pan e afirma que a postura ofensiva dele é apenas seu ‘estilo’ de se expressar; Araújo também afirma não considerar sua postura ‘infantil’, após ter dado risada dos xingamentos proferidos por Bolsonaro e incentivado o coro de ‘mito!’ aos demais presentes [9]. Ataques à imprensa tem sido marca do governo Bolsonaro desde o início de sua gestão: em 2019, foram contabilizados ao menos 116 ataques do presidente contra jornalistas [veja aqui], enquanto em 2020 foram ao menos 580 ataques à imprensa por parte de Bolsonaro [veja aqui].
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