Ministério da Saúde (MS) sugere, através do aplicativo ‘TrateCov’ – lançado para auxiliar médicos no tratamento de pacientes que possivelmente contraíram a covid-19 – utilização de hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina para pessoas que apresentem sintomas leves, independentemente da idade ou do contato recente com pessoa infectada, segundo apuração da imprensa nesta data [1]. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, lançou o aplicativo na segunda semana de janeiro, durante visita feita à cidade de Manaus por conta do colapso sanitário [2]. Em um primeiro momento, mais de 340 profissionais da saúde de Manaus são habilitados para utilizar a plataforma [3]. Após o registro das informações do paciente e dos sintomas apresentados, o aplicativo indica se deve ou não ser realizado o ‘tratamento precoce’ e, em caso positivo, quais medicamentos devem ser prescritos e em qual quantidade; se o profissional decidir não prescrever o ‘tratamento precoce’, deve ainda justificar tal opção [4]. Investigação demonstra que, dentre as milhões de combinações de possíveis respostas sobre os sintomas apresentados, apenas 5 apontavam o ‘tratamento precoce’ como desnecessário [5]. O Conselho Federal de Medicina pede, em nota, a ‘retirada imediata do ar’ do aplicativo, apontando que não há reconhecimento científico e internacional sobre o funcionamento dos medicamentos prescritos pelo aplicativo [6]. Outras entidades médicas fazem alertas no mesmo sentido [7]. Parlamentares do PSOL protocolam representação contra Pazuello por conta dos problemas apresentados pelo aplicativo [8]. O Deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) apresenta ação requerendo a retirada da plataforma do ar [9]. O Tribunal de Contas da União (TCU) cobra o MS de sua posição oficial sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, requisitando também informações mais detalhadas sobre o ‘TrateCov’ [10]. Em 21/01, o MS tira o aplicativo do ar [11]. As descobertas sobre o ‘TrateCov’ estão em consonância com atitudes anteriores de Bolsonaro e Pazuello, que, dentre outras situações, atribuíram o colapso sanitário de Manaus à falta de ‘tratamento precoce’ [veja aqui]. Desde agosto de 2020, o MS modificou seu protocolo anterior e passou a orientar a procura precoce de médicos nos casos de apresentação de sintomas leves da covid-19 [veja aqui]. Em janeiro de 2021, apuração apontou outros erros em canais oficiais do MS, que apresentam recomendações erradas e desatualizadas sobre as formas de prevenção à covid-19 [veja aqui].
Leia reportagem que investiga a falta de evidências científicas sobre o tratamento precoce.