Através de portarias assinadas pelo procurador-geral da república, Augusto Aras, o Ministério Público Federal (MPF) prossegue com a transição para o fim do modelo de forças-tarefa na condução de suas investigações [1] [2] [3]. Em comunicado, a instituição divulga a dissolução da força-tarefa da Lava-jato no estado do Paraná a partir desta data [4]. Segundo o comunicado e as duas portarias que o baseiam, datadas de 7/12/20 [5] [6], cinco procuradores integrantes da antiga força-tarefa são incorporados ao grupo de atuação de combate ao crime organizado (GAECO) do Paraná, enquanto outros dez membros permanecem designados à força-tarefa até 31/10/21, mas sem exclusividade, trabalhando a partir de suas lotações originais e atuando somente em casos específicos [7] [8]. Portaria de 29/01 [9] determina o início da transição das responsabilidades da força-tarefa da Lava-jato do Rio de Janeiro para o GAECO-RJ; o fim da força-tarefa no estado é estipulado para abril [10] [veja aqui]. Também a força-tarefa da Lava-jato de São Paulo foi esvaziada em setembro de 2020 após os procuradores até então atuantes se demitirem coletivamente em razão de divergências internas com a nova responsável pela investigação; depois disso, não houve reposição dos cargos [veja aqui]. As mudanças decorrem do novo entendimento da Procuradoria-Geral da República (PGR), que avalia que o modelo de forças-tarefa é instável e pode prejudicar institucionalmente o MPF a longo prazo [11]. Além disso, a PGR entende que a dificuldade das forças-tarefa encerrarem suas atividades no prazo inicialmente determinado pode gerar desconfianças em relação ao trabalho do MPF por parte dos investigados ou acusados [12]. No novo modelo, as investigações atualmente realizadas por forças-tarefa serão absorvidas pelos GAECOS instaurados em cada estado, órgãos permanentes, mas que via de regra não contam com procuradores exclusivamente dedicados à eles, ao contrário do que acontecia nas forças-tarefa [13]. Procuradores afirmam que os GAECOS ainda não contam com estrutura ou recursos suficientes para realização de investigações de grande porte [14]. Os GAECOS, vinculados aos estados, começaram a ser criados em 2019 e ainda não foram instalados em todos os locais [15]. Após a divulgação das mudanças, Aras afirma que a Lava-jato não acabou, ‘apenas se trocou o nome de uma força-tarefa para o Gaeco, que absorve essa força-tarefa (…) tudo continua igual’ [16]. As modificações estão alinhadas com os esforços de centralização do MPF empreendidos por Aras pelo menos desde 2020 [veja aqui]. Em relação ao esvaziamento das forças-tarefas, as interferências de Aras resultaram na saída de Deltan Dallagnol da Lava-jato de Curitiba em julho de 2020 [veja aqui]. Em dezembro de 2020, Aras manifestou sua intenção de compartilhar o banco de dados sigilosos construídos pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba com outras unidades do MPF [veja aqui]. Em 31/04, a Força-tarefa do Rio de Janeiro encerra as atividades e é integrada a GAECO, após cinco anos de exercício, 55 operações abertas e 894 pessoas detidas [17].
Ouça podcast sobre o histórico da força-tarefa da Laja-jato em Curitiba, leia reportagem sobre a repercussão de sua dissolução e veja entrevista sobre a crise das forças-tarefas no MPF.
O novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em seu primeiro ato no posto, anula ato de seu antecessor e exclui adversários do comando da Casa [1]. A retirada de seus opositores se dá pelo indeferimento do registro do bloco de partidos composto pelos apoiadores da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara, sob a alegação da perda de prazo, que ocorreu por falhas do sistema operacional [2]. Partidos contrários à Lira criticam a medida: a presidenta do PT, Gleisi Hoffman (PT-PR), afirma que o ato foi uma violência contra à democracia [3]; o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirma que o ato foi ‘autoritário, antirregimental e ilegal’ [4]; já o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (MDB-AL), chama a decisão de inadmissível [5]. Diante da medida, os partidos que apoiaram a candidatura de Baleia ingressam com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) [6] e publicam nota de repúdio [7]. Um dia depois, Lira entra em acordo com os partidos e estabelece nova divisão de cargos na cúpula da Câmara [8]. Lira foi eleito com o apoio de Bolsonaro [9], que se aliou ao líder do ‘centrão’ após críticas ao ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) [veja aqui]. Maia já foi acusado pelo presidente de conspiração contra o governo federal [veja aqui]; em maio de 2020, Bolsonaro levantou a hipótese de que Maia tentaria afundar a economia para ‘ferrar o governo’ [veja aqui], e em junho de 2020, o presidente disse que estava convencido de que o presidente da Câmara queria ‘derrubá-lo’ [veja aqui].
Leia análise sobre o perfil de Arthur Lira, o novo presidente da Câmara
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) indicada para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Câmara dos Deputados, que analisa se todos os projetos de lei que entram na casa são constitucionais e legais, e por isso é vista como sua comissão mais importante’ [1]. Assumindo o cargo, a deputada, que já defendeu intervenção militar em caso de conflito entre os poderes [veja aqui], também irá analisar Propostas de Emenda Constitucional (PEC) e pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro [2]. Kicis, é investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na no inquérito de fake news [veja aqui] [3]. A indicação feita partiu do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Quanto às reações a escolha de Lira, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), afirma que a ação fará com que a presidente da CCJ seja ‘uma disseminadora de fake news, negacionista, sabotadora do combate à pandemia e apoiadora dos atos pelo fechamento do Congresso e do STF’[veja aqui] [4]. Fernanda Melchionna (PSOL-RS) diz que ter Bia Kicis no cargo ‘é decretar a morte do povo’ [5]. Para cientista político, a intenção é transformar a constituição em um documento simplesmente formal [6]. Diante reações negativas à indicação de Kicis para a CCJ, partidos se articulam para impedir que a deputada assuma o cargo [7]. No final do mês, o senador Davi Alcolumbre é eleito para presidir a CCJ no Senado [8]. Arthur Lira no começo de seu mandato exclui adversários da Casa Legislativa e determina novo espaço dedicado à imprensa, dificultando sua abordagem [veja aqui]. Bia Kicis e outros deputados comemoram o fim de medidas de isolamento e toque de recolher no Amazonas e incentivam outros estados a fazerem o mesmo [veja aqui]. O estado sofre com o desabastecimento de oxigênio e vive recorde em mortes por covid-19 [veja aqui]. Bia Kicis também é proponente da PEC que obriga a expedição de cédulas fiscais em votações de eleições ou plebiscitos [veja aqui].
Leia análise sobre a importância da CCJ e saiba quem é a deputada Bia Kicis (PSL-DF)
Governo de São Paulo flexibiliza medidas da quarentena por meio da suspensão antecipada de decreto que impunha restrições relativas à fase vermelha [1]. O decreto assinado em 25/01 e com duração prevista até 07/02 restringiu o funcionamento de bens e serviços, permitindo apenas a execução de atividades econômicas essenciais, e passando a valer das 20h às 6h em dias úteis e durante os finais de semana [2]. Com o retorno antecipado à fase laranja, restaurantes, academias, parques, cinemas e shoppings poderão voltar a funcionar com capacidade reduzida durante os finais de semana até às 20h [3]. A suspensão ocorre após amplo desrespeito das medidas de isolamento por estabelecimentos comerciais considerados não essenciais durante o primeiro final de semana após o decreto [4]. No dia 01/02, o governador, João Dória, já havia antecipado sua decisão e indicado a suspensão do decreto após a constatação da redução da ocupação de leitos de UTI [5]. Dois dias depois, durante o anúncio da suspensão, Dória reiterou a melhoria e indicou uma diminuição de 11% nas internações pela covid-19 [6]. Apesar das declarações, os dados de 02/02 revelam que 15 hospitais do estado apresentavam ocupação superior a 80% e que o número de mortes seguia estável, registrando-se mais de 200 óbitos diários [7]. Em 19/02, o plano é novamente revisto, sendo que duas regiões – Presidente Prudente e Barretos – retornam à fase vermelha [8], enquanto seis regiões avançam para a fase amarela – Grande São Paulo, Araçatuba, Sorocaba, Registro, Campinas e Baixada Santista – e têm os horários para consumo de álcool em estabelecimentos comerciais ampliado para às 22h [9]. Vale notar que, desde março, o governo de São Paulo adota medidas de quarentena [veja aqui]; ao mesmo tempo, já foram apresentadas denúncias sobre discrepância e omissão de dados relacionados à covid-19 pelo estado [veja aqui].
Leia análise sobre a utilização de lockdown em cidade do interior de São Paulo como estratégia para conter novas variantes de coronavírus.
O presidente Jair Bolsonaro afirma que ‘arma é um direito de vocês. Arma evita que um governante de plantão queira ser diretor. Eu não tenho medo do povo armado’ e diz que irá baixar mais três decretos que facilitam o acesso a armas de fogo [1]. As declarações são feitas durante evento de inauguração do Centro Nacional de Treinamento de Atletismo em Cascavel, no Paraná [2]. Alguns dias depois, Bolsonaro edita mais quatro decretos sobre armamentos [veja aqui]. Até agosto de 2020, o governo já havia editado 23 normas para ampliar o acesso a armas e munições [veja aqui]. As modificações resultaram em um aumento sem precedentes no número de armas de fogo ativas registradas no Brasil [veja aqui] [veja aqui]. No mesmo evento, o presidente diz que irá conversar com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, para garantir a votação, pelo Congresso, de um projeto de lei (PL) que estabelece a excludente de ilicitude para militares envolvidos em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) [3]. Sobre os militares, Bolsonaro complementa que ‘não pode, após o cumprimento da missão, receber a visita de um oficial de justiça (…) se ele está armado na rua, é porque nós colocamos as armas nas mãos deles’ [4]. Em 2019, ele enviou PL de conteúdo similar ao Congresso, que enfrentou resistência para ser votado [veja aqui]. E em maio de 2020, em reunião ministerial, defendeu armar a população . Já em evento em novembro de 2020, ele reafirmou seu compromisso com a incorporação do excludente de ilicitude, tendo em vista a troca de comando da Câmara e do Senado [veja aqui].
Veja infográfico que detalha as modificações legais que facilitam o acesso a armas, reportagem sobre o excludente de ilicitude para militares em GLOs e leia entrevista que discute a ideia do direito individual a ter uma arma.
Congresso Nacional aprova Medida Provisória (MP) que estabelece prazo máximo de cinco dias para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar emergencialmente o uso de vacinas no Brasil [1]. Antes, a agência contava com prazo de dez dias para tais autorizações. Segundo a MP, a autorização de determinados órgãos sanitários internacionais seria suficiente para o rito mais célere de análise. A agência, contudo, vê com preocupação a redução no tempo de exame dos imunizantes, afirmando ser difícil realizar análise qualificada no novo prazo estipulado, além de resultar em diminuição do papel da entidade. Ressalta, ainda, que este novo prazo é consideravelmente inferior ao praticado em outros países, inclusive aqueles a serem usados como referência [2]. A MP aprovada ainda depende de sanção presidencial para produzir efeitos, e a Anvisa pede ao presidente o veto ao dispositivo que reduz o prazo para até cinco dias [3]. No final de fevereiro, a Câmara dos Deputados aprova outra MP, que dá o prazo de sete dias para a Anvisa autorizar temporariamente a aplicação de vacinas contra a covid-19 que já foram autorizadas por determinadas autoridades sanitárias estrangeiras; a medida depende ainda de aprovação pelo Senado [4]. Ela é vista como forma de compromisso alternativo à MP que estipulava prazo de cinco dias e ainda não foi sancionada pelo presidente. As disputas em torno de instituições responsáveis por políticas de saúde no país adquiriu nova escala. No final do mês, o presidente do Instituto Butantan, responsável pela produção de vacinas brasileiras, diz que a instituição sofre pressão política sem precedentes [5]. Em dezembro do ano passado, servidores da Anvisa fizeram carta aberta em repúdio às pressões políticas sofridas para a aprovação de vacinas [6]. A MP é editada após o governo federal não ter expressado preocupação com a pandemia, tendo o presidente Bolsonaro relativizado o potencial do vírus ao chamá-lo de ‘gripezinha’ [veja aqui], se opor à vacinação em massa [veja aqui], desautorizar a compra de vacinas [veja aqui], além de já ter editado outra MP que dispensava o registro de vacinas na Anvisa [veja aqui]. Já o Ministério da Saúde deixou 6,8 milhões de testes da covid-19 estocados, sob risco de perderem a validade [veja aqui], culpabilizou governadores pelo atraso na entrega das vacinas por ‘problemas de logística’ [veja aqui], e deixou de apresentar plano concreto de início da vacinação [veja aqui].
Leia mais sobre o processo e os requisitos para as autorização emergencial de vacinas
O Ministério da Saúde (MS) envia ao Ministério Público Federal (MPF) documento que indica a distribuição de cloroquina produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pacientes com covid-19, e não malária, como originalmente previsto [1]. Segundo o documento, a aquisição de cloroquina ‘foi planejada e instruída para o atendimento ao programa de malária’, porém dadas as ‘orientações de uso pelo Ministério da Saúde’ [veja aqui], o uso do medicamento passou a ser disponibilizado também no contexto da covid-19 a partir de 27/03/2020 [2], mesmo sem eficácia para prevenção ou tratamento [3]. Com o aumento da demanda por estados e municípios, o MS passou a requerer a produção da droga pelo laboratório do exército [veja aqui] [4]. Em 12/02, o Tribunal de Contas da União (TCU) exige informações do Ministério da Saúde sobre a redistribuição de cloroquina a pacientes com malária para pacientes com covid-19 [5]. Segundo apuração da imprensa de 28/03/21, o governo federal desviou 2 milhões, de comprimidos de cloroquina, que deveriam ser destinados à pacientes com malária, para o tratamento da covid-19 [6]. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, já é investigado pelo STF por omissão na crise de escassez de oxigênio no Estado do Amazonas [7] [veja aqui] – na ocasião foram entregues 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina. Também é investigado por improbidade administrativa pelo uso de recursos públicos para a distribuição do medicamento e pelo aplicativo TrateCov [veja aqui] [8].
Leia análise sobre o uso de dinheiro publico para remédio sem eficácia comprovada e reportagem sobre a produção do medicamento pelas forças armadas
Ministério da Saúde (MS) reduz recursos destinados a leitos de UTI, em meio ao agravamento da pandemia do coronavírus, deixando encargos exclusivamente com estados e municípios [1]. Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em dezembro de 2020 mais de 12 mil leitos eram financiados diretamente com recursos do MS, entretanto, com a queda dos recursos extraordinários para o enfrentamento da pandemia, o número foi reduzido para 7.717 em janeiro e para 3.187 em fevereiro [2]. Somente no estado de São Paulo, o MS deixou de financiar mais de 3 mil leitos [3]. Ao ser questionada, a pasta acusa o governador João Dória (PSDB-SP) de mentiroso [4] e diz que a redução dos recursos ocorre devido ao término do estado de calamidade pública [veja aqui], com o fim de 2020 [5]. Cobrado em reunião com governadores, o ministro Eduardo Pazuello sugere como forma de resolução do problema do financiamento o modelo ‘pós-pago’, no qual a pasta pagaria posteriormente aos estados apenas pelos leitos efetivamente utilizados [6]. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB-MA), critica a proposta por conta do custo fixo na manutenção de leitos de UTI: ‘o leito tem que ser pago porque a equipe está lá. Se você tem 10 leitos e 8 estão sendo utilizados naquele momento, o custo é referente aos 10, pois a equipe de saúde está trabalhando’ [7]. Para tentar contornar o problema de financiamento, o MS solicita a aprovação de verbas extraordinárias, que ficam fora do orçamento anual e da regra do teto de gastos [8]. Pazuello afirma que o agravamento da pandemia em 2021 era ‘imprevisível’, o que demanda aumento dos recursos destinados à pasta [9]. Já em 2020, o governo não gastou integralmente os valores destinados ao combate à pandemia [veja aqui], o MS teve problemas na compra de seringas [veja aqui] e não apresentou plano concreto para o início da vacinação [veja aqui]
Leia análise sobre os impactos da redução de recursos federais para leitos de UTI
Como no mês [veja aqui] anterior, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 01/02, comentou a apoiadores no Palácio da Alvorada que ‘cada vez mais se comprova que a política do ‘fique em casa’ destrói a economia’, apesar de não trazer qualquer dado científico a respeito [1]. Pesquisas nacionais [2] e internacionais [3] atestam que quanto menor a circulação de pessoas, menor a disseminação do vírus. No dia seguinte, o recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, realizou festa para centenas de pessoas. na qual poucos usaram máscaras, e o presidente não compareceu [4]. Em 04/02, em evento com caminhoneiros no Paraná, Bolsonaro disse que não se pode parar o país por causa da pandemia, pôs em xeque a correção de dados epidemiológicos e disse que ‘todos nós iremos embora um dia’, em alusão aos mortos pela doença [5]. Na ocasião, em que não usava máscara de proteção, também voltou a dizer que foi impedido de adotar medidas contra a covid-19, mas não citou expressamente o Supremo Tribunal Federal (STF). Em outras oportunidades [veja aqui], o presidente acusou o STF de barrar suas ações de enfrentamento à pandemia, deixando a cargo de municípios e estados essa responsabilidade; o tribunal deu autonomia às diversas esferas federativas para agir em decisão de março do ano passado [veja aqui], mas nunca impediu a esfera federal de tomar medidas, como ele próprio já esclareceu [6]. Também são corriqueiras as críticas do presidente às medidas de distanciamento social, em suposta defesa da volta da economia [veja aqui], inclusive quando ele próprio estava com o vírus [veja aqui]. Entre 01/02 e 07/02, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 9,2 milhões [7] para mais de 9,5 milhões [8] e as mortes atingiram o patamar de mais de 231 mil pessoas [9], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
O governador de Roraima, Antonio Denarium, sanciona lei [1] que libera o garimpo de todos os tipos de minério no estado e permite o uso de mercúrio, metal altamente tóxico, utilizado principalmente na extração de ouro [2]. A lei não delimita em quais áreas o garimpo passa a ser liberado, causando preocupação nas comunidades indígenas da região, que podem ser atingidas pelo novo decreto [3]. Segundo o governo, porém, áreas indígenas não seriam afetadas, pois o mercúrio só poderia ser usado em ‘circuitos fechados de concentração’ de ouro – isto é, áreas controladas – e o objetivo da lei seria legalizar a atividade de garimpeiros, aumentando a arrecadação tributária [4]. O Conselho Indígena de Roraima (CIR), juntamente com outras 39 instituições, já havia se manifestado em nota pública contra o projeto de lei de liberação dos garimpos, pedindo que ele fosse derrubado [5]. Segundo o procurador do Ministério Público de Roraima (MPRR) legislar sobre a mineração em nível estadual é inconstitucional, pois, ainda que as terras pertençam ao estado de Roraima, a Constituição Federal diz que todo o minério encontrado em território nacional é da União [6]. Pesquisadora da Fiocruz também diz que não é possível controlar o uso do mercúrio diretamente no meio ambiente, bem como fiscalizar seu uso, além de relatar também que em muitos casos o mercúrio afeta gestantes e crianças, que podem desenvolver problemas auditivos visuais e até mesmo alucinações [7]. O partido Rede entrou com uma ação pedindo a inconstitucionalidade da lei, argumentando falta de estudos prévios para aplicação dos novos parâmetros de mineração no estado, bem como o Ministério Público Federal (MPF) [8]. Em 20/02, o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal acata pedido da Rede e suspende a lei por considerar que ela violou a competência da União e o direito ao meio ambiente equilibrado [9]. Cabe lembrar que o Brasil é signatário da Convenção de Minamata sobre Mercúrio, acordo internacional assinado por diversos países que se comprometeram a reduzir a emissão de mercúrio no mundo [10]. Em 2020, o número de pedidos de mineração em terras indígenas bateu recorde em 24 anos: foram realizados 145 pedidos para realização de atividade mineradora em terras indígenas (TI) [11]. Em 2019, Bolsonaro verbalizou sua intenção de legalizar o garimpo e mineração em TI [veja aqui] [veja aqui] e, em fevereiro de 2020, apresentou Projeto de Lei (PL) [12] que autoriza a exploração de mineração e outros recursos naturais em TI [13].
Acesse monitoramento sobre a mineração em terras indígenas na Amazônia, leia análise sobre o estímulo da mineração predatória pelo governo federal e entrevista com subprocurador geral da República sobre os riscos de autorizar a exploração mineral em terras indígenas.
O presidente da Câmara dos Deputados (CD), Arthur Lira (PP-AL), determina que o espaço destinado à imprensa na Câmara mude de lugar, dificultando sua abordagem [1]. A área atualmente utilizada por jornalistas segue o projeto do arquiteto Oscar Niemeyer e conta com a capacidade de abrigar cerca de 46 jornalistas, bem como cabines de imprensa [2]. Com a mudança, Lira poderá evitar abordagens de repórteres, pois contará com acesso direto ao plenário – anteriormente, era necessário que o presidente da Casa passasse pela área de circulação de jornalistas, o que propiciava espaço para questionamentos sobre votações ou decisões [3]. A mudança é criticada por parlamentares [4]: o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) afirma que ‘a presença ostensiva da imprensa se justifica para permitir ao povo a mais absoluta transparência sobre todos os assuntos da Câmara’ [5]; o deputado Fábio Trad (PSD-MS) diz que ‘a sala de imprensa que fica ao lado do plenário (…) simboliza a certeza de que a Câmara não teme’ [6]. Arquitetos também criticam a decisão e afirmam que a mudança contraria a essência do que foi pensado por Niemeyer ao conceber o projeto do prédio e que é simbólico que uma das primeiras medidas do novo presidente seja afastar a imprensa [7]. Inicialmente, o novo espaço destinado aos jornalistas é uma sala menor, que não conta com janelas, condição que facilita a propagação do coronavírus [8]. Diante das críticas, Lira mantém a mudança, entretanto, determina que a transferência seja para sala de mesmo tamanho e com janelas [9]. O novo presidente da CD foi eleito com o apoio de Bolsonaro [10], que se aliou ao líder do ‘centrão’ após críticas ao ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) [veja aqui] [veja aqui]. A primeira medida de Lira, ao tomar posse, foi a diminuição do espaço de partidos opositores na cúpula da Casa [veja aqui].
Leia análise sobre o perfil de Arthur Lira, o novo presidente da Câmara
Governo do presidente Jair Bolsonaro executa 9% do orçamento emergencial destinado a produção e compra de vacinas contra a covid-19 [1]. Em agosto, Bolsonaro já tinha assinado a primeira medida provisória (MP) [2] para liberar crédito extraordinário (R$2 bilhões) com a finalidade de produzir a vacina Coronavac, pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford [3]. Em setembro [4] e dezembro [5] outras duas MPs com o mesmo objetivo foram assinadas, totalizando R$24,5 bilhões em crédito disponível [6]. Apesar do crédito aprovado, somente R$ 2,2 bilhões foram executados até 10/2 e apenas R$505 milhões repassados ao Instituto Butantã, responsável por produzir a Coronavac [7]. O país envereda para uma trajetória de vacinação marcada por dificuldades vinculadas a problemas de logística [veja aqui], sistemas de informação de saúde [veja aqui] e dificuldades de cadastro prévio dos grupos prioritários [8]. A situação vivenciada pelo país atualmente se difere da campanha de vacinação contra gripe, que na mesma quinzena de 2020 imunizou 1,3 milhão de pessoas por dia, enquanto em fevereiro de 2021 são aplicadas 220 mil doses de vacinas contra covid por dia [9]. O Brasil é reconhecido como exemplo na condução de campanha de vacinação contra gripe H1N1 em 2010, quando vacinou 45% da população em 03 meses [10]. De acordo com epidemiologista e coordenadora da vacinação contra a H1N1, o Brasil possui capacidade de melhoria na campanha de vacinação contra covid, entretanto questões políticas e erros estratégicos estão condicionando a escassez de vacinas. Segundo o cronograma atual do Ministério da Saúde, a previsão de aplicação de 54 milhões de doses da Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer no primeiro semestre de 2021 [11].
Leia artigo que avalia a escassez de investimentos nos programas de vacinação contra covid-19 em países emergentes e entenda os problemas na capacidade de vacinação no Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro enaltece líderes militares que governaram o Brasil no período da ditadura civil militar (1964-1985) [1]. Bolsonaro se refere ao período ditatorial, marcado por torturas e graves violações aos direitos humanos, como uma ‘época um pouco diferente de hoje’, porém, de ‘muita responsabilidade com o futuro do país’ [2]. As declarações são feitas em evento na Base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA), onde são entregues títulos de posse de terras à agricultores. Na ocasião, o presidente critica a ação de entidades que lutam pela reforma agrária, como o Movimento dos Sem Terra (MST) [3]. Há menos de um ano atrás, Bolsonaro reverenciou a ditadura militar dizendo que o dia do golpe de 31 de março de 1964 teria sido o ‘dia da liberdade’ [veja aqui]. O presidente também já defendeu o golpe militar, participando de passeatas antidemocráticas contra a Constituição federal e o Supremo Tribunal Federal [veja aqui]. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CVM) [4] apurou violações de direitos humanos cometidos no período da ditadura e listou 434 pessoas entre mortos e desaparecidos em decorrência de ações do regime militar [5]. Da lista de 68 pedidos de impeachment que se acumulam contra Bolsonaro, pelo menos três são por envolvimento em atos antidemocráticos [6] [veja aqui]. Vale lembrar ainda que Bolsonaro é crítico constante ao MST, se referindo ao grupo como ‘terrorista’ [veja aqui] e que em março de 2020 a base de Alcântra foi palco de remoção de quilombolas durante a pandemia [veja aqui].
Leia reportagem sobre o contexto político e social da ditadura militar.
O Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) denuncia a escritora e advogada Saíle Bárbara Barreto pelos crimes de calúnia, difamação e injúria, pois, supostamente, seu livro de ficção ‘Causos da Comarca de São Barnabé’ refere-se ao juiz Rafael Rabaldo Bottan [1]. Na história, o personagem controverso é o magistrado ‘Florisbaldo Mussolini’ e, segundo o MP-SC, a escritora resolveu satirizar o servidor, pois estava inconformada com as decisões proferidas que contrariavam seus interesses [2]. Após Saíle Barreto publicar um trecho de um documento do processo nas redes sociais, a instituição ameaça a escritora de prisão e afirma que a ridicularização de um magistrado ‘atenta contra o próprio Poder Judiciário’ [3]. A escritora nega as acusações, afirmando que não sabe o nome completo dos juízes [4], e afirma que está sendo processada por escrever um livro em que ‘o vilão tem um nome que rima com o sobrenome de um juiz’ [5]. Advogado e professor da USP afirma que a sátira não deve ser objeto de censura e que a liberdade de expressão na obra ficcional é garantida pela legislação [6]. A União Brasileira de Escritores divulga nota a favor da escritora [7]. Em outras ocasiões, um colunista crítico ao presidente Bolsonaro é alvo de inquérito [veja aqui], a Polícia Federal intimou advogado que criticou o presidente [veja aqui], a Polícia Civil e a Promotora entendem que imagem de drag queen segurando escultura da cabeça decapitada do presidente se enquadra nos crimes da Lei de Segurança Nacional [veja aqui] e divulgação de livro com críticas ao governo e ao conservadorismo é suspensa por pressão política .
A superintendente do Ibama no Rio Grande do Sul (RS), Claudia Pereira Costa, anula autos de infração emitidos por fiscais do órgão e regulariza a situação de três embarcações de pesca industrial do presidente do Sindicato de Amadores da Pesca do RS [1]. Os barcos, que medem cerca de 20m de comprimento, teêm capacidade de pesca de mais de 50 toneladas por viagem e valor unitário de mais de R$ 1,5 milhão, estavam atuando sem renovação na autorização de pesca e sem o rastreamento obrigatório por satélite [2]. A descoberta das infrações levou os fiscais do Ibama a multarem o proprietário das embarcações em cerca de R$ 212 mil e apreenderem os barcos até sua regularização [3]. Contudo, antes das etapas do processo de regularização serem concluídas, Costa determina a liberação das embarcações sem observância do procedimento administrativo previsto pelo órgão [4]. Ela justifica sua decisão com base em instrução normativa do ministério da Agricultura que autorizou a liberção de embarcações apreendidas pelo Ibama que, segundo ela, se aplicaria ao caso concreto [5]. Contudo, outros pedidos de liberação com base na mesma normativa já haviam sido negados pelos técnicos do Ibama [6]. A liberação ocorre alguns meses depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal Kássio Nunes Marques autorizou a pesca predatória no litoral do RS, em dezembro de 2020 [veja aqui]. Em setembro de 2020, o superintendente do Ibama na Bahia também cancelou atos emitidos por técnicos do órgão para liberar a realização de obra irregular na região litorânea [veja aqui]. As decisões acontecem em contexto de diminuição do poder de fiscalização do Ibama, que sancionou 60% menos nos primeiros 6 meses de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019 [veja aqui].
Leia análise sobre os impactos da atividade pesqueira no ecossistema marinho.
O presidente Jair Bolsonaro baixa quatro decretos [1] [2] [3] [4] que facilitam ainda mais o acesso a armas de fogo e munições [5]. As modificações permitem que cidadãos adquiram seis armas, ao invés das quatro anteriormente permitidas, número que pode aumentar para oito no caso de agentes públicos; possibilitam que aqueles registrados como caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) comprem até 2.000 cartuchos de munição, o dobro da quantidade antes permitida e, no caso de atiradores, adquiram até 60 armas; e flexibilizam os requisitos que permitem o registro de armas de fogo, como a necessidade de laudo psicológico para manuseio da arma, que agora pode ser assinado por qualquer psicólogo, ou os meios de comprovação da efetiva necessidade para obtenção desta [6]. O Palácio do Planalto diz, em nota, que o objetivo dos decretos é ‘desburocratizar procedimentos (…) e adequar o número de armas, munições e recargas ao quantitativo necessário ao exercício dos direitos individuais’ [7]. Em 14/02, Bolsonaro afirma à imprensa que ‘o povo está vibrando’ com os novos decretos [8]. Especialistas apontam que as novas medidas criam dificuldades para fiscalizar a circulação de armas, que podem ser absorvidas pelo mercado ilegal e gerar mais violência, além de possibilitarem insurreições contra as instituições democráticas [9]. Organização da sociedade civil afirma que buscará junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) a reversão dos decretos em razão da ameaça que eles representam para a democracia [10]. Parlamentares de partidos da oposição (PSB, Rede, PT e PSOL) questionam os decretos no STF por considerarem que estes violam direitos fundamentais e são inconstitucionais [11]. A ministra Rosa Weber determina que o governo explique, em até cinco dias, as modificações decorrentes dos decretos [12]. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), integrante da bancada evangélica, apresenta projetos de lei para suspender os efeitos dos decretos, considerados por ela como ‘uma irresponsabilidade completa’ [13]. O Estado-Maior do Exército encaminha nota técnica ao governo e alertam que as novas mudanças podem ‘ter como consequência uma fragilização para a segurança pública’ [14]. Até agosto de 2020, o governo já havia editado 23 normas para ampliar o acesso a armas e munições [veja aqui]. As modificações resultaram em um aumento sem precedentes no número de armas de fogo ativas no registradas no Brasil [veja aqui] [veja aqui]. Em janeiro de 2021, Bolsonaro também zerou o imposto de importação de armas de fogo, medida posteriormente suspensa pelo STF [veja aqui].
Leia reportagem que esmiuça as modificações introduzidas pelos novos decretos, ouça podcast que discute os riscos trazidos pelas mudanças, leia entrevista que aborda os problemas de armar a população e leia coluna que aponta os indícios autoritários das medidas.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) reduziu os orçamentos de fiscalização e controle ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) em cerca de 43% e 65% entre 2019 e 2020, segundo apuração desta data [1]. Em 2019, o o Ibama contou com R$ 111,8 milhões e, em 2020, com R$ 67,4 milhões. Já o ICMBio, com R$ 180,3 milhões em 2019 e com apenas R$ 64 milhões em 2020. Tal apuração se dá no contexto de anúncio do fim da ‘operação Verde Brasil 2’ na Amazônia [veja aqui], o que transfere novamente a competência da fiscalização e proteção ambiental da Amazônia ao Ibama e ao ICMBio [2], em razão de alegada falta de verba federal para o Ministério da Defesa [3]. Além da falta de verbas, o Ibama enfrenta o problema da baixa execução orçamentária: até outubro de 2020, ele executou menos de 40% de seu orçamento para fiscalização e combate de desmatamento e queimadas [veja aqui]; até julho de 2020, havia gasto apenas 19% dos recursos disponíveis [veja aqui]. O MMA também já anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas sob justificativa de corte orçamentário, mas horas depois voltou atrás [veja aqui].
Leia análise sobre as flexibilizações de políticas públicas na área ambiental sob o governo Bolsonaro e nota técnica sobre o projeto de orçamento para o meio ambiente em 2021
A secretaria especial da Cultura veta, em ato inédito, o plano anual de manutenção do Instituto Vladimir Herzog (IVH) via Lei de Incentivo à Cultura – antiga Lei Rouanet [1]. O instituto, que leva o nome de jornalista assassinado durante a ditadura militar, foi criado em 2009 e realiza atividades relacionadas aos direitos humanos, como projetos educacionais de respeito à diversidade e ações culturais de preservação da história brasileira recente [2]. Em suas redes sociais, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, justifica a medida afirmando que a entidade ‘não desenvolve apenas atividade cultural, mas também jornalística’ [3]. Para o coordenador de Jornalismo e Liberdade de Expressão do IVH, Giuliano Galli, a reprovação da proposta do plano de captação de recursos não decorre de uma análise técnica, pois todas as etapas burocráticas foram bem sucedidas, somente na aprovação final que houve o indeferimento [4]. Além disso, o coordenador ressalta que a justificativa apresentada pelo secretário demonstra uma visão ‘muito estreita do que é cultura e de qual é o sentido das leis de incentivo para o país’ [5]. Ainda, o deputado Eduardo Bolsonaro compartilha nas redes sociais a publicação de Frias e afirma que se o instituto levasse o nome de Brilhante Ustra, torturador da ditadura de 1964, criticariam dizendo que é ‘ideologização’. O deputado defendeu que o governo é técnico e aplica a lei [6]. Para Galli, a decisão da secretaria está relacionada à tentativa de ‘promover um revisionismo histórico, negando tudo o que ocorreu na ditadura’ [7]. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog e fundador do IVH, afirma que o deputado e sua família visam à destruição da cultura e que a rejeição do plano é uma forma de ‘sufocar’ o instituto e condiz com o pensamento ‘totalitário’ do governo [8]. 150 entidades assinam manifesto em defesa do IVH [9]. O IVH afirma que o projeto foi indeferido sem a apresentação de parecer que fundamente a decisão e planeja entrar com medida judicial para revertê-la [10]. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro sempre foi crítico aos incentivos da antiga Lei Rouanet, pois supostamente favoreceriam projetos de esquerda [11]. Em outra oportunidade, o governo federal não autoriza projetos com patrocínios culturais já combinados via Lei Rouanet [veja aqui].
Leia mais sobre a biografia do jornalista Vladimir Herzog, conheça os projetos do Instituto Vladimir Herzog e leia a análise sobre a aplicação da antiga Lei Rouanet durante o governo Bolsonaro e quais as mudanças promovidas na legislação de incentivo à cultura.
Governo federal publica novo edital [1] para compra de livros didáticos, que serão adotados a partir de 2023 por alunos do 1º ao 5º ano escolar, e exclui indicação de ‘atenção para o compromisso educacional com a agenda da não-violência contra a mulher’ [2]. O documento também exclui o termo ‘democráticas’ e a expressão ‘respeito à diversidade’, que constavam no último edital do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para a mesma faixa etária, publicado em 2019 [3]. Ainda, retira a previsão de exclusão de obras que abordassem ‘a temática de gênero segundo uma perspectiva sexista e não igualitária, inclusive no que diz respeito à homo e transfobia’ [4]. A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) protocola projeto de Decreto Legislativo para suspender as novas regras [5]. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) manifesta-se em rede social apontando que ‘o preconceito e a violência contra a mulher (…) devem ser combatidos desde cedo’ [6]. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, defende o edital e diz que os temas excluídos do documento serão tratados posteriormente ao 5º ano escolar [7]. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro disse que os livros didáticos eram ‘amontoado de muita coisa escrita’ e deveriam ser ‘suavizados’ [veja aqui]. No mesmo ano, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) propôs ‘revisão histórica’ dos livros didáticos sobre ditadura militar [veja aqui]. Em 2019, o governo tentou publicar nova versão do PNLD para livros do 6º ao 9º ano e retirar o compromisso com a não violência contra mulheres, mas voltou atrás [veja aqui]. Outros órgãos do governo federal já excluíram menções a questões de gênero de documentos oficiais: o ministério da Saúde proibiu o termo ‘violência obstétrica’ em seus documentos [veja aqui] e o Itamaraty sugeriu cortes de expressões como ‘gênero’ [veja aqui] e como ‘direitos sexuais e reprodutivos’ em projeto de resolução na ONU [veja aqui]. Vale notar também que, em 2020, a despeito do aumento da violência contra a mulher, o ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos não executou metade do orçamento disponível para tal área [veja aqui]. Além disso, o ministro da educação já culpou ‘famílias desajustadas’ por suposto ‘homossexualismo’ [veja aqui].
Leia texto que retoma os posicionamentos do ministério da Educação durante o governo Bolsonaro.
Levantamentos da ONG ‘Todos pela Educação’ revela que em 2020 o Ministério da Educação (MEC) obteve ‘a pior execução orçamentária da década’ [1] [2]. O executivo reduziu em 47% os investimentos na área nos dois primeiros anos da atual gestão, em comparação com os dois primeiros anos da gestão anterior [3]. O corte, incidente sobre gastos usados para ampliar o acesso às políticas públicas do MEC, sobretudo nas instituições federais de ensino superior e profissionalizante, foi de R$ 6,3 bilhões [4]. A ONG apontou também que a inação do Ministério para executar o orçamento previsto teve como consequência o cancelamento e redistribuição de recursos: na Educação Básica, por exemplo, R$1,1 bilhão foram repassados para pastas da Saúde, do Desenvolvimento Regional, da Infraestrutura e de Minas e Energia por meio da aprovação de leis [5]; igualmente foram remanejados R$ 1 bilhão, destinados em 2019 pelo judiciário à políticas educacionais da Primeira Infância (crianças 01 a 06 anos); já no Ensino Médio, o orçamento previsto no começo de 2020, R$ 925 milhões, foi reduzido para R$325 milhões após nenhum centavo ter sido executado até agosto de 2020. O diagnóstico da ONG para o MEC é de ausência de liderança, de coordenação e de projeto nacional para a educação [6]. Em nota, o MEC nega que tenha deixado de executar políticas prioritárias para a educação e lista ações tomadas no contexto da pandemia [7]. Ainda, o governo federal apresenta ao legislativo a chamada ‘PEC Emergencial’ que, dentre outras alterações, propõe a revogação das exigências constitucionais de gastos mínimos com a educação [8]. Vale notar que em 2019, o governo federal enviou proposta orçamentária ao congresso nacional, reduzindo financiamento de pesquisas [veja aqui] e bloqueou bolsas de pós-graduação da Capes [veja aqui].
Confira o relatório completo e veja dados sobre os obstáculos para a educação durante a pandemia
Como na semana [veja aqui] e no mês [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 11/02, defendeu em videoconferência semanal o uso de tratamento experimental contra a covid-19, desenvolvido em Israel; a droga é usada por meio de spray nasal e não apresenta amparo científico [1]. Na mesma ocasião, criticou o que chamou de ‘pilha da vacina’: ‘O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil. Nós devemos ter várias opções’ [2]. Também disse que ’não adianta ficar em casa chorando’, em incentivo à volta ao trabalho presencial e rompimento do distanciamento social, em suposto benefício à economia [3]. E, mais uma vez, voltou a recomendar o uso de cloroquina para o combate à pandemia [4]. Em 13/02, participou de aglomeração sem máscara em São Francisco do Sul (SC) [5]. O presidente já criticou em diversas ocasiões as medidas de distanciamento social – em suposta defesa da volta da economia [veja aqui] -, a aplicação de vacinas [veja aqui] e defendeu o uso de tratamento medicamentoso sem eficácia comprovada [veja aqui]. Entre 14/02 e 21/02, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 9,5 milhões [6] para mais de 9,8 milhões [7] e as mortes atingiram o patamar de mais de 239 mil pessoas [8], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Presidente Jair Bolsonaro chama jornais de ‘fábrica de fake news’ e diz que o ‘certo’ seria tirar de circulação Globo, Folha de São Paulo, Estadão e O Antagonista [1]. Na fala, Bolsonaro também critica o Facebook que, segundo o presidente, está proibindo o envio de imagens em páginas de conteúdo político [2]. O presidente afirma que acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para que investigue o suposto bloqueio imposto pela plataforma e fala em tributar as redes sociais [3]. Alguns dias antes, o presidente solicitou a seus apoiadores que lhe enviassem fotos de notas fiscais com os valores pagos no abastecimento de seus veículos – o que, segundo ele, teria o objetivo de fiscalizar abusos nas tributações estaduais dos combustíveis [4]. O novo ataque de Bolsonaro à imprensa se soma a outros episódios, como, quando já reiteradas vezes se negou a falar com jornalistas porque ‘a mídia inventa tudo’ [veja aqui], acusou emissora de ‘deturpar’ os fatos e chamou-a de ‘lixo’ [veja aqui]; defendeu boicote à mídia e atacou, diretamente, a jornalista Vera Magalhães [veja aqui]; mandou, em tom agressivo, repórteres calarem a boca e se negou a responder perguntas referentes a suposta interferência na Polícia Federal [veja aqui], ao ser questionado sobre o ‘caso Queiroz’ [veja aqui]. Nesse sentido, relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) demonstra crescimento superior a 105% da violência contra jornalistas no ano de 2020 [5] e 245 ataques à imprensa só no primeiro semestre de 2020 [veja aqui].
Apuração de agência de jornalismo desta data [1] revela que em 24/12 o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior publicou resolução [2] aumentando a tributação sobre cilindros de oxigênio [3]. A decisão ocorreu após o Ministério da Economia (ME) ter emitido nota técnica [4] para consultar a possibilidade de prorrogação dos efeitos de resolução que reduziu alíquotas do imposto de importação sobre medicamentos durante a pandemia [5]. No início da pandemia no Brasil, em março de 2020, o Ministério da Saúde (MS) zerou até dezembro o imposto de importação de diversos insumos e medicamentos médicos considerados necessários para o tratamento da covid-19 [6]. O ME solicitou a prorrogação da resolução até 30/06/2021, o que se concretizou, além de revisão dos produtos listados como beneficiários da isenção de impostos [7]. Assim,foram mantidos na lista pelo MS medicamentos sem comprovação de eficácia, como a cloroquina e excluídos os cilindros de oxigênio [8]. Após o crescimento das hospitalizações decorrentes de infecções de covid-19 em janeiro de 2021 e, consequentemente, da demanda por oxigênio, em especial em Manaus, que viveu colapso do sistema de saúde [veja aqui], a Câmara de Comércio Exterior volta a incluir tal insumo àqueles isentos da tributação [9]. Vale lembrar que o governo federal, o presidente da República e outras autoridades de alto escalão são defensores do uso da cloroquina desde o começo da pandemia [veja aqui], politizando o medicamento [veja aqui], chamando-o de milagroso [veja aqui] e facilitando sua prescrição mesmo sem comprovação de eficácia [veja aqui]. Os gastos com hidroxicloroquina, cloroquina e outros medicamentos sem eficácia por governos estaduais, municipais e federal no Brasil totalizaram R$ 18 milhões até agosto de 2020 [veja aqui].
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decreta prisão em flagrante do deputado federal Daniel Silveira (PSL) [1]. A decisão, realizada no âmbito do inquérito das fake news [veja aqui], se dá em decorrência de publicação de Silveira no YouTube na qual o parlamentar faz ataques a Corte, ao xingar a instituição e seus magistrados e fazer apologia ao AI-5, Ato Institucional responsável por suspender série de direitos e garantias durante o regime militar [2] [veja aqui]. A decisão foi confirmada em votação no STF e posteriormente na Câmara dos deputados por 364 votos a favor da prisão e 130 contra [3]. Silveira foi preso em sua residência no município de Petrópolis (RJ), levado a Superintendência da Polícia Federal e encaminhado para o Batalhão Especial Prisional (BEP), onde ficou detido [4]. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também apresenta denúncia contra o deputado [5]. Em despacho assinado pelo vice-procurador-geral, Humberto Jacques, Silveira é acusado de ‘ameaças à corte para favorecimento próprio, incitar o emprego da violência e incitar animosidade entre forças armadas e o STF’ [6]. O deputado ainda é alvo de dois inquéritos no STF, aos quais Moraes é o relator, um sobre fake news e outro que apura atos antidemocráticos [7]. Quatro dias após a prisão de Daniel Silveira o Conselho de Ética da Câmara abre processo pedindo a cassação de seu mandato [8]. A prisão em flagrante divide opiniões de Juristas. Aqueles que são favoráveis a medida, defendem que atos antidemocráticos devem ser punidos com rigor para defender a Constituição Federal independentemente se quem os comete tem ou não foro privilegiado [9]. Outros especialistas, por sua vez, são contrários a prisão por afirmarem que ‘deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por qualquer de suas opiniões, palavras ou votos’ e também apontam que a decisão pode abrir precedente ‘perigoso’ para a criminalização da opinião, ferindo assim o direito fundamental à liberdade de expressão [10].
Leia análises sobre as tensões entre a liberdade de expressão e crimes envolvendo atos antidemocráticos, a falta de amparo legal da prisão, a falta de coerência da decisão em relação a outras, e o debate que o caso traz sobre a Lei de Segurança Nacional (LSN).
A secretaria especial de Cultura do governo federal arquiva projeto da companhia teatral BR116 para a encenação da peça ‘O Santo Inquérito’, escrita por Dias Gomes, que buscava aprovação na Lei de Incentivo à Cultura, antes denominada Lei Rouanet [1]. A peça trata da prisão e execução de Branca Dias pelo Tribunal do Santo Ofício, sendo uma alegoria para denunciar a repressão e a tortura perpetradas durante a ditadura militar de 1964 no Brasil [2]. O advogado da companhia explica que o projeto foi arquivado em sua fase de admissibilidade, que checa documentos e outras formalidades, apesar da companhia ter preenchido todos os requisitos necessários e que, mesmo tendo recorrido da decisão, o veto foi mantido [3]. A companhia afirma que a secretaria não justificou sua decisão e que, em dez anos de atuação, nunca houve problemas com aprovações de projetos pela Lei Rouanet [4], por isso, o grupo acredita que se trata de um caso de censura [5]. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro é crítico assíduo da Lei Rouanet, tendo dito que a legislação é uma ‘desgraça’ usada para cooptar defensores de governos passados [6], e defende o golpe militar de 1964 [7]. Ainda, o governo federal barrou patrocínios já aprovados via Lei Rouanet [veja aqui] e a secretaria de Cultura vetou plano e manutenção do Instituto Vladimir Herzog [veja aqui].
Leia mais sobre a peça ‘O Santo Inquérito’ e leia as análises sobre o impacto da lei na economia brasileira e sobre como foi seu desempenho nos primeiros meses do governo Bolsonaro.
Levantamento desta data revela que governo federal não sanciona desapropriação de terras desde o início da atual gestão [1]. Desde 2019, Bolsonaro não editou nenhum decreto de desapropriação de terrenos sem função social para reforma agrária, como determina a constituição [2]. Os dados condizem com decisão anunciada em janeiro do primeiro ano de gestão Bolsonaro, quando o governo federal anunciou a suspensão da reforma agrária por tempo indeterminado [veja aqui]. Também reduziu o investimento da União ao menor patamar dos últimos dez anos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra [3]. A maior parte do gasto empenhado na área, segundo dados orçamentários da Lei Orçamentária Anual de 2021, vai para o pagamento de indenizações aos proprietários de terras improdutivas desapropriadas [4]. As informações são fornecidas pelo próprio Incra em nota técnica enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito de ação judicial proposta por partidos políticos e organizações que discute descumprimento de direitos constitucionais em razão da paralisação da reforma agrária [5]. Apesar de informar que a edição de decretos presidenciais para a desapropriação para reforma agrária zerou, o órgão nega que exista uma ‘paralisação’ [6]. Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Incra executa uma política de concentração de terras, o que deixa mais de 80 mil famílias acampadas à espera de terra. Especialistas também criticam a postura do governo atual, ressaltando um deslocamento das políticas agrárias focadas no assentamento e na agricultura familiar para o agronegócio [7]. Vale lembrar que outras ações do governo federal estiveram alinhadas com o beneficiamento de agropecuaristas: com a substituição de presidência e a diretoria do Incra por pressão de ruralistas para a aceleração na regularização fundiária [veja aqui], nomeação de ruralistas para o Ministério da Agricultura [veja aqui] e a publicação de Medida Provisória para a legalização de terras griladas [veja aqui].
Saiba mais sobre os investimentos e a atuação do Incra nos últimos anos no ofício remetido ao STF pelo órgão que compara os gastos do governo federal atual na área com antigas gestões
O deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) publica vídeo em que ataca ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e exalta o Ato Institucional n.5 (AI-5) – instrumento normativo que marca o momento de repressão mais duro da ditadura militar, autorizando a cassação de direitos políticos e suspendendo o habeas corpus – [1] [2]. No vídeo, Silveira desfere xingamentos e ameaças aos magistrados, acusa-os de venderem sentenças, diz também que deveriam ser destituídos de seus cargos para a nomeação de ’11 novos ministros’ [3]. O deputado também interpela os ministro Edson Fachin, questionando se o mesmo lembra do AI-5 ‘aquele que cassou 3 ministros da Suprema Corte’ [4]. Em reação, Fachin classifica as declarações como intoleráveis e alerta para atentado contra a ordem constitucional [5]. O Executiva nacional do PSL, partido de Daniel Silveira, repudiou as declarações do deputado e se reuniu para discutir a expulsão do deputado [6]. No mesmo dia, o deputado tem sua prisão decretada e referendada pelo STF e pela Câmara dos deputados [veja aqui]. Ainda preso, no Batalhão Especial Prisional (BEP) em Niterói (RJ), o deputado discursa via vídeo conferência em sessão na Câmara dos Deputados, que analisa se a prisão será mantida [7]. Daniel afirma ter se ‘excedido’, pede ‘desculpas a qualquer brasileiro que tenha se insultado’ com sua publicação e defende sua prerrogativa de foro privilegiado [8]. Vale lembrar que o deputado ganhou visibilidade em 2018 ao quebrar uma placa em homenagem a vereadora brutalmente assassinada, Marielle Franco, durante um comício [9], No mesmo ano, Silveira usou suas redes sociais para fazer ameaças a manifestantes contrários ao governo Bolsonaro [10]. Após a prisão do deputado, a plataforma Youtube retirou do ar o vídeo em questão alegando ‘violação da política relativa a assédio e bullying’ [11]. Apesar das reações em repúdio ao vídeo, o Clube Militar Divulgou nota com ‘reflexões’ sobre a prisão de Daniel Silveira alegando que ‘grande parte da população’, de fato, tem saudades do regime militar (1964- 1985) [12].
Leia análise sobre os limites da liberdade de expressão em discursos extremistas e ensaio que aponta a existência de outros atos antidemocráticos que foram ignorados pelo STF
O presidente Jair Bolsonaro anuncia a demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e indica para o seu posto o general Joaquim Silva e Luna [1]; eleito em 12/04, tendo sido [2] aprovado pelo comitê de Pessoas da petrobras, em 16/03 [3] e pelos acionistas da empresa [4]; desde 1988, a estatal não tem presidente militar [5]. A indicação também não respeita os requisitos do estatuto da companhia [6]. A demissão de Castello Branco ocorre após o anúncio de novos aumentos nos preços dos combustíveis [7]. Antes de anunciar que iria interferir na Petrobras, Bolsonaro disse que ‘jamais’ iria interferir na empresa [8]. Um dia após o anúncio da mudança, Bolsonaro declara, em defesa de sua atitude, que se tudo dependesse dele ‘não seria este o regime que nós estaríamos vivendo’, em referência implícita à ditadura militar [9]. A substituição fez com que as ações da empresa despencassem [10]. Para que a nomeação seja aprovada é necessária a convocação de uma assembleia de acionistas, o que foi aprovado pelo Conselho de Administração da empresa [11]. Entretanto, o currículo do general [12] não segue as exigências para integrar a diretoria executiva da estatal: é necessária a comprovação de dez anos de experiência no setor ou em cargo semelhante em empresa do mesmo porte [13]. Luna nunca atuou no mercado de petróleo, passou à reserva em 2014 e exerce desde fevereiro de 2019 até atualmente a presidência na estatal de Itaipu Binacional – sua única atuação no meio empresarial [14]. Investidores reagem ingressando com Ação Popular para barrar a troca, e o governo é provocado a apresentar explicações sobre as mudanças na empresa [15]. No mesmo sentido, escritórios nos Estados Unidos afirmam que pretendem ingressar com ações coletivas contra a Petrobras, pelos prejuízos causados a seus investidores [16]. Além disso, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) entra com representação para que a corte determine que a Petrobras não realize qualquer mudança no comando da empresa até que o órgão julgue a intervenção de Bolsonaro na estatal [17]. Bolsonaro já nomeou militar para outras estatais, como a CEAGESP [veja aqui], sendo a ocupação de cargos por militares uma tendência desde o início de seu governo [veja aqui].
Leia análise sobre a presença de militares nas estatais com controle da União e sobre o aumento do percentual militar em altos cargos nessas empresas
Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, determina de ofício (por iniciativa própria) abertura de inquérito para apurar ‘suposta tentativa de intimidação e investigação ilegal de ministros da corte, bem como de violação da independência jurisdicional dos magistrados’ [1]. O inquérito é instaurado após divulgação de mensagens no âmbito da Operação Spoofing, coordenada por procuradores da força-tarefa Lava-Jato em Curitiba, recentemente dissolvida pelo Ministério Público [veja aqui]: eles teriam sugerido solicitar à Receita Federal levantamento de análise patrimonial dos ministros que compõem as turmas criminais do STJ, sem a prévia autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) [2]. De acordo com a Constituição Federal [3], os ministros do STJ possuem foro privilegiado, ou seja, só podem ser investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e julgados pelo STF, de modo que os procuradores da Lava-Jato não teriam competência investigativa neste caso [4]. Martins, presidente do STJ, determina que a condução do inquérito será feita por ele mesmo e mantida em sigilo [5]. Em suas primeiras ações, ele solicita investigação criminal e administrativa dos procuradores, respectivamente, à PGR e ao Conselho Nacional do Ministério Público [6]. O Ministério Público Federal solicita ao STF a suspensão do inquérito aberto pelo STJ, sob fundamento de violação do sistema acusatório previsto na Constituição [7]. Já o procurador-geral da República, Augusto Aras, alega que o inquérito é ‘gravíssimo’ por servir de precedente ‘preocupante’ para ações semelhantes por parte de outros tribunais [8]. A exemplo do realizado pelo STF no âmbito do inquérito das fake news [veja aqui], a investigação no STJ é determinada com base no regimento interno do tribunal e sem provocação por parte da PGR [9]. Especialistas apontam problemas nesse tipo de inquérito por violarem regras do processo penal, tendo em vista que as figuras de acusador, investigador e julgador são todas reunidas em um único ator, no presente caso, o próprio STJ [10]. As decisões realizadas por ministros do STF no âmbito do inquérito das fake news têm sido criticadas por juristas, que temem a construção de precedente ‘perigoso’ para as demais instituições do Poder Judiciário [11]. Em 30/03, a Ministra Rosa Weber, do STF, aceita pedido da defesa dos procuradores, que acusam Martins de utilizar-se de provas obtidas ilegalmente para iniciar o inquérito, e suspende a investigação instaurada até o julgamento de um habeas corpus ajuizado por um deles [12]. Em decisão recente, no curso do inquérito das fake news, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, decretou prisão em flagrante de deputado federal que fez críticas e ameaças à Corte através de vídeo nas redes sociais [veja aqui].
Leia análise sobre ações tomadas no âmbito do inquérito das fake news (STF) e como isso pode se tornar precedente perigoso para demais órgãos do Judiciário, como o próprio STJ
O presidente Jair Bolsonaro nomeia dois militares para o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT) [1]. O primeiro é o coronel da reserva do Exército Valdir Campoi Junior, e o segundo é o capitão Eduardo Miranda Freire de Melo, intendente da Marinha [2]. Campoi atuou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e, em julho de 2020, foi transferido para a secretaria-geral da Presidência para concretizar a política de flexibilização do porte e posse de armas [3]. O coronel é instrutor de tiro e autor de manuais para combate com escopetas, espingardas e facas [4]. Miranda é graduado em ciências navais e estava lotado no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) como secretário adjunto [5]. O CNPCT foi criado por lei em 2013 [6] e tem como objetivos acompanhar e avaliar a atuação de políticas e práticas que possam ensejar tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes [7]. Em seu último relatório de atividades, publicado em 2018, o comitê manifestava preocupações com as intervenções militares na área da segurança pública, com a ampliação das concessões de porte de armas de fogo e com mortes de presos [8]. Por considerar que a nomeação dos militares contraria os princípios que instituem o CNPCT, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns elabora nota pública condenando as nomeações como uma medida que desvia o comitê de seus propósitos originais [9]. O desmantelamento de organismos de combate à tortura pelo governo Bolsonaro já ocorreu em outras ocasiões: o MMFDH impediu viagem de peritos para averiguar denúncias de tortura em presídios [veja aqui] e Bolsonaro exonerou servidores que atuavam em nos órgãos de combate à tortura [veja aqui]. Além disso, Bolsonaro, reiteradas vezes, elogiou torturadores da ditatura militar [veja aqui] [veja aqui] [10].
Entenda o conceito de tortura e quais as medidas que podem ser adotadas para combatê-la
Governador da Bahia (BA), Rui Costa (PT), decreta, a partir desta data, toque de recolher em 343 cidades do estado [1]. A medida vale até dia 25/02, com restrições das 22h às 5h da manhã [2], e tem como objetivo conter o avanço da covid-19 na região. A Bahia já concentra 15 mil casos confirmados do vírus, registrando 74% de ocupação dos leitos de UTI [3], e corre riscos de colapso no sistema de saúde [4]. O decreto impõe que os estabelecimentos comerciais e de serviços devem estar fechados e vazios até às 22h, já os meios de transporte na região metropolitana, como ônibus, metrô, ferryboat, têm autorização para encerrar as atividades até as 22h30, e as atividades comerciais não essenciais estão proibidas de funcionar [5]. Durante a validade do decreto, as polícias Civil e Militar são responsáveis por promover a fiscalização para o cumprimento da medida [6], que pode conduzir à delegacia quem descumprir, com posterior abertura de processo criminal, e inclusive cassação do alvará de funcionamento dos estabelecimentos que também desrespeitarem a imposição [7]. Segundo a diretora do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o aumento de casos do vírus no estado é consequência do descumprimento das orientações sanitárias,: ‘as pessoas estão viajando e vivendo a vida como se a pandemia tivesse acabado e não é real. Então, com certeza, essa é a principal causa desse aumento [8]. No mês de março outros 20 estados também adotaram medidas restritivas [veja aqui] e, em ao menos 16 deles, as taxas de ocupação de UTI estavam acima de 90% [9] – o que se estendeu no mês seguinte [10]. Em janeiro, o sistema de saúde do Amazonas entrou em colapso [veja aqui].
Leia análise sobre a decretação de toques de recolher na pandemia.
Como na semana [veja aqui] e no mês [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 15/02, publicou pela manhã em rede social sobre a cooperação com Israel de spray nasal contra a covid-19 (EXO-CD24) [1]. Segundo ele, a eficácia seria próxima de 100% em casos graves, e a Agência Nacional de Saúde (Anvisa) em breve analisaria o uso emergencial do medicamento [2]. De tarde, voltou a falar do spray em videoconferência no perfil de rede social de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Segundo o presidente, ‘tão importante quanto uma vacina aprovada pela Anvisa, é o remédio. Como a eficácia da vacina é de 50,38% (…) se a pessoa contrair o vírus, ela pode usar o spray’ [3]. Na ocasião, também voltou a elogiar o ‘tratamento precoce’ com hidroxicloroquina e ivermectina, parabenizando médicos que ‘têm coragem’ de receitar drogas ‘fora da bula’ [4]. O EXO-CD24, porém, só foi testado em 30 pacientes e não tem dados publicados nem na primeira fase de teses, ou seja, não tem eficácia comprovada; é um medicamento usado para tratamento de câncer de ovário [5]. Neste mesmo dia, o presidente intensificou aglomeração em praia, ao passear de jet ski em São Francisco do Sul – sem máscara [6]. No dia seguinte, cumprimentou apoiadores em praia, igualmente sem equipamento de proteção [7]. No mesmo dia, respondeu a internauta em rede social de maneira crítica ao isolamento social: ao ser perguntado a verificar como estava a situação do colapso sanitário em Manaus [veja aqui], ele disse para ‘reclamar’ contra quem o ‘mandou ficar em casa’ [8]. É frequente o endosso presidencial a medicamentos sem eficácia comprovada [veja aqui], bem como a menção a algum direcionamento à Anvisa [veja aqui]. Quando o país atingiu a marca de 10 mil mortes pela covid-19, ainda em maio de 2020, o presidente passeou de jet ski e fez alusão a uma festa que dara com 180 convidados [veja aqui]. Entre 15/02 e 21/02, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 9,8 milhões [9] para mais de 10,1 milhões [10] e as mortes atingiram o patamar de mais de 246,5 mil pessoas [11], com uma média diária de mais de mil por dia há 32 dias, segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Leia estudo sobre a persistência de fake news relacionadas a medicamentos para o tratamento de covid-19 no Brasil – em inglês, e análises sobre as ações presidenciais durante o feriado de carnaval e o desempenho brasileiro no combate à pandemia
No governo de Jair Bolsonaro, a destinação de verbas públicas para a regularização de territórios quilombolas representa o menor valor em pelo menos uma década, como mostra apuração da imprensa desta data [1]. Territórios quilombolas situados na Amazônia em divisa com a Bolívia, por exemplo, enfrentam há anos conflitos com madeireiros e ou militares do exército [2]; outros estão sob terras pertencentes à União, [3] sendo que todos vivenciam longo e lento processo de reconhecimento e titulação [4]. De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), no ano de 2019 aproximadamente 1.716 processos aguardavam a fase de regularização [5]. Atualmente, esse número é de 1.806 [6]. De acordo com relatório [7], nos dois primeiros anos da gestão do presidente Bolsonaro somente três territórios quilombolas foram titulados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) [8]. Para Givânia Silva, integrante da Conaq e liderança quilombola, os números ‘refletem a concretização da visão da atual gestão federal em relação à garantia e exercício dos direitos de povos tradicionais, expressa em mais de uma ocasião antes e depois das eleições gerais de 2018’ [9]. Durante campanha presidencial, Bolsonaro havia afirmado que, se eleito, não demarcaria ‘nem um centímetro de terra’ a quilombolas e indígenas [10]. Já no primeiro dia de mandato, editou Medida Provisória transferindo a competência da demarcação de terras indígenas e quilombolas ao Ministério da Agricultura [veja aqui], o que voltou a fazer em junho de 2019 [veja aqui]. Em 10/03/2020, também voltou a criticar a demarcação de terras quilombolas e indígenas e afirmou que o Brasil possui uma ‘indústria de demarcações de terras indígenas’ e que a demarcação de territórios quilombolas foi um ‘invenção da esquerda para atrapalhar o Brasil’ [veja aqui]. No mesmo ano, foi apurado que houve uma baixa histórica no reconhecimento de comunidades quilombolas pela Fundação Cultural Palmares (FCP) durante o governo Bolsonaro [veja aqui]. A titulação dos territórios quilombolas é tutelada pela Constituição Federal e integra o leque de deveres constitucionais do Estado [11].
Veja quais são as etapas do processo de regularização dos territórios quilombolas e leia sobre a titulação de territórios quilombolas, que é direito pautado na Constituição.
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, diz, na abertura da 46ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que o Brasil está ‘firme na defesa da democracia, da liberdade, da família e da vida a partir da concepção’ [1]. A ministra também elogia as ações do governo federal no combate à pandemia, em especial aquelas de proteção de grupos vulneráveis, como indígenas e idosos, mas ignora o número de mortos em decorrência da covid-19 no país [2]. No mesmo evento, Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, critica medidas de combate ao coronavírus e sugere restrição inadequada de liberdades na pandemia [veja aqui]. Em 2019, na mesma ocasião, Damares igualmente discursou em defesa da ‘vida desde a concepção’ [veja aqui]. Em 2020, Araújo e Alves participaram juntos de cerimônia para assinatura de declaração internacional de aliança antiaborto [veja aqui]. Organizações da sociedade civil publicam nota conjunta contra os discursos recentes e apontam as omissões e distorções nas falas dos ministros [3]. Em 2020, o Brasil foi denunciado na ONU em razão da baixa execução do orçamento para combate a covid-19 [veja aqui]. No mesmo ano, o governo ficou três meses sem apresentar medidas para proteger povos indígenas e comunidades tradicionais da covid-19 [veja aqui] e, a despeito do aumento da violência contra a mulher, o ministério chefiado por Damares não executou metade do orçamento disponível para a área [veja aqui].
Leia texto que discute o isolamento do Brasil nos posicionamentos internacionais.
Governo estadual do Acre decreta estado de calamidade pública em dez municípios após enchentes afetarem cerca de 130 mil pessoas no estado [1], seis dias depois de já ter declarado situação de emergência [2]. O forte volume das chuvas e o transbordamento de rios e igarapés inundaram diversas regiões do estado, causando estragos e desalojando famílias [3]. O decreto estadual tem validade de 90 dias e permite a Defesa Civil acreana mobilizar todos os órgãos públicos necessários ao combate da crise e convocar voluntários para reforçar as equipes das ações, entre outras medidas [4]. O decreto também autoriza as autoridades públicas a entrar sem autorização nas casas, usar propriedades particulares que julgarem necessárias, podendo inclusive desapropriá-las, sob a justificativa de emergência ao enfrentamento do desastre [5]. No plano federal, o Ministério do Desenvolvimento Regional reconheceu no mesmo dia, o estado de calamidade pública nos dez municípios [6]. O governo Bolsonaro ainda publicou uma medida provisória (MP) [7] liberando R$ 450 milhões para ações de defesa civil e assistência a vítimas das enchentes do Acre e de outros estados afetados pelas fortes chuvas do início do ano. Entretanto, apesar de editada sob a justificativa de socorro financeiro extraordinário aos estados, a MP não especifica em sua redação a alocação desses gastos por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional – que é o principal responsável pela destinação de verbas a obras públicas apoiadas pelo governo federal em todo território nacional [8] – ou dos estados favorecidos, limitando-se a descrever as finalidades do crédito a ‘ações de proteção e defesa civil nacional’ [9]. Em janeiro de 2021, tanto o estado de calamidade pública quanto a situação de emergência pela crise da covid-19 já haviam sido prorrogadas por tempo indeterminado [10].
Saiba mais sobre o significado de estado de calamidade pública.
Mais de um milhão de alunos têm dados vazados pela Secretaria de Educação do Distrito Federal por falha básica de segurança, segundo reporta portal de notícias especializado nesta data [1]. A vulnerabilidade, que permitia o acesso a informações pessoais dos alunos, ocorreu no portal de gestão de matrículas escolares da secretaria, o i-Estudar [2]. A falha, expunha informações pessoais dos alunos, majoritariamente menores de idade, como nome completo, CPF, data de nascimento, grau de escolaridade, nome da mãe, entre outras [3]. A situação se agrava se consideradas as determinações da Lei Geral de Proteção de Dados, já vigente à época do vazamento de dados, pois o marco legal prevê penalidades a quem expõe dados pessoais de forma indevida, sejam instituições públicas ou privadas, além de conter previsões específicas sobre o tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes, adequadas às determinações do ECA [4] [veja aqui]. Após a redação do portal informar a pasta da brecha de segurança, a secretaria se comprometeu a solucionar a falha e retira o portal do ar, porém, não informa se haveria alguma investigação sobre o alcance do dano ou se havia notificado os alunos com dados expostos [5]. Um diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), o militar Arthur Sabbat [veja aqui], também é notificado e diz que irá iniciar uma investigação [6].
Leia análises sobre a aplicação da LGPD no contexto educacional e sobre as dúvidas mais frequentes em relação ao tema.
O ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, faz discurso [1] na 46ª sessão do Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas (ONU) e critica medidas de combate à pandemia, por restringirem liberdades individuais [2]. Segundo Araújo, ‘sociedades inteiras estão se habituando à ideia de que é preciso sacrificar a liberdade em nome da saúde’ [3]. Ele também afirma que o Brasil seguiria na luta em defesa da democracia e da liberdade e, embora não critique medidas de lockdown, não se pode ‘aceitar um lockdown do espírito humano, o qual depende da liberdade e dos direitos humanos para exercer-se em sua plenitude’ [4]. O ministro também critica o que chama de ‘tecnototalitarismo’, que seria a censura, vigilância e ‘criação de mecanismos de controle social’ por plataformas [5]. No mesmo evento, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, profere discurso em tom semelhante ressaltando que o país adota medidas de proteção às minorias vulneráveis e que segue na defesa ‘da família e da vida, desde a concepção’ [6] [veja aqui]. Em janeiro deste ano, Araújo defendeu o presidente Donald Trump, que incitou manifestação golpista no Capitólio e foi posteriormente banido de rede social [veja aqui]. Em abril do ano anterior, ele comparou o isolamento social a campos de concentração nazistas [veja aqui].
Saiba mais como repercutiu no cenário internacional os discursos do Brasil na ONU
O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, vai a eventos em Brasília oito dias após ser diagnosticado com covid-19 [1]. O ministro participa de série de encontros presenciais em Brasília onde houve aglomerações [2]. Os eventos incluem almoço com deputados da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que teve cerca de 60 integrantes, e para a qual Salles discursa sem máscara [3]. O ministro chegou ainda a cumprimentar também o Ministro Paulo Guedes, que tem 71 anos e faz parte do grupo de risco da doença [4]. Após ser questionado por jornalistas sobre descumprimento do período mínimo de isolamento de 14 dias, recomendado pelo Ministério da Saúde (MS), Ricardo Salles afirma ter ficado dez dias sem sair de casa e ter sido posteriormente ‘liberado pela equipe médica’ [5]. A imprensa perguntou qual equipe médica o liberou e por qual razão; porém, não obteve resposta. Depois do encontro, a FPA se desculpa pelo ocorrido declarando que não tinha conhecimento sobre o quadro clínico de Salles e pede para que todos os participantes da reunião monitorem sintomas associados a covid-19 [6]. Um dia após o incidente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recebe dois pedidos de abertura de investigação criminal para apurar a conduta Salles , mediante a possível violação da lei da Quarentena [veja aqui] – que tem dispositivos ainda vigentes em razão de decisão judicial [veja aqui] – o que pode configurar crime sanitário [7].
Leia análises sobre as implicações legais do desrespeito à quarentena
O Instituto Brasileiro de meio Ambiente (Ibama) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) editam instrução normativa [1] permitindo a exploração agrícola em terras indígenas. O documento abre espaço para que não indígenas explorem terras indígenas [2]. De acordo com a nova regra, apenas o ‘arrendamento puro e simples’, ou seja, aluguel da terra indígena para produtores externos, fica proibido [3]. O secretário adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber César Buzatto, considera a decisão do Ibama e da Funai como ‘uma armadilha do governo Bolsonaro contra os povos indígenas do Brasil’, pois permite o avanço do agronegócio dentro de terras indígenas contribuindo assim para o estabelecimento de um ‘modelo exploratório insustentável ambiental e socialmente’ [4]. Horas depois da divulgação da instrução normativa, o deputado federal, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), protocola na Câmara decreto pedindo sua suspensão, argumentando que a normativa ataca o direito fundamental estabelecido pela Constituição que garante a exclusividade da exploração de terras tradicionais por povos indígenas [5]. As antigas normas de proibição já não impediam que as terras indígenas fossem negociadas para o agronegócio em diversas regiões do país e, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com as novas diretrizes estabelecidas pela Funai e pelo Ibama, abrem-se ainda mais brechas para a situação se agravar [6]. Pelo menos 22 territórios com o total de 31 hectares (equivalente a mais de cinco vezes o tamanho do Distrito Federal) possuem arrendamentos ilegais para produtores rurais; dos estados mais afetados pela exploração ilícita destacam-se Rio Grande do Sul, Paraná e Tocantins [7].
Leia a reportagem sobre a inconstitucionalidade da exploração de terras indígenas por produtores rurais
O presidente Jair Bolsonaro declara preocupação com a vacina produzida pelo laboratório Pfizer e em tom de ameaça diz que vai expor a população as cláusulas contratuais impostas pelo laboratório estadunidense [1]. O pronunciamento do presidente é feito um dia depois da Pfizer obter registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso de sua vacina contra a covid-19 [2]. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, também critica termos do contrato para a aquisição de vacinas, destacando dentre eles a não responsabilização do fabricante caso haja efeitos colaterais no paciente após a vacinação [3]. Ao lado de Bolsonaro, Pazuello também diz ter solicitado ajuda do Palácio do Planalto para mediar as negociações com a farmacêutica e afirma que, se liberada a autorização, o governo vai comprar as vacinas da Pfizer [4]. As declarações do Ministro e do Presidente ocorrem durante visita ao Acre, estado que está entre os que apresentam a menor cobertura vacinal contra a covid-19, com apenas 1,16% da população vacinada [5]. Pouco mais de uma semana após a fala do presidente no Acre, reportagem revela que o governo brasileiro rejeitou no ano passado a oferta de compra de 70 milhões de doses da vacina do laboratório americano, das quais três milhões já poderiam ter sido aplicadas [6]. Em nota, a Pfizer confirma a oferta das doses em agosto do ano passado e ainda acrescenta que foram feitas no total três ofertas de compra a União, duas em agosto e uma em novembro de 2020 [7]. Dois dias após a confirmação, o governo anuncia a compra de 14 milhões de doses do mesmo laboratório até junho deste ano [8]. A aquisição das vacinas do laboratório americano é confirmada pela Pfizer [9]. Em dezembro, Bolsonaro já havia falado que não poderiam culpá-lo se vacinados com a vacina da Pfizer virassem jacarés [veja aqui].
Leia análise sobre os desafios para vacinação contra a covid-19 no Brasil
O Conselho de Ética da Câmara do Deputados arquiva processo contra Eduardo Bolsonaro por ofensas dirigidas a Joice Hasselmann em 2019 [veja aqui]. O Deputado é denunciado ao Conselho por responder à uma postagem de Hasselmann nas redes sociais com a frase ‘#DeixeDeSeguirAPepa’. Dos 16 parlamentares presentes na sessão, 12 seguiram o parecer do relator do caso, o deputado Eduardo Costa (PTB-BA), votando a favor do arquivamento, três deputados votaram contra [1]. No parecer, Costa afirma que muitas das postagens atribuídas a Eduardo Bolsonaro na verdade ‘não eram feitas’ por ele – se referindo a outra mensagem ofensiva onde Eduardo expôs montagem do rosto de Hasselmann estampada em uma nota de 3 reais – e que em nenhuma das publicações feitas nas redes sociais Eduardo Bolsonaro extrapolou as prerrogativas de seu mandato parlamentar [2]. Segundo a análise de especialistas os ataques a deputada Joice Hasselmann expõem uma grave situação vivida cotidianamente por mulheres parlamentares, a violência politica de gênero [3]. Este tipo de violência é ‘sofrida por mulheres pelo simples fato de estarem na política’ [4]. A violência política de gênero responde a invalidação das opiniões de mulheres parlamentares justificadas por críticas que nada tem a ver com politica, mas sim com suas aparências e/ou personalidade [veja aqui].
Leia análise sobre a violência política de gênero no Brasil
A ONG Freemuse produz anualmente um relatório sobre o estado da liberdade artística no mundo e incluiu neste ano o Brasil como um de seus objetos de estudo [1]. De acordo com a coordenadora do projeto, Jasmina Lazovic, há o risco de que o Brasil siga o caminho de países como Rússia, Polônia e Hungria, que são ‘ditas democracias com lideranças nacionalistas, populistas e conservadoras’ e onde ‘tentam controlar círculos acadêmicos e culturais’ [2]. Lazovic ressalta que muitas vezes a censura não é explícita, mas ocorre através de nomeações para cargos de chefia com perfil ideológico específico ou de decisões de não financiamento dos artistas [3]. O relatório afirma que o Brasil passa por um contexto em que as instituições democráticas estão sendo desafiadas e que o governo federal busca minar as liberdades artísticas, principalmente com base em dissensos políticos e religiosos [4]. O documento registra que, desde a dissolução do Ministério da Cultura em 2019 [veja aqui], o governo federal busca centralizar o controle administrativo sobre o setor cultural, tendo acelerado esse processo em 2020 [5]. Em setembro, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, determinou controle de postagens em sites e redes sociais de todos os órgãos vinculados à pasta [veja aqui]. Segundo o relatório, ainda que a medida reconheça a autonomia legal dessas instituições, é uma forma de subordiná-las à Secretaria [6]. O relatório aponta que grupos religiosos conservadores requerem na Justiça o banimento de certas produções artísticas sob a justificativa de proteção da família e valores religiosos [7]. A ONG cita o caso do programa Porta dos Fundos, que representava Jesus como homossexual [veja aqui], do filme que criticava a sexualização de crianças [veja aqui] e da exposição que debatia sobre a política de estado em torno do HIV . Além disso, o relatório menciona a tendência crescente de ataques contra artistas através da internet, que normaliza a violência. Em geral, os ataques e ameaças são direcionados a artistas mulheres e/ou LGBTI e contra aqueles que criticam o governo, inclusive tendo sido escritos por figuras públicas [8]. O relatório cita o caso em o secretário especial da Cultura criticou o humorista Marcelo Adnet por uma paródia de campanha do governo [veja aqui]. A ONG ressalta que esses tipos de agressões, promovidas pelos aliados do presidente Bolsonaro, prejudicam o trabalho e a saúde mental dos artistas [9]. O relatório conclui que, para promover uma sociedade plural e democrática, o governo brasileiro deve reconsiderar o processo de centralização e influência política sobre o setor cultural, deve se abster de censurar obras e artistas que critiquem o governo ou que pareçam inapropriadas sob uma ótica cristã e não deve ameaçar ou encorajar seus apoiadores a ameaçar e assediar artistas [10]. Ao invés disso, as autoridades têm a responsabilidade de investigar e punir aqueles que cometem violência contra artistas [11].
O presidente Jair Bolsonaro cita texto em suas redes sociais que diz que ‘diálogos de procuradores da Lava Jato revelam complô contra família Bolsonaro’ [1] e insinua ‘perseguição’ [2]. Junto ao texto, o presidente afirma que ‘além de quebra criminosa de sigilos’ houve uma tentativa para ‘cooptar’ a indicação do procurador-geral da República em 2019 [3]. O presidente faz referência ao seu filho, senador Flávio Bolsonaro, que é investigado por movimentações atípicas em esquema de ‘rachadinhas’ na Alerj, com base em relatório do COAF [veja aqui][4]. A afirmação também faz referência a suposta relação entre Deltan Dallagnol e vazamentos de dados de sua família que ocorreram em 2019, o presidente insinua um movimento para ‘cooptar’ a indicação do Procurador Geral da República [5]. À época, Augusto Aras [veja aqui] foi escolhido, mesmo fora da lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR). O contexto dessas afirmações do presidente são as conversas vazadas de procuradores da operação Lava Jato, apreendidas na operação Spoofing [6]. Jair Bolsonaro já havia dito no dia 12/02, a seus apoiadores no Palácio da Alvorada, que foi citado em conversas vazadas entre procuradores da Lava Jato, e iria divulgar a ‘perseguição’ no conteúdo das mensagens [7].
O Governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, assina convênio entre governo do estado e Consórcio Integrado de Segurança Pública da Baixada Fluminense (CISPBAF) para ampliar a segurança da região [1]. Com o acordo, serão disponibilizados equipamentos de monitoramento de ruas, que incluem câmeras, redes de comunicação e softwares de reconhecimento facial, para formar um ‘cinturão eletrônico com monitoramento’ [2]. Em 2019, a Asssembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) já havia disponibilizado 15 milhões de reais para o investimento em inteligência policial, destinado pelo governo do estado à aquisição de equipamentos de segurança [3]. Os recursos provenientes do Fundo Especial da Alerj irão auxiliar na construção do CICC-BF em Duque de Caxias [4]. Especialistas discutem que a utilização de mecanismos de reconhecimento fácil pode atentar contra o direito à privacidade dos cidadãos [5] e ter vieses discriminatórios [6]. O governo federal também já implementou medidas que atentam conta a privacidade dos cidadãos, baixando decretos que preveem compartilhamento de dados pessoais entre órgãos [veja aqui], sem autorização dos cidadãos [veja aqui] e promovendo acordo para ter acesso a dados de cidadãos que possuem CNH [veja aqui]. Entretanto, estas medidas podem ocasionar em problemas como questões jurídicas e problemas técnicos que podem impedir a precisão dos algoritmos e proteção do sistema [7]. O tema vem sendo debatido em diversos lugares do mundo, e nesta semana, após repercussão negativa o Central Único de Favelas interrompeu a utilização do sistema de reconhecimento facial que visava para o recebimento de doações, a autentificação de beneficiários [8].
Ouça podcasts sobre os problemas de implementação de tecnologias de reconhecimento facil e seu potencial discriminatório, e leia relatório sobre o avanço do tecnoautoritarismo sob o governo atual.
Ministério da Saúde (MS) rejeita pedido de governadores e secretários da Saúde para uniformizar medidas contra covid-19 a nível nacional [1] [2]. Governadores mencionam a taxa de ocupação de leitos, que ultrapassa 70%, e temores com falta de remédio [3]; da mesma forma, o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) emite nota sugerindo toque de recolher nacional das 20h às 6h, medidas de fechamento de atividades econômicas, como bares e restaurantes, de locais de aglomeração pública como praias, aeroportos e até do transporte estadual, além da adoção de lockdown (medida de maior restrição) para locais cuja ocupação dos leitos hospitalares ultrapasse 85% [4]. A despeito da ausência de resposta do MS, pelo menos 20 estados anunciam na mesma semana medidas mais restritivas para o combate à pandemia [veja aqui]. Além disso, funcionários do MS já admitiram à imprensa que reconhecem a necessidade da adoção de medidas mais restritivas, mas que ‘Jair Bolsonaro não deixa’ [5]. Dois dias antes, inclusive, o presidente – que reiteradamente afirma que ‘faz sua parte’ no combate ao vírus [veja aqui] – fez postagem em suas redes sociais e nas redes de comunicação oficiais da União divulgando uma lista com os valores repassados pelo governo federal as demais unidades federação, publicação que é rechaçada em carta assinada por 16 governadores, os quais lembram que o repasse de dinheiro da União para os estados é ‘uma obrigação constitucional’ e que o montante enviado para área da saúde foi mínimo [6]. Em 04/03, governadores de 14 estados enviam carta a Bolsonaro para que busque auxílio de organismos internacionais na aquisição de vacinas [7]. O presidente não responde a carta, mas no mesmo dia faz declaração pública para apoiadores em Uberlândia (MG), afirmando que quem pede compra de vacina é ‘idiota’ e ironiza ‘só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] pra vender no mundo’ [8] [veja aqui]. Duas semanas após a primeira recusa, governadores oficiam novamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando que ele e o governo federal editem medidas mais restritivas de locomoção para a população brasileira e uma lei que regulamente a compra de vacinas pelas unidades da federação e pelos municípios [9]. Em janeiro, Pazuello cancelou reunião sobre vacinação com governadores [veja aqui] e os responsabilizou pelo atraso na entrega de vacinas aos estados [veja aqui]. Ao final do mês, ocorre a quarta troca de ministro da Saúde [veja aqui], mas o novo ministro, o médico Marcelo Queiroga, também se declara contrário à adoção de um lockdown nacional [10]. No mesmo dia das declarações de Queiroga o país registra 315.268 óbitos pela doença e picos inéditos na média de mortes, superando 2.000 vidas perdidas por dia [11].
Leia análises sobre divergências entre governadores na adoção de medidas para o combate da covid-19, sobre a situação dos leitos hospitalares no país e entrevista com cientistas políticas sobre a postura negacionista do presidente e seus interesses eleitorais.
Como na semana [veja aqui] e no mês [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 24/02, volta a sugerir que a vacina da Pfizer seria perigosa [veja aqui], em visita ao Acre. No mesmo dia, promoveu aglomeração no Palácio do Planalto para cerimônia de posse do novo Ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA) [1]. No dia seguinte, em sua videoconferência semanal, criticou o uso de máscaras e a adoção de medidas de isolamento social [2]. Segundo ele, haveria estudo alemão indicando que máscaras seriam prejudiciais às crianças: haveria diversos efeitos colaterais do seu uso. O estudo apontando, entretanto, foi, na verdade, uma enquete online preenchida por pais, médicos e pedagogos, e criticada no meio científico [3]. Em 26/02, ao comparecer a evento no Ceará, voltou a criticar lockdowns contra a covid-19 e disse, novamente, que seria ‘imbrochável’ [4]. Dois dias depois, compartilhou vídeo em redes sociais recomendando que o governador do Distrito Federal desistisse de medidas de distanciamento social [5]. É comum o descrédito presidencial a medidas de distanciamento social [veja aqui] [veja aqui]. Em dezembro do ano passado, ele alertou que a vacina da Pfizer poderia trazer efeitos colaterais graves e ‘transformar pessoas em jacarés’ [veja aqui]. Em janeiro deste ano, também se chamou de ‘imbrochável’, descreditando tentativas de responsabilizá-lo pela pandemia e uma possível perda do cargo [veja aqui]. Entre 22/02 e 28/02, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de quase 10,2 milhões [6] para mais de 10,5 milhões [7] e as mortes atingiram o patamar de mais de 255 mil pessoas [8], com média diária superior a mil há 32 dias, segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Leia análise sobre o custo político da pandemia no governo Bolsonaro