A secretaria especial da Cultura veta, em ato inédito, o plano anual de manutenção do Instituto Vladimir Herzog (IVH) via Lei de Incentivo à Cultura – antiga Lei Rouanet [1]. O instituto, que leva o nome de jornalista assassinado durante a ditadura militar, foi criado em 2009 e realiza atividades relacionadas aos direitos humanos, como projetos educacionais de respeito à diversidade e ações culturais de preservação da história brasileira recente [2]. Em suas redes sociais, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, justifica a medida afirmando que a entidade ‘não desenvolve apenas atividade cultural, mas também jornalística’ [3]. Para o coordenador de Jornalismo e Liberdade de Expressão do IVH, Giuliano Galli, a reprovação da proposta do plano de captação de recursos não decorre de uma análise técnica, pois todas as etapas burocráticas foram bem sucedidas, somente na aprovação final que houve o indeferimento [4]. Além disso, o coordenador ressalta que a justificativa apresentada pelo secretário demonstra uma visão ‘muito estreita do que é cultura e de qual é o sentido das leis de incentivo para o país’ [5]. Ainda, o deputado Eduardo Bolsonaro compartilha nas redes sociais a publicação de Frias e afirma que se o instituto levasse o nome de Brilhante Ustra, torturador da ditadura de 1964, criticariam dizendo que é ‘ideologização’. O deputado defendeu que o governo é técnico e aplica a lei [6]. Para Galli, a decisão da secretaria está relacionada à tentativa de ‘promover um revisionismo histórico, negando tudo o que ocorreu na ditadura’ [7]. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog e fundador do IVH, afirma que o deputado e sua família visam à destruição da cultura e que a rejeição do plano é uma forma de ‘sufocar’ o instituto e condiz com o pensamento ‘totalitário’ do governo [8]. 150 entidades assinam manifesto em defesa do IVH [9]. O IVH afirma que o projeto foi indeferido sem a apresentação de parecer que fundamente a decisão e planeja entrar com medida judicial para revertê-la [10]. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro sempre foi crítico aos incentivos da antiga Lei Rouanet, pois supostamente favoreceriam projetos de esquerda [11]. Em outra oportunidade, o governo federal não autoriza projetos com patrocínios culturais já combinados via Lei Rouanet [veja aqui].
Leia mais sobre a biografia do jornalista Vladimir Herzog, conheça os projetos do Instituto Vladimir Herzog e leia a análise sobre a aplicação da antiga Lei Rouanet durante o governo Bolsonaro e quais as mudanças promovidas na legislação de incentivo à cultura.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.