O governador de São Paulo, João Dória, assina decreto incluindo Igrejas na lista de serviços essenciais – que não podem ser interrompidos – em contexto de adoção de medidas para combater a pandemia do coronavírus [1]. Dória afirma que pretende transformar o decreto em lei e reforça que medidas sanitárias como ocupação limitada, distanciamento social e uso obrigatório de máscaras terão que ser respeitadas [2]. O governador diz que, por ser católico, entende que ‘a oração ajuda muito a aumentar’ a resiliência, resistência e esperança em relação ao futuro, e por isso seria importante reconhecer a religião como um serviço essencial [3]. Uma semana antes de assinar o documento, o próprio governador havia vetado projeto de lei do deputado estadual Gil Diniz (sem partido) que enquadraria a atividade religiosa como serviço essencial em tempos de pandemia [4]. Um dia após a assinatura do decreto, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) pede em carta aberta ao público ‘maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região’ [5]. A entidade, que reúne os 27 secretários de Saúde do país, também recomenda lockdown nas regiões ‘com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação de casos e mortes’ [6]. O Ministério Publico de São Paulo estuda medidas para retirar atividades religiosas da lista de serviços essenciais no estado [7]. Em março do ano passado, o governo federal assinou decerto reconhecendo atividades religiosas como serviço essencial e a questão foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que a competência para incluir práticas religiosas na lista de serviços essenciais passa a ser de estados e municípios, o que não isenta a União de planejar e adotar medidas de enfrentamento da crise sanitária [veja aqui]. O advogado Flávio Grossi entra com ação popular na Justiça pedindo que o decreto assinado por Dória seja anulado. Segundo o advogado, o decreto representa “risco iminente de dano irreversível ao patrimônio do estado”, pois favorece aglomerações no interior de Igrejas, templos e centros religiosos aumentando assim o número de infecções pela covid-19 [8].
Entenda por que igrejas e templos são considerados por cientistas como locais propícios para contaminação do coronavírus
A Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra um tweet do apresentador Danilo Gentili [1]. Em uma publicação, Danilo afirma: ‘Eu só acreditaria que esse país tem jeito (…), se a população entrasse agora na Câmara e socasse todo deputado que está nesse momento discutindo a PEC de imunidade parlamentar (…)’ [2]. A PEC restringe as possibilidades de prisões de deputados e abranda a Lei da Ficha Limpa, a proposta não teve êxito entre os parlamentares e foi retirada da pauta na Câmara dos Deputados [3]. A ação ajuizada contra Gentili pede que ele seja preso em flagrante, com base na Lei de Segurança Nacional, já que a Câmara afirma que o tweet do apresentador promove discurso de ódio contra deputados [4]. Após a repercussão do caso, Danilo apagou a postagem e se retratou por meio de um tweet, no qual declara: ‘Eu fiz um tweet que foi alvo de justas críticas por alguns deputados. Quem me segue sabe que sempre defendi as instituições (…)’ [5]. A LSN é uma herança ditatorial que vem sendo usada com frequência pelo governo de Jair Bolsonaro; o número de procedimentos abertos baseados no texto aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo atual [6]. A utilização da lei para silenciar críticas ao governo já incidiu sobre o influenciador Felipe Neto [veja aqui], o político Guilherme Boulos [veja aqui] e até sobre o ministro do STF Gilmar Mendes [veja aqui]. A Advocacia-Geral da União também já se manifestou a favor do uso da LSN pelo governo de Jair Bolsonaro [veja aqui]. Em 20/04, a Câmara dos Deputados aprova o requerimento que torna de urgência o projeto que visa substituir a Lei de Segurança Nacional pela Lei do Estado Democrático de Direito [7].
Leia sobre como a escalada de casos baseados na LSN pode indicar abusos e cerceamento de liberdades. Ouça sobre o contexto no qual a LSN foi criada durante a Ditadura Militar e as suas inconsistências.
Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, assina em 02/03, portaria para dar início à revisão da Política Nacional de Direitos Humanos (PNDH) [1]. O documento institui um grupo de trabalho composto exclusivamente de representantes do governo para discutir mudanças na PNHD estabelecida desde 1996 [2]. O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) solicitou informações à pasta comandada por Damares sobre qual seria o estágio das discussões internas das revisões propostas, porém não recebeu resposta [3]. Em resposta à revisão da PNDH o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) contestou no Supremo Tribunal Federal (STF) a portaria assinada pela ministra e ajuizou uma ação no STF para anular a portaria [4]. A legenda argumenta que o processo de revisão das políticas públicas voltadas para os Direitos Humanos deve necessariamente contar com representantes da sociedade civil e defende que a portaria assinada por Damares viola os princípios constitucionais da participação social e da promoção de políticas públicas [5]. O PCdoB questiona também a necessidade, conveniência e o momento de alteração das políticas públicas então existentes [6]. Em 2019, CNDH foram apontadas 36 violações ao Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que contém diretrizes, objetivos e ações programáticas para uma Política de Estado dos Direitos Humanos [veja aqui].
Leia mais sobre as mudanças na PNHD propostas pela ministra Damares Alves.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nomeia como Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) do Estado do Acre Helen de Freitas Cavalcante [1], que antes atuava como advogada e em redes sociais oferecia serviços para infratores ambientais [2]. Em postagem realizada, a advogada se colocava à disposição para representar os interesses daqueles multados pelo Ibama: ‘não será a Justiça que lhe citará como um executado em uma execução fiscal da multa do Ibama, mas você (…) mandará citar o Ibama a respeito das dispostas nulidades e abusividades cometidas’ [3]. Em outra publicação, ela dizia ‘você já recebeu aquela multinha do Ibama (…) é isso mesmo, eles vão lhe cobrar aquela mula e penhorar os bens que tiverem em seu nome, vão tirar o gado que tiver na sua terra. Portanto, não pense que não é só aquela multinha do Ibama’ [4]. Ambientalistas apontam que a atuação anterior de Cavalcante pode prejudicar o enfrentamento de práticas ambientais ilícitas [5]. Segundo as exigências legais para ocupação de cargos em comissão desse tipo, o nomeado deve possuir, ao menos, experiência profissional de três anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ao qual será indicado, ou ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança por dois anos ou possuir título de especialista, mestre ou doutor também nessa área [6]. Salles já fez nomeação questionada judicialmente em razão da incompatibilidade técnica do nomeado para o exercício do cargo, caso de missionário evangélico nomeado para cargo de coordenador geral de índios isolados na Funai [veja aqui]. A nomeação de Cavalcante ocorre após a exoneração da maioria dos superintendentes regionais do Instituto [veja aqui]. Para outras superintendências estaduais do Ibama, Salles fez nomeações sem as qualificações técnicas necessárias, como no Ceará [veja aqui] e em Santa Catarina [veja aqui].
A Controladoria-Geral da União (CGU) abre processo contra dois professores universitários que criticam o presidente Jair Bolsonaro: o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal e o professor Eraldo dos Santos Pinheiro [1]. O processo é motivado pela iniciativa do deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS). O parlamentar entrou com representação na CGU, considerando ‘infração disciplinar’ por ‘manifestação desrespeitosa e de desapreço direcionada ao Presidente da República’ durante lives ocorridas em janeiro deste ano dentro da UFPel [2]. As manifestações se deram em decorrência do resultado das eleições para a reitoria da UFPel, no final do ano passado, onde os professores foram contra a nomeação da atual reitora, a segunda mais votada no processo eleitoral da universidade [3]. Mesmo perdendo as eleições, a professora Isabela Andrade foi nomeada por Jair Bolsonaro, pois a previsão legal é de que reitores de Universidades Federais sejam nomeados pelo Presidente da República [4], porém o ato interrompe a tradição da nomeação do primeiro colocado na lista tríplice elaborada pelo conselho universitário [5]. Os docentes, que durante as lives proferiram diversas críticas ao governo, são chamados pela CGU a prestar esclarecimentos [6]. Os professores tiveram que assinar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a não repetir os atos nos próximos dois anos [7]. Com as assinaturas do TAC os processos disciplinares foram arquivados [8]. Um dos professores é epidemiologista formado pela UFPel e publicou artigo onde aponta que as medidas anticientíficas tomadas pelo governo Bolsonaro agravaram a crise sanitária no País [9].Ele diz ser muita coincidência que um processo disciplinar seja instaurado contra um dos maiores críticos da atuação do governo durante a pandemia e afirma que assinou o termo para por uma ‘pedra no assunto’, mas que continuará emitindo suas opiniões [10].O outro professor que assinou o TAC diz que foi uma ‘tentativa de silenciar’ aqueles que criticam o governo [11]. Em apoio aos docentes, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento emite nota classificando a ação da CGU como intimidatória e aponta para o risco do uso de ‘instrumentos jurídicos para constranger a liberdade de expressão’ [12]. Questionada, a CGU não respondeu se existem outros processos da mesma natureza tramitando no órgão e que o TAC tem caráter consensual e não é um instrumento punitivo [13]. Coincidentemente, o caso veio a tona junto com ofício do Ministério da Educação (MEC) pedindo que as universidades federais tomem providências para ‘prevenir e punir atos político-partidários’; contudo, o ofício foi suspenso pelo próprio MEC após a repercussão do caso dos professores denunciados [14] [veja aqui]. Em julho do ano passado, a CGU editou norma técnica para monitorar e punir servidores públicos por manifestações nas redes sociais [veja aqui]. Em outubro de 2020, o figurou como destaque negativo no ranking sobre diminuição da liberdade de expressão [veja aqui]. O Supremo Tribunal Federal (STF) já havia decidido anteriormente pela inconstitucionalidade de atos que atentem contra a liberdade de expressão de alunos e professores e tentativas de impedir a propagação de ideologias ou pensamento dentro das universidades [15]. A prática de não nomear os primeiros colocados das listas tríplices para as reitorias das universidades federais já foi realizada por Bolsonaro e pelo MEC, ao menos, 15 vezes desde o início de sua gestão [16].
Veja linha do tempo sobre nomeações de reitores universitários realizadas pelo governo Bolsonaro que romperam com a tradição de seguir o primeiro colocado nas eleições universitárias
Presidente Jair Bolsonaro critica a cobertura da imprensa sobre a gestão de seu governo no combate à pandemia ao afirmar que ‘para a mídia, o vírus sou eu’ [1]. A declaração, dada aos seus apoiadores na saída do Palácio do Planalto, veio após o país atingir o quarto dia consecutivo de aumento na média móvel de mortes por covid-19 [2]. Nas 24 horas anteriores, o país havia registrado 1.726 óbitos pela doença [3]. Bolsonaro também ressalta que na mesma semana enviaria a Israel uma comitiva responsável por negociar o teste no Brasil de um spray nasal que serviria de medicamento contra a covid-19, mas que não tem eficácia comprovada pela ciência [4] [5]. O presidente complementa ao afirmar que os veículos aterrorizam a população ao informar sobre a crise sanitária [6]. Por conta disso, afirma que não se informa mais pelos veículos tradicionais, e que havia cancelado as assinaturas de jornais para o governo federal, ao sugerir que os eleitores fizessem o mesmo [7]: ‘Não leio mais, não vejo Jornal Nacional, não assisto, que é a maneira que você tem de realmente pensar em coisas sérias no país’ [8]. No mesmo dia, em entrevista a jornalistas, os governadores e o Supremo Tribunal Federal (STF) também são alvos de críticas do presidente, ao sugerir que preferiria ser, o responsável central no enfrentamento da pandemia em detrimento da autonomia fixada pelo STF para que os demais entes federativos também possam adotar medidas de enfrentamento à pandemia [9] [veja aqui]. Para Bolsonaro, o STF teria impossibilitado a atuação da União, enquanto, na realidade, a corte apenas determinou a competência concorrente de todos os entes federados no manejo das políticas de enfrentamento da crise sanitária [10]. Tal discurso não é novo na retórica do presidente, que já criticou a cobertura jornalística da pandemia em diversas ocasiões. Só em 2020, foram ao menos 580 ataques à imprensa realizados pelo governo federal [veja aqui].
Veja balanço dos ataques de Bolsonaro a imprensa em 2020
Ao menos 20 estados do país anunciam medidas mais restritivas para o combate a pandemia da covid-19, como a restrição de circulação em vias públicas, limitação de funcionamento de atividades econômicas e fechamento de serviços não essenciais [1]. Dentre eles, 09 estados – Mato Grosso do Sul, Roraima, Pará, Piauí, Paraíba, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e São Paulo – decretam toque de recolher, ou seja, proibição de que pessoas permaneçam nas ruas após determinado horário [2]. O estado de Mato Grosso e a cidade do Rio de Janeiro também preveem a aplicação de multa em caso de descumprimento das medidas impostas por parte dos cidadãos [3]. E em 04 estados – Amapá, Sergipe, Maranhão e Bahia – são aplicadas restrições à venda de bebidas alcóolicas [4]. Além disso, cinco cidades – 04 delas no Ceará e uma em São Paulo – já decretaram o lockdown, isto é, a restrição mais rígida de circulação de pessoas, que só podem sair do confinamento por motivos emergenciais [5] [6]. O anúncio das medidas de restrição acontece uma semana após 14 governadores terem enviado carta ao presidente da República para que tome providências junto a organismos internacionais para ampliar a aquisição de vacinas contra covid-19 [7], após já terem, no mês passado, solicitado ao Ministério da Saúde uniformizar medidas contra a covid-19, o que não foi acatado [veja aqui]. Apesar da tendência geral, 03 estados – Rio de Janeiro, Tocantins e Alagoas – não adotam medidas coordenadas, deixando municípios desamparados [8]. Uma semana depois, o governador de São Paulo decreta em 645 municípios o ‘modo de emergência’ de 15/03 até 30/03, com restrições ainda mais rígidas às já aplicadas [9]. Na mesma semana, o governador do Rio de Janeiro baixa decreto com restrição das atividades econômicas e circulação de pessoas pelo período de uma semana [10]; e em 23/03 o prefeito carioca estipula até sanção de prisão para quem descumprir as restrições [11]. Apesar das medidas adotadas no começo de março, ao final do mês o país registra 312.299 óbitos pela doença, com recordes consecutivos de mortes diárias e 67 dias seguidos de média móvel acima da marca de mil mortes [12]. Ao mesmo tempo, ao final de março a cidade paulista de Araraquara que adota o lockdown desde 21/02 não registra nenhuma morte por covid-19 [13]. No início da pandemia, em abril e maio de 2020, diversos estados – Maranhão, Pará, Amapá, Tocantins, Ceará e Pernambuco – adotaram o lockdown [veja aqui] [veja aqui]. A medida mais restritiva de confinamento é amplamente rechaçada pelo presidente da República [veja aqui] [veja aqui] e por outros ministros do governo federal [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Ao passo que regiões adotam medidas de isolamento social, outras investem em tratamentos ineficazes e ações flexíveis de combate a pandemia da covid-19 [14]. Uberlândia (MG), é uma dessas cidades que se firma em ideais negacionistas para lidar com a escalada de casos, se tornando um exemplo a não ser seguido [15]. O prefeito Odelmo Leão (PP), aliado de Bolsonaro, aposta em distribuição gratuita de medicamentos incapazes de combater a doença e medidas de isolamento maleáveis, em meio a um sistema de saúde colapsado [16]. No dia 04 de março, Jair Bolsonaro visita Uberlândia, promove aglomerações e ressalta o seu apoio ao uso de medicamentos ineficazes, enquanto faltam leitos de UTI e enfermaria nos hospitais da cidade [17].
Leia análise sobre a utilização do lockdown como freio a novas variantes de covid-19 e entrevista com prefeito que adotou a medida mais restritiva.
Jovem é preso após publicação direcionada ao presidente Jair Bolsonaro [1]. Após postagem no twitter, Reginaldo da Silva Junior, de 24 anos, é detido em sua residência por policiais militares [2]. A publicação faz menção à ida do presidente a cidade de Uberlândia (MG) onde o jovem mora: ‘Gente, Bolsonaro em Udia (sic) amanhã… Alguém fecha virar herói nacional?’ [3]. Policiais Militares foram à casa do suspeito após informações levantadas pelo serviço de inteligência da própria PM; ao ser localizado o Jovem recebeu voz de prisão em flagrante por suposta violação da Lei de Segurança Nacional. A Polícia Militar também informou ter ido a mais três endereços de pessoas que concordaram com a publicação de Reginaldo nas redes sociais, mas não conseguiu localizá-las [4]. Reginaldo diz que a publicação se tratou de uma sátira e que por ter poucos seguidores nas redes sociais não imaginou que ganharia tanta proporção: ‘Fiz uma publicação com base em uma fofoca, em tom de piada, nem sabia se o Bolsonaro viria mesmo à Uberlândia’ [5]. Para a Polícia Federal (PF), que instaurou investigação sobre o caso, o jovem teria cometido crime por violar a Lei de Segurança Nacional (LSN) ao ‘fazer propaganda’ e ‘incitar’ a prática de crimes contra a integridade física e a vida do presidente da República [6]. Especialistas criticam a prisão afirmando que a lei em que o jovem foi enquadrado tem raízes no regime militar, e não diferencia crítica de ameaça ao governo, o que vai contra a Constituição de 1988 [7]. Juristas também enxergam a semelhança do caso em Uberlândia com a prisão do deputado Federal Daniel Silveira [veja aqui]. Especialistas apontam que a legislação brasileira dá bases para determinar prisão em flagrante – aquela que ocorre quando a pessoa está cometendo ou acaba de cometer infração penal [8] – para crimes cometidos na internet em razão do conteúdo continuar acessível nos meios digitais [9]. Segundo juristas, tal entendimento sobre os crimes virtuais ainda não é algo consolidado no direito penal Brasileiro [10]. Professor de Direito Penal argumenta que limites para que crimes praticados na internet sejam considerados crimes em flagrante devem ser estabelecidos [11] e que a prisão em flagrante nestes casos só cabe se ficar clara a intenção do autor em manter o conteúdo da postagem ‘vivo nas redes, seja pelo reenvio ou outras estratégias ativas de divulgação, seja pela opção de não removê-lo’ [12]. Já outro professor, de direito constitucional, defende que o contexto das postagens nas redes sociais deve ser considerado antes de ser enquadrado como crime [13]. Ao comentar as prisões de Reginaldo Silva Júnior e Daniel Silveira, ambos presos em flagrante por publicações na internet, ele argumenta que existe uma diferença bastante visível nos dois casos, pois, as postagens diferem no conteúdo e os envolvidos são diferentes pelo status jurídico e político que têm [14]; e ‘as restrições à liberdade de expressão de um deputado não são as mesmas aplicadas a um cidadão qualquer, nesse sentido, ‘existe uma diferença muito significativa entre um deputado falar que quer fechar o Supremo e ameaçar ministros, e um indivíduo qualquer dizer isso’ [15]. Especialistas concordam que a decisão do ministro Alexandre de Moraes em prender Daniel Silveira reforça as bases jurídicas para as forças policiais cometerem abusos como os que o correram com o jovem em Uberlândia [16]. Em dezembro do ano passado o advogado criminalista Marcelo Feller havia sido intimado pela Polícia Federal (PF) a depor em inquérito criminal instaurado a pedido do Ministro da Justiça, André Mendonça, com base na Lei de Segurança Nacional (LSN). A intimação ocorre após o Advogado fazer críticas ao Presidente Jair Bolsonaro em programa de televisão [veja aqui].
Leia análises sobre as tensões entre liberdade de expressão e crime na legislação Brasileira
Ministério da Educação (MEC) encaminha ofício determinando punição de manifestações políticas no interior de universidades federais, como apurado pela imprensa nesta data [1]. O órgão envia documento para todas as universidades federais do país alertando que manifestações políticas nas dependências dos campi podem ser consideradas ‘imoralidade administrativa’, e por isso se tornam passíveis de punições disciplinares [2]. O documento é assinado pelo procurador do Ministério Publico Federal (MPF), Ailton Benedito, apoiador do presidente Jair Bolsonaro [3]. O MEC afirma que o ofício atende a solicitação da corregedoria da pasta [4]. A representação, assinada por Ailton ano passado, só foi compartilhada com os reitores pelo MEC em fevereiro deste ano [5]. O comunicado é enviado às universidades na mesma semana em que a Controladoria-Geral da União (CGU) publica no Diário Oficial da União (DOU), termos de ajustamento de conduta (TAC) assinados por dois professores da Universidade de Pelotas (UFPel) [6]. Segundo a CGU, os docentes teriam criticado a atuação do governo federal durante a pandemia, cometendo ‘infração administrativa’ [veja aqui]. Consultados sobre as sanções às universidades públicas, juristas e educadores afirmam que as medidas fazem parte de tentativa do governo de intimidar servidores que, na prática, possuem autonomia em relação ao governo federal [7]. Especialistas argumentam que a liberdade de expressão nas universidades é assegurada por lei, sendo ratificada em 2018 quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela inconstitucionalidade de qualquer ato que atente contra manifestações de alunos e professores nas instituições de ensino superior [8]. Na ocasião, o STF julgou ações policiais dentro de universidades e considerou inconstitucional qualquer ato judicial ou administrativo que limite a liberdade de cátedra, reunião ou expressão nas universidades [9]. Um dia após a divulgação das restrições, o MEC volta atrás na decisão e suspende o ofício após a repercussão do caso dos professores investigados na UFPel [10] [veja aqui]. Em nota, o MEC afirma que não tinha a intenção de coibir a liberdade de expressão no ensino superior [11]. Em outras oportunidades, ex-ministro da Educação disse que alunos teriam direito de gravar professores em sala de aula [veja aqui], ministro da Justiça autorizou o uso da Força Nacional durante protestos pela educação [veja aqui], e o MEC anunciou cortes orçamentários de universidades por ‘balbúrdia’ [veja aqui].
Leia glossário explicativo sobre autonomia universitária e liberdade acadêmica, veja como o governo federal tem atacado essas noções e leia entrevista sobre medidas de órgãos federais para inibir manifestações políticas de acadêmicos
O presidente Jair Bolsonaro assina decreto [1] que dispensa licitação e estabelece sigilo sobre compras ou contratações de serviços relacionados ao lançamento de veículos espaciais [2]. No ano passado, o comando da aeronáutica já havia adquirido satélite Finlandês no valor de R$145 milhões sem licitação, isto é, sem seguir o procedimento administrativo formal para contratação de serviços pelo poder público [3] [veja aqui]. Em nota, o Ministério da Defesa (MD) negou que o decreto tenha alguma relação com a aquisição do satélite, afirmando que o seu objetivo era de monitoramento do território nacional e de focos de incêndio [4]. A compra do satélite é criticada por especialistas, pois, na prática, o equipamento fará o mesmo trabalho que já é feito por outro órgão federal, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [5]. O microsatélite tem um custo avaliado em mais de 48 vezes acima da verba prevista para o orçamento da pasta em 2020, em comparação com projetos de monitoramento desta natureza [6]. O Inpe chegou a encaminhar uma análise ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC) antes da compra do equipamento espacial no ano passado, contestando a utilidade do mesmo [7]. Segundo o Inpe, a tecnologia em questão ‘não é apropriada para o monitoramento do desmatamento na Amazônia’ [8]. Cientistas afirmam que o satélite é apropriado para ‘diferenciar gelo de água’, como na Finlândia, e que não teria utilidade para observar a Amazônia pois não consegue distinguir diferentes tipos de vegetação e solo, o que torna a decisão da compra ‘totalmente injustificável’ [9].O deputado João Daniel, do PT de Sergipe, questiona a o Ministério da Defesa sobre o satélite e pede que o órgão justifique a compra [10]. O Comando da Aeronáutica se recusa a fornecer o contrato assinado com a empresa finlandesa [11]. Ressalte-se que no ano passado o Tribunal de Contas da União suspendeu contrato de R$48 milhões entre a Polícia Federal e uma empresa de fornecimento de imagens de satélite por considerar que o serviço não acrescentaria vantagens informações e poderia gerar prejuízos para o erário público [veja aqui]; além disso, o vice-presidente, Hamilton Mourão defendeu, em meio a críticas ao Inpe, a criação de uma nova agência de monitoramento por satélite da Amazônia [veja aqui].
O procurador-geral da justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Luciano Mattos, reestrutura o órgão e extingue o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP) [1]. O GAESP, criado em 2015, é responsável por prevenir, investigar e responsabilizar crimes de abuso e violência policial [2], além de fiscalizar o cumprimento da liminar do Supremo Tribunal Federal que proíbe ações policiais nas comunidades do RJ durante a pandemia [veja aqui]. Desde janeiro, o órgão estava sem coordenação e com apenas dois promotores em exercício; antes do anúncio de sua extinção, os casos sob responsabilidade do GAESP foram devolvidos às promotorias originais [3]. Em seu lugar, uma das novas áreas criadas é a Coordenadoria-geral de Segurança Pública, focada na criação de diretrizes para a investigação criminal importantes para a segurança pública [4]. O Grupo de Atuação Especializada e Combate à Corrupção (Gaecc) também é extinto e suas funções serão incorporadas em um novo departamento dentro do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o qual continuará a existir por se tratar de um grupo presente em boa parte dos MPs do Brasil [5] [veja aqui]. Em 11/04, dando continuidade ao processo de reestruturação, o MP-RJ extingue o Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (GAEMA) responsável pela prevenção e repressão de crimes ambientais [veja aqui]. Em 16/05, a organização internacional Human Rights Watch (HRW) publica carta aberta para Luciano Mattos pedindo a recriação da GAESP, pois a sua dissolução enfraquece ‘consideravelmente o controle externo da polícia pelo MP’ [6]. A diretora da HRW Brasil, diz que os abusos policiais são um grave problema no RJ devido à ‘impunidade generalizada’ [7]. Estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que a Polícia do Estado do Rio mata, em média, 873 pessoas por ano em conflitos armados [8]. Em 06/05, operação ilegal realizada na comunidade do Jacarezinho matou 28 pessoas e foram cometidos uma série de abusos policiais, sendo esta a maior chacina da história do Estado [veja aqui].
Leia a carta da HRW solicitando a recriação da GAESP e a análise sobre a implicações de sua extinção.
O Ministro das Relações exteriores, Ernesto Araújo, pede apoio internacional para combater o ‘narcossocialismo’ no [1]. Em um evento online organizado pela plataforma americana Think Tank Council of the Americas, o Ministro afirma que as ameaças contra a democracia que surgiram na Venezuela foram gestadas no antes do presidente Jair Bolsonaro assumir o governo federal [2]. Segundo o chanceler, nos últimos 30 anos o ‘narcossocialismo’, que segundo ele é um sistema político que junta corrupção, crime organizado e socialismo, fizeram parte dos governos do PT e do PSDB, além do curto governo de Michel Temer (MDB) [3]. Na ocasião o ministro pede apoio ao governo dos Estados Unidos para evitar que projetos totalitários assumam o poder [4]. O pronunciamento de Ernesto é visto como uma tentativa de desfazer o mal entendido existente entre os países, desde que Joe Biden assumiu a Casa Branca, pois o presidente Jair Bolsonaro, apoiador declarado do ex-presidente americano Donald Trump, foi um dos últimos chefes de estado do mundo a reconhecer a vitória de Biden nas eleições de 2020 [5]. Bolsonaro acredita que o processo eleitoral foi fraudado e Trump teria sido o vencedor [6]. O Ministro das Relações Exteriores também rebate críticas de que o havia beneficiado os Estados Unidos sem ter ganhado nada em troca, como nos casos da isenção de vistos para americanos, da suspensão temporária de tarifa para etanol, das sobretaxas sobre aço brasileiro; também argumentou quanto à apatia do governo em relação ao desmatamento na Amazônia, que representaria, na verdade, uma informação incorreta sobre a politica ambiental eira [7]. Em outras ocasiões Ernesto Araújo também deu declarações controversas, como quando comparou o isolamento social a campos de concentração [veja aqui] e quando fez associação entre coronavírus ao comunismo [veja aqui].
Leia reportagem sobre rumores da possível demissão de Ernesto Araújo, visto como um dos últimos integrantes da ala ideológica do Governo Bolsonaro
A secretaria especial de Cultura publica portaria determinando que os projetos culturais que envolvam interação presencial com o público não serão analisados para fins da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) caso o local de execução situe-se em cidade ou estado que tenha restrição de circulação, toque de recolher, lockdown ou outras ações que impeçam a execução da proposta [1]. A portaria foi assinada pelo secretário da subpasta de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, e é válida por quinze dias, podendo ser prorrogada ou suspensa a depender da manutenção das medidas restritivas [2]. Nas redes sociais, o secretário exige coerência daqueles que são a favor das medidas restritivas e afirma ‘se é para ficar em casa, então não tem verba pública para projetos que geram aglomeração’ [3]. Em entrevista, o secretário afirma que deve zelar pela ‘coisa pública’ e que, por isso, não deve aplicar recursos em projetos que não podem ser realizados no momento [4]. A portaria é vista como um ataque do governo Bolsonaro às medidas de restrição utilizadas para frear a disseminação da covid-19 [5]. No dia anterior, o presidente Jair Bolsonaro reclamou das medidas propostas por governadores e prefeitos e cobrou o retorno da população ao trabalho [6] [veja aqui]. Porciúncula e o secretario especial da Cultura, Mario Frias, também são contra as medidas de restrição e utilizam-se das redes sociais para atacar governadores [7]. Dias antes, os governadores divulgaram uma carta criticando as publicações feitas por Bolsonaro e seus aliados que insinuavam que os Estados não utilizaram corretamente os repasses do governo federal [8]. Vale lembrar que o presidente é crítico da LIC [9], que o governo federal não autorizou projetos com patrocínios culturais já combinados via LIC [veja aqui] e que os Correios reduziram drasticamente seus investimentos no financiamento de projetos culturais [veja aqui].
Leia a análise sobre a medida tomada pelo governo federal.
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, nomeia novo diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) sem experiência na área da educação [1]. O coronel da Aeronáutica Alexandre Gomes da Silva assume o cargo após a morte por covid-19 de seu antecessor, general Carlos de Souza [2]. Segundo decreto sobre a estrutura do Inep [3] o cargo que ocupa Silva é comissionado, ou seja, é de livre nomeação. No entanto, para a lei que dispõe sobre os servidores públicos [4], todo cargo público deve estar submetido as atribuições e responsabilidades da função prevista. Entretanto, Silva não tem qualquer experiência na formulação de políticas públicas de educação básica, ele é formado em Ciências Aeronáuticas, pós-graduado em Ciências da Aviação, se dedicando a prática de piloto e a investigação de acidentes aeronáuticos [5]. Segundo apuração da imprensa, a nomeação do coronel foi um dos motivos que levaram a exoneração, na semana passada, do ex-presidente do Inep, Alexandre Lopes, ele se opôs a entrada de Silva no órgão por considerá-lo pouco qualificado tecnicamente para ocupar a chefia da diretoria do Inep, responsável pela execução do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) [6]. Os servidores do Inep temem que Silva tenha sido escolhido para o cargo a fim de exercer ‘um controle inadequado’ sobre as questões do Enem [7]. No governo Bolsonaro o exame deixou de abordar questões sobre a ditadura militar [veja aqui]; foi criada uma comissão para avaliar e retirar ‘questões ideológicas’ da prova [veja aqui]. Em 2,5 anos da gestão Bolsonaro, o coronel Silva é a quinta pessoa a ocupar a diretoria [8] e Lopes foi o quarto presidente do Instituto [9]. Os funcionários do Inep relatam que as substituições frequentes geram descontinuidade dos processos que podem levar ao atraso da elaboração do Enem [10]. Em 09/04, após a exoneração do diretor de tecnologia do Inep, a Associação de Servidores do Inep divulga nota pedindo a criação de uma lei orgânica que defina ‘critérios claros e técnicos’ para a escolha dos gestores a fim de proteger o Inep das ‘tensões políticas intrínsecas às alternâncias de poder no governo federal’ [11]. O Enem de 2021 pode não acontecer por falta de recursos [veja aqui] e caso ocorra há indícios que será realizado apenas em janeiro de 2022 [12]. Em 26/05, Silva é demitido da diretoria em meio ao cenário de incerteza acerca da realização do Enem [13].
Leia na íntegra a nota pública da Assinep sobre a instabilidade da gestão do Inep.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) autoriza que a cidade de São José dos Campos (SP) se mantenha na fase laranja (menos restritiva) do Plano São Paulo de combate ao coronavírus, indo contra a determinação do governador João Doria (PSDB) [1]. A decisão aponta que o município tem menos de 75% dos leitos de UTI ocupados e, por tais razões, não haveria necessidade de ingressar na fase vermelha juntamente com o restante do estado [2]. Doria havia determinado que todo o estado ingressasse na fase vermelha do Plano São Paulo a partir do dia 06/03, tendo em vista que o estado passa pela fase mais crítica desde o início da pandemia [3]. A determinação do TJ-SP, que atende a pedido da prefeitura de São José dos Campos, é tomada pelo Desembargador Jeferson Moreira de Carvalho [4] no dia em que o Brasil registra mais de 1,7 mil mortes diárias por covid-19 [5]. Em 08/03, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, a pedido do governo de São Paulo e do Ministério Público de São Paulo, suspendeu a decisão do TJ-SP [6]. Para o ministro, é preciso haver harmonia entre as ações estaduais e municipais; ele também ressalta o fato de que as medidas do governo estadual vão além dos interesses locais dos municípios [7]. Diante da decisão, a cidade de São José dos Campos retornou à fase vermelha, porém reduziu os valores de multas para o descumprimento [8]. Não foi a primeira vez que o Judiciário ingressa em assuntos relacionados às medidas restritivas de combate à covid-19, em 13/03, por exemplo, o presidente do TJ-SP reverteu a proibição de retomada das aulas presenciais em fases agudas da covid-19 no estado [veja aqui].
Leia análises sobre as interferências do Poder Judiciário nas medidas de combate à covid-19 e sobre o papel do judiciário no enfrentamento da pandemia.
Polícia Federal (PF) aponta falta de iniciativa da Procuradoria Geral da República (PGR) em investigar inquérito sobre atos antidemocráticos [veja aqui] [veja aqui] cometidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro [1]. As alegações da PF ocorrem em razão da PGR ter se manifestado contra o pedido feito pela PF para realização de busca e apreensão na casa do então secretário de Comunicação do governo federal, Fabio Wajngarten [2]. A PF sugere que a procuradoria não foi coerente ao negar o pedido e que existe ‘ausência do ímpeto’ que foi visto no início das investigações [3]. Os argumentos da PF se baseiam no fato da PGR já ter solicitado procedimentos de busca e apreensão na casa de jornalistas, deputados e demais apoiadores do governo, de modo que a negativa de realizar o mesmo tipo de medida em relação à Wajngarten também afirma que as ações policiais se aproximam de pessoas próximas da presidência da república [4]. Outro argumento apontado como indicativo de mudança do comportamento da PGR é o de que no início da apuração das denúncias a PGR chegou a pedir a realização de quebras de sigilo fiscal e bancário de deputados e de integrantes dos canais que supostamente disseminaram conteúdo antidemocrático para obter lucro, solicitando também relatórios de monetização- arrecadação financeira com base na audiência de vídeos- de contas no YouTube [5] [veja aqui]. Contudo, nos últimos meses das investigações, a PF aponta que a PGR tem assistido passivamente o trabalho policial e que e desde do ano passado não solicita novas providências nas investigações [6]. Especialistas que acompanham o caso reiteram as alegações da PF e dizem que a PGR abandonou o inquérito dos atos antidemocráticos, não participando de nenhum dos mais de 30 depoimentos ocorridos incluindo aqueles prestados pelos filhos e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro [7]. Vale notar que o atual PGR, Augusto Aras, sofre críticas desde 2019 por apresentar posicionamentos alinhados ao presidente [veja aqui], que levantamento de 2020 apontou ao menos 30 manifestações de Aras que estavam em conformidade com interesses pessoais de Bolsonaro [veja aqui], e que o presidente já cogitou indicar o procurador geral a uma vaga para o Supremo Tribunal Federal [veja aqui].
Entenda os últimos andamentos do inquérito dos atos anti-democráticos
Comitiva composta por dez pessoas, dentre elas o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), viaja à Israel para conversar sobre tecnologias de combate à covid-19, em especial o spray nasal EXO-CD24 [1]. Atualmente, o spray está sendo testado em cerca de 30 pessoas e nem a primeira fase do estudo científico que comprovaria sua eficácia foi concluído [2]. Ao anunciar a viagem, o presidente Jair Bolsonaro refere-se ao spray como ‘produto milagroso’ [3]. Durante a visita, o ministro Ernesto Araújo é repreendido publicamente por não usar máscara durante um evento realizado na presença do chanceler de Israel Gabi Ashkenazi [4]. Nota da presidência sobre a viagem indica que o spray ‘vem se mostrando muito promissor’ e que o Brasil busca ser o ‘principal parceiro’ nas próximas fases do estudo científico sobre a droga [5]. Investigação da imprensa divulgada no dia 20/03 revela que nenhum tipo de documento que confirma a participação do Brasil nos estudos sobre o spray foi assinada durante a visita [6]. Apuração aponta que o custo da viagem foi de pelo menos R$ 440.000 [7]. Não é a primeira vez que o governo federal investe em tratamentos sem comprovação científica para o combate da covid-19 – o Ministério da Saúde recomendou a adoção do ‘tratamento precoce’ contra a doença [veja aqui] e realocou a cloroquina produzida para tratamento de malária para ser utilizada em pacientes com coronavírus [veja aqui].
Ouça podcast sobre o andamento da campanha de vacinação em massa realizada em Israel.
Como no mês anterior [veja aqui], o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, ele disse que ‘nunca’ errou durante a pandemia ao defender o ‘tratamento precoce’ e criticar medidas de distanciamento social. Segundo ele também, as mortes por coronavírus interessariam a alguns setores da sociedade e não teria ‘caráter’ quem o contrariasse [1]. No dia seguinte, afirmou em conversa no Alvorada que enviará comitiva a Israel para averiguar spray ‘milagroso’ contra a covid-19 [veja aqui] [2]. A comitiva, que foi poucos dias depois ao Oriente Médio, foi constrangida a usar máscaras em eventos públicos [3] [4]. Em 03/03, também em sua residência disse que, no que depender dele, ‘nunca teremos lockdown’, e que tal política ‘não deu certo em lugar nenhum’[5] – o que é falso [6]. No dia seguinte, a apoiadores em Uberlândia, criticou supostos ‘idiotas’ que o pediriam para comprar vacina a apoiadores em Uberlândia [7]. Mais tarde, em evento em São Simão (GO), falou que se deve parar de ‘frescura’ e ‘mimimi’ em relação à pandemia e se questionou até quando as pessoas ficariam ‘chorando’ [8]. No mesmo dia, em transmissão por redes sociais, criticou o fato de que ‘agora parece que só (se) morre de covid no Brasil’ e disse que pessoas morreriam por outras doenças fazendo isolamento social [9]. Na ocasião, em que chamou o coronavírus de ‘vírus do pavor’ [10], também riu com o suposto aumento de suicídio e depressão entre jovens na pandemia, em possível defesa da ineficácia de medidas sanitárias [11]. Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se pronunciou sobre a gravidade da situação eira e disse que a covid-19 deve ser levada ‘muito a sério’ [12]. O presidente já chamou a doença de ‘gripezinha’ [veja aqui] – e depois negou tê-lo feito [veja aqui], se opôs à vacinação em massa [veja aqui] e desautorizou a compra de vacinas [veja aqui]. Além disso, clamou pela ‘volta à normalidade’ [veja aqui] e sugeriu que o deixasse de ‘ser um país de maricas’ ao lidar com a crise sanitária [veja aqui]. Entre 01/03 e 07/03, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de quase 10,6 milhões [13] para mais de 11 milhões [14] e as mortes atingiram o patamar de 265,5 mil pessoas [15], com média diária de 1.497 mortes há 7 dias, de acordo com dados do consórcio de veículos da imprensa. Há um ano, em 07/03/2020, o país tinha registro de 19 casos e nenhuma morte por covid-19 [16].
Leia análises sobre as inverdades proferidas pelo presidente no dia 01/03 e durante toda a pandemia
O presidente Jair Bolsonaro afirma que ‘o meu Exército’ não vai para a rua obrigar o povo ‘a ficar em casa’ [1]. Ele também diz que não irá ‘decretar lockdown’ e que quer ‘paz, tranquilidade, respeito às instituições, mas algumas delas estão se excedendo’ [2]. As afirmações são dirigidas a seus apoiadores em frente ao Palácio do Planalto [3]. Bolsonaro também faz elogios à atuação do Japão no combate ao coronavírus e complementa apontando que ‘lá ninguém tava unido para derrubar o presidente’ [4]. Ele reitera críticas direcionadas aos governadores e diz que ‘tem um grupo de elite brasileira, de esquerda, me denunciando na ONU, Tribunal Penal Internacional, como genocida (…) agora, eu pergunto: quem é que obrigou o pessoal a ficar em casa, destruiu milhões de empregos?’ [5]. Bolsonaro tem reiteradamente descreditado medidas de isolamento social para o combate à pandemia do coronavírus [veja aqui]. Ele também já se manifestou outras vezes a respeito de seu suposto poder sobre as Forças Armadas – por exemplo durante reunião ministerial, na qual disse ser o ‘chefe supremo’ delas . Em outubro de 2020, Bolsonaro disse que as Forças Armadas estão prontas para ‘defender a pátria e garantir a nossa liberdade’ [veja aqui]. As falas inserem-se também em contexto de disputa política entre Bolsonaro e governadores estaduais em razão das medidas adotadas para combate ao coronavírus [veja aqui].
Leia análise que discute o papel das Forças Armadas e sua relação com o governo federal na atual conjuntura da pandemia.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, relator dos processos vinculados à operação Lava-Jato na Corte, decide monocraticamente, isto é, individualmente, pela anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva [1]. A decisão, tomada por Fachin sem a realização de discussão colegiada prévia, anula as condenações de Lula nos quatro processos originados pela operação Lava-Jato conduzidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba, por entender que os fatos narrados nos processos não deveriam ter sido julgados pela justiça federal daquela cidade, mas sim pela justiça federal do Distrito Federal [2]. Tal argumento, de incompetência da vara do Paraná para julgamento das situações em análise, era sustentado perante o STF pela defesa do ex-presidente desde 2016 [3]. Fachin afasta a necessidade de debate pelo plenário da Corte e indica que o argumento já foi apreciado em outros julgamentos – estes, contudo, não envolviam Lula [4]. Na prática, a decisão de Fachin garante que o ex-presidente retome seus direitos políticos e volte a ser elegível [5]. Ao mesmo tempo, a decisão extingue outros recursos ajuizados pela defesa de Lula e pendentes de análise no STF, dentre eles o que discute a possível imparcialidade do ex-juiz Sérgio Moro ao julgá-lo [6]. Apurações da imprensa apontam que a opção de Fachin por tomar tal decisão neste momento específico e por realizá-la de forma monocrática é uma maneira de impedir que a parcialidade de Moro seja analisada pelo STF [7]. A decisão é tomada em momento de perda de força da operação Lava Jato, que teve recentemente suas força-tarefas vinculadas ao Ministério Público Federal dissolvidas ou desidratadas [veja aqui].A Procuradoria-Geral da República (PGR) entra com recurso dias após a decisão de Fachin e pede que o ministro reconsidere sua decisão ou leve o caso para votação em plenário no STF [8]. Em 12/03, Fachin envia o caso para ser discutido pelo plenário [9]. Em 23/03, o julgamento de um dos recursos da defesa de Lula que discutia a imparcialidade de Moro foi finalizado e ele foi considerado parcial [10].
Leia análises sobre o impacto da decisão para Sérgio Moro e sobre o que a decisão representa dentro do STF.
Governo brasileiro não adere à declaração internacional do Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas (ONU) para a promoção dos direitos humanos das mulheres [1]. A declaração é uma iniciativa do México e da Finlândia, é apoiada por mais de 60 países democráticos e ocorre na sessão do CDH que celebra o Dia Internacional da Mulher [2]. Em nota, o Itamaraty declara que apesar de reconhecer a importância da data, ‘não apoia referências a termos e expressões ambíguas, tais como direitos sexuais e reprodutivos’ [3]. A despeito do ter reconhecido formalmente esses direitos ao firmar compromissos durante a Conferência do Cairo [4] e na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) [5], ambas em 1994, a inclusão do termo direitos sexuais e reprodutivos em documentos internacionais já foi problematizada pelo Itamaraty em encontros da ONU em 2019 [veja aqui] e em 2020 [veja aqui] [veja aqui]. A nova declaração do CDH aponta retrocessos relacionados à pandemia e defende que os serviços de atendimento de saúde voltados aos direitos sexuais e reprodutivos – como a ampliação de oferta de métodos contraceptivos, a prevenção à gravidez precoce, o controle de doenças sexualmente transmissíveis [6] – são essenciais e devem ser incorporados nos planos nacionais de enfrentamento à crise sanitária [7]. A decisão de não adesão é criticada e classificada por movimentos de mulheres como contrária a ‘políticas de segurança para as mulheres’ [8]. Ressalta-se que no final do ano passado o também não assinou carta com 50 embaixadores sobre proteção a LGBTs na Polônia [veja aqui] e aderiu a declaração que oficializou aliança internacional antiaborto [veja aqui]. Em fevereiro deste ano, a ministra Damares Alves da pasta de Direitos Humanos retomou a noção de ‘vida desde a concepção’ [veja aqui], afirmando em discurso de abertura da sessão do CDH que o estaria ‘firme na defesa da democracia, da liberdade, da família e da vida a partir da concepção’ [veja aqui].
Leia análises sobre o impacto da decisão do sobre a autonomia das mulheres e entenda a participação do país no Conselho de Direitos Humanos. Veja também linha do tempo com outros discursos e políticas do governo Bolsonaro contrários a minorias de gênero e sexualidade
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, faz postagem mentirosa em rede social em defesa do governo e critica comentários sobre a gestão da pandemia feitos por especialista durante programa da rede de televisão norte-americana CNN [1]. De acordo com Araújo, a ‘CNN entende tudo errado sobre Brasil e covid’ [2]. Ele enumera ‘fatos’ que justificam as ações do governo federal no combate ao coronavirus, aponta que ‘após uma decisão do Supremo Tribunal (…) os governadores dos estados – e não o presidente – têm, na prática, toda a autoridade para estabelecer /gerir todas as medidas de distanciamento social’ e sustenta que foram realizados repasses de até US$ 98 bilhões para os estados [3]. Ainda, faz referência direta à viagem realizada por comitiva brasileira para Israel com objetivo de conhecer os estudos de spray contra a covid-19, que não tem eficácia científica comprovada [veja aqui], mas é apresentado por ele como ‘indiscutivelmente o remédio mais promissor’ contra o vírus [4]. As declarações são mentirosas, uma vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) nunca retirou do governo federal a responsabilidade pelo combate à pandemia – inclusive, o tribunal fez declaração pública a respeito dessa inverdade [veja aqui] [5] -, e nem a primeira etapa dos estudos sobre o spray israelense foi completada [6]. O ministro do STF Gilmar Mendes desmente a postagem de Araújo chamando-a de fake news e é respondido pelo chanceler, que pede a Mendes que ele ‘por favor leia de novo’ sua primeira postagem [7]. Araújo já defendeu as ações do governo federal outras vezes – recentemente, em discurso na ONU, ele criticou medidas de combate ao coronavírus adotadas ao redor do mundo, como o lockdown [veja aqui]. Em janeiro de 2021, ele deu risada e endossou xingamentos a imprensa feitos pelo presidente após questionamentos sobre o valor de gastos públicos com alimentação [veja aqui].
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reduz pela 5ª vez calendário de vacinação contra a covid-19 [1].No final de fevereiro o cronograma do Ministério da Saúde reduz as 46 milhões de doses anunciadas para 39,1 milhões [2]. Em 3 de março, esse número cai para 38 milhões sendo reduzido mais uma vez, 3 dias depois, para 30 milhões de doses [3]. No dia 8 de março houve nova redução com a previsão entre 25 e 28 milhões de doses, estimativa que baixou para 22 a 25 milhões de doses nesta última previsão anunciada pelo ministro da Saúde [4]. O pronunciamento do ministro é feito durante cerimônia de sanção da Medida Provisória (MP) que permite estados, municípios e iniciativa privada comprarem vacinas por conta própria [5]. Pazuello explica que não se trata de uma redução do número de doses estipulado pelo Ministério da Saúde e sim uma garantia inicial com ‘possibilidade de ir além’ [6]. Segundo ele, doses encomendadas em maior número de laboratórios estrangeiros não são tão simples de receber como as do Instituto Butantan e da Fiocruz: ‘Nós temos garantidas para março entre 22 e 25 milhões de doses, podendo chegar até 38 milhões de doses’ [7]. Os chefes do Legislativo, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deram 24 horas para que o ministro explicasse a mudança no cronograma de vacinação [8]. Em resposta Pazuello encaminha documento aos parlamentares dizendo que ‘não houve modificação no cronograma [original]’ de entrega de vacinas, contudo, fala em ‘obstáculos que poderão vir a serem enfrentados’ [9]. A projeção do governo federal para o recebimento de vacinas mostra que 41 milhões de doses acabaram sendo adiadas pelos constantes remanejamentos do Ministério da Saúde [10]. A conta considera previsões apenas para o 1º semestre de 2021 [11]. O governo entregou apenas 32% das 30 milhões de doses previstas para março de deste ano, o que corresponde a 9,6 milhões de doses [12].
Leia análise sobre os riscos de interrupções no calendário de vacinação contra a covid-19.
Tabelião de notas titular de cartório do Distrito Federal, Allan Nunese, veda informações de escritura pública de imóvel do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, segundo apuração da imprensa nesta data [1]. O documento apresenta tarjas pretas encobrindo 18 trechos da escritura, incluindo o nome do senador e de sua esposa, documentos pessoais e renda mensal do casal [2]; Nunese justifica o encobrimento dos dados por motivo de sigilo bancário e fiscal, e diz que se não os ocultasse poderia incorrer em crimes por divulgação de informações pessoais [3]. A Corregedoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) apura a compra do imóvel no valor de R$6 milhões [4] .Segundo especialistas, os argumentos do tabelião não encontram amparo na legislação brasileira já que as informações pessoais são incluídas nas escrituras pelos próprios compradores e a decisão sobre a ocultação de tais dados não compete ao cartório [5]. Juristas argumentam que a sonegação dos dados da escritura pode configurar improbidade administrativa por parte do cartório, portanto é passível de investigação pelo TJDFT e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) [6]. Nunese diz ser a primeira vez que omite informações em documentos, negando, entretanto, tratamento diferenciado ao filho do presidente [7]. Flávio nega as ilegalidades e faz criticas à imprensa ao noticiar o caso [8]. Vale lembrar que ele é investigado por suposto envolvimento em prática de ‘rachadinha’ durante o período em que era Deputado Estadual no Rio de Janeiro [veja aqui] e que outros órgãos do governo já se envolveram de alguma forma em sua defesa, como a Abin, que produziu dois relatórios com informações e orientações para auxiliá-lo na defesa do caso [veja aqui].
Escute podcast que trata da compra do imóvel e das implicações envolvendo o senador
Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) baixa portaria que prevê a necessidade de aprovação prévia pela diretoria de todas as produções científicas do órgão antes de sua publicação [1]. A medida institui competência do diretor de pesquisa da instituição para ‘autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins’ [2]. O atual diretor, nomeado pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, é o policial militar (PM) Marcos Venancio, cujo currículo consta formação nas áreas jurídica e de gestão pública, mas não aponta experiência na área ambiental [3]. Em nota, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema) aponta que a portaria ‘entende que a produção científica estará sujeita à decisão política (e não técnica) sobre a conveniência ou não na divulgação de dados científicos que devem ser públicos’, e classifica a medida como ‘censura e inibição aos trabalhos produzidos’ e capaz de gerar ‘atraso na publicação dos trabalhos científicos’ [4]. Já o Fórum das Sociedades Científicas da Área de Zoologia, que reúne diversas instituições científicas, aponta em carta aberta [5] que a medida é ‘prejudicial à ciência e à conservação do meio ambiente’, na medida em que pode impedir a divulgação de conhecimento científico voltado à preservação ambiental [6]. Em outras oportunidades, o Ipea advertiu servidores sobre a divulgação de pesquisas e contato com imprensa [veja aqui], e o diretor do Inpe foi exonerado após divulgar dados sobre desmatamento no Brasil [veja aqui].
Levantamento da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPE-RJ) publicado nesta data sobre ‘Mulheres nas audiências de custódia no Rio de Janeiro’ [1] revela que 1 em cada 4 mulheres presas em condição de gestante, lactante ou mãe ficaram presas sem condenação definitiva entre 2019 e 2020, a despeito da lei prever o direito da substituição por prisão domiciliar nestes casos [2]. O Código de Processo Penal (CPP), desde a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância em 2016 [3], prevê que o juiz substitua a prisão preventiva por domiciliar quando a pessoa presa for imprescindível aos cuidados de pessoa menor de 06 anos ou com deficiência, tiver filho de até 12 anos e quando for gestante [4]. O objetivo da lei é que não sejam interrompidos os vínculos de cuidado e que seja preservado o direito à convivência familiar [5]. Em 2018, em decisão em Habeas Corpus Coletivo, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu efetividade a estes direitos e reforçou a necessidade de que os juízes de Tribunais estaduais aplicassem o previsto no CPP para todas as mães, grávidas e lactantes presas preventivamente [6]. Para defensora pública, a explicação para o não cumprimento da lei pelo Judiciário em 25% dos casos é a utilização de argumentos baseados na pré-concepção de que mulheres que praticam crimes são piores mães [7]. Em nota, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rabate dizendo que ‘devem ser aferidos requisitos de adequação da medida à gravidade do fato, além da periculosidade na concessão de prisão domiciliar’ [8].Vale lembrar que no começo da pandemia, o Conselho Nacional de Justiça identificou que diversas instâncias do Judiciário descumpriam suas recomendações para revisão de prisões preventivas para grupos em situação risco como grávidas e lactantes [veja aqui].
Leia análise sobre a situação das mulheres encarceradas no país e artigo acadêmico que explica o impacto das decisões do STF que garantem o direito à aplicação da prisão domiciliar para mães, pais e outros cuidadores na pandemia. Leia também artigo sobre a aplicação do Marco Legal da Primeira Infância pelo judiciário carioca.
Governo brasileiro opta por não participar de projeto que envolve mais de 60 países e tem como objetivo reconhecer o direito a um meio ambiente seguro, limpo e sustentável como um direito humano, conforme divulgação feita pela imprensa nesta data [1]. A proposta é apoiada por países da Europa, da África, do Oriente Médio e por todos os outros países que compõem o Mercosul [2]. Diversas organizações da sociedade civil manifestam-se em repúdio a postura do governo, vista como um retrocesso [3]. Nota conjunta assinada por essas entidades destaca as diversas abstenções e negligências do governo Bolsonaro em relação a proteção do meio ambiente [4]. Em 19/03, reportagem aponta, por exemplo, que o Brasil corre risco de ser rebaixado na classificação internacional de créditos por emissões de carbono por conta de sua inação para reduzir essas emissões, como definido pelo acordo de Paris [5]. No plano internacional, o governo também não aderiu a compromisso da ONU que assegura direitos reprodutivos de mulheres [veja aqui] e a carta formulada por 50 embaixadores sobre proteção a LGBTs na Polônia [veja aqui]. As políticas ambientais do governo federal já motivaram que o relator especial da ONU recomendasse ao Conselho de Direitos Humanos do órgão a abertura de uma investigação sobre o país [veja aqui].
Ouça podcast que investiga a relação do Brasil com a agenda climática global e leia coluna que aborda a relação da extrema direita com a política ambiental do país.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ataca a imprensa por recomendar o uso de máscara contra a covid-19, em vídeo publicado em seu perfil nas redes sociais [1]. Eduardo diz que é ‘uma pena, essa imprensa mequetrefe que a gente tem aqui no Brasil fique dando conta de cobrir apenas a máscara’ [2] e completa, ‘enfia [a máscara] no rabo gente , porra! A gente está lá trabalhando, ralando’ [3]. A declaração foi dada enquanto o deputado comentava sua viagem à Israel junto com comitiva brasileira para conhecer um spray contra a covid-19, ainda em fase inicial de testes [4] [veja aqui]. O spray desenvolvido em Israel não tem eficácia científica comprovada nem aprovação de agências de vigilância sanitárias para o uso [5]. O medicamento israelense é mais um candidato a integrar a lista brasileira de fármacos contra o coronavírus, que vem sendo defendidos pelo governo federal mesmo sem eficácia científica comprovada, em detrimento das vacinas [6]. Os comentários do filho do presidente Jair Bolsonaro vão ao encontro às declarações do pai que também já havia criticado o uso de equipamentos de proteção contra a covid-19, destacando o que seriam ‘efeitos colaterais do uso de máscaras’, sem especificar quais eram [7]. No ano passado, Bolsonaro vetou diversos pontos da lei que estabelece a obrigatoriedade de máscaras em espaços públicos e privados [veja aqui], barrou a compra de vacinas [veja aqui], estimulou aglomerações e desencorajou a população a adotar medidas de controle sanitário [veja aqui].
Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Von Doellinger, edita ofício estipulando que a divulgação de pesquisas e estudos por servidores do órgão antes de ‘conclusão e aprovação definitiva’ pode configurar infração disciplinar, sob risco de punição, segundo apuração da imprensa nesta data [1]. A medida é direcionada a diretores do instituto e estipula que as informações produzidas no âmbito de atuação do órgão são ‘direitos patrimoniais’ do Ipea, além de limitar a ‘interação de servidores com órgãos da imprensa’ [2]. Servidores do Ipea ouvidos pela imprensa enxergam o ofício como censura de conteúdos críticos a políticas governamentais do governo Bolsonaro, por apontarem resultados diversos do esperado pela atual gestão [3]. A medida é avaliada como ‘chapa-branca’ na medida em que o instituto só poderia digulgar dados alinhados ao governo federal [4]. O sindicato representativo do corpo técnico do Ipea se refere a medida como ‘ofício da mordaça’, por conter ameaças institucionais em ‘direção ao obscurantismo e ao cerceamento ideológico’ [5]. Em outras oportunidades, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi exonerado após divulgar dados sobre desmatamento no Brasil [veja aqui], funcionários da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) reuniram mais de 130 denúncias de censura praticadas pela empresa pública [veja aqui], e a presidência do ICMBio baixou portaria prevendo a necessidade de autorização prévia da diretoria para a publicação de produções científicas do órgão [veja aqui].
Em videoconferência com parlamentares, o presidente Jair Bolsonaro compara o toque de recolher adotado no Distrito Federal (DF), incorretamente [1], a um estado de sítio, o que volta a fazer em situações posteriores [veja aqui]. Alguns dias depois, em live transmitida nas redes sociais de 17/03, o presidente Jair Bolsonaro critica medidas de isolamento, estabelecidas por governadores, comparando-as ao ‘estado de sítio’ [2]. Na mesma ocasião, anuncia que somente ele teria o poder de decretar estado de sítio [3], e ameaça tomar medidas duras para combater as ações dos governadores [4]. O estado de sítio é mecanismo que suspende parte das previsões da Constituição em situações de crise; apesar de previsto pela legislação, ele nunca foi acionado desde a redemocratização [5]. Em 19/03, Bolsonaro volta a atacá-los e ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal (STF) visando à anulação de decretos dos governadores do Rio Grande do Sul, da Bahia e do Distrito Federal, que estabeleciam medidas de isolamento para o combate à covid-19 [veja aqui]. Na ação, Bolsonaro volta a argumentar que tais medidas seriam equiparadas ao estado de sítio [veja aqui]. Em 21/03, em encontro com apoiadores, ele volta a comparar tais ações à um possível estado de sítio, e insinua que as medidas restritivas estariam impedindo a liberdade da população [6]. Na mesma ocasião afirma que seus apoiadores podem contar com as Forças Armadas, para proteção da democracia e da liberdade [7]. Em 19/03, o presidente do Tribunal, Luiz Fux, telefona para Bolsonaro questionando as intenções do presidente ao fazer as insinuações sobre estado de sítio [8]. O Senado também se manifesta acerca das falas do presidente e divulga nota em que afirma não existir razões políticas, jurídicas e fáticas para ‘se quer cogitar o estado de sítio’ [9]. Desde o início da pandemia, Bolsonaro e aliados atacam a democracia e as medidas de combate à pandemia, em 19/01, o PGR afirma que Brasil vive ‘antessala do estado de defesa’ [veja aqui], já em 11/03, Eduardo Bolsonaro usa tom agressivo ao rechaçar o uso de máscaras [veja aqui]. Em março de 2020, os debates sobre ‘estado de sítio’ já tinham vindo à tona e, segundo a mídia, o presidente teria considerado, mas descartado a ideia de sua decretação [10]; em seguida, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) fez nota rechaçando a possibilidade de decretação de um estado de sítio no país [11].
Leia análise sobre a utilização das medidas de emergência denominadas ‘estado de sítio’ e ‘estado de defesa, sobre as incoerências nas falas de Bolsonaro, sobre as ameaças à democracia nas falas do Bolsonaro e sobre como não é possível comparar ao estado de sítio ao lockdown.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negocia a compra de 30 milhões de doses da vacina Coronavac com empresários [1]. Apuração da imprensa, divulgada em 17/07, teve acesso ao vídeo da reunião [2], na qual são ofertadas vacinas por quase o triplo do valor negociado pelo Instituto Butantan [3], que já havia garantido o fornecimento de até 100 milhões de doses [4]. A empresa que fez a oferta nunca trabalhou com vacinas [5] e seu sócio foi condenado por fraude em importação [6]. Se o contrato fosse confirmado, seria a compra mais cara de vacinas pelo ministério [7], superior ao da Covaxin [8], no qual há suspeitas de prevaricação por Bolsonaro [veja aqui]. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirma que alertou, diversas vezes, [9] Pazuello e o MS de que o Butantan tem exclusividade nas negociações da Coronavac [10] desde 2020 [11]. Em nota [12], Sinovac, a farmacêutica responsável pela vacina, confirma a exclusividade [13]. Quatro dias depois da reunião, Pazuello é exonerado do cargo [14] e o Brasil troca de ministro da Saúde pela quarta vez durante a pandemia [veja aqui]. Em depoimento à CPI da covid-19, em 19/05, antes da divulgação do vídeo, Pazuello afirma que um ministro não deve receber ou negociar com uma empresa [15], no mesmo sentido, nega que tenha negociado aquisição de Coronavac com empresários [16]. Bolsonaro o defende e afirma que propina não é negociada em vídeo [17]. No dia 22/07, Bolsonaro pede à CGU (Controladoria Geral da União) que investigue o oferecimento de Coronavac pelo Instituto Butantan [18], acusando o instituto de oferecer as doses no dobro do valor ofertado pela Sinovac [19] e volta a criticar a eficácia da vacina [20]. O instituto informa que o valor final inclui custos de importação, produção e armazenagem [21] e o governo de São Paulo afirma que ‘presidente delira sobre preço da Coronavac e quer desviar foco de denúncias contra seu governo’ [22]. Bolsonaro travou diversos embates com o Governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP), acerca da Coronavac [veja aqui] [veja aqui], suspendeu testes e comemorou a “vitória” [veja aqui] [veja aqui]. Além de ter desacreditado [veja aqui] [veja aqui] e desautorizado a compra de vacinas [veja aqui], e dito não se responsabilizaria se pessoas virassem “jacarés”, se referindo aos efeitos colaterais [veja aqui].
Leia mais sobre as suspeitas de corrupção na compra de vacinas e como pode prejudicar Bolsonaro.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) é eleita presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, a despeito de não ter experiência na área [1]. Zambelli, escolhida por 10 votos a favor e 6 votos em branco, assume o lugar de Rodrigo Agostinho (PSB-SP), reconhecido pela defesa da pauta ambiental [2]. A deputada afirma que vai trabalhar em ‘consonância’ com a Comissão de Agricultura, conciliando as ‘diferentes visões de mundo’, que têm norteado as duas pastas [3]. Zambelli defende o Brasil como um dos países mais avançados na legislação ambiental, sendo responsável por menos de 3% da emissão de gás carbônico no mundo, o fortalecimento ‘das ações de combate e controle ao desmatamento ilegal’ como foco de sua gestão e ainda aponta que abrirá espaço para a regularização fundiária na Amazônia [4], o que é pauta cara ao governo Bolsonaro [veja aqui]. A nova presidente da Comissão de Meio Ambiente diz que a imagem negligente do governo em relação ao meio ambiente é uma ‘narrativa construída pela esquerda’ e que vai questionar as ONGs que atuam na proteção ambiental da Amazônia sobre ‘como usam o dinheiro‘ [5]. Especialistas destacam que a escolha de Carla Zambelli para a presidência da Comissão de Meio Ambiente reforça a tendência do governo em fazer muito pouco frente às demandas ambientais [6]. O Brasil encerrou 2020 com o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [7]. Neste ano, o ritmo do desmatamento aumentou nos meses de janeiro e fevereiro e está 40% maior do que no mesmo período do ano passado [8]. Em 2019, Zambelli havia dito ue a ‘Amazônia nunca queimou tão pouco’, durante o auge da crise ambiental [9] – com quase 100 mil focos de incêndios registrados no país, 50% só na Amazônia [10] – e acusou ONGs de colocarem fogo na Amazônia para criminalizar o governo Bolsonaro [11] [veja aqui]. O próprio presidente já culpou ONGs pelos incêndios na Amazônia em diversas ocasiões [veja aqui], bem como o ministro do Meio Ambiente as acusou de ter provocado vazamento de óleo predatório ao ecossistema marinho do nordeste [veja aqui]. Bem como Zambelli, aliada do presidente, a deputada Bia Kicis foi eleita para comissão da Câmara [veja aqui].
Deputado federal Eduardo Boslonaro (PSL- SP) enaltece chefes de estado autoritários em discurso de despedida da presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados [1]. Ele agradece ao príncipe saudita Mohammed Bin Salman, responsável por reprimir dissidentes de seu governo e apontado como mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi [2], e ao premiê da Hungria Viktor Orbán, que apoia a pena de morte em seu país [3] e vem reprimindo a imprensa local [4]. Eduardo ressalta o apoio do príncipe saudita em acordo de 2019 que geraria investimento, pelo governo saudita, de até 10 bilhões de reais no Brasil [5]. Além do premiê Orbán, Eduardo reverencia também o chanceler húngaro Péter Szijjártó – ambos muito criticados na Europa pela política de ultra direita que vem reprimindo duramente a liberdade de imprensa na Hungria – afirmando ter sido muito bem recebido no país que para ele é ‘referência em várias áreas’ [6]. Eduardo também reafirma seu alinhamento com a política externa praticada por Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, e diz que esta ‘rompeu com vícios e atrasos’ e tem sofrido uma ‘campanha sórdida (…) por aqueles que se proclamam democráticos’ [7]. O sucessor de Eduardo na presidência da Comissão de Relações Exteriores é o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), eleito com 25 votos a favor e seis contrários [8]. Ao assumir o cargo, Aécio diz que fará uma politica internacional contraria a de Eduardo Bolsonaro, defendendo o multilateralismo, defesa dos direitos humanos, meio ambiente e o enfrentamento da pandemia que vem prejudicando em especial o Brasil [9]. Durante o tempo em que esteve a frente da comissão, Eduardo criticou a atuação do governo chinês na pandemia da covid-19, o que gerou embates diplomáticos envolvendo os dois países [veja aqui]. Araújo, por sua vez, afasta o Brasil de diversos compromissos internacionais, como de declaração da ONU que assegura os direitos reprodutivos de mulheres [veja aqui], e já deu diversas declarações controversas, como a de que combaterá o ‘narco-socialismo’ [veja aqui].
Relatório desta data [1] [2], aponta que o assédio institucional é ‘uma prática sistemática do atual governo federal’, o que se evidencia por cortes orçamentários, reformas legislativas, trocas frequentes de dirigentes por pessoas pouco qualificadas e ataques simbólicos e reais às missões institucionais dos órgãos que compõem a pasta da Cultura [3]. O relatório cita casos como a nomeação de amiga da família Bolsonaro para a presidência do Iphan [veja aqui], a pretensão de extinguir a Fundação Casa de Rui Barbosa [veja aqui], a tentativa do presidente da Fundação Palmares de depreciar a memória de Zumbi dos Palmares [veja aqui], a ameaça do presidente Jair Bolsonaro de extinguir a Ancine caso não pudesse filtrar as produções [veja aqui], a determinação de controle prévio das postagens de órgãos vinculados à Secretaria de Cultura [veja aqui], o abandono da Cinemateca [veja aqui], dentre outros. Além dos diversos casos levantados, o relatório traz trechos de relatos anônimos de servidores sobre as práticas de assédio na instituição [4], como o caso de funcionário da Fundação Nacional de Artes (Funarte) que foi questionado sobre o porquê de carregar um livro de Karl Marx. Segundo outro relato , a nova orientação da Biblioteca Nacional é focar as ações e projetos no período imperial [5]. Nos meses seguintes, o secretário especial da Cultura mostra porte de arma e assedia moralmente funcionários [veja aqui] e apuração da imprensa mostra que membros da pasta fizeram dossiê classificando servidores ‘esquerdistas’ que deveriam ser exonerados [veja aqui].
Leia as análises sobre o desmonte na Cultura promovido pelo governo federal e as consequências das políticas da gestão Bolsonaro para o setor.
O número de índigenas mortos em decorrência do coronavírus passou de 1.000 e pelo menos 163 povos foram afetados, conforme dados divulgados nesta data pela imprensa [1]; os números podem ser ligados a omissões governamentais na pandemia e uma histórica ‘política de abandono’ [2]. As informações fazem parte de monitoramento realizado pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que acompanha os casos de covid-19 entre indígenas que vivem aldeados e entre os que vivem em contextos urbanos – os dados oficiais divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não contabilizam este último grupo, o que é criticado por organizações indigenistas [3]. Em nota, a Apib aponta que as mortes são resultado do ‘descaso’ e do ‘genocídio orquestrado’ pelo governo federal [4]. Relatório da mesma organização divulgado em novembro de 2020 aponta que, até aquele momento, o povo mais atingido pelo vírus era o Xavante: sua taxa de mortalidade era 400% maior do que a taxa de mortalidade do total da população brasileira [5]. Estudiosos defendem a existência de um genocídio aos povos indígenas na pandemia [6], o que inclusive foi denunciado em tribunais internacionais [veja aqui] e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes [veja aqui]. Não só há falta de políticas públicas em apoio aos indígenas, notadamente mais vulneráveis na pandemia [7], como também falta de transparência quanto aos dados epidemiológicos incidentes a essas populações, o que motivou iniciativas paralelas de contagem de casos e mortes [8]. Após a decretação de estado de calamidade pública, o governo ficou três meses sem apresentar um plano de ação para proteção de indígenas na pandemia [veja aqui]. Posteriormente, o presidente Jair Bolsonaro realizou vetos na lei que previa tais medidas de proteção e o Supremo Tribunal Federal determinou a reelaboração do plano apresentado, por considerá-lo ‘genérico e vago’ [veja aqui]. As mortes por covid-19 também ocorrem em contexto de crescimento da violência contra indígenas: levantamento mostra que o número de casos de violência contra essa população mais que dobrou no primeiro ano do governo Bolsonaro [veja aqui].
Ouça podcast que trata dos impactos da perda de índios anciãos e conheça plataforma que registra as histórias de indígenas vítimas da covid-19.
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Geraldo Francisco Pinheiro Franco, derruba liminar que proibiu aulas presenciais nas redes de ensino estadual durante a fase crítica da pandemia [1]. Em dezembro de 2020, o governo do estado de São Paulo baixou decreto [2] com plano para retomada gradual das aulas na rede pública de ensino. A liminar derrubada havia sido concedida em 11/03 pela juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, atendendo a solicitação judicial do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) [3]. A ação popular movida pelo deputado é baseada no argumento de que professores vinham sendo convocados a dar aulas sem que as instituições de ensino oferecessem as condições de segurança sanitária adequadas [4]. O presidente do TJ-SP defende que a decisão liminar desrespeita a ordem pública, pois desconsidera a atuação das autoridades da administração que seriam legalmente constituídas para realizar decisões de política pública para contenção da covid-19 [5] e cita os estudos que mostram que as escolas podem ser o ambiente mais seguro para as crianças, desde que cumpridos protocolos [6]. A determinação do fechamento das escolas está em consonância com diretrizes estabelecidas em carta emitida pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) [7]. O Conselho que reúne secretários de saúde de todos os estados, sugere no documento toque de recolher nacional e suspensão do funcionamento de escolas [8]. Em nota o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), critica o fechamento das escolas e a carta do Conass, sugerindo que comitês científicos, autoridades sanitárias e gestores educacionais devem definir, ‘localmente, com serenidade, sobre o modelo organizacional de ensino nas escolas, com segurança para estudantes e profissionais’, levando em consideração os possíveis prejuízos educacionais que podem atingir milhões de estudantes em todo o Brasil [9]. Ainda em março do ano anterior, todos os governos estaduais e/ ou municipais cancelaram as aulas presenciais nas escolas [veja aqui] e, desde então, o judiciário vem sendo provocado a arbitrar decisões relacionadas a abertura de escolas e de igrejas gerando instabilidade no combate a pandemia [10]. No Maranhão, por exemplo, foi ele o responsável por decretar lockdown em quatro cidades no mês seguinte [veja aqui] e em abril, pior mês da pandemia, o TJ do Rio de Janeiro também suspende a liminar que proibia a reabertura das escolas [11].
Como no mês [veja aqui] e na semana [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 11/03, ele criticou o toque de recolher adotado no Distrito Federal (DF) e comparou-o, incorretamente [1], a um estado de sítio, o que voltou a fazer em situações posteriores [veja aqui] [2]. Na ocasião, uma videoconferência com parlamentares, ele também criticou o governador de São Paulo, por uma suposta ‘destruição’ de empregos, e a suspensão de jogos de futebol [3]. Mais tarde, em sua videoconferência semanal, voltou a dizer que nunca chamou a covid-19 de ‘gripezinha’, o que é falso, e criticou novamente o toque de recolher no DF. Também fez críticas aos governadores pela adoção de medidas restritivas [4]. No dia seguinte, em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada, criticou novamente medidas de distanciamento social e governadores que querem criar programas de distribuição de renda estaduais [5]. Em março do ano passado, o presidente chamou a doença de ‘gripezinha’ [veja aqui] – e depois também negou tê-lo feito [veja aqui]. Semanalmente, ele se opõe a medidas de distanciamento social e é comum seu discurso que antagoniza a economia e a saúde [veja aqui]. Entre 08/03 e 14/03, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 11 milhões [6] para quase 11,5 milhões [7] e as mortes atingiram o patamar de mais de 278 mil pessoas [8], com média diária de 1.832 mortes há 7 dias, de acordo com dados do consórcio de veículos da imprensa. Segundo apuração da imprensa desta semana, inclusive, o vírus já matou mais pessoas que em 2020 inteiro em 8 das 27 unidades federativas brasileiras [9].
Leia as análises sobre o negacionismo presidencial na pandemia e a responsabilidade do governo sobre a situação.
Organizações de direitos humanos denunciam o presidente da República, Jair Bolsonaro, por sua atuação frente à pandemia da covid-19 no Brasil durante a 46ª sessão do Conselho Internacional de Direitos Humanos (CDH) da ONU [1]. A denúncia é lida pela representante Maria Hermínia Tavares [2], que chama a atenção para os efeitos desproporcionais da covid-19 sobre populações negras, indígenas e em situação de pobreza [veja aqui]; também aponta para as atitudes ‘recorrentes’ do presidente que ‘desdenha recomendações dos cientistas’ [veja aqui] [veja aqui], ‘descartou a importância das vacinas’ [veja aqui] [veja aqui] e utiliza expressões como ‘frescura e mimimi’ para se referir ao sofrimento das pessoas atingidas pela doença [veja aqui] [3]. Ao final, a denúncia conclui que gostaria de ‘chamar a atenção deste Conselho e apontar a responsabilidade do presidente Bolsonaro em promover, por palavras e atos, uma devastadora tragédia humanitária, social e econômica no Brasil’ [4]. Esta não é a primeira vez que a sociedade civil recorre à ONU contra a gestão Bolsonaro; em 2020, o governo foi denunciado inúmeras vezes no CDH: por proferir de forma sistemática ataques a mulheres jornalistas [veja aqui], por violações aos direitos de povos tradicionais e indígenas, por seu ‘ceticismo climático’ [veja aqui] e por violar o direito de moradia durante a pandemia [veja aqui]. Além disso, o presidente foi representado em mais de uma oportunidade no Tribunal Penal Internacional por acusações que se referem a crimes contra humanidade e genocídio relacionados a direitos dos povos indígenas e proteção do meio ambiente [veja aqui] [veja aqui].
Entenda como funciona o Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O youtuber Felipe Neto é intimado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro a prestar depoimento em investigação que o acusa de calúnia e de violação à Lei de Segurança Nacional (LSN) [1]. Essa é a segunda vez que Neto é investigado criminalmente com base na LSN: em setembro de 2020, deputado federal requereu abertura de inquérito contra o youtuber em razão dele ter apresentado posição contrária ao governo federal [veja aqui]. De acordo com Neto, a atual investigação apresenta motivação semelhante; a intimação ocorre após ele ter se referido ao presidente Jair Bolsonaro como ‘genocida’ pela sua má gestão durante a pandemia [2]. A investigação é classificada pelo influenciador digital como ‘tentativa de silenciamento’ e ‘intimidação’ [3]. O termo ‘genocídio’ já foi utilizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes em julho de 2020 para se referir a atuação das Forças Armadas na pandemia, declaração que gerou representação também fundamentada na LSN do Ministério da Defesa [veja aqui]. A investigação contra Neto se dá em um contexto de utilização recorde da LSN por autoridades do governo desde 2019 [veja aqui], tendo sido registrados casos contra opositores políticos [veja aqui], contra chargista e jornalistas [veja aqui], contra advogado criminalista que também criticou a gestão de Bolsonaro [veja aqui] e ameaças a servidores do governo [veja aqui], totalizando 51 procedimentos investigatórios só em 2020 [4]. Além disso, o Procurador Geral da República aponta que a Polícia Civil não seria competente para abrir inquérito com base na LSN, uma vez que a utilização desta legislação é de atribuição exclusivamente federal [5]. Juristas também consideram que a fala de Neto não cumpre os requisitos objetivos da LSN e não apresenta potencial ofensivo à segurança nacional [6]. Em reação ao caso, é iniciada mobilização virtual com o uso da hashtag #BolsonaroGenocida [7]. Três dias depois, em decisão liminar, juíza suspende o inquérito contra Neto e fundamenta sua decisão com base na incompetência da Polícia Civil para iniciá-lo [8] [9]. No mesmo dia, o youtuber anuncia a criação da iniciativa ‘Cala boca já morreu’, frente de advogados voltada a defender gratuitamente pessoas que forem processadas por criticar o presidente ou qualquer autoridade pública [10].
Veja linha do tempo sobre a história da Lei de Segurança Nacional e ouça podcast sobre a aplicação da LSN no caso de Felipe Neto.
Desde o ano passado, ao menos 17 artistas do grafite, rap e funk relatam que são alvos de abordagens policiais ou judiciais e tiveram suas obras censuradas, como apurado pela imprensa nesta data [1]. Os artistas contam que são abordados de forma hostil, com violência e ironia por parte dos policiais e que alguns deles já foram detidos [2]. A polícia alega, dentre outras coisas, que se trata de casos de desacato à autoridade e apologia ao crime [3]. Os conflitos parecem ter se intensificado após a prisão do MC Poze e do DJ Rennan da Penha em 2019 [4]. Os artistas defendem que a tentativa de criminalizar suas obras é fruto do preconceito de classe e visa a combater aqueles que denunciam o descaso dos governos com a periferia e com a população negra [5]. MC Leser conta que estava grafitando em uma área autorizada e foi abordado por um PM que duvidou da autorização e sacou sua arma; Leser afirma que essa intervenção não é feita em defesa do meio ambiente, mas é uma tentativa de frear os artistas pretos e periféricos [6]. Pedro Sangeon, Guilherme Silva e Renato Moll também grafitavam um muro quando a polícia os deteve, sem deixá-los esclarecer a situação; Sangeon defende que esse comportamento é fruto de um ‘delírio autoritário’ e reacionário [7]. Em outro caso, a pintura em mural de Robinho Santana é alvo de investigação por caligrafia de pixo [veja aqui]. Os funkeiros MC Cabelinho e MC Maneirinho são investigados por apologia ao crime após uma notícia-crime protocolada pelo deputado Rodrigo Amorim (PSL); os artistas afirmam que são vítimas de uma perseguição de jovens negros da periferia e do funk de favela [8]. O rapper MC Bokão também é investigado por apologia ao crime, pois suas músicas retratam o cotidiano das ações criminosas e da violência policial [9]. A polícia também enquadrou o videoclipe ‘O Rap não Morreu’ do MC Leo do AK como incentivo à violência por conter armas de airsoft, o rapper defende que ‘o sistema quer boicotar os artistas, quer acabar com a liberdade de expressão’, pois eles são ‘a voz de muitos que não a tem’ [10]. Ainda, a polícia interrompeu o show da banda BNegão & Seletores de Frequência e expulsou de forma violenta o público após o cantor se posicionar contra a violência policial e o governo Bolsonaro [veja aqui]. Episódio semelhante ocorreu durante o carnaval de Recife [veja aqui] e de Belo Horizonte [veja aqui]. A polícia também interrompeu a gravação de clipe da artista e ativista transsexual Linn da Quebrada [veja aqui] e o ensaio aberto de grupo de maracatu de mulheres [veja aqui]. Associação de policiais militares também apresentou pedido de esclarecimento criminal contra cartunistas de jornal por charges críticas à violência policial [veja aqui].
Leia as análises sobre a relação entre a criminalização do funk e racismo, sobre os casos de funkeiros que foram alvos de investigações e sobre a descriminalização do grafite.
A subprocuradora-geral da República, Lindôra Maria Araújo, aliada de Augusto Aras, procurador-geral da República, encaminha dois ofícios [1] [2] aos estados solicitando elucidações acerca das explicações sobre as verbas estaduais destinadas ao combate da pandemia [3]. O primeiro ofício foi encaminhado nesta data e, em 16/04, a subprocuradora encaminha segundo ofício solicitando informações complementares, reafirmando falas de Bolsonaro sobre o mau uso de verbas dos governadores durante a pandemia [4]. O segundo ofício é encaminhado logo após a instauração da CPI da covid-19 [5], criticada por Bolsonaro, que sugeriu que esta deveria investigar também as condutas de governadores e prefeitos durante a pandemia [veja aqui] [6] [7]. Os ofícios encaminhados por Lindôra Araújo seguem o discurso de Bolsonaro contra os governadores e abrem espaço para novos ataques [8]. Segundo apuração da imprensa, a subprocuradora solicita ‘informações completas’ sobre as verbas federais e estaduais utilizadas na construção de hospitais de campanha, incluindo especificação de valores repassados pela União aos Estados e a quantia redistribuída aos municípios [9]. Após o envio dos ofícios, em 21/04, a PGR divulga nota informando que não houve interferência de Augusto Aras nos ofícios [10]. Apesar disso, Lindora Araújo é conhecida por ser ‘o braço direito’ de Aras [11]. O governador do Piauí, Wellington Dias, reagiu aos ofícios, dizendo que, em parte, o colapso do sistema de saúde se deu também ‘pela ausência da coordenação central, do governo federal, que foi avisado [a respeito do colapso no sistema de saúde] e não ajudou na contenção’ [12]. Além das reações do governador do Piauí, os nove governadores do Nordeste assinaram uma reclamação para a Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público, visando à abertura de processo disciplinar contra a subprocuradora Lindôra Araújo, sob a argumentação de que a mesma ‘exteriorizou convicção prévia sobre a culpabilidade dos Chefes do Executivo estaduais (…) no combate à pandemia’ [13]. Segundo os governadores, Lindôra seria suspeita pois ‘apresenta perfeito alinhamento (…) com as declarações do presidente Jair Bolsonaro’ [14] [15]. Durante o agravamento da pandemia, o governo Bolsonaro foi acusado de reduzir verbas destinadas aos leitos de UTI [veja aqui] [16] [17]. Em junho do ano passado, Lindôra também fez visita atípica à Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba e gerou demissões coletivas [veja aqui]. Além disso, o MPF de Goiás já requisitou informações da Sociedade Brasileira de Infectologia sobre protocolos sobre covid-19, questionando recomendações que se alinham a protocolos sanitários reconhecidos [veja aqui]. O MPF do Rio Grande do Sul também instaurou inquérito civil para coletar informações sobre a condução de estudo realizado por 70 pesquisadores da Fiocruz, UEA e USP sobre a eficácia da cloroquina [veja aqui]. Em maio, procuradores do MPF no Piauí ajuizaram ação civil pública para que o poder público fosse obrigado a disponibilizar hidroxicloroquina na rede pública de saúde daquele estado [veja aqui].
Leia análises sobre a estratégia de Bolsonaro junto à PGR e sobre a influência do presidente em tal instituição.
A Polícia Federal invade a Casa São José, na cidade de Paracaima, em Roraima, e encaminha para deportação as 55 mulheres e crianças venezuelanas abrigadas no local [1]. Uma das freiras responsáveis pela Casa, gerida pela Pastoral do Migrante, é detida e conduzida à delegacia [2]. Os policiais envolvidos na ação fazem parte da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) e invadem o local sem apresentar ordem judicial, vestindo capuzes e portando armas de fogo [3]. A justificativa da ação policial, de acordo com a PF, é a denúncia de aglomeração no local, o que contraria os decretos sanitários em vigor por conta da pandemia do coronavírus e configura crime contra a saúde pública [4]. As restrições de entrada no país por conta da pandemia do coronavírus estão em vigor desde março de 2020 [veja aqui]. Em janeiro de 2021, foi publicada nova portaria sobre o assunto – que autoriza o deslocamento de pessoas entre cidades-gêmeas fronteiriças, com exceção daquelas que fazem fronteira com a Venezuela, como é o caso de Paracaima [veja aqui]. Organizações da sociedade civil repudiam o ato e apontam que a pandemia não pode legitimar ações do governo para impedir a entrada de migrantes e refugiados no país e inibir a atuação de entidades de proteção dessas populações [5]. O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) ingressam com ação para impedir a deportação de imigrantes e refugiados, a invasão dos locais de abrigamento destes e buscar a condenação da União pelos danos morais gerados [6]. Diante da situação, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos recomenda, dentre outras coisas, que não sejam realizadas deportações coletivas de migrantes e nem investigações contra ‘pessoas defensoras de direitos humanos ou prestadoras de serviços socioassistenciais a migrantes em situação de irregularidade documental’ [7]. Em janeiro, o MPF e a DPU já haviam impedido a tentativa de deportação de mais de mais de 50 indígenas venezuelanos da etnia Warao, que chegaram em Roraima após 18 dias de caminhada [8]. Em 21/03, a Justiça Federal acata o pedido feito pelos órgãos e proíbe a deportação de migrantes ‘hipervulneráveis’, anula as deportações sumárias de migrantes venezuelanos já realizadas e proíbe a União de realizar ações que intimidem e impeçam o acesso de migrantes aos equipamentos de saúde ou de assistência social de Paracaima [9]. Levantamento aponta que entre abril e julho de 2020 o número de deportações realizadas pela PF aumentou 9.200% se comparado com tal período em 2019 [10]. Não é a primeira vez que defensores de direitos humanos são criminalizados durante o governo Bolsonaro – em novembro de 2019 a Polícia Civil do Pará já prendeu brigadistas de ONGs que atuavam na região sob acusação de terem iniciado incêndios [veja aqui]. O governo também já tentou expulsar diplomatas venezuelanos, o que foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal [veja aqui] e, na companhia do Secretário de Estado estadunidense, visitou fronteira com Venezuela para causar pressão [veja aqui]. Também neste mês, o ministro das Relações Exteriores antagonizou com a Venezuela, alegando ser o país rota para o ‘narcossocialismo’ [veja aqui].
Leia texto sobre a situação dos migrantes venezuelanos durante a pandemia do coronavírus – em espanhol.
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) derruba decisão que impedia o governo federal de celebrar o golpe militar de 1964, através de nota publicada no site do Ministério da Defesa [1]. Por quatro votos a um, os desembargadores cassam liminar que determinava a retirada da nota do site, publicada em março de 2020 [2]. A proibição havia sido determinada em abril do ano passado quando a juíza Moniky Fonseca da 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte acatou o pedido da ação popular movida pela deputada federal Natalia Bonavides (PT-RN), o que, no entanto, foi revertido no Supremo Tribunal Federal pelo seu presidente à época, Dias Toffoli [veja aqui]. Na ação, a deputada argumenta que a comemoração do golpe militar configura ‘uso do aparato público para tentar legitimar o golpe’, o que vai contra a Constituição Federal de 1988 e o estado democrático de direito [3]. Na decisão, Fonseca havia proibido a União de publicar qualquer anúncio comemorativo relativo ao golpe mIlitar [4]. O governo federal recorreu da decisão da juíza e, nesta data, – quase um ano depois – o colegiado do TRF-5 acolhe os argumentos da União pedindo que a proibição da comemoração fosse revogada [5]. O desembargador federal Rogério Moreira, relator do caso, defende que a nota comemorativa sobre o golpe ‘não ofende os postulados do estado democrático de direito nem os valores constitucionais da separação dos poderes ou da liberdade’ [6]. A deputada Natalia Bonavides se manifesta afirmando que a decisão do TRF-5 é ‘inadmissível e incompatível com os parâmetros constitucionais’ e afirma que recorrerá da decisão [7]. Dias depois dessa decisão, o ministério da Defesa faz outra nota para celebrar os 57 anos do golpe militar, negando caracterizá-lo como tal [veja aqui]. Não só em 2020 [veja aqui], mas também em 2019, o governo também determinou ‘comemorações devidas’ ao golpe [veja aqui], o que foi revertido em primeira instância na justiça, mas acabou sendo invalidado em segunda instância a pedido da Advocacia-Geral da União [8].
O Congresso Nacional derruba veto presidencial e perdoa dívidas bilionárias de Igrejas, após o próprio presidente Jair Bolsonaro ter recomendado derrubada de seu veto [1]. Na Câmara, o placar para a derrubada do veto é de 439 a 19 e no Senado, 73 parlamentares votaram para o perdão, apenas o senador Romério (Podemos-RJ) votou contra [2]. A proposta que beneficia entidades religiosas é do deputado David Soares (DEM-SP) [3], fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, que está entre as principais devedoras frente à União [4]. A lei aprovada [5] remove templos da lista de pessoas jurídicas consideradas pagadoras do tributo, sob justificativa de que a Constituição Federal dá proteção tributária às igrejas [6]. Na Receita Federal, as dívidas de igrejas chegam a 1 bilhão, e na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional(PGFN) foram registrados R$462 milhões em dívidas [7]. O perdão à dívidas de entidades religiosas havia sido vetado por Bolsonaro em setembro do ano passado, orientado pela equipe econômica e temendo não cumprir com as leis orçamentárias, porém, na ocasião, ele mesmo sugeriu que o Congresso votasse contra a sua própria decisão: ‘se fosse senador ou deputado, votaria pela derrubada’, disse o presidente [8]. O veto é criticado pela equipe econômica do governo pelo grande volume de impostos que deixam de ser arrecadados pelo governo federal [9]. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem feito alertas sobre a necessidade de mensurar o impacto econômico das medidas aprovadas pelo Congresso, já que tais medidas podem contribuir para configurar irregularidade orçamentária nas contas do governo federal [10].
Leia sobre como funcionam os vetos presidenciais, veja infográfico a respeito e entenda os recordes de derrubada de vetos no governo Bolsonaro.
O Ministério da Saúde (MS) distribuiu máscaras impróprias para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à covid-19 no ano passado, como aponta reportagem desta data [1]. O parecer assinado pelo gabinete da presidência da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no início deste ano, aponta que máscaras recebidas pelo MS em meados de 2020, não são recomendadas para uso médico [2]. Mesmo tendo conhecimento quanto à impropriedade do material, o MS repassou as máscaras para os estados entre julho e dezembro do ano passado [3]. A Anvisa relata que parte das máscaras distribuídas aos estados encontram-se com medida sanitária de ‘suspensão de comercialização, distribuição e importação para uso em serviços de saúde’ [4]. Estados devolveram o material recebido ao Ministério da Saúde ou repassaram-no para profissionais que não trabalham em hospitais, notificando a Anvisa de que em suas embalagens havia aviso sobre a não recomendação para uso hospitalar [5]. A pasta não só se recusou a recolher os produtos e a substituí-los, como enviou mais máscaras não recomendadas para uso hospitalar aos estados [6]. O Ministério Público Federal (MPF), que abriu inquérito para apurar o caso no início deste ano, tem outra investigação em curso desde julho do ano passado que apura contrato de importação de 240 milhões de máscaras pelo governo federal [7]. A circulação de parte destas máscaras havia sido interditada pela Anvisa depois que a autoridade sanitária dos Estados Unidos suspendeu sua contratação pela falta de eficiência na filtragem [8]. O MS defendeu a qualidade das máscaras em laudos técnicos, elaborados no final do ano passado e no início deste ano, com o bjetivo de atestar a eficácia do material, entretanto, a Anvisa afirmou que nos documentos encaminhados pela pasta não estão listadas as marcas sem qualificação fornecidas aos estados [9].Vale lembrar que no ano passado o MS deu recomendações erradas e desatualizadas para população na prevenção da covid-19 por meio de aplicativos [veja aqui], e defendeu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para combater a doença [veja aqui].
Leia reportagem sobre a distribuição de máscaras improprias para uso hospitalar pelo Ministério da Saúde, durante a pandemia de covid-19
A Polícia Federal (PF) de Minas Gerais (MG) intima cerca de 25 pessoas a depor por postagens críticas ao presidente Jair Bolsonaro [1]. As postagens foram feitas em resposta a publicação realizada por jovem de 24 anos, detido em sua casa horas depois de publicar uma mensagem contra o presidente [veja aqui]. Segundo a PF, o Ministério da Justiça e Segurança Pública é responsável pela abertura do inquérito [2]. O Advogado José Carlos Muniz monta um grupo de advogados para auxiliar na defesa dessas pessoas [3] e afirma que a maioria é jovem e estudante, que receberam a intimação por telefone, e que não se sabe o total conteúdo de inquérito [4]. A medida se assemelha a uma série de investigações abertas com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), resquício da ditadura militar [5], que aumentaram 285% desde a eleição de Jair Bolsonaro [6]. A constitucionalidade da LSN está sendo contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) e a advocacia Geral da União (AGU) defende o uso da lei [veja aqui]. Especialistas ressaltam que a lei tem sido usada para silenciar opositores [7], como ocorreu em outros casos recentes: a prisão de cinco manifestantes em março [veja aqui], investigação de outdoors que chamavam o presidente de ‘genocida’ [veja aqui] ou o apresentavam como inimigo da educação e do povo [veja aqui], a intimação de um advogado criminalista [veja aqui], a abertura de inquérito para investigar a conduta de influenciadores digitais e políticos [veja aqui], contra o ministro Gilmar Mendes (STF) [veja aqui], contra um jornalista da folha [veja aqui], além da abertura de uma ação sigilosa contra 579 pessoas consideradas antifascistas [veja aqui].
Veja a linha do tempo da Lei de Segurança Nacional, leia análises sobre como ela ressurgiu no governo Bolsonaro, sobre como seu uso pode indicar abuso do Estado e sobre como uma lei da ditadura vive na democracia.
A professora Larissa Bombardi, colunista da Rádio Brasil Atual e pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo sofre intimidações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) após publicar artigos que relacionam a suinocultura com a covid-19 [1]. Conforme Bombardi: ‘os artigos tratam da hipótese, ainda não comprovada, mas já discutida por outros pesquisadores, de que a criação intensiva de animais possa ser um dos veículos de propagação da doença’ [2]. Não é a primeira vez que a pesquisadora é atacada por conta do seu trabalho [3]. Em 2019, publicou o atlas ‘Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia’ [4], que culminou com o boicote da maior rede de supermercados orgânicos da Escandinávia aos produtos brasileiros [5]. O ex-deputado federal e agrônomo Xico Graziano acusou a pesquisadora de falsificar os dados [6]. Bombardi teve ainda seu computador roubado após um assalto na sua casa [7]. As intimidações, além de outros motivos pessoais, fizeram-na decidir por deixar o país [8]. Este episódio é mais um reflexo dos constantes ataques ao conhecimento científico, reverberado através dos cortes dos recursos destinados à educação e a pesquisa [veja aqui] e disseminação de desinformação [veja aqui]. O Brasil assiste, nos últimos anos, a um recorde de liberação de agrotóxicos [veja aqui]. De acordo com a ferramenta Robotox, desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, 1310 novos agrotóxicos foram aprovados [9]. Somente entre janeiro e março de 2019, foram aprovados 214 novos rótulos. Em 2020, a Anvisa liberou uso de agrotóxico associado a doença neurológica e morte de agricultores [veja aqui]. Bombardi não é a única pesquisadora a sofrer retaliações por conta de suas pesquisas e posicionamentos: também em março, a Controladoria Geral da União (CGU) instaurou processo disciplinar contra professores da Universidade Federal de Pelotas por posicionamentos críticos a gestão de Bolsonaro – um dos professores é epidemiologista e estuda os impactos da pandemia da covid-19 no Brasil [veja aqui]. Em maio, o Procurador Geral da República, Augusto Aras, processa o professor e pesquisador do LAUT Conrado Hubner Mendes pelas críticas feitas a sua gestão [veja aqui] [veja aqui]. Em abril, pesquisadores brasileiros já haviam denunciado em revista internacional o ambiente hostil à publicações científicas por conta do controle exercido pelo governo federal [veja aqui].
Leia as análises sobre a liberação de agrotóxicos no governo Bolsonaro e sobre a disputa em torno desse conceito e ouça sobre a aceleração da liberação desses produtos.
O presidente Jair Bolsonaro ajuiza ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que questiona a constitucionalidade de decretos estaduais que estabelecem restrições de circulação como medida de proteção contra a disseminação do coronavírus [1]. A ação, assinada exclusivamente pelo presidente e não pela Advocacia-Geral da União (AGU), como de praxe, busca suspender decretos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul [2]. O presidente sustenta que as medidas, que tratam sobre toque de recolher, afrontam as garantias de liberdade econômica [3]. No mesmo dia, Bolsonaro divulga a ação em live nas redes sociais e diz que os decretos estaduais são ‘estado de defesa, estado de sítio, que só uma pessoa pode decretar: eu’ [4]. Ele já mencionou a decretação de possível estado de sítio em ao menos três ocasioões [veja aqui]. Em 23/03, o ministro do STF, Marco Aurélio indeferiu a petição ajuizada por Bolsonaro por considerar que o presidente não pode, sem a mediação da AGU, realizar pedidos diretamente a corte [5]. A decisão pode ser modificada pelo plenário do tribunal, mas apuração da imprensa indica que os demais ministros também não entendem que é o caso de suspender os decretos estaduais [6]. A ação é ajuizada no pior momento da pandemia da covid-19 até a presente data – em 17/03 o país teve, pela primeira vez, média semanal maior do que 2 mil mortes por dia [veja aqui]. Por conta da progressiva piora das condições sanitárias, no início de março diversos estados anunciaram a imposição de medidas mais restritivas de circulação, o que é referendado pela ciência [veja aqui]. A ação reflete as reiteradas investidas de Bolsonaro contra as medidas adotadas pelos governadores, em especial aquelas que pretendem implementar o distanciamento social [veja aqui].
Leia análise sobre os principais pontos da ação ajuizada por Bolsonaro e texto que explica as diferenças entre os mecanismos para crises previstos na legislação brasileira.
A Polícia Militar (PM) do Distrito Federal prende cinco manifestantes que estavam em frente ao Palácio do Planalto com uma faixa que associava o presidente Jair Bolsonaro à suástica nazista e o chamava de ‘genocida’ [1]. Os manifestantes são conduzidos para uma delegacia da Polícia Federal (PF) porque foram enquadrados pela PM na Lei de Segurança Nacional (LSN), que tem alcance federal e é proveniente da Ditadura Militar [2]. Após colher os depoimentos, porém, a PF entende que não houve crime, libera quatro manifestantes e mantém um preso por haver um mandado de prisão anterior [3]. A LSN tem sido bastante utilizada para reprimir críticos do governo: houve um aumento de 285% no número de procedimentos pautados na lei desde a eleição de Jair Bolsonaro [4]. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defende como agressiva a prisão dos manifestantes e declara que a LSN está sendo utilizada para silenciar opositores [5]. O Ministério Público emite uma nota contrária à ação da PM-DF em prender os cincos manifestantes e recomenda que não haja prisões de manifestantes pacíficos fundamentadas na LSN [6]. Já houve em outras oportunidades a utilização da LSN para coibir manifestações que chamavam Bolsonaro de ‘genocida’, como a investigação de outdoors com mensagens críticas ao governo [veja aqui], a abertura de inquérito contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes [veja aqui] e contra o influenciador digital Felipe Neto [veja aqui]. A Defensoria Pública da União e um grupo de nove advogados acionaram o STF para que os inquéritos pautados na Lei de Segurança Nacional sejam finalizados sob a argumentação da livre manifestação [7]. Felipe Neto, inclusive, cria o projeto ‘Cala-Boca Já Morreu’, para prestar assistencia jurídica gratuita em favor de pessoas que estão sendo investigadas por criticar o governo de Jair Bolsonaro [8].
Leia sobre como o uso indiscriminado da LSN pode indicar uma violação ao direito de livre manifestação e como ela é um instrumento de intimidação e silenciamento de opositores utilizado pelo governo atual.
Nas redes sociais, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, faz críticas e afirma que há o ‘dever moral’ de boicotar o filme ‘Medida Provisória’, dirigido por Lázaro Ramos [1]. O longa consiste em uma ficção distópica do futuro e é inspirado na peça ‘Namíbia, não!’, escrita por Aldri Anunciação e também dirigida por Ramos [2]. Em suma, o enredo conta que, após um pedido de reparação que indenizaria a população negra pelo período de escravidão, o governo brasileiro edita uma Medida Provisória determinando que todos os cidadãos negros sejam enviados para o continente africano e, para tanto, a polícia sequestra as pessoas nas ruas [3]. De acordo com Camargo, a produção foi bancada com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de racismo e é ‘pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente’ [4]. No entanto, Ramos reforça o caráter ficcional da obra e compara-a com outras séries famosas e atuais sobre distopias e a assessoria informa que o longa foi feito com base nas regras de captação da Lei de Audiovisual [5]. Além disso, o produtor ressalta que o filme começou a ser escrito em 2012 e que qualquer comentário sobre o enredo é feito ‘em cima de suposições ou desejo de polêmica’, uma vez que foi rodado apenas em festivais [6]. Após ser questionado sobre os comentários, Camargo afirma que apenas ‘uma lavagem cerebral nos pretos da periferia’ justificaria a admiração por Ramos, reitera que o filme faz uma ‘acusação criminosa’ ao presidente Bolsonaro e seus apoiadores e diz que o produtor ‘finge combater o racismo enquanto o fomenta’ [7]. Vale lembrar que a Fundação Palmares censurou biografias de lideranças negras em seu portal [veja aqui], Bolsonaro ameaçou extinguir a Ancine se não pudesse filtrar as produções [veja aqui] e a Secom chamou a cineasta Petra Costa de ‘militante anti-Brasil’ [veja aqui].
Leia as críticas positivas que o filme ‘Medida Provisória’ recebeu e leia a análise sobre a relação entre a Fundação Palmares e o discurso do presidente Jair Bolsonaro.
Como no mês [veja aqui] e na semana [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 15/03, criticou novamente medidas de isolamento social a apoiadores no Palácio da Alvorada e sugeriu a culpa de governadores e prefeitos pela alta do preço dos alimentos: ‘A política do ‘fique em casa’, feche tudo e destruir [sic] milhões de empregos(…) a consequência está aí’ [1]. No dia seguinte, o primeiro servidor do gabinete pessoal do presidente morreu por covid-19; até então, o presidente havia exaltado a falta de mortes em seu círculo próximo pelo uso de ‘tratamento precoce’ [2]. Em 18/03, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, questionou a taxa de ocupação de UTIs no país e ironizou: ‘parece que só [se] morre de covid’. Segundo ele, nenhum país do mundo está administrando bem a crise da covid-19 e o país estaria errado ao tentar derrubá-lo: ‘esses caras que querem me derrubar, o que fariam no meu lugar? “Comprar vacina”. Onde é que tem vacina para vender?’ [3]. No mesmo dia, o presidente ajuizou ação no Supremo Tribunal Federal contra medidas de governadores e pediu a suspensão de decretos sobre a covid-19 [veja aqui] [4]. Em 19/03, sugeriu a apoiadores uma ação do governo federal contra medidas restritivas: ‘É para dar liberdade para o povo. É para dar o direito do povo trabalhar, não é ditadura não’ [5]. No dia 15/03/2020, o presidente compareceu a manifestação contra os outros poderes da República e não usou qualquer equipamento de proteção [veja aqui]; antes disso, já havia desrespeitado recomendações sanitárias ao causar aglomeração [veja aqui]. É muito comum seu discurso contra medidas de distanciamento social; em setembro do ano passado, por exemplo, comparou prefeitos e governadores que impuseram tais medidas a ‘ditadores nanicos’ [veja aqui]. Entre 15/03 e 21/03, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 11,5 milhões [6] para quase 12 milhões [7] e as mortes atingiram o patamar de mais de 294 mil pessoas [8], com média diária de 2.255 mortes há 7 dias, de acordo com dados do consórcio de veículos da imprensa. Em 17/03, o país inclusive teve, pela primeira vez, média semanal maior do que 2 mil mortes por dia [9].
Leia análise sobre a marca de um ano desde as primeiras ações negacionistas do presidente na pandemia, relembre outros discursos deste mês com informações falsas sobre a gestão da crise e veja matéria recente na mídia internacional sobre o risco que o país representa ao mundo neste cenário
O presidente Jair Bolsonaro diz que ‘só Deus’ pode tira-lo do cargo [1]. A declaração é feita em frente ao Palácio da Alvorada onde apoiadores se aglomeraram, em meio a pandemia do coronavírus, para comemorar o aniversário do presidente [2]. A fala de Bolsonaro ocorre após inúmeros pedidos de abertura de comissão parlamentar de inquérito para apurar a atuação do governo federal no combate à covid-19 e a queda progressiva de popularidade do presidente durante a pandemia [3]. O presidente diz ainda que ‘alguns tiranetes ou tiranos tolhem a liberdade de muitos de vocês. Pode ter certeza, o nosso Exército é o verde oliva e é vocês também. Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade’ [4], e completa ‘enquanto eu for presidente, só Deus me tira daqui. Não abriremos mão desse poder que vocês nos deram por ocasião das eleições de 2018’ [5]. A fala ocorre uma semana após o governo federal ingressar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter toques de recolher impostos pelos governos da Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal [veja aqui] [6]. Bolsonaro já disse também que o ‘seu’ exército não obrigará o cumprimento de medidas sanitárias impostas pelos governadores [veja aqui]. Segundo apuração da imprensa, a tentativa do presidente de envolver as Forças Armadas na defesa de seus interesses é vista com resistência pelos altos escalões militares [7]. Em janeiro deste ano, o presidente já havia dito que só Deus o tiraria da presidência da república [veja aqui]. Especialistas sugerem que apesar das alusões à intervenção militar, as Forças Armadas não darão suporte eventuais tentativas de ruptura institucional com a democracia [8].
Leia análise sobre a inconstitucionalidade da intervenção das forças armadas na política
Levantamento desta data revela que nos últimos dois anos foram contabilizados 684 denúncias de ‘assedio institucional’ a servidores públicos. Os casos envolvem censura, processos administrativos, trocas de funções e demissões de opositores ao governo [1]. A contagem é feita pela Articulação Nacional das Carreiras Públicas para o Desenvolvimento Sustentável (Arca) por meio da ferramenta ‘Assediômetro’, que expõe não só quais os órgãos mais afetados pela censura como também revela que a maioria dos casos ocorreram em 2020, em média mais de uma denúncia por dia [2]. O presidente da Associação dos Servidores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Afipea), afirma que as tentativas de restringir a livre manifestação de pensamento dos servidores públicos, são táticas comuns e não mais fatos isolados [3]. Vale lembrar que em 03/03/2021, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) editou ofício estipulando, que a divulgação de pesquisas por órgãos públicos antes da ‘conclusão e aprovação definitiva’ seria uma infração disciplinar [veja aqui]. Em 12/03/2021, o Instituto Chico Mendes de Conservação do Meio Ambiente (ICMBio) publicou portaria instituindo a necessidade de revisão e autorização de publicações científicas pela diretoria [veja aqui]. Outras medidas do governo já foram tomadas contra funcionários públicos, como a nota técnica emitida pelo Ibama para coibir condutas críticas ao governo [veja aqui], a investigação sigilosa do Ministério da Justiça contra servidores identificados como antifascistas [veja aqui] e a realocação de um repórter pela Empresa Brasil de Comunicações (EBC), após ele fazer uma pergunta crítica ao ministro da Saúde [veja aqui].
Leia o levantamento detalhado das denúncias de assédio institucional que ocorreram durante o governo atual
O presidente Jair Bolsonaro exonera o general da ativa Eduardo Pazuello do cargo de ministro da Saúde [1]. Em seu lugar, nomeia Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes [2], médico cardiologista [3], anunciado como novo ocupante do cargo no dia 15/03 – a demora para oficializar a nomeação teria se dado em razão da dificuldade do médico em se desvincular das empresas que era sócio [4]. A exoneração de Pazuello se dá em momento de pressão política de Bolsonaro – de acordo com apurações da imprensa, o desgaste de Pazuello incomodava tanto os militares [5], quanto congressistas [6]. A troca na chefia do Ministério da Saúde (MS), terceira ocorrida após o início da pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui], se dá em momento de alta do número de mortes, que já somam quase 300.000 [veja aqui]. Antes da nomeação de Queiroga, o presidente conversou com a médica Ludhmila Hajjar e que contava com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados [7]. O nome de Hajjar não é bem aceito por apoiadores de Bolsonaro, que apontam que a médica não defende o uso do ‘tratamento precoce’ contra o coronavírus (opção de ‘tratamento’ que não conta com respaldo científico) [8] e divulgam áudio crítico a declarações de Bolsonaro sobre a covid-19 supostamente creditado à médica [9]. Reportagem revela que além do presidente, participaram da conversa com ela o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e também o ex-ministro Eduardo Pazuello – Hajjar foi perguntada sobre seu posicionamento em relação a armas, aborto e também sobre o uso da cloroquina e de medidas restritivas, como o lockdown [10]. Sobre este último tópico, Bolsonaro teria questionado se a médica não iria ‘fazer lockdown no Nordeste para me foder e depois perder a eleição, né?’ [11]. Em entrevista dada à imprensa em 15/03, Hajjar afirma publicamente que não assumirá o ministério da Saúde ‘por motivos técnicos’, relacionados às divergências com o presidente em relação a lockdown e ao ‘tratamento precoce’ [12]. Em 16/03, após a indicação de Queiroga tornar-se pública, o cardiologista declara que ‘a política é do governo Bolsonaro, não é do ministro da saúde’, alega que não irá avaliar a gestão anterior e defendeu que ‘o governo tem trabalhado arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil’ [13]. Ele descarta a decretação de lockdown, pontuando que se trata de medida para ‘situações extremas’ e indica que o uso de cloroquina não será parte da estratégia do MS, mas ‘os médicos têm autonomia para prescrever’ o uso das medicações sem eficácia científica comprovada contra o coronavírus [14]. Após a troca na pasta, a OMS envia mensagem ao novo ministro pedindo articulação dos governos federal e estaduais no enfrentamento à covid-19 [15]. Em 24/03, Pazuello faz pronunciamento de despedida ao lado de Queiroga e diz que foi vítima de ‘pressão política’ por não atender a pedidos de repasses de verba feitos por políticos [16]. Apenas em 2021, a gestão de Pazuello a frente do MS foi criticada por conta da demora para apresentação de um plano de vacinação [veja aqui], da falta de resposta ao problema da falta de oxigênio no estado do Amazonas [veja aqui] e por seu apoio declarado ao ‘tratamento precoce’ [veja aqui].
Leia análise sobre os diferentes momentos da gestão Pazuello no Ministério da Saúde e ouça podcast que avalia os motivos de sua substituição.
A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a deputada Bia Kicis (PSL-DF), ameaça de sanção a oposição por chamar o presidente Jair Bolsonaro de ‘genocida’, durante sessão do colegiado [1]. Kicis adverte verbalmente o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) por considerar que o uso da palavra ‘genocida’ atribuída ao chamar o presidente da República, possa configurar ato calunioso e injúria [2]. Teixeira, no entanto, questiona a intervenção da presidente da CCJ e diz se tratar de cerceamento do seu direito de manifestação, além de acusar Kicis a usar do cargo para defender posição política [3]. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) também se posiciona contra a ameaça, e diz que Bia é presidente da CCJ e não advogada de Bolsonaro [4]. Em outra sessão, a presidente da comissão mandou retirar dos registros a palavra genocida por entender novamente que a vinculação ao nome de Bolsonaro seria crime de injuria [5]. A nomeação de Kicis para presidir a CCJ foi bastante criticada pela oposição e por aliados de governo [veja aqui], visto que a deputada é investigada pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news [veja aqui] e já se mostrou favorável a intervenção militar em caso de conflito entre poderes [veja aqui]. A alcunha ‘Bolsonaro genocida’ vem sendo utilizada com frequência por críticos ao governo, e já foi motivo de intimações [veja aqui] e investigações pela Polícia Federal [veja aqui]. Juristas afirmam que não há crime em chamar Bolsonaro de ‘genocida’ porque faz parte do direito de criticar dos cidadãos [6].
Leia sobre quem é Bia Kicis e entenda os problemas de produtividade que a CCJ está enfrentando sob sua presidência.
O Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) lança relatório [1] que evidencia o aumento do desmatamento e da grilagem de terras em razão de estímulos federais e estaduais [2]. O relatório elucida como a legislação atual visa à modernização da regularização fundiária, que na prática aumenta as invasões de terras públicas e consequentemente o desmatamento [3]. A necessidade da titulação de terras para quem desmata com o intuito de identificar e punir estimula ocupações e diminui a proteção ambiental, porque a forma atual de requerimento do direito a terra induz ao desflorestamento como prova de ocupação do local [4]. Pesquisador do Imazon afirma que a legislação brasileira retrata as terras públicas como vagas e por isso incentiva apropriações irregulares [5]. Outro fator importante é a falta de destinação fundiária de 28,5% do território da Amazônia, que é de responsabilidade do governo estadual; todavia, os estados têm um grande número de leis estimuladoras de apropriações com base no deflorestamento [6]. Segundo a Imazon, o desmatamento da Amazônia é o maior em dez anos, e a destruição do bioma aumentou 216% em relação a março passado [7]. O instituto recomenda revisões e alterações em leis estaduais e federais para que haja a diminuição de terras griladas e do desmatamento [8], mas o Brasil segue caminho contrário ao exposto no relatório, já que no dia 16/04 o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei (PL) [9] que amplia os grupos favorecidos pela regularização fundiária [10]. Vale lembrar que a política ambiental do governo Bolsonaro já foi denunciada por servidores [veja aqui], por estimular a grilagem [veja aqui] e flexibilizar leis ambientais [veja aqui]. Em 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) transferiu a regularização fundiária do Incra para os municípios [veja aqui] e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulou passar a ‘boiada’ por meio de revogações de regras ambientais e militarização do ministério [veja aqui].
Leia sobre a política ambiental brasileira e o risco real que ela gera sobre a floresta Amazônica, entenda como a ‘boiada’ está passando.
O assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, faz gesto interpretado como sinal de grupo supremacista branco durante sessão do Senado [1]. O líder da oposição na casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerou como inaceitável a atitude de Filipe e pediu que ele fosse conduzido para fora do Palácio do Planalto, mas o pedido não é acatado [2]. Na sequência, Martins se manifesta em suas redes sociais, diz ser judeu, e afirma que por isso não faria um gesto supremacista branco; por fim, diz que estaria apenas ajeitando a lapela do seu terno [3]. Em reação, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, classifica a conduta como inapropriada e afirma que Filipe será investigado pela Polícia Legislativa [4]. O Senado aprova o ‘voto de censura’ contra o assessor especial, o voto não gera punição mas é uma maneira simbolica de repreender publicamente o gesto associado a supremacistas brancos [5]. O Museu do Holocausto repudia o gesto feito por Martins e o classifica como um símbolo de ódio [6]. Já o presidente Jair Bolsonaro diz aos seus apoiadores que irá exonerar Filipe após sua atitude, afimação até o momento não concretizada [7]. Em outras oportunidades, Bolsonaro citou bordão fascista durante live [veja aqui] e afirmou ser possível ‘perdoar’ o holocausto [veja aqui] ; ademais, o ex-secretário especial da Cultura veiculou vídeo sobre prêmio artístico com referências nazistas, fato que culminou em sua posterior demissão após repercussão negativa da situação [veja aqui].
Leia análises sobre como o sinal de ‘OK’ é utilizado por movimentos supremacistas e sobre como a expansão neonazista no país é preocupante.
A Advocacia-Geral da União (AGU) encaminha manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF) defendendo o uso da Lei de Segurança Nacional (LSN) pelo governo atual [1]. A utilização da legislação proveniente da ditadura militar, frequentemente usada para combater críticos ao governo, é objeto de quatro ações analisadas pelo STF, com o intuito de tornar inconstitucional a aplicação da lei [2]. A AGU se manifesta após um pedido de derrubada parcial do texto normativo no STF, pelo Partido Trabalhador Brasileiro (PTB), sobre o caso Daniel Silveira [3], que foi preso com base na lei por ameaçar ministros e exaltar o Ato Institucional número 5 (AI-5) [veja aqui]. O órgão interpreta que a LSN respeita os direitos fundamentais e as liberdades constitucionais [4]. Também argumenta que a lei é um instrumento de defesa do Estado Democrático de Direito e deve ser utilizado de maneira econômica e restrita a atos tipificados no texto [5]. A despeito da manifestação da AGU, autoridades federais como o ministro da Justiça tem usado com bastante frequência a LSN para fundamentar investigações contra opositores ao governo [veja aqui], como jornalistas [veja aqui] [veja aqui], manifestantes [veja aqui] e servidores [veja aqui]. A manifestação da AGU em defesa da LSN vai em sentido contrario ao da corrente dominante na atualidade, visto que diante do uso indiscriminado da LSN para conter críticos do governo, os juristas reconhecem que há inúmeros fatores controversos no texto legal. Quais sejam: a imprecisão dos termos da lei, a desatualização contra possíveis ataques a segurança nacional na atualidade e o caráter autoritário decorrente da transformação de crimes comuns em crimes de segurança nacional [6]. No Congresso Nacional, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirma que a substituição da LSN por outra legislação chamada por ele de ‘nova lei do Estado Democrático de Direito’, é um prioridade e vai sugerir urgência para votação [7].
Leia a análise sobre qual o propósito da LSN e veja também linha do tempo sobre o histórico da lei.
Justiça Federal suspende bloqueio sobre venda de produtos florestais de origem nativa imposto pelo Ibama aos estados do Mato Grosso e do Pará, conforme aponta apuração da imprensa desta data [1]. As decisões, tomadas separadamente, atendem aos pedidos de desbloqueio feitos por cada um dos estados, mas são liminares, ou seja, não são definitivas e podem ser modificadas depois da apresentação de provas [2]. Em 19/03 o Ibama tinha determinado que a partir do dia 22/03 a emissão do Documento de Origem Florestal (DOF), necessário para autorização da venda da madeira e outros produtos, fosse bloqueada para os dois estados [2]. A punição foi justificada uma vez que os estados ainda não se integraram ao Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), prevista desde 2012 no Código Florestal [3], e que deveria ter sido concluída até maio de 2018 – a falta de integração impõe obstáculos para a fiscalização da regularidade dos produtos [4]. A decisão que aceitou o pedido do estado do Mato Grosso e afirma que o bloqueio do Ibama é abusivo e tem grande impacto socioeconômico, além de apontar que ‘o estado não se mostrou omisso quanto à adesão ao Sinaflor’ [5]. Vale indicar que, segundo dados produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois estados são os recordistas do Brasil no desmatamento da Amazônia [6]. Em outras oportunidades, decisões do Executivo e do Judiciário prejudicaram a preservação do meio ambiente: em agosto de 2020, o Ministério da Defesa impediu operação do Ibama no Pará contra garimpo ilegal em terras indígenas [veja aqui], em dezembro do mesmo ano, o Ministro Kassio Nunes Marques, do STF, deu decisão que permitiu a pesca predatória no litoral do Rio Grande do Sul [veja aqui].
Leia análises sobre o impacto do desmatamento da Amazônia no Pará e no Mato Grosso.
O presidente Jair Bolsonaro incentiva índios Kayapós a pressionarem suas comunidades por garimpo e extração de madeira em suas terras [1]. Durante reunião com indígenas, madeireiros e o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, Bolsonaro diz que ‘os índios que querem trabalhar com mineração tem que pressionar seus políticos’, assim como os garimpeiros e mineradores, para ‘pleitear o que tem que ser votado e aprovado’ [2]. As falas ocorrem durante reunião extra oficial no Palácio do Planalto, no final de março [3]. Em áudio do encontro, divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em 04/04, o madeireiro João Gesse cobra os Kayapós sobre o apoio ao projeto do governo de ampliar a área de exploração em terras indígenas e diz, ‘a paciência acabou. Querem ficar com ONG? Maravilha, fique com essas malditas ONG, só que lembre-se: estão dentro do Brasil. General Mourão, Exército, Polícia Federal, vai pra cima’ [4]. Xavier, por sua vez, orienta os madeireiros a entrarem com uma ação popular contra a associação indígena Floresta Protegida, que não concorda com o garimpo em terras indígenas, e se oferece para financiar visita de uma comitiva de Kayapós às terras dos Parecis [4], comunidade Kayapó que planta soja para a comercialização sem licença ambiental (MS) [5]. Em fevereiro deste ano o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) editaram instrução normativa facilitando a exploração agrícola em terras indígenas [veja aqui]. Entre janeiro e novembro de 2020 foram registrados 145 pedidos para realização de atividade de exploração mineradora em terras indígenas, o maior número em 24 anos .
Leia análise sobre as violações de direitos dos povos indígenas no Brasil.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publica retificação [1] que altera instrução normativa de 2018 [2], que disciplina a conformação dos Planos de Ação Nacional (PAN) para conservação de espécies ameaçadas de extinção [3]. Com a correção, é alterada a forma de composição do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT), responsável por implementar, monitorar e avaliar os planos de ação, que agora será limitado a ‘apenas agentes públicos da administração pública federal até o limite de cinco membros’ [4]. Na prática, a mudança retira a participação da sociedade civil, como universidades e organizações não governamentais [5]. Pela instrução normativa anterior, era previsto que o GAT deveria ser ‘constituído por membros de diferentes setores’, como ‘representantes de outras instituições governamentais, da sociedade civil e especialistas com atuação relevante’ [6]. A retificação mimetiza outros decretos do governo federal que, desde 2019, esvaziaram a participação da sociedade civil em comissões, comitês e grupos de trabalho [veja aqui]. Somente na área do meio ambiente, grupos da sociedade civil foram excluídos de conselho responsável por repasses de recursos para a área ambiental [veja aqui], da Comissão Nacional de Biodiversidade [veja aqui] e da Comissão de Controle do Desmatamento [veja aqui].
Leia artigo que explica a importância da participação da sociedade civil no controle de políticas públicas e para o fortalecimento da democracia.
Ministério da Saúde (MS) altera sistema de contagem de mortes por covid-19, reduzindo drasticamente a contabilização em menos de 24 horas, o que é interpretado como omissão dos dados [1]. O MS passa a exigir dados como CPF, número do cadastro no SUS e a nacionalidade dos pacientes para fazer o registro de óbito em decorrência do coronavírus, e a contagem de 1.021 óbitos registrados no estado de São Paulo em 23/03/2021, novo recorde durante a pandemia até a presente data, cai para 281 mortes no dia seguinte [2]. No dia da queda drástica dos números, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo encaminha ofício ao MS indagando a alteração no sistema de contagem e afirma ‘não ter sido comunicada previamente’; completa ao dizer que municípios do estado não conseguiram cadastrar os óbitos no sistema nacional de contabilização no mesmo dia [3]. Os problemas na alimentação do sistema de contagem também foram registrados, ao menos, nos estados do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul [4]. No mesmo dia, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) também encaminham ofício a pasta solicitando ‘a retirada temporária da obrigatoriedade do preenchimento’ dos novos dados no sistema [5]. Horas após a repercussão negativa, o MS atende aos pedidos e volta atrás nas mudanças: ‘foi suspenso o preenchimento obrigatório de alguns campos de identificação’ já que a medida foi realizada sem a comunicação dos ‘estados e municípios em tempo oportuno’ [6]. Em outras oportunidades, também em contexto de crescente nos números de infecções e óbitos pelo vírus, o MS atrasou a divulgação dos dados epidemiológicos [veja aqui] e depois passou a omiti-los [veja aqui]. Já ex-ministro da pasta omitiu número de casos e mortes por covid-19 no país em reunião da OMS [veja aqui], e o Itamaraty não aderiu a compromisso global de luta contra desinformação durante a pandemia [veja aqui].
Veja estudos que avaliam a transparência na divulgação de dados epidemológicos pelo governo federal e pelos estados e capitais durante a pandemia.
O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, declara em entrevista que lockdown não funciona porque mesmo que haja o confinamento de pessoas, existiria a possibilidade de contaminação pelo covid-19 por vetores animais, como pássaros, cães, gatos e insetos [1]. O ministro reitera que aqueles que defendem o lockdown como medida de controle das contaminações são ‘tolos’, uma vez que a medida seria comprovadamente ineficaz e que não há como realizar lockdown de insetos [2]. Especialistas entendem que o transporte do vírus por animais não é uma possibilidade, porque a transmissão do covid-19 é por meio de gotículas do nariz ou da boca [3]. Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) informa que não houve casos de transmissão do covid-19 entre animais e pessoas [4]. Quanto a eficácia do lockdown no combate ao covid-19, a cidade de Araraquara (SP), após um mês de fechamento total e restrição absoluta de circulação, registra diminuição de 57,5% no número de casos e zera a fila de pacientes aguardando leitos de UTI [5]. Em outras oportunidades, o presidente descreditou inúmeras vezes as medidas sanitárias contra o covid-19 [veja aqui] e criticou a instauração de lockdown para controlar a transmissão do vírus [veja aqui]. Além disso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a ordem do governo Bolsonaro seria evitar a medida de restrição de circulação absoluta [veja aqui] [6].
Leia análises sobre a efetividade do lockdown como medida de contenção de novas variantes do covid-19 e sobre os principais meios de transmissão do vírus.
O Procurador-geral da República, Augusto Aras, retira da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) caso onde assessor de seu gabinete é investigado e o encaminha ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), segundo apuração divulgada pela imprensa nesta data [1].A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal (MPF), Elizeta de Paiva Ramos, afirma em ofício enviado ao CNMP que a mudança é uma manobra que pode ser utilizada ‘para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas’ de Aras, que poderia estar visando blindar seus aliados [2]. Ramos também afirma que a Corregedoria do MPF não concordou previamente com a mudança e que ela foi surpreendida pela opção de Aras [3]. O CNMP é um conselho hierarquicamente superior à Corregedoria do MPF, portanto pode eventualmente assumir investigações do segundo órgão; essa mudança, via de regra, só ocorreria se comprovado que a Corregedoria inicialmente responsável pela apuração do caso não possui independência suficiente para prosseguir com a investigação [4]. Ademais, ele é composto por representantes de diversos poderes e instituições [5] e, de acordo com apuração da imprensa, a maioria dos integrantes atuais são aliados de Aras [6]. Por outro lado, ele não possui maioria na Corregedoria do MPF – seis dos membros do órgão já assinaram ofícios criticando a falta de ação de Aras em relação a atuação do presidente Jair Bolsonaro no controle da pandemia do coronavírus [7]. O caso envolve inquérito administrativo aberto a pedido de Aras contra três investigadores que atuaram no grupo de trabalho da PGR na Operação Lava-Jato e que acabaram pedindo demissão por discordâncias com a gestão do Procurador-Geral [8]. Membros da equipe de investigação de Aras acusaram os ex-colegas por vazamento de informações à imprensa [9] sobre a delação premiada de Marcelo Odebrecht [10]. Após as acusações, um processo administrativo foi aberto pela corregedoria do MPF, que, por sua vez, passou a investigar a possibilidade do vazamento ter sido realizado por um dos auxiliares mais próximos de Aras, o procurador João Paulo Lordelo [11]. A corregedoria do MPF também solicitou informações ao chefe de defesa do gabinete de Aras, o procurador regional Alexandre Espinosa [12]. O plenário do CNMP referenda o pedido de Aras e autoriza a transferência do processo [13]. Em nota, o CNMP afirma que sua decisão de aceitar seguir com o prosseguimento do caso foi ‘estritamente jurídica e técnica’ [14]. A manobra ocorre em um contexto de mudança institucional do MPF, que na gestão de Aras encerrou as investigações baseadas no modelo de forças-tarefas [veja aqui].
Leia reportagem sobre a manobra do Procurador-Geral da Republica para proteger aliados.
Congresso Nacional (CN) aprova a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com o menor orçamento do século XXI para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) [1]. O texto aprovado apresenta redução de quase 40% da verba destinada à pasta nos últimos dois anos (período da gestão de Jair Bolsonaro no governo federal) [2]. O valor total de R$1,73 bilhão destinado pela LOA 2021 ao MMA representa queda de 27% em relação ao orçamento de 2020 e de 34% em relação ao de 2019 [3]. Segundo relatório elaborado pelo Observatório do Clima [4], o orçamento destinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos estatal estratégico na preservação do meio ambiente, foi reduzido 61,5% em comparação ao valor autorizado pela LOA de 2018, último ano em que o governo federal não foi conduzido pela gestão Bolsonaro [5]. Já o orçamento destinado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é reduzido em 10% em relação a 2020 [6]; o órgão é responsável pelo monitoramento via satélite do desmatamento amazônico e sofre investidas constantes do governo federal – Bolsonaro questionou reiteradamente os dados sobre desmatamento apresentados pelo instituto [veja aqui]. A LOA de 2021 é aprovada no CN com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal [7]. Desde o fim de 2020, organizações da sociedade civil criticaram o projeto e apontaram a necessidade de aumento orçamentário do MMA para a preservação ambiental [8], o que não foi atendido pelo CN [9]. Uma das diretoras do Greenpeace no Brasil afirma que ‘o orçamento aprovado não reflete os desafios que o país enfrenta e passa longe de garantir os recursos necessários para a proteção dos nossos biomas e para a saúde pública’ [10]. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara convida o ministro do MMA, Ricardo Salles, a prestar esclarecimentos sobre a redução orçamentária da pasta, a despeito do aumento nos níveis de desmatamento amazônico observado nos últimos anos [11]. Entre 2019 e 2020, o MMA fez cortes orçamentários no Ibama e ICMBio em mais de R$100 milhões [veja aqui], reduziu 95% do orçamento da Política Nacional sobre a Mudança do Clima [veja aqui], e Salles anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal por ‘falta de verbas’ [veja aqui].
Veja o relatório completo do Observatório do Clima e comparativos da atuação de órgãos de proteção ambiental nos últimos anos.
Congresso Nacional (CN) corta 90% das verbas destinadas a produção do censo demográfico [1], para aprovar o projeto orçamentário de 2021, inviabilizando a realização da pesquisa [2]. O parecer final do orçamento federal, apresentado pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC), retira R$ 1,76 bilhão do Censo e destina apenas R$190,7 milhões, já autorizados, e outros R$ 50 milhões condicionados a possível aprovação de crédito suplementar pelo CN [3]. Após o anúncio do corte, a presidenta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pede exoneração do cargo [4]. Ela continuará no cargo até a transição para o novo presidente [5]. Três dias após a aprovação do corte orçamentário, o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE) protocola projeto de lei visando tornar crime de responsabilidade a não realização do Censo [6]. Especialistas afirmam que o Censo é fundamental para embasar as mais diversas políticas públicas do país, em áreas essenciais como saúde e educação [7]. O estudo também contribui com a elaboração de estratégias para combater o coronavírus, através do mapeamento de áreas mais sensíveis a covid-19 e construção de planos de vacinação [8]. Em carta aberta assinada por 55 entidades ligadas às políticas públicas de planejamento urbano, a descontinuidade de investimentos na realização do censo demográfico é considerada inaceitável em meio ao momento delicado que o país atravessa [9]. A Comissão Consultiva do Censo Demográfico assina documento pedindo a recomposição do orçamento e realização do Censo ainda em 2021, destacando também o descumprimento da Lei do Censo, que prevê a realização da pesquisa a cada dez anos [10]. O último Censo demográfico foi realizado em 2010 [11]. Em 2019, o IBGE já havia enunciado uma redução de 25% dos gastos previstos para o Censo de 2020, o qual foi adiado em razão da pandemia [veja aqui]. A ex presidenta do IBGE, Susana Guerra, que pediu demissão por não concordar com o corte no orçamento, diz que só o Censo é capaz de mensurar com precisão os impactos da crise sanitária causada pelo coronavírus [12].
Leia análise sobre os riscos da não realização do Censo demográfico.
A Polícia Federal (PF), intima Sônia Guajajara [1], liderança indígena e coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e Almir Suruí, líder indígena de Roraima [2], para depor por suposta difamação ao governo federal [3]. Guajajara é representada por supostamente difamar o governo federal em entrevista concedida durante web série ‘Maracá’, que denuncia violações de direitos contra indígenas cometidas no contexto da pandemia de Covid-19 [4]. Nos depoimentos, ela defende os povos indígenas e acusa o governo de violação à direitos fundamentais [5]. Suruí também foi intimado por ‘propagar mentiras contra o governo’ [6]. As violações narradas por Guajajara já haviam sido levadas ao Supremo Tribunal Federal, através da ADPF 709, que pretende garantir que o governo forneça assistência sanitária aos povos indígenas durante a pandemia [7] [8]. Ambas as lideranças foram representadas, perante à PF, pela FUNAI, órgão responsável por ‘proteger e promover os direitos dos povos indígenas, em nome da União [9]. Em 03/05, a Apib entra com um pedido de habeas corpus para suspender a investigação de Guajajara [10], tendo o inquérito sido arquivado em 05/05 por não trazer indício de abuso do exercício de direito ou cometimento de crime [11] [12]. Em 03/05, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, critica as acusações feitas pela Funai [13]. A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (FPMDDPI) também se manifesta de maneira contrária às tais acusações [14]. As intimações de lideranças ocorrem em contexto em que a violência contra os povos indígenas mais que dobrou no primeiro ano do governo de Bolsonaro [veja aqui]. Até abril de 2020, a Funai ainda não tinha apresentado nenhum plano de ação visando a proteção dos povos indígenas [veja aqui] e, o governo federal se manifestou somente após três meses de terem sido decretado o estado de calamidade pública [veja aqui]. Além disso, em 29/03, a Funai publicou uma carta de agricultores indígenas apresentando inverdades sobre a Apib e sobre a Sônia Guajajara [11].
Assista a web série “Maracá”, leia sobre a situação dos povos indígenas do Xingu, sobre como a política de Bolsonaro e as mortes indígenas estão relacionadas, sobre como o governo Bolsonaro cria o caos político e sobre o abandono do Brasil frente aos povos indígenas.
Os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) enaltecem atitude de policial militar da Bahia que, durante episódio de surto psicótico, abriu fogo contra colegas de tropa em ponto turístico de Salvador e acabou morto [1]. No dia 28/03, o soldado Wesley Soares saiu de seu posto de serviço armado de um fuzil, dirigiu-se a ponto movimentado da cidade e passou horas atirando para cima e gritando frases como ‘não vou deixar (…) que violem a dignidade e a honra do trabalhador’ [2]. Após tentativas de negociação, ele disparou contra o pelotão que mediava a ocorrência e estes revidaram – Wesley foi baleado, chegou a ser socorrido, mas não resistiu [3]. Após o ocorrido, Kicis usa suas redes sociais para defender as ações do soldado, chamando-o de herói, e criticar o governador da Bahia: ‘morreu porque se recursou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa (…) Esse soldado é um herói (…) chega de cumprir ordem ilegal!’ horas depois, ela remove a postagem e diz que irá aguardar as investigações, reconhecendo a ‘fundamental hierarquia militar’ [4]. Zambelli faz postagem que usa a frase ‘Sempre é hora de fazer o que é certo’, de autoria de Martin Luther King para defender a atitude do soldado [5]. Eduardo Bolsonaro compartilha vídeo da situação e compara as medidas restritivas para controle da pandemia com um ‘sistema ditatorial’: ‘aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição (…) esse sistema ditatorial vai mudar (…) estão brincando de democracia achando que o povo é otário’ [6]. Outras pessoas alinhadas ao governo, como o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e o ex-deputado Roberto Jefferson também divulgaram comentários de endosso à atitude do soldado Wesley [7]. Jandira Ferghali (PCdoB-RJ), deputada da oposição, classifica as falas dos parlamentares como muito graves e fundamentadas em fatos não comprovados [8]. Essas manifestações acontecem em momento de escalada na disputa entre o governo federal e diversos governadores de estados, que se centra nas medidas de combate a pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Diante desse embate e os ataques frequentes dos apoiadores de Bolosonaro as ações dos Estados, dezesseis governadores reagem por meio de uma nota, na qual denunciam um aumento crescente de atos violentos e fake news contra a gestão estadual [9]. Vale lembrar que Kicis, Zambelli e Eduardo Bolsonaro são alvos do inquérito das fake news [veja aqui] e do inquérito que apura atos antidemocráticos [veja aqui].
Ouça sobre como o surto do polícial da Bahia foi politizado por apoiadores do Bolsonaro e leia sobre a instrumentalização das polícias pelo governo atual.
O quarto e recém empossado ministro da Saúde [veja aqui], o médico Marcelo Queiroga, afirma durante audiência no Senado Federal que ‘vamos fazer grande campanha, junto aos profissionais de saúde, para o uso racional de oxigênio’ [1]. Durante a audiência, Queiroga também declara que a produção de oxigênio no país é limitada: ‘não podemos desviar todo o oxigênio da área da indústria para área medicinal porque, senão a indústria vai ficar desabastecida’ e como solução propõe que sua pasta prepare protocolo para ‘uso racional de oxigênio’ [2]. A expressão ‘uso racional de oxigênio’ faz referência a protocolo médico que objetiva economizar o uso de oxigênio por hospitais com base em uma comparação entre o estado de gravidade dos pacientes [3]. Especialista sanitarista explica que ‘protocolos não são feitos para economizar. Eles garantem a segurança e qualidade ao paciente’ [4]. Igualmente, pneumologista da Fiocruz se preocupa com a proposta de racionalização, explicando que ‘o uso precoce do oxigênio reduz o risco do paciente ser intubado e o tempo de internação dele’ e ‘é claro que ninguém bota oxigênio em pacientes que estão bem’ [5]. Além disso, já existem protocolos sobre a internação em UTIs de pacientes contaminados pela covid-19, como o desenvolvido no ano passado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) [6]. Na prática, com o agravamento da crise sanitária em março de 2021 e uma fila de espera de atendimento que ultrapassa os 6.300 pacientes, os médicos já têm tido que realizar escolhas sobre a destinação de leitos e uso de insumos [7]. Vale lembrar que durante o colapso hospitalar no Amazonas [veja aqui], órgão do governo federal aumentou a tributação sobre cilindros de oxigênio [veja aqui], e que os gastos com medicamentos sem eficácia científica comprovada ultrapassaram R$18 milhões de reais no ano anterior [veja aqui].
Leia análises sobre a elaboração de protocolos médicos para internação e os desafios enfrentados por profissionais da linha de frente.
O presidente Jair Bolsonaro troca seis ministros do governo [1], em meio a pressões do centrão [2] e a tentativas de institucionalização das Forças Armadas (FAs) [3]. Na Casa Civil, ele realiza a substituição de Walter Braga Netto por Luiz Eduardo Ramos, que ocupava a Secretaria de Governo, que passa a ser chefiada pela deputada federal Flavia Arruda (PL-DF) [4]. A nomeação da deputada para a pasta expõe a tentativa de Bolsonaro em agradar o ‘centrão’, bloco de parlamentares que tem atuado como principal base de apoio do governo no Congresso Nacional (CN) [5]. A escolha de Arruda ocorre dias depois do presidente da Câmara dos Deputados e líder do centrão na casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmar que o governo federal deve sanar os erros e anomalias para evitar a instauração de ‘remédios políticos amargos’ [6]. O ministério das Relações Exteriores também é afetado com as trocas, Ernesto Araújo é exonerado do cargo de chefia e para tal posto é nomeado Carlos Alberto Franco França [7]. A troca ocorre em meio a pressões de parlamentares do centrão para saída de Araújo do posto, diante da sua atuação disfuncional no cenário internacional [8]. As substituições no alto escalão do governo também alcançam a Advocacia-Geral da União (AGU), que volta a ser representada por André Mendonça, antes ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo agora ocupado pelo delegado federal Anderson Gustavo Torres [9]. O novo detentor da pasta da Justiça e Segurança Pública no governo é ligado a bancada da bala, grupo parlamentar defensor de políticas armamentistas [10] e amigo íntimo do deputado federal Flavio Bolsonaro (PSL), filho de Jair Bolsonaro [11]. O ministério da Defesa passa a ser dirigido por Braga Netto, após a demissão de Fernando Azevedo e Silva [12]. Segundo apurações da imprensa, a troca do ex-ministro da Defesa decorre de insatisfações de Jair Bolsonaro quanto a recusa de Azevedo em alinhar as FAs às convicções do governo federal [veja aqui]. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, em reação a demissão de Azevedo e em oposição as tentativas de Bolsonaro em politizar as FAs, colocam seus cargos à disposição e dão início a uma crise militar sem precedentes no Brasil [veja aqui].
Leia sobre as trocas ministeriais em meio à maior crise militar da história e a busca de Jair Bolsonaro por fidelização no centrão, entenda o perfil do novo ministro da Justiça e Segurança Pública e como Ernesto Araújo tornou o Brasil uma pária internacional. Ouça sobre como a nomeação de Flavia Arruda é uma respostas as pressões sobre o presidente da República.
Após corte orçamentário na Lei Orçamentária de 2021 aprovada pelo Congresso Nacional [1] [veja aqui], a Diretoria de Planejamento, Administração e Logística (Diplan) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) emite ofício solicitando aumento de R$ 60 milhões no orçamento do órgão e sugerindo medidas de redução de custos e atividades caso o pedido não seja atendido [2]. O orçamento previsto para o ICMBio em 2021 é de R$ 177 milhões, com redução de 30% no valor comparado ao ano anterior e de 40% em relação ao orçamento de 2019 aprovado pelo governo Temer [3]. Dentre as medidas sugeridas pela Diplan destaca-se a suspensão das brigadas e aeronaves para combate dos incêndios florestais [4]. O período mais grave de incêndios no Pantanal e na Amazônia ocorre nos meses entre maio e novembro; as ações preventivas que deveriam ser realizadas a partir de abril para evitar os incêndios estão atrasadas ou paralisadas em decorrência da falta de recursos financeiros que viabilizem essas ações, colocando assim em risco a preservação das florestas do país [5]. Em 2020, o ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Sales, havia anunciado a suspensão de todas as operações de combates a incêndios por falta de verbas, mas logo em seguida voltou atrás na decisão [veja aqui]. A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, afirma que o ICMBio tem risco de morrer ‘por inanição’ [6]. Além da redução orçamentária, em 12/03 foi emitida portaria que obriga a necessidade de aprovação pela Diretoria antes da divulgação de qualquer produção científica do Instituto [veja aqui] e o ministro Ricardo Salles ,criou em outubro de 2020 um grupo de trabalho para estudar a possibilidade de fusão entre o ICMBio e o Instituo Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) [7] [veja aqui]. O Ibama também sofreu reduções orçamentárias [veja aqui], assim como toda a pasta do Ministério do Meio Ambiente em 2021 com o menor orçamento do século XXI [veja aqui]. A aprovação do orçamento federal de 2021 pelo presidente Jair Bolsonaro, em 22/04 [8], foi seguida de diversas críticas em relação aos cortes no MMA [9]. Em 24/04 o ministro Ricardo Sales, divulga nas redes sociais ofício encaminhado ao Ministério da Economia, em que solicita a recomposição de R$ 270 milhões no orçamento de seu ministério [10].
Leia a pesquisa sobre os desafios da gestão dos parques brasileiros.
Comandantes das Forças Armadas (FAs), general Edson Pujol, almirante de esquadra Ilques Barbosa e tenente-brigadeiro Antônio Carlos Bermudez, entregam seus cargos [1] após a demissão sumária do ministro da Defesa, Fernando Azevedo [2]. Segundo apuração da imprensa, a troca de ministro se deu pela insatisfação de Jair Bolsonaro com a recusa de Azevedo em prestar apoio e alinhar as FAs aos ideais políticos do governo [3]. Azevedo é a decima sétima substituição ministerial e em seu lugar assume Walter Braga Netto, até então chefe da Casa Civil [4]. Depois do anúncio da saída de Azevedo, outros seis ministros foram substituídos [veja aqui]. O ex-ministro informou a demissão em nota oficial e destacou que tentou preservar as FAs como instituições de Estado – e não como instituições do governo [5]. A entrega de cargos dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica é um evento sem precedentes e se fundamenta na recusa em demonstrar apoio a Jair Bolsonaro e a ceder às pressões para politização das FAs [6]. Dentre os três comandantes, a demissão de Pujol já era esperada, visto que suas manifestações de apoio as orientações sanitárias no combate a covid-19 [7] e declarações de que os militares não querem fazer parte da política [veja aqui], desagradavam o presidente da República [8]. Mesmo com a ausência de fidelização das FAs aos projetos de governo, Bolsonaro já se referiu ao Exército como ‘seu’ [9]. O imbróglio entre o governo e as FAs ocorre na véspera dos 57 anos do golpe de 1964 [veja aqui], data anteriormente denominada por Bolsonaro como ‘dia da liberdade’ [veja aqui]. Diante da mudança no comando das FAs, a oposição protocola denúncia de impeachment contra o presidente, sob fundamento de que a troca dos comandantes foi por interesses pessoais e que Jair tenta se apoderar das FAs como instrumentos de governo [10]. Conforme apuração jornalística, com as trocas o Alto Comando das Forças Armadas pretende enviar recado a Bolsonaro, afirmando que não vão apoiar e nem tolerar que as forças militares sejam utilizadas em prol de ‘uma aventura’ [11]. Em meio a maior crise militar, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio, afirma que as FAs não servem para dar apoio ao governo porque são instituições de Estado e que não há a mínima possibilidade de um golpe, visto que o Estado de Direito veio para ficar [12]. Braga Netto já anunciou novos nomes para o comando do Exército, Marinha e Aeronáutica,quais sejam, o general Paulo Sergio Nogueira, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos e o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Batista Junior, as escolhas respeitam o critério de antiguidade das instituições [13].
Leia sobre quais os limites constitucionais das Forças Armadas e porque é tão importante que ela seja neutra politicamente e ouça sobre os riscos de uma ruptura entre a ala militar e o governo Jair Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro edita medida provisória (MP) [1], a fim de ‘desburocratizar o ambiente de negócios’ no país [2] que permite a emissão de licenças ambientais, de segurança sanitária e de prevenção contra incêndio de forma robotizada e automática, ou seja, sem a necessidade de análise e aprovação prévias por uma pessoa encarregada [3]. De acordo com a MP caberá ao proprietário do local observar e assegurar que seu estabelecimento esteja de acordo com as ‘normas de segurança sanitária, ambiental e de prevenção contra incêndio’; posteriormente, o alvará e as licenças serão emitidas ‘automaticamente, por intermédio de sistema responsável pela integração dos órgãos e das entidades de registro’ [4]. Com isso, o governo não mais realizará fiscalizações preventivas de forma a evitar que acidentes, como o ocorrido em Brumadinho em 2019 [5], se repita. A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, afirma que a MP é uma ‘aberração jurídica’ somente possível em um governo que não valoriza a vida humana e nem a proteção ambiental [6]. A flexibilização ou redução das políticas de proteção ambiental se tornou uma constante no governo Bolsonaro, nos dois primeiros anos foram contabilizados mais de 150 eventos que contribuíram para a deterioração da política ambiental brasileira [veja aqui], como a flexibilização da proteção ambiental em unidades de conservação [veja aqui] e drástica redução orçamentária do Ministério do Meio Ambiente [veja aqui].
Leia a análise sobre as implicações da medida provisória e sobre a redução dos servidores ambientais na gestão Bolsonaro.
Como em anos anteriores [veja aqui] [veja aqui], o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em nota oficial do ministério [1] determina celebrações ao golpe militar de 1964, instaurado na mesma data há 57 anos, como parte da ‘trajetória histórica do Brasil’ [2]. O texto se baseia na visão de que o golpe auxiliou na pacificação do país e reorganização das liberdades democráticas [3]. Braga Netto também ressalta seu apoio a Lei da Anistia, instrumento que beneficiou os cidadãos que cometeram crimes políticos, eleitorais e de motivação política durante a vigência da ditadura militar [4]. Outros aliados do governo também comemoram o fato, nas redes sociais o vice presidente Hamilton Mourão elogia o golpe de 1964 por barrar a ascensão do ‘Movimento Comunista’ [5], a despeito de já ser comprovado que não havia ameaça comunista no período [6]. O deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PSL) também exalta os 57 anos do início da ditadura militar como um golpe baseado na lei, na vontade popular e em prol da democracia [7]. Vale lembrar que o período foi marcado por desaparecimentos forçados, perseguições, torturas e ausência de eleições diretas. A celebração recebe aval da Justiça para comemoração do golpe sobre a justificativa de ser um ‘marco democrático’ [veja aqui]. O enaltecimento do golpe de 1964 ocorre dias depois de crise militar com a saída dos três comandantes das Forças Armadas (FA), somado ao pedido de demissão do antigo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, por divergências com Bolsonaro [veja aqui]. Em meio aos acontecimentos, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e outros generais afirmam que as FA prezam pela democracia e não serão fatores de instabilidade [8]. Durante o dia, a hashtag #DitaduraNuncaMais é destaque nas publicações como forma de defender o regime democrático e barrar retrocessos contrários às liberdades e garantias constitucionais [9]. Juristas e figuras políticas se opõem à celebração do golpe militar, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes [10] e Luís Roberto Barroso [11] e a ex-senadora e ativista Marina Silva [12].
Leia sobre a inconstitucionalidade do golpe militar de 1964, entenda que o passado ditatorial não deve ser exaltado e veja análise dos atos autoritários contra a liberdade acadêmica durante a ditadura.
Como no mês [veja aqui] e na semana [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 22/03, o presidente que desdenhou a gravidade da pandemia no país em evento no Palácio do Planalto: parece ‘que somente no Brasil há pessoas morrendo por covid-19’ [1]. Além disso, reforçou a necessidade de manutenção de empregos, em suposta contraposição à questão sanitária – o que já havia feito anteriormente [veja aqui] – e sugeriu que não mudaria seu discurso [2]. No dia seguinte, dia em que o país registrou mais de 3 mil mortes em 24h pela primeira vez, ele fez pronunciamento televisivo e distorceu dados [3] sobre o enfrentamento da pandemia e disse que ‘sempre’ defendeu ‘que adotaríamos qualquer vacina [4], desde que aprovada pela Anvisa’ [5], o que é mentira [veja aqui], o que veio a ser também desmentido com depoimentos na CPI da covid-19, inaugurada em maio deste ano [veja aqui]. Em 24/03, após reunião com a cúpula dos três poderes, o presidente anunciou a criação de um comitê gestor para o combate à covid-19, mas voltou a defender o ‘tratamento precoce’, que ficaria a cargo do ‘direito e dever do médico de tratar infectados’ – a despeito de não haver medicamentos com eficácia comprovada para o tratamento de covid-19 [6]. Em 25/03, em sua videoconferência semanal, voltou a sugerir a ineficácia de lockdowns e distorceu dados sobre o combate à pandemia no Brasil e no mundo [7]. Nessa ocasião, também afirmou que voltaria a tomar cloroquina – remédio comprovadamente ineficaz para o tratamento da covid-19 – caso viesse a ser novamente infectado pelo vírus [8]. Em 31/03, Bolsonaro fez pronunciamento no Palácio do Planalto sem máscara e criticou novamente medidas restritivas [9] [10]. Entre 22/03 e 31/03, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 12 milhões [11] para mais de 12,7 milhões [12] e as mortes atingiram o patamar de quase 322 mil pessoas [13], com média diária de 2.255 mortes há 7 dias, de acordo com dados do consórcio de veículos da imprensa. Em 17/03, o país inclusive teve, pela primeira vez, média semanal maior do que 2,9 mil mortes por dia [14].
Leia análise sobre os pronunciamentos do presidente em 25/03 e 23/03.
Incitadas pelo presidente Jair Bolsonaro, agressões a jornalistas crescem em 168% em 2020, comparando com o ano anterior [1]. São 150 casos registrados, envolvendo pelo menos 189 profissionais e veículos de comunicação, além do assassinato de um profissional [2]. As ofensas e xingamentos foram a forma de violência mais recorrente, chegando a 59 casos contra 68 jornalistas, metade dessas tendo sido realizadas pelo presidente e seus apoiadores [3]. Os números são apresentados pelo relatório anual da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) sobre violações à liberdade de expressão [4]. No documento, são mencionadas agressões perpetradas diretamente por Jair Bolsonaro, como nos casos em que ofendeu jornalista ao ser questionado sobre depósitos realizados pelo ex-assessor de seu filho Flávio à sua esposa [veja aqui], e quando fez insinuações de cunho sexual à repórter da Folha de São Paulo [veja aqui] [5] [6]. Em 2019 foram registradas 116 casos de ofensas do presidente contra jornalistas [veja aqui] e, em 2020, 580 ataques de Bolsonaro, seus filhos e ministros contra comunicadores [veja aqui]. O estudo da Abert também traz dados sobre ataques virtuais, sendo registrados 7.945 ataques na internet por dia, o equivalente a quase seis agressões por minuto [7]. No relatório anual sobre Direitos Humanos dos Estados Unidos, o Brasil aparece em destaque pela deterioração dos direitos humanos, ocasionada por ‘assassinatos ilegais ou arbitrários cometidos pela polícia’, ‘corrupção’, ou ações do presidente envolvendo violência contra jornalistas em diversas ocasiões [8]. Outro relatório já havia apontado queda na posição do Brasil em ranking internacional de liberdade de imprensa pelo segundo ano consecutivo [veja aqui]. Entidades de jornalismo e imprensa acusam Bolsonaro de incitar a violência contra a imprensa e seus profissionais [9]. Em 08/04, entidade ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal com vistas a garantir o fim do uso abusivo de ações judiciais como forma de intimidação à jornalistas e órgãos de imprensa [10].
O presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte), o coronel da reserva Lamartine Barbosa Holanda, é exonerado do cargo pelo secretário-executivo da Casa Civil, Sérgio José Pereira [1]. Holanda assumiu o cargo em setembro de 2020 e foi o sexto presidente da Funarte durante a gestão Bolsonaro [2]. A demissão ocorre em meio à uma crise do governo com os militares, pois os três comandantes das Forças Armadas pediram demissão em conjunto por discordarem do presidente Jair Bolsonaro [3] [veja aqui]. Menos de um mês depois, a imprensa divulga dossiê feito por membros da Secretaria de Cultural que classifica quais servidores devem ser exonerados por seus posicionamentos políticos, dentre eles, consta o nome de Holanda, que é acusado de esconder informações e proteger falhas [veja aqui]. No dia seguinte da demissão, nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mario Frias, fala sobre a ‘necessidade de reestruturação da Funarte’ e em ‘mudanças necessárias em busca da popularização da cultura’, mas não menciona expressamente a exoneração do presidente da instituição [4]. Holanda afirma que apresentou um relatório com inconsistências na pasta da Cultura, mas que nela não constavam denúncias ou retaliações, e que foi contra colocar certos equipamentos culturais em parcerias público-privadas, a despeito da vontade de seus chefes [5]. O coronel também diz que se colocou contra a privatização de equipamentos culturais sem a participação da Funarte, pois isso diminuiria as oportunidades dos pequenos produtores de acessarem a máquina pública [6]. Ainda, o ex-presidente da Funarte publica carta na qual afirma que não pôde aceitar ‘algumas imposições equivocadas para nomeação de pessoal’ [7] Vale ressaltar que Holanda não tinha experiência na área cultural ao assumir o cargo [8]. Ele foi substituído no mês seguinte por Tamoio Athayde Marcondes, que deixa o posto de assessor técnico da vice-presidência [9]. A Funarte passou por diversas mudanças na sua composição ao longo da gestão Bolsonaro, em outubro de 2019 o Ministro da Cidadania exonerou 19 servidores para substituir por pessoas ‘leais ao governo’ [veja aqui], em novembro, Miguel Proença é exonerado por defender a atriz Fernanda Montenegro de críticas do diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte [veja aqui] e, em dezembro, o governo nomeou para a presidência do órgão Dante Mantovani, que tem posturas conservadoras e intolerantes [veja aqui]. Em 2020, o Ministério do Turismo nomeou blogueira sem qualificação para cargo de coordenação na Funarte [veja aqui].
A juíza federal Angela Catã, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), reverte decisão que suspendeu a reabertura do comércio no Distrito Federal (DF) [1]. A magistrada aceita recurso apresentado pelo Governo do Distrito Federal e determina a volta das atividades comerciais não essenciais [2]. Com a derrubada da liminar, Catã revoga a decisão anterior que havia determinado que o governo retornasse com as medidas de restrição para conter o avanço da covid-19 [3]. Catã argumenta que o estabelecimento de protocolos sanitários e a definição do momento ideal para a retomada do comércio não é competência do Judiciário, e sim do poder executivo do DF [4]. Ela também defende que a Justiça deve atuar apenas quando houver inconstitucionalidade e ilegalidade nas ações do governo , e por isso suspendeu a liminar que impediu a reabertura [5]. Especialistas da área de Saúde que atuam no estado criticam a flexibilização e afirmam que seria necessária mais uma semana de medidas restritivas para observação dos resultados positivos no combate ao coronavírus: ‘não estamos no momento de fazer essa reabertura’ [6]. Levantamento desta data aponta que, só no DF, 238 pacientes com covid-19 estão na fila de espera por uma UTI na rede pública de saúde, em que a taxa de ocupação dos leitos é de 99% [7], mesmo percentual registrado na rede privada [8]. A decisão é tomada em contexto de disputa entre o governo federal e governadores de estados em relação a adoção de medidas restritivas para contenção da pandemia – em fevereiro, o Ministério da Saúde recuou pedido de uniformização de medidas contra a covid-19 elaborado por governadores e secretários de saúde [veja aqui]. Apesar disso, no início de março diversos estados anunciaram toques de recolher e determinaram medidas mais restritivas de circulação [veja aqui]. Em outra oportunidade, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo reverteu a proibição de aulas presenciais em fases agudas da covid-19 naquele estado [veja aqui].
Leia reportagem sobre o caos nos hospitais do Distrito Federal (DF) causado pandemia de covid-19
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) concede liminar revertendo decisão judicial que estabelecia lockdown no Distrito Federal (DF) [1]. No dia 29 de março a juíza federal Angela Catão havia decretado o encerramento do lockdown no Distrito Federal (vigente desde o dia 1º de março) [2], acatando pedido do governo do estado e permitindo a volta dos eventos esportivos [3]. Um dia depois a juíza Kátia Balbino decide por novo fechamento parcial, argumentando que a medida é necessária devido ao ‘colapso do sistema público e privado de saúde no DF’ [4]. A decisão do TRF-1 se deu no dia 31 de março derrubando a decisão de Balbino e determinando a reabertura dos serviços não essenciais, o que envolve os eventos esportivos, sob o argumento de que a deliberação sobre medidas de isolamento social cabe ao governo do estado e não ao judiciário [5]. A liberação de partidas esportivas ratifica o planejamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que confirmou dias antes da decisão judicial a realização da Supercopa do Brasil – campeonato de futebol de jogo único – no estádio Mané Garrincha, em Brasília, com a presença de 7 mil pessoas, na primeira quinzena de abril [6]. A ideia de Rocha é usar 10% da capacidade do estádio para que profissionais de saúde já vacinados (e que tenham cumprido o período necessário para a imunização) assistam a partida entre Flamengo e Palmeiras [7]. No dia 8 de abril as vésperas da realização da partida que estava prevista para o dia 11, o desembargador Souza Prudente do TRF-1 determina a volta do lockdown,reformando a decisão que havia suspendido o fechamento [8]. Para Prudente a situação da pandemia não sofreu qualquer recuo o que justifica a volta do lockdown [9]. A ocupação de leitos de UTI na rede pública e privada está em 98% na região [10]. Um dia depois da decisão de Prudente, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, derruba novamente o lockdown atendendo a recurso do Governo do Distrito Federal, protocolado na noite do dia 8 de abril [11]. Esta a última decisão judicial determina a volta dos serviços não essenciais com isso, passa a ser permitido o funcionamento de eventos esportivos [12]. A Defensoria Pública da União (DPU), responsável pela ação que pedia a volta do ‘lockdown’, afirmou que não vai recorrer da decisão do STJ [13].
Leia panorama sobre a situação dos estados em meio a pandemia. Distrito Federal aparece entre os sete mais atingidos.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) – recém nomeada presidente da Comissão do Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados – divulga informações falsas sobre a preservação da Amazônia durante live com a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) [1] [2]. Zambelli ataca populações indígenas e originárias, declara que ‘o maior motivo do desmatamento ilegal são as pessoas que moram na Amazônia’ [3], o que é falso [4], e repete mentira já difundida pelo presidente Jair Bolsonaro em seu discurso na ONU de que ‘o índio e o caboclo’ são responsáveis pela queimadas na floresta [veja aqui]. A presidente da CMA também informa dados imprecisos sobre a preservação do bioma amazônico, dizendo que ‘85%,88% aproximadamente’ estariam preservados, o que não corresponde aos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que estima que 20% da floresta já foi desmatada e que a cobertura vegetal restante (80%) está sendo degradada por outras atividades humanas [5]. No ano anterior, o vice-presidente Hamilton Mourão também divulgou dados equivocados sobre as queimadas na Amazônia, subestimando dados oficiais do Inpe [veja aqui]. Por fim, Zambelli ataca ONGs, prática já adotada por Bolsonaro em outras ocasiões [veja aqui], e defende o presidente e o ministro do Meio Ambiente (MA), Ricardo Salles, afirmando que ambos adotariam uma política de ‘tolerância zero com o desmatamento’ [6], o que é duvidoso visto que Bolsonaro já disse que as queimadas são ‘mentira’ [veja aqui] e já afirmou existir no Brasil uma ‘psicose ambientalista’ [veja aqui]. Igualmente, o ministro do MA anunciou suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal durante a pior crise de desflorestamento em 2020 [veja aqui], já autorizou a produção em áreas de preservação ambiental permanente [veja aqui], cancelou a criação de bases de proteção florestal [veja aqui], entre outras práticas que enfraqueceram a pauta ambientalista.
Leia explicação sobre as queimadas na Amazônia e veja gráfico interativo sobre a evolução do desmatamento da floresta nos últimos 30 anos.