Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Brasil troca de ministro da saúde pela quatra vez em meio à pandemia, em meio a rumores de pressão ideológica

Tema(s)
Administração, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

O presidente Jair Bolsonaro exonera o general da ativa Eduardo Pazuello do cargo de ministro da Saúde [1]. Em seu lugar, nomeia Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes [2], médico cardiologista [3], anunciado como novo ocupante do cargo no dia 15/03 – a demora para oficializar a nomeação teria se dado em razão da dificuldade do médico em se desvincular das empresas que era sócio [4]. A exoneração de Pazuello se dá em momento de pressão política de Bolsonaro – de acordo com apurações da imprensa, o desgaste de Pazuello incomodava tanto os militares [5], quanto congressistas [6]. A troca na chefia do Ministério da Saúde (MS), terceira ocorrida após o início da pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui], se dá em momento de alta do número de mortes, que já somam quase 300.000 [veja aqui]. Antes da nomeação de Queiroga, o presidente conversou com a médica Ludhmila Hajjar e que contava com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados [7]. O nome de Hajjar não é bem aceito por apoiadores de Bolsonaro, que apontam que a médica não defende o uso do ‘tratamento precoce’ contra o coronavírus (opção de ‘tratamento’ que não conta com respaldo científico) [8] e divulgam áudio crítico a declarações de Bolsonaro sobre a covid-19 supostamente creditado à médica [9]. Reportagem revela que além do presidente, participaram da conversa com ela o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e também o ex-ministro Eduardo Pazuello – Hajjar foi perguntada sobre seu posicionamento em relação a armas, aborto e também sobre o uso da cloroquina e de medidas restritivas, como o lockdown [10]. Sobre este último tópico, Bolsonaro teria questionado se a médica não iria ‘fazer lockdown no Nordeste para me foder e depois perder a eleição, né?’ [11]. Em entrevista dada à imprensa em 15/03, Hajjar afirma publicamente que não assumirá o ministério da Saúde ‘por motivos técnicos’, relacionados às divergências com o presidente em relação a lockdown e ao ‘tratamento precoce’ [12]. Em 16/03, após a indicação de Queiroga tornar-se pública, o cardiologista declara que ‘a política é do governo Bolsonaro, não é do ministro da saúde’, alega que não irá avaliar a gestão anterior e defendeu que ‘o governo tem trabalhado arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil’ [13]. Ele descarta a decretação de lockdown, pontuando que se trata de medida para ‘situações extremas’ e indica que o uso de cloroquina não será parte da estratégia do MS, mas ‘os médicos têm autonomia para prescrever’ o uso das medicações sem eficácia científica comprovada contra o coronavírus [14]. Após a troca na pasta, a OMS envia mensagem ao novo ministro pedindo articulação dos governos federal e estaduais no enfrentamento à covid-19 [15]. Em 24/03, Pazuello faz pronunciamento de despedida ao lado de Queiroga e diz que foi vítima de ‘pressão política’ por não atender a pedidos de repasses de verba feitos por políticos [16]. Apenas em 2021, a gestão de Pazuello a frente do MS foi criticada por conta da demora para apresentação de um plano de vacinação [veja aqui], da falta de resposta ao problema da falta de oxigênio no estado do Amazonas [veja aqui] e por seu apoio declarado ao ‘tratamento precoce’ [veja aqui].

Leia análise sobre os diferentes momentos da gestão Pazuello no Ministério da Saúde e ouça podcast que avalia os motivos de sua substituição.

23 mar 2021
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