Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

PGR dribla Corregedoria do MPF sobre processo que investiga seu assessor

Tema(s)
Administração, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

O Procurador-geral da República, Augusto Aras, retira da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) caso onde assessor de seu gabinete é investigado e o encaminha ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), segundo apuração divulgada pela imprensa nesta data [1].A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal (MPF), Elizeta de Paiva Ramos, afirma em ofício enviado ao CNMP que a mudança é uma manobra que pode ser utilizada ‘para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas’ de Aras, que poderia estar visando blindar seus aliados [2]. Ramos também afirma que a Corregedoria do MPF não concordou previamente com a mudança e que ela foi surpreendida pela opção de Aras [3]. O CNMP é um conselho hierarquicamente superior à Corregedoria do MPF, portanto pode eventualmente assumir investigações do segundo órgão; essa mudança, via de regra, só ocorreria se comprovado que a Corregedoria inicialmente responsável pela apuração do caso não possui independência suficiente para prosseguir com a investigação [4]. Ademais, ele é composto por representantes de diversos poderes e instituições [5] e, de acordo com apuração da imprensa, a maioria dos integrantes atuais são aliados de Aras [6]. Por outro lado, ele não possui maioria na Corregedoria do MPF – seis dos membros do órgão já assinaram ofícios criticando a falta de ação de Aras em relação a atuação do presidente Jair Bolsonaro no controle da pandemia do coronavírus [7]. O caso envolve inquérito administrativo aberto a pedido de Aras contra três investigadores que atuaram no grupo de trabalho da PGR na Operação Lava-Jato e que acabaram pedindo demissão por discordâncias com a gestão do Procurador-Geral [8]. Membros da equipe de investigação de Aras acusaram os ex-colegas por vazamento de informações à imprensa [9] sobre a delação premiada de Marcelo Odebrecht [10]. Após as acusações, um processo administrativo foi aberto pela corregedoria do MPF, que, por sua vez, passou a investigar a possibilidade do vazamento ter sido realizado por um dos auxiliares mais próximos de Aras, o procurador João Paulo Lordelo [11]. A corregedoria do MPF também solicitou informações ao chefe de defesa do gabinete de Aras, o procurador regional Alexandre Espinosa [12]. O plenário do CNMP referenda o pedido de Aras e autoriza a transferência do processo [13]. Em nota, o CNMP afirma que sua decisão de aceitar seguir com o prosseguimento do caso foi ‘estritamente jurídica e técnica’ [14]. A manobra ocorre em um contexto de mudança institucional do MPF, que na gestão de Aras encerrou as investigações baseadas no modelo de forças-tarefas [veja aqui].

Leia reportagem sobre a manobra do Procurador-Geral da Republica para proteger aliados.

25 mar 2021
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