Planalto seleciona equipe da Advocacia Geral da União (AGU) para assessorar o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em sua oitiva na CPI da covid -19, agendado para o dia 19/05 [1]. Essa é a primeira vez que a AGU escala uma equipe que, conforme apuração da imprensa, foi composta por servidores do órgão e quatro ex-titulares da pasta, para assessorar um ex-ministro [2]. Randolfe Rodrigues (Rede – AP), vice-presidente da CPI, criticou o uso da AGU para orientá-lo: ‘a Advocacia geral da União é um órgão de Estado, não um órgão de advocacia particular’ [3]. Em 13/05, a AGU apresenta habeas corpus ao STF pedindo autorização para que Pazuello possa se manter em silêncio em seu testemunho na CPI da covid-19 [4]. O principal argumento da AGU é que a oitiva de Pazuello poderia ‘antecipar um inadequado juízo de valor sobre culpabilidade’ do ex-ministro no combate à pandemia durante sua gestão como ministro da Saúde [5]. Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, afirma que o pedido da AGU poderia atrapalhar o andamento da comissão [6]. Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, também se manifesta contrariamente ao pedido da AGU, dizendo que Pazuello é ‘peça fundamental’ para a CPI [7]. Após o pedido da AGU, em 14/05, o Ministério Público apresenta representação ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que a AGU deixe a assessoria de Pazuello [8] [9]. Segundo o MP, existe desvio de função da AGU quando atua em defesa do ex-ministro [10]. Em 14/05, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, concede o pedido da AGU e garante o direito de Pazuello ficar em silêncio, quando entender que as perguntas poderiam levá-lo ao risco de produzir prova contra si [11]. No mesmo sentido, em 21/05/21, Lewandowski concede [12], após negar no primeiro pedido [13], o direito de parmanecer em silêncio à Mayra Pinheiro (conhecida como ‘capitã cloroquina’) na CPI da covid-19. Mayra foi responsável por uma comitiva de médicos para difundir o uso da Cloroquina em Manaus [14], diante do colapso do sistema de saúde local [veja aqui]. Durante sua gestão no ministério da Saúde, Pazuello reduziu recursos destinados a leitos de UTI [veja aqui] e atuou para a omissão de informações, fazendo com que servidores assinassem termo de confidencialidade de informações da pasta [veja aqui] e omitindo informações sobre a situação do Brasil na OMS [veja aqui]. Atualmente, Pazuello é investigado por omissão durante o enfrentamento da covid-19 no Amazonas [12] [veja aqui].
Leia análise sobre a gestão de Pazuello no MInistério da Saúde.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.