O presidente Jair Bolsonaro anuncia decreto que visa limitar a atuação das redes sociais no Brasil [1]. Bolsonaro afirma que ‘estamos na iminência de um decreto para regulamentar o Marco Civil da Internet, dando liberdade e punições para quem porventura não respeite isso’ [2]. Segundo apurações da imprensa, que obteve documento com o texto preliminar do decreto, ele visa impedir que sites e redes sociais apaguem publicações de usuários e suspendam contas [3]. De acordo com texto, as empresas de serviço só poderiam restringir contas que exponham conteúdos relacionados a nudez, violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), apologia ao crime, apoio a organização criminosas ou incitação de atos de ameaça ou violência e somente sob determinação judicial [4]. A única ação das redes sociais que não necessitaria de aval judicial seria o bloqueio de perfis falsos e inadimplentes [5]. O secretário de Cultura, Mario Frias, apoia o decreto e declara que ‘todo mundo tem o direito de falar o que quer, ou ninguém tem o direito de falar o que quer’ e que ‘não pode chegar uma empresa privada e dizer como vai funcionar a lei dentro do país’ [6]. O anúncio do decreto ocorre após a exclusão de postagens do presidente pelas redes sociais sob a alegação de serem ‘informações falsas’ [veja aqui] [veja aqui], suspensão de contas bolsonaristas pelo inquérito das fakes news [veja aqui] e o banimento de Donald Trump do Twitter e do Facebook por tempo indeterminado [7]. Professor da UniCeub alerta para as consequências da promulgação do texto já que dificultaria a retirada de conteúdos com discurso de ódio e afirma que o decreto apresentam lacunas que beneficiam a preservação de postagens impróprias [8]. A Associação Latino-Americano de Internet (ALAI) declara que o decreto é ‘inconstitucional, porque cria direitos e impõem deveres que superam a lei federal’ [9]. Vale lembrar que já houve investigações contra o ‘gabinete do ódio’, grupo de comunicação do governo, acusado de promover desinformação e ataques a adversários políticos nas redes sociais [veja aqui]. Durante debate na Câmara dos Deputados no dia 23/06, o ministro do Turismo declarou que o decreto que visa impedir a exclusão de contas pelas redes sociais tem como intuito garantir a liberdade de expressão e que é apenas uma regulamentação do Marco Civil da Internet [10]. Alguns parlamentares criticaram o conteúdo do decreto e afirmaram que o assunto tem que ser regulamentado em lei, o deputado federal Leo de Brito (PT-AC) salientou que o decreto viola o Marco Civil da Internet e delega a Secretaria de Direitos Autorais e Propriedade o poder de fiscalizar postagens como uma ‘controladora da internet no País’ [11].
Leia sobre como o texto é uma tentativa de blindar os perfis de direita no Brasil e ouça sobre como o decreto do governo visa limitar a atuação das redes sociais.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.