Segundo apurações da imprensa, Jair Bolsonaro impede que o Exército Brasileiro e o ministro da Defesa se posicionam sobre a ida do general da reserva Eduardo Pazuello a uma manifestação no Rio de Janeiro [1]. Em 23/05, o ex-ministro da Saúde juntamente com Bolsonaro, participou de uma aglomeração com centenas de motociclistas no Rio de Janeiro [veja aqui]. Durante o ato, Pazzuelo foi flagrado sem máscara e chegou a subir no carro de som, onde estava Bolsonaro, e a discursar em favor do presidente [2]. A participação do general em um evento político coletivo é uma transgressão ao Estatuto Militar e ao Código Disciplinar do Exército [3]. De acordo com a imprensa, os integrantes da cúpula do Exército classificaram como ‘descabida’ a presença do general na manifestação [4] e pressionam Pazuello a pedir transferência para a reserva [5]. No dia 24/05, o Exército instaura processo administrativo contra o general da ativa pela presença no ato político [6]. Além de proibir o posicionamento das instituições, Bolsonaro também requer ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que Pazuello não seja punido [7]. Esse imbróglio entre as Forças Armadas (FAs) e o presidente reforça a crise entre as instituições [8], iniciada após a saída dos comandantes do Exército, Marinha, Aeronáutica e do ministro da Defesa por não concordarem com a politização das FAs [veja aqui]. O vice-presidente, Hamilton Mourão, defende a punição do ex-ministro da Saúde e declara que ‘a regra tem que ser aplicada para se evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças’ [8]. No dia 28/05, Pazuello expõe sua defesa no processo administrativo e afirma que a manifestação dos motoqueiros a favor de Bolsonaro não é um ato político-partidário porque não ocorre durante período eleitoral [9]. Em 03/06, o processo administrativo é arquivado sob a justificativa do ato político ‘não ter tido conotação partidária’ e Pazuello não é punido, o que gera críticas por parte de parlamentares e ex-ministros da Defesa [10] [11]. No mesmo dia, Pazuello é nomeado para cargo na Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República [veja aqui]. . Diante da absolvição do general, comandantes do Exército dão início a estratégias para mitigar possíveis efeitos e reações advindas do arquivamento [12]. No dia 07/06, Exército decide impor sigilo de 100 anos aos documentos do processo administrativo contra Pazuello sob justificativas de conter informações pessoais [13]. No dia 14/06, o Estado Maior do Exército rejeita pedido de revogação do sigilo posto sobre o processo administrativo contra Pazuello [14]. No dia 28/06, o Exército afirma ao Supremo Tribunal Federal (STF) em ação que questiona a imposição do sigilo de 100 anos ao processo de Pazzuelo, que não existe interesse público no processo administrativo já que regula ‘unicamente uma relação personalíssima entre um militar e seu comandante’ [15]. Segundo apurações da imprensa, menos de um mês depois da abertura de processo contra Pazuello, o Ministério Público Militar (MPM) arquiva os autos que investigavam a presença do general da ativa em ato político [16]. O arquivamento ocorre sem que o MPM tenha feito diligências ou ouvido Pazuello [17]. O procurador-geral da Justiça Militar apenas ouviu o Comando do Exército e da Aeronáutica, antes de decidir arquivar o processo [18].
Entenda o porquê da presença de Pazuello no ato político caracterizar uma infração a legislação militar e o papel de Pazuello, de Bolsonaro e do Exército em meio à crise militar. Leia sobre as punições previstas para essa atitude e sobre todos os documentos que já foram colocados em sigilo durante o governo Bolsonaro. Escute podcast sobre o risco de politização das FAs.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.