O relatório ‘Retrato do Acervo: a Doutrinação Marxista’, produzido pela a Fundação Palmares, afirma que 54% dos títulos de seu acervo são de ‘temática alheia à negra’ e devem ser retirados por serem pautados ‘pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha’ [1]. Dentre eles, estaria o livro ‘Bandidos’ de Eric Hobsbawn, que contém como frase central o lema ‘Banditismo é liberdade’ [2]. Dos 46% restantes, o que corresponde a 4.400 títulos, apenas 478 deles teriam ‘cunho pedagógico, educacional e cultural dentro da missão institucional’ da Fundação [3]. Os demais são divididos em ‘catálogos, panfletos e folhetos’ e obras de ‘militância política explícita ou divulgação marxista, usando a temática negra como pretexto’ [4]. O documento tem como subtítulo ‘A dominação marxista na Fundação Cultural Palmares’, classifica obras como ‘Técnicas de Vitimização’ e afirma que certos itens do acervo usam a pessoa negra como ‘massa de manobra’ e formam ‘militantes e revolucionários’ [5]. O relatório foi elaborado pela equipe de Marco Frenette, ex-assessor de Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura que foi exonerado por divulgar vídeo com referências nazistas [veja aqui]. De acordo com Frenette, ‘tudo que for alheio à temática negra será retirado, sem filtro ideológico’ e a elaboração do relatório se baseou na lei federal que deu origem à Fundação e em seu regimento interno [6]. Dias antes, o presidente da Fundação havia postado nas redes sociais a foto de três livros com a legenda ‘Apologia da Ideologia de Gênero, Gramsci e Che Guevara no acervo cultural da Palmares. Inadmissível!’ [7]. Dentre os livros estava ‘Menino brinca de boneca?’, que foi apontado no relatório como um dos títulos ‘comprobatórios do desvio da missão institucional da Fundação Palmares’ [8]. A Coalizão Negra por Direitos ingressa com Ação Civil Pública para impedir a exclusão das obras do acervo [9] e o Coletivo Nacional de Bibliotecárias(os) Negros emite nota criticando a atuação do órgão e requerendo que as obras não sejam descartadas [10]. Dias depois, a Fundação publica um segundo relatório com a lista de personalidades que devem integrar o novo acervo [11]. No dia 23/06, a justiça federal proíbe liminarmente a exclusão dos livros do acervo e estabelece multa diária por eventual descumprimento [12]. Em janeiro de 2022, a decisão é confirmada pela Justiça em sentença definitiva [13] [14]. Vale lembrar que o presidente da Fundação retirou nomes da lista de personalidades negras da instituição [veja aqui], ironizou a memória de Zumbi dos Palmares [veja aqui] e pediu boicote ao filme de Lázaro Ramos [veja aqui].
Veja o parecer técnico sobre o expurgo de livros da Fundação Cultural Palmares e como isso fere a legislação do setor. Leia as análises sobre os problemas do relatório produzido pela Palmares e como os acontecimentos estão ligados à gestão Bolsonaro.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.