A plataforma Lattes, que compila todos os currículos dos pesquisadores brasileiros em todos os âmbitos acadêmicos,fica fora do ar por dez dias [1]. O apagão afeta a maioria dos processos de desenvolvimento científico do país, como o pagamento e a renovação de bolsas de pesquisa e extensão, prestação de contas e contratação de pesquisadores [2]. A plataforma Carlos Chagas, responsável por operacionalizar editais de pesquisa e chamamentos públicos, também sofre com o apagão [3]. Os sites são utilizados por vários órgão públicos e privados de fomento à pesquisa e são encarregadas por movimentar a área acadêmica do Brasil [4]. Ambas as plataformas são de responsabilidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é um órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) [5]. Por meio de nota no dia 24/07, o CNPq pede desculpas pela indisponibilidade do sistema e afirma que não há prazo para o restabelecimento total dos sites [6]. Em 27/07, o conselho declara que a causa da indisponibilidade havia sido identificada, que não haveria perda de dados das plataformas e que o pagamento de bolsas não seria prejudicado [7]. No dia seguinte, durante transmissão ao vivo, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, diz que a indisponibilidade do Lattes é ‘como furar um pneu, simplesmente acontece’ e que ‘pessoal não vai morrer por causa disso’ [8]. Diretor do Sindicato Nacional dos Gestores Públicos em Ciência e Tecnologia afirma que o apagão do Lattes paralisa toda a produção acadêmica [9]. Presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) declara que a indisponibilidade do Lattes advém do sucateamento do CNPq e que reforça o ‘entendimento de que não é necessário investir em ciência’ [10]. Desde a eleição de Bolsonaro, o CNPq vem sofrendo com constantes desmontes e desvalorizações: em 2020, o conselho extinguiu bolsas de iniciação científica fora de ‘áreas prioritárias’ [veja aqui], sofreu com a exoneração do ex-presidente que combatia o esvaziamento institucional e orçamentário do órgão [veja aqui]. Em 2021, o CNPq recebe o menor orçamento do século XXI [veja aqui] e sofre com a paralisação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que passa a custear apenas 13% das bolsas de iniciação científica [veja aqui]. Em 03/08, o CNPq restabelece o funcionamento parcial da plataforma e disponibiliza a consulta dos currículos, mas ainda não permite a atualização de dados [11]. No dia 05/08, o CNPq afirma que o Lattes será restabelecido em sua completude em breve e que a Plataforma Carlos Chagas é integrada aos Lattes, portanto depende do seu funcionamento para ser disponibilizada [12]. Após mais de duas semanas de indisponibilidade da plataforma Lattes, o sistema volta a funcionar por completo com a possibilidade de atualizar currículos e cadastro para novos usuários [13]. Segundo veículos de imprensa, servidores da CNPq afirmam que o apagão na plataforma decorre da falta de manutenção dos equipamentos que armazenam os dados do sistema e da ausência de investimentos em aprimoramento tecnológico [14].
Leia sobre o desmonte da ciência no governo Bolsonaro e as consequências do apagão do Lattes.