Presidente da República, Jair Bolsonaro, declara que ‘com flores não se ganha a guerra, quando se fala em armamento, quem quer paz, se prepare para a guerra’, durante evento militar no Rio de Janeiro [1]. Em 27/08, Bolsonaro já havia afirmado que a população deveria comprar fuzis e chamou de ‘idiota’ quem fala que deveria comprar feijão em vez de fuzil [veja aqui]. A fala de Bolsonaro no evento militar ocorre na esteira de diversas declarações incisivas do presidente sobre uma possível ruptura institucional [veja aqui] [veja aqui]. Um dia após a afirmaçãode Bolsonaro, o Comandante da Marinha, Almir Garnier, reproduz a frase ‘se quer paz, prepare a guerra’ em uma publicação nas redes sociais [2]. Vale ressaltar que desde a eleição de Bolsonaro, o porte de armas vem sendo constantemente flexibilizado e ampliado [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Em fevereiro deste ano, Bolsonaro baixou quatro decretos que facilitavam ainda mais o acesso às armas de fogo, já que tornava possível a compra de mais armas e munições pela população [veja aqui]. Posteriormente, a ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal suspendeu alguns pontos do decreto [veja aqui]. A declaração de Bolsonaro no evento militar ocorre poucos dias antes das manifestações do dia 07/09, que são incitadas por Bolsonaro sob bases autoritárias e contrárias aos demais poderes. [veja aqui] [veja aqui]. Inclusive, as manifestações geram preocupação entre governadores e ministros diante da grande adesão dos policiais militares ao ato [veja aqui]. Em agosto, o presidente participou de número recorde de eventos militares [veja aqui] [3]; neste mês também vão a julgamento no Supremo Tribunal Federal decretos de armas editadas por Bolsonaro [4].
Ouça sobre as possíveis consequências da política armamentista.
Governo Federal reduz em 85% as verbas destinadas à compra de vacinas contra a covid-19 no orçamento de 2022 [1]. Segundo representantes do Ministério da Saúde (MS), o valor será destinado para compras de vacinas da AstraZeneca e seringas [2]. Em meio às discussões sobre a aplicação de terceira dose de vacinas [3], o orçamento seria suficiente para 140 milhões de doses, o que não cobre toda a população adulta brasileira [4]. Membros do MS afirmam que o cenário da pandemia é incerto, que pode haver sobras de vacinas de 2021 e que, se necessário, farão novos contratos com outros fornecedores [5]. Segundo o governo, é ‘impossível dimensionar situações imprevisíveis que podem demandar atuação imediata do poder público’ [6]. Para 2021, o governo não destinou verbas para o combate a pandemia por ‘não prever o crescimento dela’ [veja aqui], mas destinou o valor de R$ 3 bilhões em orçamento ‘secreto’ usados pelo governo para obter o apoio do Congresso Nacional [veja aqui]. Durante a pandemia, o governo negligenciou a compra de vacinas [veja aqui], desacreditou sua eficácia [veja aqui] [veja aqui] e promoveu tratamento sem eficácia comprovada [veja aqui] [veja aqui]. O Plano Nacional de Imunização (PNI) também está cercado de controvérsias, como a imunização de militares como grupo prioritário [veja aqui], as disparidades regionais e diferenças na priorização de grupos de riscos [veja aqui], diversas alterações no calendário [veja aqui], a recusa em uniformizar medidas contra a covid em nível nacional [veja aqui], atraso na entrega de vacinas [veja aqui] [veja aqui] e falta dos imunizantes [veja aqui]. Além disso, existem investigações em andamento acerca de irregularidades [veja aqui] e cobrança de propina [veja aqui] na compras de vacinas e a CPI da covid-19 analisa negociações com empresas fantasma [veja aqui].
O presidente da República Jair Bolsonaro sanciona lei [1] que revoga a Lei de Segurança Nacional (LSN) e cria os crimes contra o Estado Democrático de Direito, mas aplica 4 vetos ao texto aprovado pelo Congresso [2]. Bolsonaro remove do texto a tipificação penal para ‘comunicação enganosa em massa’, que se refere à disseminação e ao financiamento de inverdades com propósito de comprometer a higidez do processo eleitoral [3][4].O argumento do veto é que a proposição legislativa é genérica, pois não deixa claro quem comete a conduta criminosa [5]. O próprio presidente faz sucessivas acusações infundadas contra ao sistema eleitoral vigente[veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]; o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) instaurou inquérito administrativo e encaminhou notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal para apurar possíveis crimes nessas declarações [veja aqui] ref id=1999]. Outro ponto vetado por Bolsonaro diz respeito ao artigo que tipifica como crime o atentado a direito de manifestação, proibindo a intervenção ostensiva das polícias em manifestações sociais [6]. O artigo vetado dispunha que o uso de força desproporcional por parte de agentes de segurança pública para conter ou impedir o exercício de manifestação resultaria em pena de reclusão [7]. No veto o presidente argumenta que é difícil mensurar quando uma manifestação social deixa de ser pacífica e se torna uma ação violenta, com isso os agentes estariam impedidos de agir, e, assim, a ordem pública estaria ameaçada [8]. Segundo levantamento [9] das manifestações de 2013, de janeiro a dezembro daquele ano, houve 696 manifestações no Brasil, sendo que em 170 delas constatou-se situações de violência [10]. Em 22/06, a polícia militar do Distrito Federal utilizou balas de borracha e gás lacrimogêneo para reprimir o protesto de indígenas contra o projeto de lei que modifica a demarcação de terras indígenas no Brasil [veja aqui]. Também foram vetados os dispositivos que propõem a possibilidade de ação penal privada subsidiária em casos de crimes contra o funcionamento das instituições democráticas, e aumento de pena e perda da patente para militares que cometerem crimes contra o Estado Democrática de Direito; e aumento da pena se cometido por funcionário público [11]. A justificativa do veto é que há desproporcionalidade na punição do militar [12]. A LSN foi criada em 1983 durante o período da ditadura militar e veicula preceitos incompatíveis com a atual Constituição Federal [13], por isso era pouco utilizada, mas, recentemente tem sido usada segundo o relator da nova ‘lei de segurança nacional, Rogério Carvalho, para punir quem se manifesta contra o governo de Jair Bolsonaro’ [14]. Conforme o relator, ‘o número de inquéritos instaurados com base nessa lei aumentou significativamente a partir de 2019, chegando a 51 no ano de 2020’ [15]. O novo texto da Lei retira os crimes de calúnia e difamação contra o presidente da República [16]. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) propõe ação no Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo a inconstitucionalidade do uso abusivo de ações judiciais e inquéritos com fundamento em crimes contra a honra[veja aqui].
Leia análise sobre propostas anteriores de modificação ou revogação da Lei de Segurança Nacional, e saiba quais são os seus direitos em uma manifestação.
Nas redes sociais, o secretário de Cultura do governo federal, Mario Frias, chama o governador do estado de São Paulo, João Dória, de ‘farsa patética’ e ameaça reprovar as contas da reforma do Museu do Ipiranga, forçando a devolução do investimento, caso o político reinaugure-o sem sua permissão [1]. O secretário de Cultura do estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, responde à publicação de Frias, afirmando que ‘funcionários do governo federal tem feito o possível para prejudicar o andamento do projeto’ do museu e que o estado ‘não deixará que este devaneio autoritário prevaleça’ [2]. O secretário estadual disse também que o restauro e ampliação do Museu do Ipiranga teve participação do governo de SP, da USP, da prefeitura de São Paulo e de dezenas de parceiros e patrocinadores públicos e privados, com recursos próprios e advindos da Lei Rouanet [3]. Doria também se manifesta, afirmando que iria ‘lutar para reinaugurar o Museu do Ipiranga contra os negacionistas da cultura’ e que não tem medo de enfrentar ‘essa gente que joga contra o país e vive num roteiro de show de horrores’ [4]. Desde o início do ano, Mario Frias tem criticado a gestão Dória pelas obras no Museu, afirmando que foram custeadas com dinheiro do governo federal [5], e chegou a bloquear Sérgio Sá Leitão nas redes sociais [6]. Em julho, o governo Bolsonaro baixou decreto que determina que a inauguração, divulgação e promoção de projetos que utilizaram recursos da Lei Rouanet só poderiam ocorrer após autorização do governo federal [veja aqui], movimento que foi entendido como reação às obras do Museu do Ipiranga [7]. Vale lembrar que Mario Frias também ameaçou cortar verbas do Museu da Língua Portuguesa [veja aqui].
Leia sobre o andamento das obras no Museu do Ipiranga e sobre o projeto de restauro do prédio. Veja mais sobre o conflito das autoridades em torno do museu.
Onyx Lorenzoni, atual ministro do Trabalho afirma que ‘somos nós contra eles’ em fala realizada na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), evento que reúne conservadores; logo depois detalha que o ‘eles’ são os ‘petistas e seus aliados’ [1]. Onyx apresenta imagens em um telão, onde ela contrasta frases e dados do governo atual e do governo petista [2]. Entre as exposições, é exibida uma foto do ex-presidente Lula em manifestações do Movimento Sem Terra (MST) e ao lado dos presidentes da Venezuela e Cuba, seguido de uma declaração de Onyx afirmando que esses países ‘se serviram do Brasil’ e agora ‘servem ao Brasil’ [3]. Ademais, o ministro também afirma que ‘os petistas são mestres, na mentira e na enganação’ [4]. Ainda durante o discurso, Onyx elogia a atuação de Bolsonaro no combate a covid-19 e justifica a crise econômica e o aumento da inflação como decorrentes das medidas de isolamento social [5]. Vale ressaltar que a construção de ataques e ofensas contra a esquerda são recorrentes durante o governo de Bolsonaro; o presidente já disse que pessoas da esquerda não deveriam ser tratadas como ‘normais’ [veja aqui] e vinculou uma possível vitória eleitoral de Lula em 2022 como advinda de fraude [veja aqui].
Leia mais sobre a CPAC 2021, organizada pelo Dep. Eduardo Bolsonaro.
Um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) empunhando a bandeira do Brasil sobrevoa colégio privado no Mato Grosso (MT), um dia após professora da instituição ser afastada por criticar Bolsonaro durante aula; durante o vôo, que durou alguns minutos, os militares acenam em direção ao pático da escola [1]. A professora foi suspensa por três dias após reprovar as ações de Bolsonaro frente às políticas ambientais, afirmando que ‘ele é a favor do desmatamento’ [2]. No áudio gravado, a docente também critica a defesa do voto impresso pelo presidente [3]. Em reação ao sobrevoo da aeronave sobre a escola, o juiz da 11ª Vara Especializada de Justiça Militar solicita que o Ministério Público investigue possíveis infrações e atos de improbidade pelos militares [4]. Em declaração, a escola afirma que a apresentação militar é parte das comemorações pela ‘Semana da Pátria’, que ocorre todos os anos [5]. Sobre o afastamento da professora, o colégio justifica que a instituição não apoia a conduta do docente e que a ‘opinião expressada não reflete a posição da instituição’ [6]. A Secretaria da Segurança Pública de MT emite nota justificando o sobrevoo da aeronave como uma forma de ‘demonstrar patriotismo’ ‘sem nenhuma conotação política’, além de afirmar ser decorrente de um pedido do colégio [7]. A União Brasileira dos Estudantes Secundarista (UNE) afirma que o afastamento da professora é ‘absurdo’ e ‘ataca a liberdade de ensino e de aprender’ [8]. Em junho de 2020, um colégio militar em Brasília também afastou um professor após ele críticar a violência policial em manifestações [veja aqui]. Vale ressaltar que já houveram outros casos em que críticos de Bolsonaro foram reprimidos; em 18/03, cincos ativistas foram presos após se referir a Bolsonaro como genocida [veja aqui]. No dia 01/05, Felipe Cezário foi preso preventivamente após jogar ovos em manifestantes pró-Bolsonaro [veja aqui].
Leia sobre o comprometimento dos militares em proteger e exaltar Bolsonaro.
Estado de São Paulo possui celas para a população LGBTQIA+ com lotação acima da média dos demais estabelecimentos prisionais, segundo reportagem desta data [1]. As prisões paulistas são, no geral, superlotadas, mas as áreas dedicadas à população LGBTQIA+ encontram-se frequentemente mais cheias se comparadas com as demais – por exemplo, No Centro de Detenção Provisória de São Vicente, a cela destinada a essa população foi apontada com superlotação de 300% acima da capacidade [2]. Os dados foram divulgados em documento elaborado pelo Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade Racial da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que e constata, além da superlotação, discriminações diversas contra pessoas LGBTQIA+ presas, como o corte de cabelo obrigatório, desrespeito ao nome social e falta de tratamento hormonal [3]. Procurada, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) afirma que oferece condições adequadas à população LGBTQIA+, respeitando a identidade de gênero e orientação sexual de custodiados [4]. Especialistas apontam que um dos principais fatores para a ocorrência desta situação é a negligência do estado em fornecer mais celas para esta população, que necessita de isolamento para que seus direitos sejam garantidos, pois além das vulnerabilidades impostas pelo cárcere, enfrenta diariamente discriminações em razão de sua orientação sexual e identidade de gênero, por parte de presos e agentes das unidades prisionais [5]. Em 2019 levantamento apontou aumento expressivo nas denúncias de tortura em presidios de São Paulo em relação ao ano anterior [veja aqui].
Leia sobre a situação da população LGBTQIA+ nos presídios masculinos e veja manual do Conselho Nacional de Justiça com orientações para o tratamento de tal população privada de liberdade.
A advogada do presidente Jair Bolsonaro, Karina Kufa, aciona Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com o objetivo de influenciar escolha de chefe da defensoria pública da União (DPU), segundo apuração da imprensa desta data [1]. A CPI da covid divulga áudio datado de setembro do ano passado onde Marconny Faria – apontado como lobista de empresa Precisa Medicamentos, envolvida em irregularidades no contrato com o Ministério da Saúde para a compra de doses da vacina covaxin [2] -, diz para Kufa: ‘Amiga, parabéns! Você é top, hein! O negócio deu certo, sua ligação para o GSI, olha aí’ [3]. A mensagem de whatsapp se referia à intervenção da advogada que ligou para o GSI da presidência da República com o objetivo de influenciar na escolha do candidato à chefia da DPU Leonardo Cardoso Magalhães, terceiro colocado na lista tríplice de possíveis candidatos ao cargo [4]. O áudio de Marconny foi seguido de mensagens de texto para Kufa e reportagem que dizia que a indicação dos nomes descritos na lista tríplice estava cancelada e que o GSI analisaria o caso [4]. Na ocasião a advogada responde: ‘Caraca. Fez efeito’ [5]. Os dois mais votados foram o então chefe da DPU, Gabriel Faria Oliveira, que obteve 380 votos, e Daniel Macedo, segundo colocado [6] e que, com apoio de lideranças evangélicas, acabou sendo nomeado pelo presidente [7]. Procurada, Karina Kufa confirmou que fez a ligação para o GSI e disse não se lembrar de detalhes do contato, e completa: ‘como pessoa próxima do presidente, tenho por obrigação alertar outros auxiliares dele sobre prós e contras de determinadas escolhas’ [8]. O GSI disse desconhecer qualquer pedido de adiamento para a análise dos nomes da lista de candidatos à chefia da DPU [9]. A quebra de sigilo telefônico determinada pelo Ministério Público do Pará e compartilhada com a CPI da covid também revelou que o lobista Marconny Faria também ajudou o filho mais novo do presidente, Jair Renan, a abrir a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, e pediu também a Cristina Bolsonaro, ex-mulher do presidente, que intercedesse junto ao Palácio do Planalto para nomear um dos nomes da lista tríplice para a Defensoria Pública Geral Federal [10].
Leia sobre tráfico de influência durante a atual gestão do governo federal.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) promove uma reunião entre um representante de associação pró-armas e o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) [1] para tratar sobre como devem ser as abordagens a colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), grupo a quem é permitido o porte de armas sob certas condições [2]. A reunião é motivada por uma reportagem de TV, que mostrou como é feita a abordagem e como é a fiscalização a CACs que estejam com armas no carro [3]. O filho do presidente critica a forma da abordagem e diz que se eles estiverem com a documentação, não precisam revelar o trajeto que estão fazendo [4]. A PRF informou que na reunião foram discutidas questões como o manual de fiscalização de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) [5]. Em publicação em suas redes sociais, a PRF diz que o manual está em fase final de elaboração e visa a trazer segurança jurídica e orientação aos policiais rodoviários federais [6]. O governo de Jair Bolsonaro defende interesses armamentistas e já manifestou que aos seus apoiadores que flexibilizaria o acesso [veja aqui]; seu governo editou 23 normas que flexibilizam o acesso a armas até agosto de 2020 [veja aqui]; para os CACs, já houve portaria que reduzem a burocracia para manutenção do registro de armamento [veja aqui].
Veja dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e leia análise sobre o quanto o brasileiro apoiam a flexibilização de armas.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ignora, desde o começo de 2021, as orientações da Controladoria Geral da União (CGU) e dificulta o acesso a informações sobre pessoas que visitaram o Palácio do Planalto [1]. Desde janeiro, o GSI se negou ao menos 34 vezes a fornecer informações sobre visitantes [2], – em uma delas, o GSI negou informações sobre possíveis visitas de representantes da Precisa Medicamentos, empresa investigada pela CPI da covid por realizar contratos irregulares para venda da vacina Covaxin [veja aqui], à Presidência da República [3]. Essas informações são solicitadas através da lei de acesso à informação (LAI) por orgãos públicos como camara dos deputados e outros [4]. O GSI negou as informações usando os artigos 6º e 7º da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como base [5]. A LGPD está em vigor desde agosto de 2020, mas só foi usada para ocultar os visitantes do Planalto a partir de 11/01/2021 [6]. Nesta data, o GSI se negou a fornecer dados sobre visitas ao Planalto dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) [7]. Outros órgãos do governo também tem utilizado a LGDP como fundamento para negar pedidos feitos através da LAI [veja aqui]. Anteriormente, a presidência da república já havia negado acesso a informações sobre sua agenda [veja aqui]. Em seu governo, Bolsonaro tem como prática colocar militares a frente de pastas que tratam de sigilo de informações [veja aqui], assim como aumentar o número de pessoas que podem classificar informações como ultrassecretas [veja aqui].
Leia análise sobre a taxa de pedidos negados pela Lei de acesso a informação.
Pesquisa divulgada nesta data revela que 30% dos policiais militares (PMs) de diversos estados pretendem ir aos protestos de 07/09 [1] – convocados pelo presidente da República em seu apoio e contrário aos demais poderes [veja aqui] – a despeito da proibição da participação de agentes da ativa em atos políticos [2]. O levantamento mostra ainda que 34% dos PMs ouvidos são favoráveis à instalação de uma ditadura no Brasil [3]. A expectativa da presença de PMs nas manifestações de 07/09 alerta os demais poderes da República [4], governadores [5] [6] e especialistas [7] para possível violência nos protestos, o que é fomentado por declarações do presidente [veja aqui]. Outra pesquisa divulgada em 02/09, mostra que 27% dos PMs do país interagiram com perfis de redes sociais declaradamente militantes do presidente Jair Bolsonaro [8]. Há registros, inclusive, de PMs convocando apoiadores pelas redes sociais, tais como o coronel da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP), Aleksander Lacerda [veja aqui], além do ex-comandante das Rondas Ostensivas (Rota) da PM-SP, Tobias de Aguiar, e do coronel da reserva e diretor do Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, Ricardo Augusto Araújo [9] [veja aqui]. PMs também apresentaram habeas corpus para participarem, sem punição, das manifestações em apoio ao presidente, o que foi rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça em 03/09 [10]. Em nota, o grupo de juristas Prerrogativas afirma que ‘surgem agora sinais de que o presidente da República está engajado em fomentar a sublevação de oficiais das polícias militares em favor de seus delírios golpistas’; e Membros do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Sou da Paz defendem que manifestações de cunho político-partidários, vedadas na PM, devem ser punidas para conter politização das corporações nos estados [11]. Durante seu governo, Bolsonaro busca se aproximar das PMs através de medidas como a extinção da pena de prisão disciplinar para as PMs [veja aqui], bem como da promessa de benesses como isenção de imposto na compra de automóveis, crédito imobiliário com condições diferenciadas e uma nova lei orgânica para a categoria, a qual propõe reduzir a gestão dos governadores sobre as PMs [veja aqui]. Vale lembrar ainda que a compra de armas pessoais por PMs no 1º semestre de 2021 representou mais que o dobro de todo o ano de 2020 [12] e que PMs já reprimiram violentamente protestos pacíficos contra o presidente Jair Bolsonaro realizado em Pernambuco [veja aqui] e em Goiás [veja aqui].
Leia entrevista e ouça episódio de podcast sobre as tentativas de insurgência nas PMs e as medidas dos estados para evitá-las.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, edita medida provisória (MP) [1] que limita a suspensão de contas e perfis nas redes sociais sem decisão judicial por plataformas com mais de 10 milhões de usuários [2]. A medida, nomeada como ‘MP da liberdade de expressão’, altera o Marco Civil da Internet ao determinar que os provedores das redes sociais só podem remover conteúdos e contas mediante a uma ‘justa causa e motivação’ [3]. Entre as hipóteses previstas estão contas em desacordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que exponham nudez, promovam atos de violência, apologia a drogas e contra ‘a segurança pública, defesa nacional ou segurança do Estado’ [4]. A MP também proíbe que as plataformas limitem o alcance de perfis que ‘impliquem censura de ordem política, ideológica, científica, artística ou religiosa’ [5]. Segundo nota da Secretaria-Geral da Presidência (Secom), a MP ‘objetiva maior clareza quanto a políticas, procedimentos, medidas e instrumentos’ para exclusão de contas nas redes sociais [6]. O diretores de organizações especialistas na área afirmam que a ‘liberdade de expressão absoluta’ buscada pela MP ‘elimina a liberdade de iniciativa, a autonomia contratual, gera insegurança jurídica e potencializa os danos’ [7] e impede que as redes sociais ajam ‘em casos de spam, assédio, bullying ou desinformação’ e que esse tipo de conteúdo inviabiliza a liberdade de expressão [8]. Pesquisadora também caracteriza a MP como ‘inconstitucional porque não cabe ao executivo promover esse tipo de regulação via MP’ [9]. Em maio, Bolsonaro, com o apoio do ministro da Cultura Mário Frias, já havia anunciado que editaria um decreto para limitar a atuação das redes sociais contra usuários [veja aqui]. Bolsonaro já teve postagens excluídas pelas plataformas sob alegação de conterem ‘informações falsas’ [veja aqui] [veja aqui]. No mês de julho, o Youtube removeu 15 vídeos do canal do presidente por ‘violações às políticas de informações médicas incorretas sobre a covid-19’ [10]. Em junho de 2020, Bolsonaro acionou o STF contra decisão do ministro Alexandre de Moraes que suspendia contas bolsonaristas nas redes sociais [veja aqui]. Vale ressaltar que a MP foi editada um dia antes das manifestações do dia 07/09, que foram incitadas por Bolsonaro sob bases autoritárias e em prol da ‘liberdade de expressão’ [veja aqui] [veja aqui]. Em reação à edição da MP, seis partidos políticos ajuizam ação no Supremo Tribunal Federal (STF) a fim de anular a medida [11]. Em 13/09, o procurador-geral da República, Augusto Aras, envia manifestação ao STF em defesa da suspensão da medida provisória sob justificativa de que ‘gera insegurança jurídica’ e de que é necessário que o tema seja debatido no Congresso Nacional [12]. No dia seguinte, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), devolve a MP ao presidente fazendo com que as regras previstas por ela perdessem a validade, sob justificativa de que a MP promove “alterações inopinadas ao Marco Civil da Internet” [13]. No mesmo dia, a ministra Rosa Weber suspende a eficácia da MP editada por Bolsonaro [14]. Em 15/09, a ministra arquiva as oito ações que contestavam a medida provisória por entender que elas ‘perderam o objeto’, após a decisão de Pacheco [15]. Em 20/09, Bolsonaro envia ao Congresso Nacional, projeto de lei que pretende mudar o Marco Civil da Internet, para dificultar a remoção de conteúdos pelas empresas donas de redes sociais [16]. Especialistas afirmam que a medida visa limitar a moderação de conteúdos na internet, facilitando a desinformação [17].
Leia sobre como a medida provisória editada por Bolsonaro promove a desinformação e é um aceno a apoiadores.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, participa de manifestações com pautas antidemocráticas, em Brasília e São Paulo, onde discursa fazendo ameaças golpistas e ataques a tribunais, ministros e também ao sistema eleitoral [1]. Pela manhã, em discurso na Esplanada dos Ministérios, ameaça Luiz Fux (presidente do Supremo Tribunal Federal – STF), dizendo que ou ele ‘enquadra’ o ministro Alexandre de Moraes (relator do inquérito das fake news [veja aqui]) pelas recentes decisões contra bolsonaristas [2] [3] ou o Poder Judiciário ‘pode sofrer aquilo que nós não queremos’ [4]. Bolsonaro afirma também, ainda em relação a Moraes, que ele está ‘barbarizando a nossa população’ e fazendo ‘prisões políticas’ [5]. O ministro, no entanto, tem agido a partir de pedidos da Procuradoria-Geral da República (PGR), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente [6] [7] [8]. À tarde, em discurso na Avenida Paulista, fala em desobedecer as decisões da Justiça, dizendo que ‘não mais cumprirá’ qualquer decisão de Moraes [9], a quem chama de ‘canalha’ [10]. O presidente também volta a atacar o sistema eleitoral [11], classificando-o como um ‘farsa (…) patrocinada ainda pelo presidente do TSE’ [12] e critica a decisão do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, que vetou repasses de dinheiro a páginas bolsonaristas investigadas por disseminar fake news sobre a urna eletrônica [13]. No discurso, Bolsonaro anuncia reunião do Conselho da República, órgão responsável por discutir medidas de estado de exceção . As falas de Bolsonaro provocam reações dos representantes dos demais Poderes: Fux alerta que não cumprir decisões judiciais configura crime de responsabilidade [14], enquanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), classifica os atos como golpistas e autoritários e diz que devem ser rechaçados [15]; e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, critica radicalismo e excesso e fala em ‘basta’ a ‘bravatas’ [16], sem citar os mais de 130 pedidos de impeachment a ele submetidos [17]. Ainda em resposta aos ataques, Moraes diz que ‘liberdade somente se fortalece com absoluto respeito à democracia’ [18] e Barroso fala que ‘a falta de compostura nos envergonha perante o mundo’ [19]. Os protestos continuam nos dias seguintes, com manifestações em Brasília, inclusive com a invasão da Ministério da Saúde [20], bem como com a mobilização de caminhoneiros, que fecham rodovias em todo país [21]. Em 09/09, Bolsonaro lança nota, redigida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB-SP), onde recua dos ataques e diz que eles ‘decorreram do calor do momento’ [22]. Em 10/09, o ministro da Economia, Paulo Guedes, associa a crise institucional fomentada por Bolsonaro com o mau desempenho econômico recente do país [23], o que é corroborado por empresários [24]. Em 15/09, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Luís Felipe Salomão decide investigar o financiamento dos atos bolsonaristas [25]; e em 17/09, o Comandante do Exércio afirma o compromisso da caserna com a Constituição [26]. As manifestações de 07/09 foram convocadas por Bolsonaro, que se referiu a elas como ‘ultimato’ e configuram o ápice da escaladas de ataques ao sistema eleitoral [veja aqui], ao STF [veja aqui], ao TSE [veja aqui] e seus respectivos ministros [veja aqui].
Leia mais sobre o impacto dos discursos de Bolsonaro à instuticionalidade constitucional democrático e veja análise sobre o quadro político acerca do impeachment do presidente.
Como no mês anterior [veja aqui], o presidente da República, Jair Bolsonaro, contrariou recomendações médicas e sanitárias [1]. Em 01/09, durante de cerimônia para entrega de medalha Mérito Desportivo Militar a atletas paraolímpicos [2], Bolsonaro permaneceu sem máscara, assim como sua comitiva, e pediu para que os militares retirassem a máscara para posar em foto [3]. O evento aconteceu no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), no Rio de Janeiro [4]. Na ocasião voltou a falar sobre a possibilidade de armar a população [veja aqui] [5]. Em 02/09, em cerimônia no Planalto, afirmou que está imune ao coronavírus por já ter contraído a doença [6]. A fala contraria o que dizem os especialistas; a taxa de anticorpos no sangue não garante imunidade contra a doença, mas sim a vacina [7]. Em 04/09, durante discurso no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, Bolsonaro defendeu mais uma vez o uso de medicação sem comprovação científica [8]. No evento ele pediu que aqueles que já foram contaminados por covid-19 levantassem a mão e incitoua plateia a se manifestar caso tivesse tomado cloroquina [9]. Na plateia a maioria estava sem máscara, e muitos ergueram a mão [10]; Bolsonaro declarou que comprovação científica estava ali: ‘tá aqui a prova. A comprovação não se faz por experimentação? A prova está aqui. Porque ficarmos focados na vacina?’ [11]. Na mesma data, criticou a medida [12] adotada em São Paulo pela Secretaria Municipal da Saúde chamada de ‘passaporte da vacina’, a qual exige a apresentação do comprovante de vacinação em eventos com mais de 500 pessoas [13]. Bolsonaro disse que o decreto do governo de São Paulo que estabelece ‘o passaporte covid,’ é’ crime’, ‘ liberdade acima de tudo’ [14]. Em 06/09, Bolsonaro afirmou a apoiadores que pretende editar medida provisória (MP) para revogar a menção à vacinação compulsória do trecho da lei [15] que trata das medidas de enfrentamento da covid-19 [16]. Em 07/09, o ato pró-bolsonaro é marcado por desrespeito a medidas sanitárias de combate a covid-19 [veja aqui]. Em alguns estados houve aglomerações e manifestantes sem máscara [17]. Entre 01/09 e 07/09, o número de infectados subiu de mais de 20,8 milhões [18] para mais de 20,9 milhões [19] e as mortes somaram mais de 580 mil pessoas [20],
O presidente da República, Jair Bolsonaro, em fala durante manifestação convocada por ele [veja aqui] e a favor de pautas antidemocráticas [veja aqui], afirma que vai se reunir com o Conselho da República [1], órgão responsável por discutir temas como a decretação de intervenção federal, de estado de sítio e de defesa, além de questões ‘relevantes para a estabilidade das instituições democráticas’ [2]. Estas medidas de exceção encontram-se na pauta da manifestação bolsonarista [veja aqui] e autorizam a suspensão de garantias constitucionais, concentrando poderes no Executivo federal [3]. O conselho é formado pelos presidentes e pelos líderes da maioria e da minoria da Câmara dos Deputados e no Senado, além do presidente da República e seu vice, do ministro da Justiça e de seis cidadãos [4]. Apesar do anúncio, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), diz não haver convocação do Conselho e diz tratar-se de ‘bravata’ [5]; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), diz que não foi informado sobre qualquer compromisso do Conselho nos próximos dias [6]; o líder da minoria na Câmara, deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), anuncia que não vai participar da reunião [7]; e o líder da maioria no Senado e relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), classifica a manifestação como ‘fiasco’ [8]. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, citado por Bolsonaro como um daqueles que estaria presente à reunião, nega a informação, dizendo que não recebeu qualquer convite e que não há previsão legal de sua participação [9]. Após a repercurssão, integrantes do Palácio do Planalto alegam ‘equívoco’ na fala do presidente, que teria se referido à reunião do Conselho de Governo, que reune ministros e o vice-presidente general Hamilton Mourão (PRTB) para tratar assuntos regulares do Executivo [10]. Este conselho se reúne no dia seguinte [11], sem a presença de Mourão [12]. A última vez em que ocorreu reunião do Conselho da República foi em 2018, durante o governo do ex-presidente Michel Temer, para discutir a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro [13], oportunidade na qual foi nomeado interventor o atual ministro da Defesa, Walter Braga Netto [14].
Leia mais sobre o que é o Conselho da República e veja análise acerca do significado do anúncio de Bolsonaro.
Entre janeiro e agosto, a Secretaria de Cultura analisou 45% menos propostas para obtenção de benefícios via Lei de Incentivo à Cultura (LIC) em comparação ao mesmo período no ano passado, conforme dados levantados pela imprensa nesta data [1]. No último trimestre foram analisadas apenas 131 propostas, uma queda de 78,5% em relação ao trimestre anterior [2]. Neste ano, uma proposta leva, em média, cinco meses para ser aprovada, sendo que no ano de 2020 a média era de dois meses [3]. A lentidão ocorre em diversas etapas ao longo do processamento dos projetos, afetando a transformação de propostas em projetos e a análise do projeto pelos pareceristas – que afirmam ficarem meses sem receber materiais para análise [4]. Conforme relatos, foram incluídas diversas exigências para a admissão de uma proposta e, caso ela não seja atendida rapidamente, a pasta arquiva o requerimento, causando pânico nos proponentes; além disso, foram mencionados erros no site que dificultam o trâmite do projeto [5]. De acordo com produtor, essas novas demandas são fruto do decreto do final de julho que alterou pontos importantes na LIC [veja aqui]; ele defende que há uma ‘atitude deliberada a atual secretaria de Cultura para diminuir o impacto, o volume de investimentos da Lei Rouanet’ e que os servidores estão desidratando o mecanismo propositalmente, gerando desestímulo para novos projetos [6]. Os pareceristas reclamam que a quantidade de projetos enviados diminuiu muito e que repentinamente recebem uma quantidade grande de documentos que não são passíveis de análise no prazo estipulado; além disso, afirmam que a mudança de regras e de funcionários dificulta o trabalho [7]. Ainda, as decisões finais de aprovação dos projetos encontram-se unicamente na mão de um secretário, pois o governo não renovou o edital da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura [veja aqui]. Vale lembrar que a morosidade na avaliação de projetos via LIC é alvo de investigação do Ministério Público Federal [veja aqui] e foi objeto de ação proposta pela OAB [veja aqui], que mencionou portaria instaurada em 2020 que limita o número de projetos avaliados por dia [veja aqui]. Na Ancine, a paralisação da análise de projetos audiovisuais passados e não lançamento de editais em 2019 e 2020 chama atenção [veja aqui].
Leia as análises sobre como a lentidão na aprovação dos projetos afeta os produtores e artistas, como o governo Bolsonaro desidratou o setor cultural e quais os impactos da gestão na Lei de Incentivo à Cultura.
Secretaria Especial da Cultura emite segundo parecer desfavorável acerca da pertinência do evento ‘Festival de Jazz do Capão’ receber recursos via Lei de Incentivo à Cultura (LIC) copiando trechos idênticos ao documento anterior, que foi suspenso pela Justiça Federal [1]. Em junho de 2021, a Funarte emitiu o primeiro parecer desfavorável à captação de recursos pelo evento, pois o festival se posicionava como ‘antifascista e pela democracia’, além disso, diversos argumentos de cunho religioso foram utilizados, como ‘o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma’ [veja aqui]. No mês seguinte, a Justiça Federal suspendeu a decisão e determinou que a Funarte reanalisasse o pedido de captação, tendo em vista que o parecer violou o princípio da impessoalidade [2]. No entanto, o segundo parecer, assinado pelo secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, pela diretora do departamento de fomento indireto da pasta, Flávia Faria Lima, e pelo coordenador Bruno Duarte, copia trechos idênticos do documento anterior [3], citando Deus e cantos gregorianos [4]. Frente ao segundo indeferimento, o Ministério Público Federal (MPF) instaura procedimento de investigação criminal para apurar os fatos, uma vez que há indícios do crime previsto na LIC de ‘discriminação de natureza política que atente contra a liberdade de expressão, de atividade intelectual e artística, de consciência ou crença, no andamento dos projetos’ [5]. O autor do primeiro parecer, o coordenador de análise técnica Ronaldo Gomes, foi denunciado em setembro pelo MPF e irá prestar 140 horas de serviço comunitário para não responder à ação penal [6]. De acordo com o MPF, sua conduta ‘dolosa e conscientemente discriminou, por motivos políticos, o projeto, atentando contra a liberdade de expressão artística e intelectual dos proponentes’ [7]. À época, Porciúncula defendeu o primeiro parecer, dizendo que a ‘cultura não ficará mais refém de palanque político/partidário, ela será devolvida ao homem comum’, e o secretário especial da Cultura, Mário Frias, afirmou que a Cultura ‘será resgatada desse sequestro político/ideológico’ e que não aceitará que a ‘cultura nacional seja rebaixada à condição de panfletagem partidária’ [8]. O segundo parecer é objeto de ação popular proposta por parlamentares e pelo produtor-executivo do evento defendendo que houve descumprimento da decisão judicial que determinada a reanálise da proposta [9]. Após a ação popular, um terceiro parecer é emitido pelo presidente da Funarte, Tamoio Marcondes, indeferindo o projeto, alegando ‘impedimento de ordem técnica’, uma vez que há ‘notícia de captação privada para o evento’ advinda do escrito Paulo Coelho e que não houve a readequação do projeto levando em conta essa nova fonte de recursos [10].
Leia a análise sobre como o parecer fere a liberdade de expressão e o direito à impessoalidade nas decisões da administração pública.
O Presidente Jair Bolsonaro intensifica a participação em eventos militares antes da manifestação convocada por ele para 07/09 , segundo reportagem desta data [1] [veja aqui]. Em agosto, Bolsonaro participou de nove cerimônias militares, o maior número em um mesmo mês até agora, e em setembro, até a data da apuração, em mais dois eventos [2]. Em todas as oportunidades, o presidente insinuaou possível golpe de Estado [3], tal como fez em em 01/09 quando pediu para a população se preparar para a guerra durante evento no Rio de Janeiro [veja aqui]. Durante suas participações nas celebrações militares, Bolsonaro também atacou governadores e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso [4]. A tensão entre Bolsonaro e o STF vem aumentando após série de acusações do presidente em relação a fraudes nas urnas eletrônicas, porém sem apresentar provas [veja aqui]. Um levantamento aponta que as participações do presidente em solenidades aumentaram após a troca de comando nas fForças aArmadas em março deste ano, quando, o general Fernando Azevedo deixou o cargo de Ministro da Defesa e mais 3 comandantes das Forças Armadas – Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) – também saíram de seus respectivos cargos [5]. Segundo os especialistas, as incitações a ruptura institucional feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e as ameaças aos ministros do STF e ao Tribunal Superior Eleitoral afrontam diretamente a Constituição brasileira e constituem crime de responsabilidade, punível com impeachment [6]. Nesta data Bolsonaro anuncia que vai apresentar pedido de impeachment contra Barroso . Em 03/08, Bolsonaro fala em ‘luta direta’, desqualifica e faz série de ataques a Luis Roberto Barroso, presidente do TSE [veja aqui].
Leia sobre a inconstitucionalidade da intervenção militar na resolução de conflitos políticos.
O chefe da Superintendência do Ibama no Espírito Santo (Supes-ES), Luiz Renato Fiori, é denunciado à Ouvidoria da Controladoria-Geral da União (CGU) por faltar ao expediente por mais de duas semanas, além de estar em posse do carro oficial do órgão neste período [1]. Fiori, que ocupa o cargo desde de 2020, é coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e foi nomeado pelo ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles para chefiar o órgão de defesa ambiental [2]. Antes da nomeação, o coronel não havia tido qualquer experiência profissional ou acadêmica com a área ambiental [3]. Formado em ciências policiais de segurança e ordem pública, acumulou experiências em cargos vinculados a segurança pública, atuando como cooordenador de tropa de comandos e operações especiais da polícia paulista, e de segurança em grandes eventos esportivos [4]. Porém, nenhuma dessas experiências ou formação o capacita para exercer o cargo no Ibama, fato este questionado na denúncia apresentada à CGU, que, por sua vez, a encaminhou para a Corregedoria do Ibama (COGER), responsável pela investigação dos fatos [5]. Além desta denúncia, Fiori é citado em denúcia da Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional), feita ao MPF e ao Ministério Público do Trabalho (MPT) do Distrito Federal, por assédio moral coletivo contra os servidores ambientais do órgão [6]. Na ação, os servidores relatam serem retaliados e intimidados individualmente pelo reservista [7].
Relembre o histórico de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente.
A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, uma articulação de 50 movimentos e organizações sociais, apresenta denúncia ao Tribunal Permanente dos Povos (TPP) para julgar o governo pelo crime de ecocídio em curso contra o Cerrado [1]. O TTP foi criado na Itália nos anos 1980 com o objetivo de dar visibilidade às vozes de povos vítimas de violações de direitos [2]. As sentenças proferidas pelo TPP não têm aplicação dentro do sistema jurídico formal do país em que é realizado, no entanto, podem influenciar a opinião pública ao expor os limites do sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos [3]. O TPP do Cerrado apresenta 15 casos, distribuídos entre Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Tocantins, selecionados a partir de um amplo processo de escuta e análise envolvendo lideranças comunitárias e organizações [4]. Esses casos tratam da violação de direitos humanos sobretudo em conflitos envolvendo a posse de terras, território e a autodeterminação de povos indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais [5]. Para especialistas, o governo vem incentivando a expansão do agronegócio, o que implica na destruição da vegetação nativa, no consumo das águas superficiais e subterrâneas e uso intensivo de agrotóxicos [6] [7]. Durante o governo Bolsonaro, há liberação de número recorde de agrotóxicos [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] e um crescente aumento no desmatamento da região [8]. Vale lembrar que outras representações contra Bolsonaro já foram apresentadas outras vezes em tribunais internacionais, tanto por erros graves na condução da pandemia de covid-19 no país [veja aqui], [veja aqui], como por genocídio indígena e crimes ambientais [veja aqui]
Leia sobre o Tribunal Permanente dos Povos e sobre os 15 casos apresentados no Tribunal do Cerrado.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, ironiza manifestações contra o governo federal e ataca a imprensa: ‘Alguém sabia desse ‘ato’? – (12/09/21). Imprensa de m…’ [1]. Os atos, que pretendem ser uma resposta às manifestações bolsonaristas de 07/09 [veja aqui] [2], ocorrem em 15 cidades e têm como principal pauta o impeachment do presidente [3]. Convocados pelos movimentos políticos Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua, os protestos contam com a participação de outras entidades, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e centrais sindicais [4], bem como com a presença, em São Paulo, de cinco presidenciáveis: Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) [5]. Apesar disso, o evento tem baixa adesão [6], principalmente diante da divisão na oposição sobre a participação ou não em atos que uniram grupos de direita e de esquerda [7]. No dia seguinte aos atos, Bolsonaro afirma que a ‘minoria que foi às ruas ontem é digna de pena’ e que não fazem parte da população ‘de bem’ [8]. Entretanto, apesar da baixa adesão às manifestações, a rejeição ao presidente da República registrou, em pesquisa divulgada em 16/09, o maior nível desde o início do mandato, alcançando 53% da população [9]. A mesma pesquisa mostra que 56% dos brasileiros apoiam o impeachment de Bolsonaro [10]. Vale lembrar que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já recebeu mais de 130 pedidos de impeachment contra o presidente, mas não decidiu sobre o prosseguimento de nenhum deles [11]. Além disso, há ação, a ser julgada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a existência de prazo para que Lira analise os pedidos [12], tese que também é defendida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da covid-19, que investiga crimes de Bolsonaro na gestão da pandemia [13] e também por Carlos Ayres Brito, ex-presidente do STF [14].
Veja análises sobre os fatores que levaram à baixa adesão às manifestações pró-impeachment e sobre o quadro político para aprovação do impeachment de Bolsonaro.
Brasil é eleito o quarto país mais perigoso para ativistas ambientais no mundo em 2020, segundo relatório divulgado nesta data pela organização não governamental Global Witness [1]. Neste ano, foram 20 vítimas, sendo oito indígenas e dois ribeirinhos [2]. De acordo com relatório, as vítimas foram atacadas em retaliação por defenderem a proteção de ecossistemas específicos ou assassinadas durante o trabalho, por serem profissionais que atuam diretamente no monitoramento de rios, áreas costeiras e oceanos [3]. Para pesquisadores, a postura do poder público contribui para este resultado: a gestão Bolsonaro tem sido alvo de críticas por enfraquecer a legislação de combate a crimes ambientais e na estrutura de proteção a indígenas [4]. Vale ressaltar que nos primeiros meses da gestão de Bolsonaro houve queda de 70% nas operações de fiscalização efetuadas pelo Ibama na Amazônia e redução de 58% em todo o país, em comparação com o mesmo período do ano passado [veja aqui]. O então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também foi alvo de críticas ao apoiar ataques à servidores do Ibama em ações de fiscalização de extração de madeira ilegal em terras indígenas em Rondônia [veja aqui]. Desde a eleição de Bolsonaro, o Brasil vive uma ascensão de conflitos armados nas áreas rurais [5] e uma ampliação e facilitação do porte de arma para a população do campo [veja aqui] [veja aqui].
Escute “Cova Medida”, série de cinco reportagens sobre assassinatos no campo produzidos pela Repórter Brasil em parceria com a Rádio Novelo.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, edita medida provisória instituindo programa de financiamento imobiliário dedicado exclusivamente a agentes de segurança pública [1]. O programa, chamado ‘Habite Seguro’, conta com subsídio de R$100 milhões aprovado pelo governo federal e proveniente do Fundo Nacional de Segurança Pública [2]. Em 04/2021, porém, Bolsonaro cortou 98% dos recursos destinados ao antigo programa ‘Minha Casa Minha Vida’, chamado em sua gestão de ‘Casa Verde e Amarela’, que é dedicado à população em geral [veja aqui]. Não é a primeira vez que Bolsonaro fornece benesses a agentes de segurança pública, que são considerados uma das suas bases eleitorais [3]: levantamento de 07/2021 apontou que o presidente também busca se aproximar das forças de segurança por meio de promessas de outros benefícios como isenção de imposto na compra de automóveis e uma nova lei orgânica para a categoria [veja aqui]. A expectativa é de que os custos do governo federal com as benesses forneceidas a militares e policiais sejam de R$ 27,7 bilhões até o final de 2022 [4]. A aproximação entre Bolsonaro e os agentes de segurança pública alertou para possíveis eventos de violência nos protestos ocorridos em 07/09 [veja aqui] [veja aqui], para os quais foram registradas, inclusive, convocações feitas por agentes das PMs [veja aqui], o que é vedado por lei. Além disso, o presidente tem participado frequentemente de eventos militares, tendo participado de 11 eventos entre agosto e setembro [veja aqui].
Presidente Jair Bolsonaro mente mais uma vez a respeito do marco temporal indígena durante evento para ruralistas no Rio Grande do Su [1]. O marco temporal é uma tese atualmente analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que prevê que indígenas podem reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da promulgação da Constituição de 1988 [2]. A decisão pode definir o rumo de mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas que estão em aberto no país [3]. Indígenas de todo o Brasil acampam na Esplanada dos Ministérios em protesto contra o marco são alvo de repressão policial [veja aqui]. Às vésperas do julgamento, o presidente disse que a possível rejeição da tese, pelo STF, representaria o fim do agronegócio no Brasil [4]. Bolsonaro já havia marcado esse posicionamento no final de agosto, dizendo que o Brasil é um dos países que mais demarcam territórios para povos nativos em todo o mundo [veja aqui]. No entanto, o território demarcado no Brasil não chega a 14%, abaixo da média mundial de 15% e, conforme ambientalistas e pesquisadores, a demarcação de novos territórios não prejudica a produção agropecuária no país [5]. Ressalte-se que o presidente é alvo de representação no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui]. Essa postura converge com o avanço das políticas do governo federal direcionadas à exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui] e a alta recorde de pedidos de mineração em terras indígenas .
Leia sobre a tese do marco temporal e porque ela representa uma ameaça aos direitos indígenas.
Como no mês [veja aqui] e semana anteriores [veja aqui], o presidente Jair Bolsonaro descumpriu recomendações medidas médicas e sanitárias impostas em virtude da covid-19 [1]. No dia 13/09, durante encontro no Palácio do Planalto com apoiadores, Bolsonaro, que estava sem máscara, afirmou acreditar ter se reinfectado pela covid-19 e disse ‘acho que peguei de novo e não fiquei sabendo’ [2]. Entre 08/09 e 14/09, o número de infectados subiu de mais de 20,9 milhões [3], o número total de mortes no país é de 587.847 e mais de 21.017.736 milhões [4] de casos e as mortes superaram 587 mil pessoas [5], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa [6]. Bolsonaro teve infecção por covid-19 confirmada em julho do ano passado [veja aqui].
Leia sobre as consequências do estímulo do presidente Jair Bolsonaro ao descumprimento de medidas sanitárias.
Ministro do Trabalho e da Previdência, Onyx Lorenzoni, afirma que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) ‘é um importante muro de proteção para o trabalhador’, entretanto é também um muro ‘impeditivo para o ingresso no mercado de trabalho’, durante debate da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados [1]. A declaração de Onyx ocorre após o Senado Federal rejeitar o novo pacote de medidas trabalhistas apresentado pelo governo Federal, nomeado como ‘minirreforma trabalhista’, que criava três novos programas de contratação: o Priore, o Requip e o Programa Nacional da Prestação de Serviço Social Voluntário [2]. Esses novos modelos promovem flexibilizações trabalhistas ao prever empregos sem 13º, vínculo empregatício, FGTS e férias [3]. Mesmo com a rejeição da matéria, Onyx afirma que o governo não vai desistir dos programas trabalhistas inseridos no pacote [4]. Em consonância à fala de Onyx, em 28/08, Bolsonaro critica a rigidez da CLT e declara que ela é um empecilho na geração de emprego [5]. Vale ressaltar que em 2019 e 2020 o governo Bolsonaro editou Medidas Provisórias que flexibilizaram direitos trabalhistas [veja aqui] [veja aqui].
Leia sobre as mudanças pevistas pela minirreforma trabalhista.
O projeto de lei Paulo Gustavo – nome dado em homenagem ao ator que faleceu em maio de 2021 devido à covid-19 [1] – visa à liberação de 3,8 bilhões de reais para amenizar os efeitos econômicos e sociais no setor cultural durante a pandemia de covid-19 [2] e é alvo de ataques por secretários da Cultura e deputado federal, conforme apura reportagem desta data. O texto já foi retirado da pauta do Senado por três vezes [3]. Na última delas, nesta data, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, comemora e comenta nas redes sociais que o projeto é ‘completamente absurdo’ e que ‘transformará o governo federal num caixa eletrônico de saque compulsório’ [4] e o secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciúncula, afirma que o intuito do PL é ‘tirar o nosso poder de controlar e estabelecer critérios saudáveis para o uso da verba pública da Cultura’ [5]. O deputado federal Eduardo Bolsonaro endossa as críticas, dizendo que o projeto é de ‘senadores do PT, saudosistas dos tempos de grana fácil da Rouanet’ que ‘Usam emoção, pois não têm argumentação. Eu já chamo de Covidão da Cultura. Se aprovado, o governo federal será obrigado a repassar aos estados grana para a ‘cultura’. Vai ser de ‘Criança Viada’ para baixo’ [6], se referindo a evento de projeto sobre infância de pessoas LGBT que foi cancelado pela prefeitura de Itajaí [7]. Desde o início, Frias se posicionou contrário à medida, afirmando que, caso aprovada, todos os projetos culturais com apoio do governo federal seriam interrompidos por falta de recursos – informação que foi desmentida por especialistas, uma vez que a Secretaria Especial da Cultura não tem acesso às verbas destinadas ao projeto [8]. A Lei Paulo Gustavo pretende destravar recursos do Fundo Nacional da Cultura e do Fundo Setorial do Audiovisual, que ficam represados em razão da Lei de Responsabilidade Fiscal, retirando desses fundos as ‘limitações de despesas’, que impedem que os recursos sejam executados atualmente [9]. O dinheiro seria encaminhado aos estados e municípios, como ocorreu com a Lei Aldir Blanc [10]. Segundo especialista, o impasse em torno da lei é mais político do que orçamentário, pelo fato do projeto ser de autoria de senadores, em sua maioria, do Partido dos Trabalhadores (PT) [11]. Vale lembrar que a Secretaria de Cultura reduziu abruptamente os investimentos máximos permitidos por projeto pela Lei de Incentivo à Cultura [veja aqui] e o ex secretario da Cultura, Roberto Alvim, afirmou em discurso na UNESCO que a arte brasileira favoreceu projetos de esquerda [veja aqui].
Leia mais sobre o ator Paulo Gustavo e sua trajetória e entenda como funciona a lei que leva seu nome e como ela se diferencia da Lei Rouanet.
O presidente Jair Bolsonaro é uma ameaça a democracia brasileira [1] – é o que aponta o relatório produzido nesta data por ONG norte americana [2]. O documento cita como exemplo das ameaças ao sistema democratico os atos de 7/09, onde Bolsonaro atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal STF, e afirmou que não cumpriria suas decisões judiciais e também acusou o sistema eleitoral brasileiro de ser fraudulento [3] [veja aqui]. O relatório também destacou ações do presidente que vão contra a liberdade de expressão, pois seu governo ‘requisitou a instauração de inquéritos criminais contra pelo menos 16 críticos, incluindo jornalistas, professores universitários e políticos’ [4] – como aquelas dirigidas ao prof. Conrado Mendes [veja aqui], Helio Schwartsman [veja aqui] e Celso Rocha de Barros . mesmo que muitos destes inquéritos tenham sido arquivados sem denúncias, o governo federal ‘manda a mensagem de que criticar o presidente pode levar à perseguição’, diz a ONG [5]. Uma pesquisa divulgada no início deste ano apontou o Brasil como quarto país que mais se afastou da democracia em uma lista de 202 países [6]. Vale lembrar que o presidente tem feito diversas declarações alusivas a possibilidade de um golpe militar – Em 20/08, por exemplo, Bolsonaro declarou publicamente que STF e Tribunal Superior Eleitoral ‘arrebentaram a corda’, se referindo a ruptura com o estado democratico de direito em retaliação as atitudes dos dois órgãos [veja aqui].
Leia sobre a ameaça a ruptura institucional no Brasil.
O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que há excesso de vacinas no Brasil [1]. A declaração foi feita nesta data durante evento na cidade de Guarulhos (SP), onde Queiroga afirmou que é preciso acabar ‘com essas narrativas de falta de vacina. Isso não é procedente, o Brasil vai muito bem’, negando haver problemas na distribuição dos imunizantes no país [2]. A fala do ministro ocorre em um momento onde faltam imunizantes para antecipar a segunda dose em muitos estados e municípios – em alguns casos, o intervalo entre aplicações da segunda dose teve que ser atrasado por falta de vacinas [3]. Na capital paulista, por exemplo, quase 100% dos postos de vacinação registraram falta da AstraZeneca para aplicação de segundas doses [4]. O atraso na aplicação da segunda dose de vacinas preocupa especialistas, que são categóricos ao afirmar que não existe garantia de eficácia na proteção proposta pelas vacinas, caso ocorram atrasos no cronograma de aplicação da segunda dose, conforme apontam evidências científicas [5]. Em 07/01, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) deixou o cargo motivada pela falta de vacinas e por política do governo federal contra a imunização [veja aqui]; no mesmo mês, ao menos 10 estados suspenderam a vacinação contra a covid-19 por falta de imunizantes [veja aqui]. Especialistas atribuem o atraso na vacinação a medidas erráticas do governo federal e problemas estruturais como o tamanho da população e estrutura econômica do país [6].
Leia sobre os atrasos na vacinação em decorrência de ações do governo federal.
O Supremo Tribunal Federal (STF) adia mais uma vez o julgamento do Marco Temporal para demarcação de Terras Indígenas [1]. O Marco Temporal é uma tese que determina que só podem ser consideradas terras indígenas aquelas já ocupadas por eles até a data de promulgação da Constituição de 1988 [2]. A decisão pode definir o rumo de mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas que estão em aberto no país [3]. A análise do tema foi suspensa após pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes e não há prazo para a retomada do julgamento [4]. O chamado ‘pedido de vista’ é previsto no regimento interno do STF, no entanto, no caso do Marco Temporal, os adiamentos sucessivos ameaçam os direitos originários dos povos indígenas sobre seus territórios tradicionais [5]. Desde outubro de 2020, o julgamento vem passando por uma série de adiamentos [6]. Em 2021 o processo foi adiado cinco vezes em dois meses [7]. Para lideranças indígenas e indigenistas, a ausência de uma decisão do STF abre possibilidades para que o Projeto de Lei (PL) 490/2007 – PL da grilagem – seja votado na Câmara [8]. O PL reforça o critério do Marco Temporal e ameaça as demarcações de terras indígenas [9]. Rejeitada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH), a medida foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em reunião na qual a única parlamentar indígena, Joenia Wapichana, foi alvo de silenciamento e discriminação [veja aqui]. Nos últimos meses, indígenas de todo o Brasil têm se mobilizado na Esplanada dos Ministérios em protesto contra o marco e chegaram a ser alvo de repressão policial [veja aqui]. O presidente Bolsonaro também mentiu duas vezes a respeito do marco temporal, alegando que a possível rejeição do STF representaria o fim do agronegócio no Brasil [veja aqui] [veja aqui].
Assista a sustentação oral de Eloy Terena, advogado e assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) contra o Marco Temporal no STF.
O Conselho Superior do Cinema, órgão responsável por definir a política nacional para o setor e aprovar diretrizes gerais para o desenvolvimento da indústria brasileira de cinema, não se reúne desde dezembro de 2019 em razão da demora na nomeação de representantes da sociedade civil, conforme apurado pela imprensa nesta data [1]. Por conta disso, o Ministério Público Federal (MPF) emite recomendação ao secretário especial da Cultura, Mario Frias, para que as reuniões do órgão sejam retomadas [2]. O período de suspensão dos encontros gerou atraso na elaboração do Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual (PDMA), programa decenal que acompanha a evolução e estratégias do mercado de conteúdos [3]. O último PDMA venceu em 2020, ou seja, atualmente não há planejamento de metas para a produção audiovisual; além disso, por decreto, o conselho deveria se reunir a cada quatro meses [4]. O MPF fixou um prazo de 30 dias para que Frias convoque uma reunião e informe as pautas do encontro, ainda, requer que a ata da sessão seja publicada no site da Secretaria [5]. O MPF também dá um prazo de 5 dias para que o secretário informe a previsão de aprovação do PDMA 2021-2030 e ressalta que o TCU já havia recomendado que fosse definida uma periodicidade para as reuniões do conselho [6]. À imprensa, a Ancine informa que uma reunião do conselho ocorreu no dia 2 de setembro de 2021 e que o PDMA já foi iniciado [7]. Em julho de 2019, o executivo federal transferiu o Conselho Superior de Cinema para o controle da Casa Civil e reduziu a participação de representantes do setor cinematográfico pela metade, de modo que o governo passa a ter a maioria na composição [veja aqui]. Em novembro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro transferiu a presidência do órgão para Mario Frias e reestabeleceu a paridade entre o setor público e privado no órgão [8]. Em outras oportunidades, o MPF ajuizou ação contra a União pelo abandono administrativo da Cinemateca [veja aqui] e o Ministério do Turismo nomeou dentista para coordenar o Centro Técnico do Audiovisual (CTAv) [veja aqui].
Leia perguntas e respostas sobre o setor audiovisual brasileiro e a análise sobre os planos do governo Bolsonaro para o setor audiovisual.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante transmissão ao vivo, afirma que a quarentena eleitoral para juízes e militares é absurda e que se o Senado Federal aprovar tal medida, irá vetá-la [1]. A declaração do presidente ocorre um dia depois da Câmara dos Deputados colocar no projeto de reforma eleitoral a emenda que prevê que juízes, membros do Ministério Público, policiais, guardas municipais e militares tenham que cumprir uma quarentena de quatro anos longe do cargo, antes de concorrerem a algum cargo eletivo [2]. No dia 16/09, a quarentena eleitoral é aprovada pela Câmara dos Deputados junto com a proibição de divulgação de pesquisas de intenção de voto até a antevéspera do pleito, a flexibilização do uso do fundo eleitoral, a permissão de candidaturas coletivas e o fim das coligações proporcionais [3]. Caso o Senado e Bolsonaro aprovem a mudança no Código Eleitoral até outubro, elas valerão para 2022 somente a quarentena eleitoral que só terá validade em 2026 [4].Caso a quarentena eleitoral tivesse entrado em vigor em 2018, ao menos 70 deputados federais e estaduais que foram eleitos neste ano seriam barrados [5]. Especialistas afirmam que a quarentena eleitoral tem a capacidade de impedir que agentes públicos utilizem dos seus cargos e ações para se promoverem politicamente porque isso ‘permite processos de radicalização e de politização nas forças, inclusive militares’ [6]. Eles também declaram que o impedimento eleitoral principalmente de militares é uma maneira de barrar o culto da população ao militarismo, que é a negação do uso da política [7]. Vale ressaltar que a proposta de implementação do voto impresso no sistema eleitoral brasileiro também era parte dessa modificação do Código Eleitoral, entretanto foi rejeitada pela Câmara dos Deputados [veja aqui].
Entenda as movimentações políticas em torno da quarentena eleitoral.
O presidente Jair Bolsonaro afirma, em live nas redes sociais, que defenderá o marco temporal de 1988 para a demarcação de terras indígenas [1] em seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no dia 21/09 [veja aqui], por representar um risco para segurança alimentar [2]. O marco temporal está em análise pelo Supremo Tribunal Federal [3] e trata-se da criação de um critério para que indígenas reivindiquem demarcações de terras [4], sendo criticada por especialistas, por consolidar invasões e violações anteriores à promulgação da Constituição Federal de 1988 [5]. Em outra ocasião, o presidente mentiu e afirmou que, caso o STF decidisse de forma contrária, seria o ‘fim do agronegócio’ no país [veja aqui] [6]. Durante o discurso, Bolsonaro não cita especificamente o marco temporal, mas afirma que não há razão para demarcações territoriais e defende atividades de extração nas terras indígenas [7]. Recentemente a Fundação Nacional do índio (Funai) passou a defender o marco temporal [veja aqui] e Indígenas que protestavam contra o critério foram duramente reprimidos pela Polícia Militar [veja aqui]. Bolsonaro é alvo de representações no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui] [veja aqui]. O governo de Bolsonaro foi apontado, pelo TCU, como responsável pelo desmatamento e queimadas da Amazônia [veja aqui], que é o maior desde 2012 [veja aqui], sendo que o mês de agosto foi o mais desmatado em dez anos [8], convergindo com entraves na fiscalização ambiental [veja aqui], exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui] e a alta recorde de pedidos de mineração em terras indígenas .
Entenda mais sobre o impacto nas terras indígenas na definição do marco temporal e o como Bolsonaro tenta convencer o mundo de que não há problemas ambientais no Brasil e minimizar o impacto negativo.
A presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Claudia Queda de Toledo, destitui todos os 20 integrantes do conselho responsável por avaliar os programas de pós-graduação existentes no país [1]. Segundo ela, a dissolução ocorre para corrigir o número de membros do CTC (Conselho Técnico-Científico) da entidade [2]. O grupo contava com 20 integrantes, mas o estatuto previa apenas 18 vagas [3]. A decisão de dissolver o conselho causa preocupações entre entidades da área científica; a maior delas são as possíveis mudanças na forma como vinham sendo feitas as avaliações [4], além de possíveis revogações de decisões anteriores, como, por exemplo, a revisão de notas que interferem diretamente em novas matrículas nos cursos de pós-graduação [5]. Toledo chegou à presidência após exoneração sem apresentação de motivos oficiais do presidente anterior [veja aqui], decisões da Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação, a responsável por deliberar sobre recursos das instituições de educação superior [veja aqui].
Veja o que é a Capes e como funciona o conselho.
O Brasil não aumentou investimento em educação no ano da pandemia de covid-19, concluiu relatório da OCDE [1]. No primeiro ano pandêmico no país, não houve acréscimo na verba destinada à escolas pelo governo Bolsonaro [2]. Entre 43 países pesquisados no relatório ‘Education at a Glance 2021’, cerce de 33 elevaram o orçamento para ao menos alguma das etapas da educação básica [3]. Os acréscimos fiscais realizados possibilitaram a contratação de mais professores, a construção de mais salas de aula e a melhoria na infraestrutra de internet e no acesso digital dos alunos às aulas [4]. O Brasil, porém, está no percentual restante que não designou mais recursos para a área ano passado [5]. Houve uma única iniciativa do Ministério da Educação (MEC) para a educação básica brasileira sobe o impacto da covid-19, o incremento de R$ 600 milhões ao programa ‘Dinheiro na Escola’, apesar da verba total do projeto em 2020 (R$ 1,7 bilhões) ser a menor desde 2015 [6]. Além disso, o governo federal não utilizou verba de R$ 220 milhões destinada a levar internet para escolas públicas [veja aqui], confirmando o posicionamento contrário do presidente à suspensão das aulas e à ausência de apoio financeiro para o ensino público de estados e municípios [7]. Outra constatação do estudo foi a taxa brasileira de adultos entre 25 e 34 anos que não concluíram o ensino médio (17,8% em 2020), acima da média do grupo dos países analisados (15,1%) [8].
Saiba mais sobre Leia a íntegra do relatório que consolidou tais dados com a ONG parceira na publicação.
O número de aquisição de armas por cidadãos comuns, caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) aumenta no primeiro semestre de 2021 chegando a marca de 85.023, quantidade superior aos anos de 2017 e 2018 [1]. Os dados analisados não incluem armamento adquirido por empresas de segurança privada, clubes de tiro, policiais e integrantes das Forças Armadas [2]. Em 2020 o número de registro de armas de fogos por pessoas físicas sem vínculo com a segurança pública alcançou o patamar de 1,151 milhão representando um aumento de 65% entre os anos de 2018 e 2020 [veja aqui], no mesmo ano a Polícia Federal (PF) afirma que o registro de armas cresceu em 90%, e, sobre o tema, o presidente Jair Bolsonaro diz que ‘batemos o recorde, mas ainda não é suficiente’ e planeja editar novos decretos que facilitem o acesso a armas [veja aqui]. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz, organização especializada em temas de segurança pública, desde que tomou posse, Bolsonaro promoveu 31 alterações na política de acesso a armas no sentido de flexibilizá-la [3]. Especialista aponta que essas medidas, além de provocarem um ‘caos normativo’, visto que antes tínhamos apenas o Estatuto do Desarmamento como diretriz e agora temos inúmeros atos que se cruzam e dificultam o entendimento sobre o assunto [4], também ampliam a presença de armamentos no país [5]. O discurso armamentista de Bolsonaro vem acompanhado de incitações a violência – recentemente, ele chamou de idiota quem quer comprar feijão e não fuzil [veja aqui]. Em meio a alta de aquisição de armas, o exército diminui o orçamento para fiscalização desses equipamentos [veja aqui].Em 17/09, o Supremo Tribunal Federal (STF) inicia o julgamento de 14 ações que questionam a política armamentista de Bolsonaro; serão analisados pelo menos 12 atos normativos publicados pelo governo federal que flexibilizam a posse, a comercialização, o registro e a tributação sobre armas e munições [6]. A reformulação do Estatuto do Desarmamento, levada a cabo através de tais normativas, foi uma das plataformas eleitorais de Jair Bolsonaro para a área da segurança pública [7] [8].
Leia análise sobre como a política armamentista do governo Bolsonaro não contribui para a diminuição da violência, e como o acesso à arma de fogo por civis aumentou o indíce de mortes violentas de mulheres.
Sob pressão do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde emite nota técnica recomendando a suspensão da vacinação em adolescentes sem comorbidades [1]. O comunicado, divulgado sem o conhecimento prévio dos técnicos responsáveis pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), [2] contraria a instrução anterior da Anvisa (Agência Nacional Sanitária) que permitia a vacinação de menores de 18 anos com o imunizante da Pfizer [3]. O Ministro Marcelo Queiroga [veja aqui] justifica a revisão por dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes em adolescentes [4], mas a decisão é tomada após sucessivas críticas sem embasamento científico [veja aqui][veja aqui] e relatos de supostas reações à vacina do presidente [veja aqui] e de seus apoiadores [5]. Gestores públicos das secretarias de saúde e do SUS criticam a medida, afirmando que a nova diretriz foi tomada sem diálogo com as entidades, à revelia do que recomenda a Anvisa, chamada por eles a se manifestarm sobre o caso [6]. O órgão sanitário, por sua vez, alega que investiga as supostas reações adversas da vacinação em adolescentes, mas nega a necessidade de alteração da bula e, consequentemente, dos parâmetros do esquema vacinal adotado anteriormente [7].
Saiba mais sobre a vacinação contra a Covid-19 em adolecentes.
O governo de Jair Bolsonaro descumpre a Lei de Acesso a Informação (LAI) ao fornecer dados editados ao jornal ‘O Estado de São Paulo’ [1]. O jornal solicitou ao Ministério da Saúde dados e documentos sobre repasses de verbas do órgão solicitados por deputados e senadores em troca de apoio político ao governo [2]. Entretanto, na resposta ao pedido, foram fornecidas informações editadas por servidores da Secretaria de Governo, além de número consideravelmente menor de documentos solicitados, o que se constatou intencional após apuração da reportagem [3]. A violação indica prática do governo federal [veja aqui][veja aqui][veja aqui] que, por meio da Secretaria de Governo, têm orientado ministérios a ponderar as consequências políticas dos dados solicitados [4]. Com base nesta análise, o governo omite informações nas respostas aos pedidos feitos, o que viola a norma criada com a finalidade de divulgação dos dados públicos [5]. A LAI não permite censuras convenientes ao governo nem critério político para entrega de informações [6]. O artigo 32 da lei define como ilegal a recusa no fornecimento de informação solicitada, a demora intencional no seu fornecimento [veja aqui][veja aqui] ou fornecimento incorreto, incompleto ou impreciso, bem como ‘ocultar, total ou parcialmente, informação que se encontre sob sua guarda ou a que tenha acesso ou conhecimento em razão do exercício das atribuições de cargo’ [veja aqui][7].
Entenda o que é a Lei de Acesso a Informação e como ela foi violada nesse caso.
Após dois anos e meio de gestão Bolsonaro, ao menos dezoito dos cinquenta reitores universitários federais nomeados pelo presidente não foram os primeiros colocados das listas tríplices elaboradas pelos conselhos universitários, segundo levantamento da imprensa nesta data [1]. O processo de escolha dos dirigentes universitários é feita pelas próprias comunidades acadêmicas, através de eleições diretas, que resultam em listas tríples formuladas pelos conselhos universitários e encaminhadas ao presidente da República para nomeação [2]. Desde o governo Lula (2002), estabeleceu-se a tradição de o presidente nomear os primeiros colocados das listas tríplices, em respeito à previsão constitucional da autonomia universitária [3]. Bolsonaro rompe com tal tradição, tendo inclusive já se posicionado contra a autonomia universitária e dito que faria o possível para não nomear candidatos alinhados com a esquerda política [veja aqui]. Em 2019, Bolsonaro editou Medida Provisória (MP) que alterou o processo de escolha e nomeação dos reitores, esvaziando a participação dos conselhos universitários. A MP perdeu sua vigência ao não ser convertida em lei pelo Congresso Nacional [veja aqui]. Já em 2020, nova MP permitiu que o Ministério da Educação nomeasse reitores temporários que não fossem indicados pelas comunidades acadêmicas, sob justificativa de urgência em razão da pandemia de covid-19. A MP foi amplamente criticada pela sociedade civil e o presidente do Senado Federal devolveu a medida no mesmo dia de sua edição [veja aqui]. Exemplos de nomeações que não seguiram os primeiros colocados eleitos atingiram as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) [veja aqui], da Paraíba (UFPB) [veja aqui], do Piauí (UFPI) [veja aqui], do Espírito Santo (UFES) [veja aqui], do Sergipe (UFS) [veja aqui], entre outras.
Veja linha do tempo sobre as nomeações de Bolsonaro que preteriram os primeiros colocados eleitos e leia relatório de pesquisa – em inglês – sobre o atual cenário da liberdade acadêmica no Brasil.
Falhas na segurança dos sistemas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), provocam vazamento de dados de mais de 5 milhões de estudantes [1]. Um problema no sistema do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) que também é ligado ao banco de dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), tornou possível consultar informações como nomes, email, senhas, endereços, gênero e filiação de candidatos que se cadastraram – desde 1995 – para realizar ambas as avaliações [2]. Segundo denúncias feitas à imprensa, as falhas permitiam que qualquer estudante cadastrado que possuísse conhecimentos básicos de programação conseguisse acessar dados de todos os outros estudantes cadastrados em ambas as avaliações [3]. É como ‘se eu entrasse na conta do banco’ de terceiros ‘com a minha senha’ diz especialista, afirmando também que a falha foi provocada por falta de configuração adequada nos sistemas [4] Procurado, o Inep afirmou que recebeu a denúncia de vulnerabilidade no sistema do Enade e aplicou medidas de contenção no sistema para corrigir o erro [5]. Procurada, a Agência Nacional de Proteção de Dados (Anpd) não se manifestou [6].
Leia sobre as questões relacionadas proteção de dados no Brasil.
Como na semana [veja aqui] e no mês [veja aqui] anteriores, o presidente Jair Bolsonaro descumpriu medidas sanitárias para conter o avanço da covid-19 [1]. Em 19/09, Bolsonaro embarca para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na cidade de Nova York, sem se vacinar [2]. Em 23/09, Bolsonaro relata durante live que questionou o ministro da saúde Marcelo Queiroga – que estava presente na comitiva enviada a Nova York e foi diagnosticado com coronavírus no dia 21/11- quanto ao uso do tratamento precoce e disse que o ministro respondeu que ‘sim’, mas sem citar o nome dos remédios sem eficácia comprovada que compõem o ‘tratamento’ [3]. O presidente reiterou durante a transmissão que ainda não se vacinou e criticou a proposta de um ‘passaporte sanitário’, dizendo que o vírus é como ‘uma chuva, vai pegar em todo mundo’ [4]. Nesta data, o número total de casos e mortes por coronavírus no país ultrapassa, respectivamente, 21 milhões e 590 mil, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa com dados das secretarias de Saúde [5].
Jair Bolsonaro afirma haver ‘ameaças socialistas’ à democracia brasileira e ao seu governo em discurso na ONU [1]. A declaração, dada no discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorre em meio ao discurso anticientífico e negacionista [veja aqui] adotado pelo mandatário [2]. Em tom de campanha, Bolsonarao enaltece a gestão de seu governo, repetindo, erroneamente, ser o mais combativo à corrupção [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui][3]. Nesse sentido, sustenta que o país financiava sem garantias obras em ‘países comunistas’ [veja aqui][veja aqui][4]. Além disso, no mesmo discurso, Bolsonaro caracteriza tais políticas – referenciando governos petistas anteriores [veja aqui] – como práticas que colocavam o país ‘à beira do socialismo’,[veja aqui] o qual seu governo impediu, segundo ele [5]. Seguindo com afirmações mentirosas e em tom de campanha política, Bolsonao dá ainda falsas declarações sobre a gestão do meio ambiente [veja aqui] em seu governo [6].
Confira os pontos falsos do discurso de Bolsonaro na ONU e o que isso representa para o mundo.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, fala mentiras relacionadas à gestão de seu governo sobre meio ambiente na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York [1]. Dentre as afirmações falsas, o presidente diz que os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais foram dobrados [2]. No entanto, o orçamento destinado ao Ministério do Meio Ambiente em 2021 foi menor que o autorizado e executado em 2020 [3] e é o menor orçamento do século para a pasta [veja aqui]. No discurso, Bolsonaro também distorce os dados sobre o desmatamento na Amazônia, afirmando que no mês de agosto deste ano houve uma redução de 32% da devastação quando comparado a agosto do ano anterior [4]. Embora essa redução percentual seja verdadeira, os dados não traduzem toda a realidade ambiental e ignoram o contexto de avanço da destruição sob a gestão do atual governo [5]. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 2021 é o 2º ano com maior desmatamento na Amazônia desde 2015 [veja aqui]. Vale lembrar que, em maio deste ano, a política ambiental do governo Bolsonaro foi denunciada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [veja aqui], além de haver dossiê elaborado por servidores [veja aqui] acusando-o de estimular a grilagem [veja aqui] e flexibilizar leis ambientais [veja aqui]. Em 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) transferiu a regularização fundiária do Incra para os municípios [veja aqui] e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulou passar a ‘boiada’ por meio de revogações de regras ambientais e militarização do ministério [veja aqui]. Por esses motivos, o Tribunal de Contas da União (TCU) aponta o governo federal como grande responsável pelo aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia [veja aqui].
Confira o discurso completo de Bolsonaro na ONU e as demais mentiras proferidas pelo presidente.
O Presidente Jair Bolsonaro, em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), defende o tratamento precoce para covid-19 – comprovadamente ineficaz para o tratamento do vírus -, além de criticar medidas de isolamento social – recomendadas por especialistas e pela OMS como forma de diminuir a circulação da doença [1][2]. Bolsonaro abre a Assembleia Geral das Nações Unidas pela terceira vez [veja aqui][veja aqui], e neste ano seguiu a retórica negacionista e anticientífica em seu discurso [3]. Na fala, Bolsonaro contrapõe as medidas de isolamento social e lockdown ao desemprego, dicotomia recorrente em seu discurso [veja aqui] – amplamente criticada por economistas [4] -, afirmando que essas políticas levaram à inflação global [5]. O presidente também ressalta o índice de 90% de população adulta vacinada, destoando das muitas declarações e posicionamentos notadamente antivacina manifestados por ele anteriormente [veja aqui][veja aqui][6]. Ele se posiciona contrário ao projeto adotado mundialmente [7] de passaporte da vacina ou outra responsabilização ligada à obrigatoriedade de vacinação [8]. O ineficaz tratamento precoce contra covid-19, bandeira de apoiadores do governo e negacionistas [9], foi novamente citado como relato pessoal de superação da doença [10]. Por fim, ainda tratando do tratamento precoce – chamado por ele de ‘tratamento inicial’ –, Bolsonaro defende a recomendação de medicamentos ineficazes contra a covid-19 como decisão autônoma dos médicos [11].
Confira os pontos falsos do discurso de Bolsonaro na ONU e o que isso representa para o mundo.
O vice-procurador-Geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que rejeite denúncia oferecida pela própria Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) [1]. A denúncia, decorrente de investigações da Operação Lava Jato, afirma que Lira haveria cometido o crime de corrupção passiva pelo recebimento de proprina no valor de R$1,6 milhão [2]. No pedido de arquivamento, a PGR alega não haver provas contra Lira e lamenta lhe ter causado ‘ônus processual superlativo’ [3]. Em 09/2020, o ministro Edson Fachin, relator do processo no STF, negou-se a acolher um pedido de mesmo conteúdo, sob fundamento de que, de acordo com a legislação, o Ministério Público não pode desistir de ações penais [4]. O pedido de arquivamento de ação oriunda da Lava Jato corrobora o desmantalamento da operação pela PGR, que foi responsável pelo pedido de demissão de procuradores [veja aqui] e, por consequência, do encerramento das forças-tarefa de São Paulo [veja aqui], do Paraná e do Rio de Janeiro [veja aqui]. Vale lembrar que, recentemente, Lira tem se mostrado alinhado com o presidente da República, Jair Bolsonaro [veja aqui][veja aqui], inclusive deixando de decidir acerca do prosseguimento dos mais de 130 pedidos de impeachment do presidente [veja aqui]. Bolsonaro, por sua vez, tem demonstrado influência sobre a atual gestão da PGR [veja aqui] e já afirmou, em 10/2020, que foi ele quem determinou o fim da Lava-Jato [veja aqui]; bem como, em 01/2021, insinou perseguição da operação à sua família [veja aqui].
O governo federal pagou R$ 124 milhões a empresas acusadas de garimpo ilegal em terras indígenas no estado de Roraima, segundo reportagem desta data [1]. Desse valor, R$ 75 milhões foram pagos durante o governo Jair Bolsonaro [2]. As empresas, que atuam como ‘taxis aéreos’, são contratadas para atender às necessidades logísticas dos chamados Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs), transportando equipes de saúde e medicamentos [3]. No entanto, operação da Polícia Federal junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) interditou mais de 60 aeronaves suspeitas de atuação em mineração na terra Yanomami [4]. Foram encontrados motores, maquinários usados em garimpo e uma quantidade de minério [5]. Embora os pagamentos ocorram desde 2014, foram intensificados durante a gestão de Bolsonaro [6]. Vale ressaltar o avanço das políticas do governo federal direcionadas à exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui] e a alta recorde de pedidos de mineração em terras indígenas . Além disso, o descaso com os povos indígenas é frequente no governo: em maio de 2020, o povo Yanomami sofreu ataques de garimpeiros por um mês e não recebeu proteção dos órgãos responsáveis [veja aqui]. Ainda, relatório demonstrou que indígenas de Roraima receberam remédios ineficazes para o tratamento da covid-19 e aponta também a possibilidade de vacinas terem sido destinadas a garimpeiros em troca de ouro [veja aqui].
Leia mais sobre os conflitos com o garimpo na região, a escalada da mineração durante o governo de Jair Bolsonaro e os problemas que ameaçam a Terra Indígena Yanomami.
O Ministério da Economia envia ao Ministério do Meio Ambiente propostas de alteração nas leis ambientais brasileiras [1]. As medidas fazem parte do Projeto de Redução do Custo Brasil e têm por objetivo ‘transformar a produtividade e competitividade do país’ [2]. Entre as sugestões, estão emissões automáticas de licença ambiental caso ocorra demora na análise de pedidos, aumento de área para retirada de vegetação da Mata Atlântica sem necessidade de licença do Ibama e dispensa de licenciamento para explorar rejeitos de mineração [2]. A proposta deveria ser submetida ao crivo do Congresso Nacional, porém, o Ministério atropela o processo legislativo e encaminha o pedido diretamente ao MMA [3]. Ainda, a pasta solicita ao Ibama que, até 30 de setembro, apresente um diagnóstico sobre cada item e o que tem sido feito para atender o pleito [4]. Diferentes organizações da sociedade civil manifestam-se contra as propostas do Custo Brasil [5]. Organizações especializadas lembram que as propostas são negativas e se alinham a outras posturas que o governo Bolsonaro vem adotando [6]. Atualmente transitam projetos de lei no Congresso Nacional que visam à flexibilização do licenciamento ambiental [veja aqui] . Além disso, em vídeo de reunião ministerial, Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente, sugeriu aprovar reformas infralegais aproveitando a atenção do país à covid-19 [veja aqui]. No prazo estabelecido, o Ibama rejeita os pedidos de flexibilização do ME, alegando que a avaliação das medidas deve ser feita pelas instâncias competentes, as quais se incluem órgãos externos ao Poder Executivo [7].
Leia sobre análise sobre a flexibilização das regulações propostas pelo Ministério da Economia e porque o discurso de ‘destravar negócios no país’ não se sustenta.
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, descumpre acordo judicial que obriga o órgão a avançar a demarcação do território indígena Munduruku, em Santarém (PA) [1]. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a Funai tem disponibilidade orçamentária e condições materiais para cumprir as decisões sobre a demarcação da terra Munduruku e já deve R$ 270 mil em multas por descumprir os termos do acordo judicial [2]. Dessa forma, o não cumprimento do acordo é enquadrado como improbidade administrativa pelo Ministério Público [3]. Xavier é delegado da Polícia Federal e atuou na assessoria de parlamentares ruralistas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai, que investigou o órgão e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) [4]. Não é a primeira vez que a Funai, principal órgão indigenista do governo, vem atuando na contramão da efetivação dos direitos dos povos indígenas: em março, a Funai acusou lideranças indígenas de difamação contra o governo federal [veja aqui]; e em agosto, defendeu a tese do marco temporal, que dificulta demarcação de terras para populações indígenas [veja aqui].
Leia sobre o presidente da FUNAI Marcelo Xavier e os motivos que fazem da sua gestão um símbolo da desarticulação da política indigenista no governo Bolsonaro.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro testa positivo para covid-19 e sinaliza que está fazendo tratamento precoce, mas que não pode falar o nome do tratamento porque o Brasil é ‘quase um regime talibanês em que se você fala algumas coisas como, por exemplo, o que está tomando, é capaz desse canal cair’ [1].O tratamento precoce contra a covid-19 é defendido pelo governo Bolsonaro desde o início da pandemia e não tem eficácia comprovada [veja aqui]. Eduardo Bolsonaro integrou a comitiva presidencial na 76ª Assembléia Geral da ONU realizada no dia 19/09 em Nova York [veja aqui]; por recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) todo o grupo está em isolamento depois do diagnóstico positivo para a covid do ministro da Saúde Marcelo Queiroga que também compôs a comitiva [2]. Durante a live, o deputado também critica o passaporte sanitário adotado em bares e restaurantes nos Estados Unidos, que pede o comprovante de vacina para a entrada nesses estabelecimentos [3]. Eduardo Bolsonaro descredibiliza a medida porque segundo ele seria um contrassenso exigir a vacinação de pessoas para frequentar espaços e, mesmo assim haver possibilidade de contaminação como ocorreu com o ministro da Saúde [4]. O estado de São Paulo também implementou o passaporte sanitário em eventos com mais de 500 pessoas exigindo o comprovante de vacina – Bolsonaro disse que isso é um crime porque ‘a liberdade deve estar acima de tudo’ [veja aqui]
Em entrevista publicada nesta data, o presidente da República, Jair Bolsonaro, faz afirmações imprecisas ou inverídicas sobre diversos assuntos relacionados ao seu mandato [1]. Ele afirma não haver errado em nada no combate à pandemia da covid-19 e salienta que previu que as medidas de isolamento social causariam más consequências econômicas [2]. Entretanto, só o próprio presidente, entre maio de 2020 e setembro de 2021, cometeu, no mínimo, 245 violações às recomendações médicas e sanitárias de combate à pandemia [veja aqui]. Além disso, a contraposição que o presidente faz entre as medidas de isolamento social e o mau desemprenho econômico é criticada por economistas, que a classificam como ‘falso dilema’ [3]. Na entrevista, Bolsonaro volta a defender o uso de medicamentos com ineficácia comprovada no combate à covid-19, afirmando, ainda, que a vacina Coronavac ‘não tem comprovação científica’ [4]. Contudo, médicos e cientistas defendem a ineficácia do tratamento precoce e a eficiência da Coronavac contra a doença [veja aqui]. Na fala, Bolsonaro também descredibiliza a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nega casos de corrupção em seu governo e também diz não usar cartão corporativo [5]. Vale lembrar que o relatório final da CPI da covid-19 acusa Bolsonaro de agir de forma intencional para provocar a morte de milhares de brasileiros, atribuindo-lhe a prática de dez possíveis crimes [veja aqui]. A CPI também revelou possíveis casos de corrupção no governo, relacionados à compra de vacinas [veja aqui] [veja aqui]. Além disso, apuração jornalística acusa o governo federal de negociar apoio do Congresso Nacional por meio de orçamento secreto de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares [veja aqui]. Sobre o uso de cartão corporativo, o governo federal tem, atualmente, o maior gasto com cartão corporativo desde 2018 [6] e a maioria dos gastos têm sido mantidos em sigilo [7]. Ainda na entrevista, o presidente diz que não convocou as manifestações que ocorreram em 07/09 [veja aqui], volta a descredibilizar as urnas eletrônicas e a defender o voto impresso [8]. Entretanto, Bolsonaro convocou seus apoiadores às manifestações de 07/09, às quais se referiu como ‘oportunidade’ e ‘ultimato’ a ministros do STF [veja aqui] e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para implementar voto impresso já foi rejeitada pela Câmara dos Deputados [veja aqui], a despeito da intimidação provocada pelo presidente com desfile de militares em Brasília [veja aqui].
Leia análise sobre a entrevista de Bolsonaro e veja balanço do cumprimento das promessas de campanha do presidente após mil dias de governo.
O presidente Jair Bolsonaro, afirma, em debate realizado na Semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU, que a crise hídrica é culpa do clima [1], mas que o Brasil enfrenta os desafios climáticos com planejamento, seriedade e transparência [2]. Ainda, embora sejamos privilegiados pela nossa matriz energética, precisamos avançar em todas as fontes de energia limpa. No entanto, a fala do presidente no evento não traduz a realidade sobre as ações para o enfrentamento da escassez hídrica [3]. Em live com apoiadores, ao expressar preocupação com a crise hídrica, Bolsonaro pede à população que colabore com a situação: tome banho frio, não utilize o elevador e apague as luzes, mas não menciona planos de seu governo para enfrentar a questão [4]. Vale lembrar que governo de Bolsonaro omitiu dados que indicavam a necessidade de racionamento hídrico desde 2019 [veja aqui], minimizou o cenário de escassez hídrica do país [veja aqui] e editou medida provisória que limitava o controle dos reservatórios ao ministro de Minas e Energia [veja aqui]. A gestão ambiental de Bolsonaro representa o declínio do Brasil na defesa das questões climáticas; além disso, o governo federal é responsável por medidas que enfraqueceram os órgãos de controle ao promover cortes no orçamento ambiental [veja aqui], além de restringir-lhes a autonomia [veja aqui]. Também promoveu flexibilização da legislação ambiental, diminuindo as demarcações de terras indígenas e, permitiu o garimpo em terras de preservação ambiental [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Em vista disso, organizações da sociedade civil denunciaram o presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas a fim de desmentir os pronunciamentos falsos do presidente sobre sua gestão ambiental .
Leia sobre como a escolha do governo de acionar as usinas termelétricas para solucionar a crise hidrelétrica é um estímulo à fontes de energias poluentes e entenda porque a escassez hídrica atual pode não ser uma exceção mas uma regra para o futuro.
Planalto prepara documento para contestar possíveis acusações de propaganda eleitoral antecipada contra Bolsonaro, em meio a eventos de celebração pelos 1000 dias de governo [1]. Segundo apurações dos veículos de imprensa nesta data, a Subchefia de Articulação e Monitoramento (SAM) da Casa Civil identifica que o governo pode ser alvo de possíveis acusações que relacionam os eventos comemorativos à promoção de propaganda eleitoral antecipada, entretanto nega que os eventos promovidos pelo governo são de caráter eleitoral já que apenas visam a dar publicidade aos projetos e políticas governamentais [2]. Em resposta ao documento, a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) afirma que a situação deve ser observada com ‘prudência e cautela’ para apartar possíveis interpretações que relacionem as ações do presidente à campanha eleitoral [3]. Os eventos em celebração aos 1000 dias de mandato acontecem em todos os estados e são uma maneira de alavancar a popularidade do presidente em meio ao aumento dos índices de rejeição de seu governo pela população, segundo informações da imprensa [4]. Desde o início da pandemia, Bolsonaro esteve presente em inúmeros eventos, promovendo aglomerações e desrespeitando as recomendações sanitárias no combate a covid-19 [veja aqui]. O Ministério Público já apresentou pedido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para abertura de processo contra Bolsonaro por propaganda eleitoral antecipada após o presidente mostrar uma camisa com os dizeres ‘É melhor JAIR se acostumando, BOLSONARO 2022’, durante cerimônia oficial em julho [5]. Em setembro, o TSE abriu investigação sobre possível promoção de campanha eleitoral antecipada nas manifestações de 07/09, promovidas por Bolsonaro [veja aqui] [6]. O corregedor-geral da Justiça Eleitoral afirma que o intuito é apurar se houve utilização de bonés e roupas com referências à reeleição de Bolsonaro em 2022, como apontam os veículos de comunicação e as redes sociais [7]. Vale lembrar, que o TSE já enviou duas notícias-crimes contra Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal por propagação de ataques ao sistema eleitoral brasileiro [veja aqui] durante live transmitida pela TV Brasil [veja aqui] e por vazamento de inquérito sigiloso da Polícia Federal [veja aqui].
Leia sobre o que o Tribunal Superior Eleitoral considera propaganda eleitoral e entenda como as sucessivas crises no governo afetaram a popularidade de Bolsonaro e o insucesso dos eventos comemorativos de 1000 dias do governo.
Programa do Ministério das Comunicações, de acesso gratuito à internet em locais públicos, Wi-Fi Brasil, exibe propagandas do governo federal em cada acesso dos usuários à rede [1]. O projeto, que tem o objetivo de levar internet banda larga a locais onde não há conexão ou oferece apenas redes precárias, condiciona o acesso internet à audiência de vídeos sobre ações do atual governo antes de liberar o acesso à internet [2].Segundo a pasta, ‘a veiculação de vídeos institucionais está prevista no projeto básico da implantação de pontos de acesso gratuito à internet em localidades públicas, pelo programa Wi-Fi Brasil’ e é instrumento importante ‘de divulgação de mensagens de utilidade pública’ [3]. O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia ressalta pontos positivos do programa, mas diz que ‘a ferramenta precisa ser melhor regulamentada para evitar autopromoção do governo’ [4]. O deputado, Bohn Gass (PT-RS), apresenta nesta data, requerimento para que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, preste esclarecimentos sobre o caso [5]. O vice-líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), afirma que as propagadas usam dinheiro público, configuram ‘crime’, e ‘manipulação da internet, para fazer propaganda do governo’ [6]. Valente também afirma que o partido vai recorrer à Justiça para derrubar a obrigatoriedade de o usuário aguardar a propaganda antes de acessar os serviços [7]. Em julho deste ano o presidente Jair Bolsonaro usou emissora de TV pública para atacar sistema eleitoral brasileiro [veja aqui].
Leia sobre a obrigatoriedade de assistir propaganda do governo federal imposta à pessoas que acessam a internet oferecida pelo programa Wi-fi Brasil.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma que o ex-presidente Lula quer impor o modelo econômico chinês no Brasil, durante evento em Roraima [1]. Bolsonaro também declara que o primeiro passo caso Lula ocupasse a presidência de novo e determinasse o modelo econômico chinês seria a extinção da Consolidação das Leis Trabalhistas, do 13º salário, das férias, da hora extra e do Fundo de Garantia, com o intuito de ‘manter um regime de trabalho ao nosso povo que nós não poderíamos aceitar’ [2]. Entretanto, vale ressaltar que foi o governo de Bolsonaro que editou Medidas Provisórias que flexibilizaram os direitos trabalhistas em 2019 e 2020 [veja aqui] [veja aqui]. Inclusive, o ministro do Trabalho e Previdência do governo atual, já chegou a afirmar que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é um ‘muro impeditivo para o ingresso no mercado de trabalho’ [veja aqui]. A fala de Bolsonaro contra Lula, ocorre após o ex-presidente elogiar a atuação do Partido Comunista Chinês (PCC) por promover um país com ‘poder e um governo forte’ [3]. Em 14/05, Bolsonaro já havia atacado Lula ao afirmar que ele só ganharia o pleito de 2022 por meio da fraude [veja aqui]. Além disso, desde que foi eleito Bolsonaro vêm proferindo diversas ofensas a China, o presidente foi contra a compra do imunizante Coronavc [veja aqui] [veja aqui], levantou a hipótese de que o vírus da covid-19 foi criado em laboratório pelo país asiático [veja aqui] e colocou em xeque a segurança da internet móvel 5G, promovida principalmente por uma empresa chines [veja aqui].
Leia sobre as flexibilizações trabalhistas promovidas por Bolsonaro.
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), ligada ao Ministério da Saúde, deixou vencerem milhares de kits para diagnóstico da covid-19 e também dezenas de medicamentos e vacinas para outras doenças segundo apuração da mídia desta data [1]. Na lista de itens que se perderam estão 18 mil kits para diagnóstico de covid [2], dengue, zika e chikungunya, vacinas contra gripe, pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b), tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e BCG, soros e diluentes [3]. Os insumos somam 1,8 milhão de unidades e custaram R$ 190,8 aos cofres públicos [4]. Um ofício da coordenadora-geral substituta de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde, Katiane Rodrigues Torres, de 22/09, registrou que houve ‘comunicação prévia, da proximidade de vencimento desses medicamentos’. Ela apontou, no entanto, a ausência de resposta das áreas responsáveis em tempo hábil para a distribuição destes Insumos Estratégicos para Saúde [5]. Fernandes citou, que houve uma reunião da pasta com o ministro da Saúde Marcelo Queiroga [6], secretários e a consultoria jurídica da Saúde, em 13/09, na qual ‘foi exposta a situação dos medicamentos que encontram-se armazenados em Guarulhos e que estão com o prazo de validade vencido’ [7]. Os produtos vencidos seriam destinados a pacientes do SUS com hepatite C, câncer, Parkinson, Alzheimer, tuberculose, doenças raras, esquizofrenia, artrite reumatoide, transplantados e problemas renais, entre outras situações [8], No fim de agosto, o governo da Bahia reclamou do atraso na entrega de medicamentos pelo ministério, como o metotrexato, usado para alguns tipos de câncer. Há 24 mil frascos-ampola vencidos no almoxarifado do governo Bolsonaro [9]. Procurada, a Saúde não explicou por que os produtos perderam a validade e qual o tamanho e valor do estoque que conseguiu repor nas negociações com fabricantes [10]. O governo de Bolsonaro tem uma posição de resistência às medidas de combate a pandemia do covid-19 como quando ignorou oferta de vacina pela metade do preço [veja aqui] ou quando por meio de embaixadora omite a dimensão da pandemia no país [veja aqui] e quando em 22/11/2020 o Ministério da Saúde deixa 6,8 milhões de testes de coronavírus estocados, sob risco de perderem a validade. [veja aqui].
Leia sobre o requerimento de informações sobre os insumos vencidas, pela deputada Marília.
O governo brasileiro gastou cerca de R$ 670 milhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para subsidiar a geração elétrica via carvão mineral [1], considerada a mais poluente de todas, conforme apurado em reportagem desta data [2]. Esse fundo é abastecido com recursos cobrados na conta de luz de todos os consumidores e deveria ser direcionado para bancar iniciativas como a tarifa social para as famílias mais pobres [3]. O governo Bolsonaro tem investido em carvão mineral desde 2019 [4], o que contraria o Acordo de Paris [5]. Para lidar com a crise hídrica, o governo diminuiu a geração de energia de hidrelétricas e aumentou a geração de energia em termelétrica – dependente da queima de carvão mineral [6], que, além de mais poluente, é mais cara, assim como investimentos de R$ 12 bilhões serão feitas na geração de energia através de termelétricas [7]. O Ministério de Minas e Energia tem minimizado os níveis dos reservatórios [veja aqui] assim como omitiu informações sobre a crise hídrica [veja aqui].
Leia sobre o que é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). análise sobre a crise hídrica no mundo e como funciona uma termelétrica.
A pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), governo federal suspende as atividades do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), durante a maior crise hídrica da história do país [1]. O SNM reúne o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e foi criado em maio deste ano parar dar ‘maior eficiência na utilização dos recursos escassos’, garantindo segurança alimentar e energética [2]. A proposta do governo é substituí-lo pela Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia, criada em março de 2003, mas que nunca operou e tem estrutura burocratizada, sendo formada por 22 órgãos [3]. O governo federal afirma, ainda, que o SNM não existe formalmente [4], informação que é contrariada pelo anúncio feito pelo Ministério da Agricultura, em maio, no sentido de este seria o órgão responsável pelo monitoramento das queimadas no país [veja aqui]. O combate às crises hídrica e energética, cujos efeitos foram minimizados pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque [veja aqui], também foi dificultado pelo governo Bolsonaro quando, em 28/06, o presidente editou medida provisória criando comitê para gerir as crises apenas com ministros de governo, excluindo importantes orgãos para a gestão das águas e energia a nível nacional [veja aqui]. O governo de Bolsonaro também omitiu dados que indicavam a necessidade de racionamento hídrico desde 2019 [veja aqui] e o presidente culpou o clima pelas crises, indicando à população banhos frios como solução [veja aqui].
Gasto militar na Amazônia cresce 178% em 2019 e 2020 [1], apesar da queda no orçamento para combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2], segundo relatório realizado por deputados federais [3]. O aumento se destina à atuação das Forças Armadas na região da floresta, através das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) [4]. Contudo, desde que tal atuação começou, em 2019, a área desmatada se manteve acima dos 10 mil km2, o que não acontecia desde 2008 [5]. Em junho, a atuação dos militares na Amazônia foi prorrogada até agosto [veja aqui] a despeito do fracasso da anterior, a Operação Verde Brasil 2 [veja aqui]. O Plano de Metas do Conselho Nacional da Amazônia Legal previu, em setembro de 2020, a atuação das Forças Armadas na região até 2022 [veja aqui]. O processo de militarização da pasta ambiental foi citado em dossiê da Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente (Ascema) sobre violações das políticas de proteção ambiental pelo governo Bolsonaro [veja aqui]. Nos últimos anos, o orçamento para fiscalização ambiental no Ibama e ICMBio, autarquias responsáveis pelo combate ao desmatamento, reduziu em mais de 100 milhões [veja aqui] [veja aqui], e, o governo estuda fusão entre os órgãos [veja aqui]. O Ibama sofre com o enfraquecimento da fiscalização ambiental [veja aqui], em decorrência de mudança nas regras de aplicação de multas [veja aqui], menor contingente de ficais desde 1989 [veja aqui]. O orçamento do MMA de 2021 é o menor do século XXI [veja aqui] e a pasta já anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas sob justificativa de corte orçamentário, mas horas depois voltou atrás [veja aqui]. As operações anteriores tiveram poucos resultados, como demonstra o relatório [6], e foram cercadas de controvérsias, como a falta de atuações na primeira operação [veja aqui], afirmações equivocadas do vice-presidente, Hamilton Mourão, sobre a queda no número de desmatamentos [veja aqui] [veja aqui], distorção de dados [veja aqui] e falta de fiscalização contra o garimpo ilegal [veja aqui] [veja aqui].
Leia na íntegra o relatório sobre os gastos orçamentários na região da Amazônia.
Organizações da sociedade civil denunciam o presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas (ONU) [1] por conta da política de desmonte ambiental e das violações sistemáticas contra povos indígenas em curso pelo governo [2]. A denúncia contradiz a fala do presidente no discurso de abertura da Assembleia Geral da entidade [3], que usou dados distorcidos para exaltar a política ambiental [veja aqui], e chama atenção para a ‘grave situação dos direitos humanos e socioambientais’ [4]. Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU, aponta que ‘os povos indígenas estão sob ataque físico e institucional no Brasil’ [5]. O Projeto de Lei da Grilagem, que dificulta a demarcação de terras indígenas [veja aqui], e a flexibilização do licenciamento ambiental [veja aqui] [veja aqui] são mencionados na denúncia [6]. Bolsonaro afirmou que defenderia o marco temporal para a demarcação de terras indígenas na ONU [veja aqui], supostamente necessário para a continuidade do agronegócio [veja aqui], e, apesar de não mencionar especificamente a questão, apontou que não haveria necessidade de mais demarcações territoriais e defendeu atividades extrativistas em terras indígenas [7]. O marco temporal também é defendido pela Fundação Nacional do Índio (Funai) [veja aqui], que organizou plano de localização de indígenas isolados, contrariando recomendações [veja aqui], autorizou a ocupação de terras que aguardam demarcação [veja aqui] e mudou critérios de identificação de indígenas [veja aqui] – medida suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A política ambiental do governo Bolsonaro foi denunciada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [veja aqui], além de haver dossiê elaborado por servidores [veja aqui] acusando-o de estimular a grilagem [veja aqui] e flexibilizar leis ambientais [veja aqui]. Bolsonaro também é alvo de representações no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui] [veja aqui]. E o governo foi apontado, pelo TCU, como responsável pelo desmatamento e queimadas da Amazônia [veja aqui], que é o maior desde 2012 [veja aqui], convergindo com entraves na fiscalização ambiental [veja aqui], exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui] e a alta recorde de pedidos de mineração em terras indígenas . O orçamento do Meio Ambiente em 2021 é o menor do século [veja aqui], com o aumento do montante destinado à atuação militar na Amazônia [veja aqui], somado à redução financeira em mais de 100 milhões [veja aqui] [veja aqui], e de fiscalização [veja aqui] [veja aqui] do Ibama e do ICMbio, cujas autarquias o governo estuda fusão [veja aqui].
Leia mais sobre a política de autoritarismo ambiental e os riscos da grilagem de terras (em inglês).
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), autoriza a construção de linha de transmissão de energia elétrica, conhecida como ‘Linhão de Tucuruí’, sobre terras indígenas, sem acordo de compensação para reparar os danos à população local [1]. A emissão da licença ambiental para o começo da obra veio depois que o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, deu aval para o início da construção [2]. A linha de transmissão terá 720 Km de extensão – dos quais 123 atravessam território que pertence ao povo indígena Waimiri Atroari – e fica entre Manaus (AM) e Boa Vista (RR) [3]. Em nota, o Ibama afirmou que ‘a avaliação de critérios socioambientais, e aspectos relacionados aos meios físico, biótico e socioeconômico, possibilitou a emissão da referida licença’ [4]. Contudo os representantes dos Waimiri Atroari dizem que não foram consultados antes do início de qualquer obra em seu território, como estipula a Constituição [5]. Advogado da Associação Comunidade Waimiri Atroari, afirma que os indígenas desconhecem a autorização e que a proposta de compensação pelos impactos ao território ainda não foi respondida pelo governo [6]. O Ministério de Minas e Energia afirma que o linhão é de valor estratégico, já que atualmente Roraima depende da energia da Venezuela [7]. O prazo para conclusão da obra é de 36 meses, assim a expectativa é que a operação comece no 1º semestre de 2024 [8].
Leia sobre ameaças do governo federal para os povos indígenas.