O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, declara nas redes sociais que o filme ‘Marighella’, dirigido por Wagner Moura e que conta a história do guerrilheiro comunista durante a ditadura militar de 1964, é uma produção racista, e afirma que Moura ‘chama cada preto honrado do Brasil de marginal ao escalar um ator preto (Seu Jorge) no papel do psicopata comunista. Marighella era BRANCO!’ [1]. Por fim, complementa: ‘Do esgoto veio o filme, repudiado pelo público brasileiro. Chora, esquerdopata hipócrita!’ [2]. Poucos dias depois, o diretor do longa participa do programa de entrevistas ‘Roda Viva’ e é questionado sobre as declarações de Camargo, ao que responde: ‘Eu não tenho nenhum respeito por nenhuma declaração que venha de qualquer pessoa que faça parte desse governo. Nem esse cara [Camargo] nem aquele outro da Secretaria da Cultura [Frias]. Eu não vou comentar’ [3]. Durante o programa, Moura se refere criticamente a outros aspectos do governo como as mortes durante a pandemia de covid-19 e os incêndios na Amazônia [4]. Em reação, o secretário especial da Cultura, Mário Frias, afirma que sente ‘desprezo por esse sujeito patético que bate palma para bandido’ e chama Marighella de ‘terrorista’ e ‘vagabundo covarde’ [5]. Camargo diz que o filme deve ser boicotado, que não existem ‘argumentos honestos’ para defender o longa e chama o diretor de ‘hipócrita da Califórnia’ [6]. O secretário nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, e a deputada federal Carla Zambelli apoiam Frias [7]. Vale lembrar que o filme ‘Marighella’ teve sua estreia cancelada no Brasil em decorrência de dois pedidos feitos pela produtora que foram negados pela Ancine [veja aqui]. Além disso, o Itamaraty pediu para retirar filme sobre Chico Buarque de festival internacional [veja aqui], a Secom criticou a cineasta Petra Costa por filme sobre a democracia [veja aqui] e Sérgio Camargo pediu o boicote de filme dirigido por Lázaro Ramos [veja aqui].
Leia a análise do ator Seu Jorge, que interpretou Carlos Marighella, sobre os ataques ao filme e as falas de Wagner Moura sobre ameaças sofridas em decorrência do longa.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.