Mais 34 pesquisadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação responsável pela pós-graduação no Brasil, pedem desligamento de seus cargos [1]. Dias atrás, 80 servidores já haviam anunciado a saída do órgão, totalizando 114 pedidos de demissão [2]. A debandada de servidores da Capes ocorreu no Colégio de Exatas do órgão, que engloba as áreas de matemática, probabilidade, estatística, física, astronomia, química, engenharia aeroespacial, engenharia mecânica, engenharia naval e oceânica e engenharia de produção [3]. Entre as funções principais da autarquia, está a avaliação de cursos de pós-graduação, que ocorre em duas frentes: o quadrienal, que analisa cursos já em exercício, e a proposta de cursos novos, que averigua se há os requisitos básicos para a abertura de novos cursos [4]. Em setembro deste ano, a Justiça Federal expediu decisão que interrompia a feitura de avaliações quadrienais, sob justificativa de que havia evidências que o órgão estava modificando os critérios de avaliação após iniciar as análises dos programas [5]. A decisão também determinava que a Capes apresentasse, em 30 dias, os documentos que apontassem os requisitos de avaliação, as notas de corte e as produções usadas para examinar os cursos [6]. Entretanto, segundo ex-servidores, não houve a apresentação dos documentos pela Capes durante o período determinado [7]. Em carta, os coordenadores e consultores que renunciaram aos cargos declaram que a omissão da Capes no processo expõe que a agência não está disposta a apoiar e respaldar as avaliações feitas por eles e que a proibição a realização do quadrienal ainda persiste, o que impossibilita o trabalho dos servidores [8]. Os servidores que pediram desligamento também afirmam que a autarquia tem dado prioridade para a avaliação de novos cursos em modalidade à distância (EaD), o que na opinião deles deveria ser feito após a realização da quadrienal [9]. Em reação, a Capes declara que não houve inércia da agência no processo que trata sobre a suspensão da quadrienal e que as alegações levantadas pelos ex-servidores são ‘vazias e absolutamente enviesadas com alto grau de subjetivismo’ [10]. Além disso, a Capes afirma que não há qualquer tipo de pressão por parte do órgão para a aprovação de cursos EaD em detrimento da realização da quadrienal e pede que os servidores continuem colaborando com o órgão [11]. A decisão que suspendia as avaliações dos programas de pós-graduação foi derrubada em 02/12, entretanto ainda persistem alguns entraves quanto à divulgação das notas [12]. Servidores afirmam que a persistência das notas em sigilo cria insegurança e não faz sentido visto que a avaliação mobiliza ‘milhões de reais e milhares de consultores de todas as áreas’ [13]. Vale ressaltar que a não divulgação das notas faz com que as concessões de bolsas sejam feitas em relação às notas de 2017, o que torna a avaliação de qualidade de cursos e alunos pouco certeira [14]. Desde de a eleição do presidente Bolsonaro, a Capes vem sendo modificada e sucateada: esse ano, o ministro da Educação destituiu o ex-presidente da Capes do cargo sem apresentação de motivos oficiais e indicou a atual presidente do órgão, que não tem a experiência e a formação exigida pelo cargo [veja aqui]. O MEC também dissolveu o conselho responsável por avaliar os curso de pós-graduação [veja aqui] e precarizou a concessão de bolsas a pesquisadores [veja aqui] [veja aqui]. Em 09/12, 33 funcionários do Inep pedem demissão sob justificativa de fragilidade técnica e administrativa do órgão [veja aqui].
Leia sobre quais os riscos gerados pelos desligamentos em massa na Capes e sobre os impactos decorrentes das mudanças na avaliação da pós-graduação. Ouça uma análise sobre a debandada de servidores na Capes.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.