Augusto Aras, procurador-geral da República (PGR), solicita ao Supremo Tribunal Federal (STF) arquivamento do inquérito que aponta prevaricação – quando agente público não cumpre o dever de seu cargo em razão de interesse pessoal – do presidente Jair Bolsonaro na compra da vacina indiana Covaxin [1]. A investigação foi instaurada em junho de 2021 pelo Ministério Público Federal (MPF), a partir de indícios de irregularidades e superfaturamento nas negociações da compra das vacinas, realizadas entre Ministério da Saúde (MS) e a empresa privada Precisa Medicamentos, que intermediou a compra [veja aqui]. A Procuradoria-geral da República, menos de um mês depois da abertura do inquérito, já havia solicitado sua suspensão alegando que seria uma investigação concorrente à CPI da covid-19 [veja aqui]. O PGR alega que segue o entendimento da Polícia Federal (PF), que, em 31 de janeiro de 2022, já havia dito que não foi identificado crime do presidente da República [2], conclui pela descaracterização de crime de Bolsonaro, pontuando que não é ‘dever funcional’ do presidente reportar irregularidades às autoridades [3]. As denúncias de irregularidades na compra da vacina foram feitas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, servidor público do MS, Luis Ricardo Miranda, que ao deporem à CPI, contaram que Bolsonaro não demonstrou grande surpresa com a denúncia e que chegou a atribuir a responsabilidade ao líder do governo na Câmara [4]. O relatório final da CPI da covid-19 indiciou, em outubro de 2021, o presidente da República por 11 (onze) crimes, dentre eles a prevaricação [veja aqui], indiciando também ministros, políticos do governo, empresários e lobistas ligados ao caso [veja aqui]. Aras foi indicado ao cargo na PGR pelo Bolsonaro, quebrando a tradição da escolha do primeiro colocado na lista tríplice, elaborada pela Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) [veja aqui]. O apoio de outras instâncias importantes da esfera do poder público a Bolsonaro, como a Advocacia-geral da União (AGU), já foi visto em outros momentos, como quando negou que o presidente havia cometido crime ao vazar dados sigilosos da PF, alegando em um informe que ele tinha feito antes da matéria estar sob sigilo [veja aqui]. Outros casos de superfaturamento de compras de vacinas no governo Bolsonaro também foram relatados, como a negociação do então ministro da saúde, Eduardo Pazuello, que estava fechando compra de 30 milhões de doses da Coronavac pelo triplo do preço do Butantan, e se o contrato fosse firmado seria compra mais cara que a da covaxin [veja aqui].
Veja mais sobre o relatório da CPI do caso Covaxin
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.