A deputada federal, Bia Kicis (PSL-DF) propaga fake news em plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube e tem a conta suspensa [1]. O vídeo que motivou a suspensão da conta de Kicis, por sete dias, foi uma transmissão ao vivo realizada em janeiro deste ano intitulada: ‘Vax para crianças. Quem serão os responsáveis?’ [2]. O conteúdo da transmissão continha informações falsas sobre a vacinação contra a covid-19, questiona mentos à eficácia e segurança dos imunizantes entre crianças de 5 e 11 anos e sobre se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e órgãos de saúde de outros países de fato revisaram dados científicos para aprovar a imunização [3]. Na transmissão, participaram os deputados Diego Garcia (Podemos-PR) e Chris Tonietto (União Brasil-RJ), o procurador de Sergipe, Paulo Veloso, e outras pessoas que se opõem à vacinação [4]. Na tentativa de escapar da suspensão, a deputada pede que seus seguidores acompanhem o conteúdo em outro canal que ela mantem na mesma plataforma, mas é alertada pela empresa que a suspensão temporária poderia se tornar definitiva, o que faz com que Kicis recua na nova tentativa de propagar desinformação sobre as vacinas [5]. Desde o início da pandemia, a deputada critica medidas de combate a covid-19 como o isolamento social [veja aqui]. Kicis é uma das pessoas investigadas pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news aberto no ano passado .
Leia sobre a desinformação no governo
A presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), deputada Bia Kicis, teve seu canal no YouTube bloqueado por conta da veiculação de notícias falsas relacionadas à vacinação infantil, indo contra as diretrizes da plataforma [1]. Não é a primeira vez que a deputada sofre punições, visto que sua conta no Instagram já havia sido bloqueada também por violações as regras do Instagram [2]. A deputada é uma das principais aliadas do presidente Jair Bolsonaro e defente as mesmas ideias negacionistas sobre a covid-19 [3], principalmente sobre a vacinação de crianças [red id = 5451], [veja aqui].
O presidente Jair Bolsonaro defende a mineração em terras indígenas, alegando dependência de fertilizantes russos e projetando possível escassez causada pela guerra na Ucrânia [1]. O presidente volta a defender o projeto de lei que objetiva liberar a exploração em terras indígenas, como mineração, extração de gás e petróleo e construção de hidrelétricas [2], alterando a lei anterior que protegia terras indígenas e Unidades de Conservação (UC) , além de já ter tramitado outro projeto de lei que permitiria operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para reintegração de posse em áreas rurais [veja aqui]. Em 2021, 62% dos fertilizantes químicos e/ou adubos importados pelo Brasil vieram da Rússia, o que abre justificativa para preocupação de dependência e talvez insuficiência relacionada à falta de um possível fornecimento [3]. No entanto, a maioria das principais minas de potássio, usadas para fertilizantes no agronegócio, não está localizada dentro de terras indígenas [4]. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), diz que o debate sobre a exploração mineral em terras indígenas precisa ser tratado e não ignorado [5]. O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), diz que ‘as maiores reservas de potássio do Brasil não estão na Amazônia, estão no Sudeste. O que eles querem é liberar garimpo’ [6]. Em 2019, o presidente fez discurso a garimpeiros, prometendo ampliação de mineração no Pará [veja aqui]; em julho desse mesmo ano, ele defendeu a exploração de minerais em terras indígenas, como na Reserva Ianomani e a Raposa da Serra do Sol, buscando ‘país de primeiro mundo’ para explorá-las [veja aqui]; em agosto, afirma que demarcação de terras indígenas inviabilizam economicamente o Brasil, onde interesses estrangeiros estão interferindo na soberania nacional [veja aqui].
Diretor geral da Polícia Federal (PF), Márcio Nunes de Oliveira, substitui delegado da PF responsável por investigações relacionadas à família Bolsonaro [1]. O delegado Caio Rodrigo Pellim assume o lugar de Luís Flávio Zampronha, que conduzia as diligências nas investigações que apuram fake news, financiamento de atos antidemocráticos e desvio de dinheiro público por parlamentares [2]. Entre as pessoas investigadas pelo setor onde há a troca de comando estão o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos, Carlos, Flávio, e deputados aliados ao presidente [3]. Ao longo dos 3 anos de mandato de Bolsonaro, Márcio Nunes é o quinto indicado ao cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Anteriormente, Nunes era secretário-executivo do Ministério da Justiça [4]. O governo Bolsonaro vem sendo por marcado por pela interferência política na autonomia investigativa da corporação, com o primeiro caso denunciado pelo ex-ministro da defesa Sérgio Moro em 2020, ocasião em que Bolsonaro trocou o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro [veja aqui]. Ao final de 2021 o governo já havia trocado ao menos 20 delegados da PF [veja aqui].
Leia sobre as trocas de comando da PF durante a atual gestão do Governo Federal
Bolsonaro diz que Ministro da Saúde estuda rebaixar a classificação da pandemia de covid-19 para endemia [1]. Mesmo sem nenhum embasamento científico, o presidente afirma em suas redes sociais que ‘em virtude da melhora do cenário epidemiológico, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estuda rebaixar para endemia a atual situação da covid-19 no Brasil [2]. O conceito de endemia, citado pelo presidente, considera a presença de uma doença de forma recorrente em uma determinada região, mas que não apresenta aumentos significativos no número de casos [3]. Na véspera do anúncio, o Brasil atingiu a marca de 650 mil mortes por covid-19, segundo o próprio Ministério da Saúde e registrou 30.995 novos casos da doença, elevando para 28.842.160 o total de casos desde o início da pandemia [4]. Especialistas criticaram o rebaixamento de classificação de pandemia para endemia e afirmam, ou que a mudança é uma decisão bastante complexa e que, diante do atual cenário, seria ‘arriscada’, ‘precipitada’ e de um ‘otimismo preguiçoso’ [5]. Caso de fato a situação do Brasil seja alterada para endemia, a covid-19 deixa de ser uma emergência sanitária e medidas como uso de máscaras, restrições, proibição de aglomerações e exigência do passaporte vacinal podem deixar de serem recomendadas [6]. Desde o início da pandemia Bolsonaro vem desacreditando medidas sanitárias [veja aqui] [veja aqui], o presidente já desautorizou a compra de vacinas [veja aqui], e estimulou a aglomeração da população [veja aqui] e defendeu a utilização de medicamentos contra a covid-19 de ineficácia comprovada [veja aqui].
Leia sobre as consequências da mudança de classificação de pandemia para endemia
O deputado estadual paulista Arthur do Val (Podemos-SP) grava áudios com falas sexistas sobre mulheres ucranianas: ‘são fáceis porque são pobres’, afirma o pré-candidato ao governo de São Paulo [1]. As mensagens vazadas de uma plataforma de mensagens instantâneas ocorrem durante viagem do deputado estadual à Ucrânia, para acompanhar a guerra contra a Rússia [2]. Mamãe Falei, como também é conhecido do Val, envia aos colegas do Movimento Brasil Livre (MBL) outros diversos comentários machistas ao se deparar com uma fila de mulheres refugiadas deixando o país: ‘Imagina uma fila sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui’ [3]. Após ter os áudios vazados, o Podemos desfilia o deputado e pelo menos dez pedidos de cassação do seu mandato são enviados para o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) [4]. Nesta data, do Val tem seu mandato cassado após Alesp decidir sua cassação por unanimidade, tornando o deputado também inelegível por oito anos, segundo a Lei de Inelegibilidade [5]. Senadoras da bancada feminina disseram que as declarações do deputado são “repugnantes, asquerosas” e “agridem as mulheres, envergonham o Brasil e enxovalha a política [6]. A Sociedade Ucraniana do Brasil divulgou nota onde classificou as falas de do Val como “repugnantes e tenebrosos” e ainda afirmou que o parlamentar se aproveitou de uma situação de fragilidade para proferir comentários abusivos [7].
Leia sobre o processo de cassação do deputado Arthur do Val
Carla Zambeli, deputada federal (PL), cria página na internet para auxiliar não vacinados a escaparem das exigências de comprovação de imunização [1]. Nesta data, a deputada lança site com orientações para que pessoas que não se vacinaram contra a covid-19 driblem a exigência do passaporte vacinal para entrar em escolas, creches e outros estabelecimentos [2]. A plataforma conta com uma nota que explica que os documentos disponibilizados no site ‘darão suporte para formular o pedido administrativo de suspensão da exigência de apresentação do passaporte vacinal’ [3]. Apesar das recomendações de especialistas que garantem que a imunização contra o coronavírus é segura e com base em evidências científicas, Zambelli diz que a proposta visa a ‘fortalecer a defesa da liberdade individual’ de quem optou por não se vacinar [4]. Em dezembro de 2020, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a vacinação contra o coronavírus é obrigatória [5]. A deputada, que é uma das principais aliadas de Bolsonaro, se alinha ao presidente nas críticas à vacinação, sobretudo infantil [6]. Nesta data, Zambelli encaminha ofício à Anvisa, ao Ministério da Saúde, à Secretaria da Saúde do Estado da Paraíba, à Secretaria de Saúde do Município de Lucena, e ao Ministério Público Federal solicitando a suspensão da vacinação infantil no Brasil [veja aqui]. Nesta data, durante audiência pública do Ministério da Saúde, sociedades médicas e conselhos federais defenderam a vacinação contra a covid-19 inclusive em crianças [7].
Leia sobre o movimento antivacina no Brasil
Com a redução do fornecimento de fertilizantes russos em decorrência da guerra, Bolsonaro afirma que mineração em reservas indígenas pode facilitar produção do insumo no Brasil [1]. O presidente tem cobrado a aprovação de projeto de lei que libera a mineração em terras indígenas como forma de superar a dependência do país dos fertilizantes russos [2]. A oferta do insumo, que já vinha em queda, foi reduzida ainda mais com a guerra e as sanções econômicas impostas a Moscou [3]. De acordo com Bolsonaro, as reservas indígenas brasileiras são ricas em potássio, matéria-prima de alguns tipos de fertilizantes [4] A argumentação do presidente desconsidera o fato de que há mais de 500 jazidas fora de reservas em fase de licenciamento para pesquisa e exploração no país [5]. Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura que reúne as principais associações do agronegócio brasileiro, grandes empresas do setor, bancos, academia e sociedade civil elabora uma nota com críticas ao projeto de lei que libera mineração em terras indígenas [6]. O grupo afirma que o projeto põe em risco a integridade ambiental das terras indígenas, que são imprescindíveis para a estabilidade climática e proteção da diversidade cultural do país [7]. Bolsonaro é defensor do marco temporal que restringe a demarcação de terras indígenas [veja aqui] [veja aqui] e foi denunciado na ONU, em setembro do ano passado, por desferir ataques sistemáticos a povos indígenas e ao meio ambiente [veja aqui].
Leia sobre estratégia de destruição do governo e a reação dos povos originários
Durante evento no Palácio do Planalto para homenagear o Dia Internacional da Mulher, Bolsonaro diz que ‘hoje em dia as mulheres estão praticamente integradas à sociedade [1]. Nós as auxiliamos, estamos sempre ao lado delas’ [2]. Bolsonaro faz referência à Bíblia, citando a teoria criacionista, segundo a qual a mulher foi ‘criada’ da costela de Adão. ‘E que continuem [as mulheres], cada vez mais, participando conosco [homens]’ [3]. Em julho do ano passado, um relatório revelou a recorrência do conteúdo sexista, racista e LGBTQIA+-fóbico nas falas do presidente [veja aqui]. Além dos diversos ataques a mulheres durante o seu mandato no ano passado, Bolsonaro também vetou a distribuição gratuita de absorventes a mulheres de baixa renda [veja aqui] a despeito de organizações internacionais, como o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), considerarem a garantia da dignidade menstrual uma política pública fundamental para o desenvolvimento das mulheres [4].
Leia a análise dos constantes ataques de Bolsonaro as mulheres
O Ministério Público Federal arquiva inquérito que investigava o cometimento de crime contra a saúde pública por parte da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) [1]. O caso trata de postagens feitas nas redes sociais do órgão que desestimulam a vacinação contra a covid-19. A publicação alvo da ação dizia que ‘ninguém poderia obrigar ninguém a tomar vacina’ [2]. Adecisão do Ministério argumenta que a Secretaria havia expressado posicionamento político na linha do presidente Bolsonaro, o que, por si só, não é suficiente para configurar ato ilícito [3]. Ainda assim, a decisão vai contra a determinação do Supremo Tribunal Federal no sentido de permitir a vacinação compulsória da população através da exigência da vacinação para acesso a determinados espaços públicos e para a realização de alguns atos, como matrículas escolares [4]. Em outras oportundiades, a Secretaria já havia se alinhado ao governo quando priorizou veículos de informação aliados ao presidente na distribuição de verbas [para o que?] em junho de 2021 [veja aqui].
O presidente Jair Bolsonaro, em encontro com líderes evangélicos no Palácio da Alvorada, afirma que irá dirigir a nação para o lado que eles desejarem [1]. Bolsonaro diz que ‘seria muito fácil estar do outro lado. Mas, como eu acredito em Deus, se fosse para estar do outro lado, nós não seríamos escolhidos. Eu falo ‘nós’ porque a responsabilidade é de todos nós. Eu dirijo a nação para o lado que os senhores assim o desejarem’ [2]. O encontro, que conta com a presença de 280 religiosos – sendo noventa deputados federais, 22 pastores e oito senadores – não tem uma justificativa definida, mas são registradas menções à reeleição de Bolsonaro [3]. Em seu discurso, o presidente fala também do episódio de facada que recebeu em 2018, dizendo que foi milagre ter sobrevivido e que ‘quem me tira daqui é somente Deus’ [4]. Outros atos do presidente já feriram o princípio da laicidade do Estado, como quando disse que ‘o Estado é laico, mas eu sou cristão’ [veja aqui] e quando indicou, em julho de 2021, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, André Mendonça, ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a justificativa de ser ‘terrivelmente evangélico’ [veja aqui]. Especialistas em educação apontaram também riscos à laicidade estatal quando o ministro Milton Ribeiro, escolhido por Bolsonaro, nomeou assessora do MEC que defende princípios biblicos na educação [veja aqui].
Veja mais sobre relação do governo Bolsonaro com religião
Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirma, em evento no Dia Internacional da Mulher, no Palácio do Planalto, que o governo de Bolsonaro é ‘cor de rosa’ e elogia o investimento dado à pasta em 2021 [1]. A expressão é usada para se referir a supostos avanços na proteção do direito das mulheres no Brasil, bem como a uma maior participação feminina no atual governo, que conta com somente três ministras [2]. O presidente, em discurso diz que ‘naquele meu tempo, é história: a mulher era professora ou dona de casa. Hoje em dia, as mulheres estão praticamente integradas à sociedade. Nós as auxiliamos, estamos sempre ao lado delas. Não podemos mais viver sem elas’ [3]. No entanto, o posicionamento do presidente e de seus ministros são alvo de investigação e denúncias, como em julho de 2020 quando Bolsonaro é denunciado no Conselho de Direitos Humanos da ONU por conta de 54 ataques a mulheres jornalistas [veja aqui]. No mês seguinte do mesmo ano, o Ministério Publico Federal (MPF) ajuizou ação conta a União por causa do tratamento discriminatório seu e de seus ministros contra mulheres [veja aqui]. Ainda no mesmo ano, foi descoberto que apenas metade do orçamento destinado à pasta da ministra Damares foi utilizado, sendo que o número de casos de violência contra mulher e feminicídios aumentou durante a pandemia em 2020 [veja aqui]. Outras ações em 2020 revelam que o governo agiu contra a autonomia feminina, como quando baixou o decreto que defende ‘direito à vida desde a concepção’ [veja aqui], quatro dias antes na presença da ministra, o Brasil assina declaração internacional contra o aborto [veja aqui].
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Durante o seminário de homenagem ao Dia Internacional da Mulher, organizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o procurador geral da República, Augusto Aras, diz que ‘mulheres têm prazer em escolher cor da unha que vai pintar, a mulher tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar’ [1]. O procurador também afirma que ‘todos os dias são dias das mulheres, dias dos homens’. As falas de Aras têm uma má repercussão nas redes sociais, junto com as falas de Bolsonaro sobre as mulheres estarem praticamente inseridas na sociedade [veja aqui] [2]. A utilização de estereótipos de gênero por Aras é criticada também por parlamentares e pela Associação Nacional dos Procuradores de República (ANPR), afirmando que o discurso apaga e reduz os trabalhos desenvolvidos pelas procuradoras da República [3]. Em retratação, Aras afirma que não teve a intenção de ofender ou diminuir as mulheres, segundo ele ‘ apenas destaquei que é possível buscar qualquer posição, até o mais alto posto da República, sem abrir mão da sua feminilidade’ [4].
Veja mais sobre a utilização de estereótipos de gênero na política e como esse tipo de discurso impacta a vida das mulheres brasileiras
A ONG Transparência Internacional (TI) denuncia o Governo Bolsonaro à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) por adotar medidas que enfraquecem o combate à corrupção [1]. Entre os principais retrocessos apontados no relatório produzido pela TI está a manutenção do chamado orçamento secreto, prática revelada em 2021, que consiste na compra de apoio político de congressistas pelo governo através de emendas parlamentares [veja aqui] [2]. A denúncia ocorre no momento em que o Congresso, que já havia afirmado que não divulgaria os nomes dos beneficiários, contraria novamente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e mantém sigilo sobre o nome dos parlamentares que receberão as verbas públicas [3]. Além disso, o relatório cita como problemas os constantes ataques do presidente às instituições democráticas [veja aqui] [veja aqui]; a interferência da família Bolsonaro na Polícia Federal (PF) [veja aqui] [veja aqui], na Agência de Inteligência (ABIN) [veja aqui] [veja aqui], na Receita Federal [veja aqui] e no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) [veja aqui]; as mudanças na Lei de Improbidade Administrativa; as tentativas de esvaziamento da Lei de Acesso à Informação pelo poder executivo [veja aqui] [veja aqui], bem como a decisão do Supremo Tribunal Federal de transferir para a Justiça Eleitoral a competência para julgar crimes comuns que possuem ligação com o sistema eleitoral [4]. O relatório também faz referência ao parecer da CPI da Covid, que atribui ao presidente a responsabilidade pela prática de pelo menos 10 crimes durante a pandemia [veja aqui] [5]. Nem a Presidência da República nem o Congresso Nacional se pronunciaram sobre o caso [6]. A Procuradoria Geral da República (PGR), no entanto, envia uma carta à OCDE na qual rebate as criticas feitas pela TI em relação ao marcos legais anti-corrupção [7].
Leia o relatório (em inglês) produzido pela Transparência Internacional
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, agracia o presidente da República, Jair Bolsonaro, com medalha do mérito indigenista, honraria destinada a pessoas que se destacam na luta em defesa dos povos indígenas [1]. Além dele, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o ministro da Defesa, Braga Netto, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, estão entre os agraciados [2]. Diante do ocorrido, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) emite uma nota de repúdio e diz que contestará o ato na Justiça [3]. A líder indígena e coordenadora-executiva da Apib, Sônia Guajajara, afirma ainda que a concessão da medalha ao presidente ‘é uma afronta total ao movimento indígena, ao ato pela terra, a tudo que a gente está fazendo para contrapor todas essas maldades desse governo’ [4]. Bolsonaro é acusado por organizações da sociedade civil na ONU e na Corte Interamericana de Direitos Humanos por ataques sistemáticos contra o meio ambiente e povos indígenas [veja aqui] [veja aqui], tendo inclusive vetado, durante a pandemia, leis que previam medidas de proteção e combate ao coronavírus para esses povos [veja aqui] [5]. Ademais, na contramão dos interesses indígenas, promoveu a flexibilização da legislação ambiental [veja aqui], dificultou as demarcações de terras indígenas [veja aqui] e facilitou o garimpo em terras de preservação ambiental [veja aqui].
Leia a íntegra da nota de Repúdio da Apib e entenda os critérios apresentados pela Funai para a concessão da honraria ao presidente.
Durante sua viagem ao estado do Acre, o presidente Jair Bolsonaro participa de evento em que são distribuídos 500 títulos de regularização fundiária — sem que haja registro formal em cartório —, destinados a pessoas assentadas e que residem em glebas federais [1]. A ação é vista por especialistas como medida eleitoreira e contrária à norma que prevê como competência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o envio de todos os títulos emitidos ao cartório para registro (ou averbação) antes que sejam entregues aos assentados destinatários [2][3]. Na oportunidade, Bolsonaro afirma aos beneficiários que ‘hoje, vocês conseguem o que seria uma carta de alforria. Conseguem a liberdade’, contudo, a falta do registro do imóvel faz com que legalmente o beneficiário não seja considerado proprietário da terra [4]. Em nota, o Incra afirma não haver irregularidades na entrega dos títulos e que estes deverão ser registrados em cartório diretamente pelos beneficiários [5]. Entretanto, tradicionalmente, ao fornecer esse beneficio a pessoas de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade, o instituto já fornecia os títulos devidamente registrados em cartório [6]. De acordo com o Incra, os títulos têm validade jurídica e os beneficiários foram orientados sobre os procedimentos necessários para efetuar o registro em cartório [7].
Apuração da imprensa revela que pastores atuam como lobistas, negociando com prefeituras, – especialmente com prefeitos de partidos que compõem o núcleo do Centrão [1] – as verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que subsidia atividades essenciais na Educação Básica em escolas públicas de todo o país, como transporte e alimentação [2]. Milton Ribeiro, ministro da Educação, diz que o governo federal prioriza a liberação de verbas para prefeituras que negociem os pedidos por meio de dois pastores que não têm cargo público e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC [3]. Em áudio obtido pela imprensa, Ribeiro continua ‘foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar’ [4]. A suspeita é a de que, ao menos desde janeiro de 2021, tem se formado um gabinete paralelo no MEC, liderados pelos pastores Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da entidade [5]. Nas palavras do ministro, a sua prioridade é ‘atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar’ e continua ‘Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas’ [6]. A conversa ocorre em reunião privada com lideranças do MEC e com prefeitos [7]. Nos últimos 15 meses, a imprensa registrou a presença dos pastores em 22 agendas oficiais no MEC, 19 delas com o ministro [8]. Dias depois, o Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU), inicia a investigação para apurar o ocorrido [9]. A abertura do inquérito é autorizada pela ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, que atende pedido da Procuradoria e determina a abertura de inquérito pela Polícia Federal para investigar Ribeiro, os pastores e prefeitos que alegam ter recebido propostas de propina [10]. A investigação tem como objetivo apurar possíveis irregularidades e crimes, como o de tráfico de influência, no fluxo de liberação de verbas do FNDE, assim como o não funcionamento dos controles administrativos dos recursos destinados aos programas do órgão e a inefetividade do planejamento orçamentário das ações do MEC [11]. No mesmo dia em que as investigações foram autorizadas pelo STF, Bolsonaro defende o ministro Ribeiro e diz que coloca a ‘cara no fogo’ por ele [12]. Na mesma ocasião, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também endossa a fala do presidente, dizendo que o ministro é ‘uma das pessoas mais honradas do seguimento religioso’ [13]. Ribeiro diz ter levado denúncia à Controladoria Geral da União (CGU) sobre suposta atuação indevida de pastores em agosto de 2021, mas voltou a ter reuniões com Santos e Moura ao menos cinco vezes [14]. No dia 28/03, torna público a divulgação de exemplares de uma edição da Bíblia com fotografias de Ribeiro e os dois pastores no município de Salinópolis (PA), patrocinada pelo prefeito Kaká Sena (PL) em evento organizado pelo MEC [15]. No mesmo dia, Ribeiro pede exoneração do cargo e diz ‘Decidi solicitar ao presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do governo federal’, Bolsonaro aceita o pedido [16]. Após o caso se tornar público, diversos relatos de corrupção envolvendo os pastores vem à tona, como o do município de Luís Domingues (MA), em que o prefeito alega que Moura solicitou dinheiro e ouro em troca da liberação de recursos do FNDE para a construção de creches e escolas [17]. Em maio, a imprensa divulga a tentativa do MEC de nomear o pastor Moura em cargo comissionado na pasta, apesar da nomeação não ter sido feita, Victor Godoy, atual ministro, abrigou em sua equipe advogado que integrava a comitiva dos pastores na negociação com os municípios [18]. Em junho, Ribeiro, Santos e Moura são presos pela Polícia Federal (PF) na operação batizada de ‘Acesso Pago’ [19]. O caso está sob segredo de justiça no STF por investigar a participação de Jair Bolsonaro nos esquemas de corrupção [20]. Em maio, a CGU aponta distorções de mais de R$19 bilhões no orçamento do FNDE [veja aqui]. Vale lembrar que em 2022, o governo realizou diversos bloqueios das verbas da educação, como os feitos em maio [veja aqui], em outubro[veja aqui] e o mais recente, que resultou no atraso das bolsas, em novembro [veja aqui]. A política fiscal do governo Bolsonaro resultou na gestão que mais cortou no orçamento da educação e da ciência em vinte anos [veja aqui].
Leia reportagem que deu os primeiros indícios dos casos de corrupção no MiEC e veja linha do tempo com os principais acontecimentos da operação até o momento
Segundo relatório publicado nesta data, em 2021, ao menos, 230 profissionais da imprensa e veículos de comunicação sofreram ataques [1]. O dado, que representa um aumento de 21,69% em relação a 2020, é do relatório anual ‘Violações à Liberdade de Expressão’ da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) [2]. São 145 casos de agressões físicas, ameaças, intimidações, roubos, vandalismo, dentre outras e ofensas registradas que envolveram, no mínimo, 230 profissionais [3]. Por exemplo, foram apurados 61 vítimas de agressões físicas e 8 tentativas de homicídio [4]. O relatório também aponta que, pela primeira vez, o Brasil figura na ‘zona vermelha’, ao lado de países como Rússia e Turquia, no Ranking Mundial de Liberdade da Imprensa da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) [5]. Além dos ataques físicos, o estudo chama a atenção para a escalada dos ataques virtuais, estima-se que foram feitos cerca de 1,46 milhões de posts contra a imprensa em redes sociais, o que significa 4.000 por dia ou 3 por minuto [6]. Segundo o relatório, os posts se valem, em geral, de ‘palavras de baixo calão, expressões depreciativas e pejorativas’ [7]. Vale lembrar que na esfera virtual, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou, até junho de 2022, 351 bloqueios de comunicadores e veículos da imprensa pelo presidente da República Jair Bolsonaro e políticos de sua base [8]. Outros relatórios já reportaram o cenário alarmante da liberdade da imprensa no Brasil [veja aqui][veja aqui][veja aqui].
Leia o relatório da Abert e saiba mais sobre as violações à imprensa em 2021
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma em evento que seguir a Constituição, por vezes, o ‘embrulha o estômago’, mas promete que ele e seus aliados irão respeitá-la [1]. A seguir, Bolsonaro cita Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi durante o regime militar, e se refere a ele como um ‘velho amigo’ [2]. Essas falas são feitas durante um evento de pré-candidatura de Bolsonaro à presidência nas eleições de 2022, o que fere a lei eleitoral [3] [4]. Para tentar contornar a proibição, a equipe do presidente divulgou o evento como de filiação ao partido. O presidente também afirma que seu governo estaria há três anos sem problemas com corrupção e que opositores do governo buscam ‘qualquer gota d’água para transformar em tsunami’ [5]. Vale lembrar que na semana anterior, o ministro da educação, Milton Ribeiro, foi acusado de desviar verbas da pasta para favorecer pastores evangélicos, seguindo um suposto pedido do presidente [6]. É importante recordar que Bolsonaro já havia atacado a Constituição. Em agosto de 2021, o presidente ameaçou atuar fora das 4 linhas da Carta como reação a investigações no Supremo Tribunal Federal [veja aqui].
O deputado federal Daniel Silveira (União Brasil-RJ) afirma na tribuna da Câmara dos Deputados que não cumprirá a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de que o parlamentar volte ao uso da tornozeleira eletrônica, conforme pedido da Procuradoria Geral da República [1]. Silveira acrescenta que vai morar na Câmara dos Deputados em protesto contra novas medidas cautelares [2]. O deputado defende o impeachment do ministro, o qual classifica como ‘sujeito medíocre que desonra o STF’ [3] e afirma querer ver até onde vai a ‘petulância’ do magistrado [4]. Silveira foi preso, em fevereiro de 2021, por divulgar vídeo com ofensas e ameaças a ministros do Supremo e defesa de medidas antidemocráticas [veja aqui]. Ele foi solto em novembro do mesmo ano, mas ficou submetido a uma série de medidas cautelares, incluindo a proibição de acesso a redes sociais e de contato com outros investigados nos inquéritos das fake news e das milícias digitais [6]. Contudo, segundo a decisão que determina o uso de tornezeleira eletrônica pelo deputado, ele descumpriu tais medidas cautelares ao participar, em 27/03, de um evento conservador em que esteve com o presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) paulista, Otávio Fakhoury, investigado nos inquéritos mencionados [7].
Leia mais sobre o caso do deputado federal Daniel Silveira e sobre seu histórico político
O ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, assina Ordem do Dia que faz referência ao golpe militar de 1964 como ‘Movimento de 31 de março de 1964’ e como ‘um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época’ [1]. O texto diz que ‘os anos seguintes a 1964 foram de estabilidade, segurança, crescimento econômico e amadurecimento político’ [2]. A redação também diz que o golpe, lido como movimento salvador, impediu que o país tivesse um regime totalitário comunista e que deixou à nação ‘um legado de paz, de liberdade e de democracia’ [3]. O período da ditadura militar fechou o Congresso, cassou habeas corpus e censurou as artes e a imprensa [4], onde houve manipulação da coleta de informações econômicas além de mortes e desaparecimentos durante o regime, reconhecidos pelas próprias Forças Armadas em 2014, em ofício encaminhado à Comissão Nacional da Verdade (CNV) [5]. A Ordem do Dia, às vésperas do aniversário do golpe do dia 31 de março, se tornou uma tradição desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro [6], ano em que o golpe completou 55 anos e o presidente afirmou que não houve ditadura no Brasil, determinando que ‘comemorações devidas’ à data fossem feitas [veja aqui].
Veja mais sobre como o governo Bolsonaro defende o golpe e o regime militar que o sucede