Michelle Bolsonaro, esposa do presidente da República, compartilha, em suas redes sociais, um vídeo que mostra o ex-presidente, Luiz Inácio Lula, participando de um encontro com lideranças da Umbanda e do Candomblé [1]. Na postagem, Michelle diz: ‘Isso pode, né! Eu falar de Deus, não’. O vídeo havia sido publicado anteriormente pela vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos/SP) em conjunto com outra página de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, chamada ‘QG Bolsonaro’. Na legenda, os perfis associam as religiões africanas ao ‘demônio’ e afirmam que Lula teria ‘vendido a alma’ para ganhar as eleições [2]. Além disso, sugerem que os cristãos poderiam ser alvo de ‘censura’ no futuro, caso não se envolvessem na política [3]. Em nota, a Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz rechaça a fala da primeira-dama e solicita que ela se retrate [4]. A socióloga Rosângela Silva, esposa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, sem citar diretamente Michelle, diz, nas suas redes sociais, em crítica à postagem que ‘Deus é sinônimo de amor, compaixão, e, sobretudo, de paz e de respeito’ [5]. A Coalizão Negra por Direitos apontou racismo nas associações feitas a partir do vídeo e indicou que o objetivo disso era promover o ódio contra religiões de matriz africana, extrapolando os limites da liberdade de expressão [6].
Leia mais sobre a demonização das religiões de matriz africana no Brasil
O ministro Paulo Guedes diz, em referência a fala de ministro francês que criticou as queimadas na Amazônia, que ‘vocês estão ficando irrelevantes para nós. É melhor vocês nos tratarem bem, senão nós vamos ligar o foda-se para vocês e vamos embora para outro lado’ [1], Guedes ainda diz: ‘Acusação idiota, pô. Você [França] não está queimando Notre-Dame, mas é um quarteirão e você não conseguiu impedir, pegou fogo. Agora nós temos uma área que é maior que a Europa e vocês ficam criticando a gente’ [2]. A fala é realizada em evento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) [3], durante reunião da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na qual o Brasil deseja se inserir [4]. A imprensa francesa, como os jornais ‘Le Figaro’ e ‘Sud Ouest’, repercutem a fala, dizendo que a fala do ministro brasileira é, além de grosseira, um caso de definformação [5]. Em outras ocasiões de contato com a comunidade internacional, como na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2021, Bolsonaro proferiu informações falsas acerca de sua gestão sobre o meio ambiente [veja aqui]. Vale lembrar que o Tribunal de Contas da União (TCU), já atribuiu ao governo federal a responsabilidade do aumento de queimadas na Amazônia [veja aqui].
Segundo apuração jornalística desta data, o Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores do Rio de Janeiro (Fundação Ceperj), em processo de investigação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, pagou em sua folha de pagamento secreta remunerações para 46 candidatos a cargos legislativos, sendo 27 deles concorrentes à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); os outros 19, candidatos à Câmara dos Deputados [1]. Segundo a apuração, os pagamentos resultam em mais de R$ 650 mil desviados [2] e os maiores pagamentos foram destinados ao partido do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do candidato a vice-governador do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB) [3].
Jair Bolsonaro, presidente da República, diz que carta em defesa da democracia é ‘pedaço de papel’ [1] e que a iniciativa é um ‘movimento de poucos artistas que não recebem mais lei Rouanet e alguns sindicalistas que não têm mais imposto sindical’. Carta à democracia? Alguém está fazendo algum ato antidemocrático no Brasil? Alguém está desrespeitando a Constituição do Brasil? Alguém está pregando o golpe no Brasil? Isso aí é política’ [2]. Outras autoridades, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, minimizam os atos pró-democracia [3]. Nogueira afirma que a carta não tem influência além da ‘bolha da esquerda’ e que ‘se transformou em um comício, um pequeno comício’; já Heleno diz: ‘não tenho tempo para perder com isso, não. Acho isso uma bobagem muito grande’ [4]. As manifestações em defesa da democracia e do sistema eleitoral acontecem em capitais do país e contam com a presença de diversos setores da sociedade [5]. O evento que dá origem às manifestações ocorre na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP) e reúne milhares de pessoas no centro de São Paulo [6]. A data escolhida, 11 de agosto, marca a criação dos cursos de direito e homenageia o manifesto contra a ditadura militar, que aconteceu em 1977 também na Faculdade de Direito [7]. Para reitor da USP, os atos registram um anseio da sociedade ‘queremos eleições livres e tranquilas, queremos um processo eleitoral sem fake news ou intimidações. A universidade brasileira é o oposto do autoritarismo’ [8]. Mesmo não havendo citação direta a Bolsonaro, o presidente já disse se se sentir atacado pelo conteúdo da carta e a chama de ’cartinha’ [veja aqui]. A Carta surge em contexto em que o presidente e candidato à reeleição atacou sucessivas vezes o sistema eleitoral brasileiro. Por exemplo, neste ano, em fevereiro de 2022 [veja aqui] [veja aqui], disse que o ‘sistema eleitoral brasileiro não é da confiança de todos’ e que cabe às Forças Armadas ‘decidir se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura ‘ [veja aqui]; em maio [veja aqui] ameaça o TSE e seus ministros afirmando que resultados das eleições podem colocá-los em ‘situação bastante complicada’ [veja aqui] e defendeu uso de armas para preservar a democracia [veja aqui]; em junho, quando disse que ‘não podemos fazer eleições com suspeições’ se referindo às urnas eletrônicas [veja aqui].
Leia a Carta na íntegra
Bolsonaro afirma que as ‘rachadinhas’ são bem comuns na política e se nega a responder se já realizou a prática nos seus mandatos como deputado federal [1]. Bolsonaro fala sobre ‘rachadinha’ dias antes do início das campanhas eleitorais em entrevista ao podcast ‘Cara a Tapa’, cuja transmissão no YouTube conta com cerca de 6 milhões de visualizações [2]. Ao ser questionado se a prática acontece, Bolsonaro alega ‘tenho informações que sim, uns fazem legalmente, entre aspas, no estatuto, outros fazem por fora’. Então, ao ser perguntado se havia adotado a prática diz ‘não vou falar de mim. Sou suspeito pra falar de mim. Não tem servidor meu falando, denunciando…’ [3]. ‘Rachadinhas’ é o termo usado para se referir à transferência de salários se assessores de políticos para benefício próprio ‘a partir de um acordo pré-estabelecido ou como exigência para a função, a rachadinha pode ou não envolver a contratação de funcionários fantasmas’ [4]. Vale lembrar que em junho de 2020, na ocasião em que Queiroz foi preso, Bolsonaro disse que a prisão era ‘espetaculosa’ [veja aqui]. O presidente já reagiu de forma evasiva e, até mesmo, agressiva e discriminatória em outras ocasiões em que a imprensa questionou sobre a prática de ‘rachadinhas’ e o caso envolvendo seu filho, Flávio Bolsonaro, o ex-assessor do filho, Fabrício Queiroz e sua esposa, Michele Bolsonaro [veja aqui], [veja aqui], [veja aqui].
Relembre os principais momentos do caso das rachadinhas envolvendo a família bolsonaro e leia mais sobre a prática na política
O presidente da República, Jair Bolsonaro, admite que aconteceu ‘coisa errada’ durante a Ditadura Militar, mas não fala sobre as pessoas que foram mortas e gravemente torturadas pelo regime [1]. Em entrevista a um canal do Youtube, o presidente diz: ‘teve coisa errada? Ninguém vai negar que teve. Cascudo, tapa ou afogamento, ninguém vai negar que teve isso. Mas do lado de cá nós sofremos também’ [2]. Bolsonaro é apoiador da ditadura [3], o que ficou demonstrado em outras ocasiões, como quando mudou os integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, justificando que ‘mudou o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final’ [veja aqui]. A mesma demonstração ocorreu também quando o presidente elogiou, em viagem ao Paraguai, o ditador Alfredo Stroessner, além dos generais que presidiam o Brasil durante a ditadura [veja aqui]; bem como quando determinou que a data do golpe militar no Brasil seja ‘devidamente comemorada’ [veja aqui]; e quando chamou o coronel Carlos Brilhante Ustra, chefe do departamento de repressão política da ditadura brasileira, DOI-CODI, de ‘herói nacional’. Ustra foi responsável pela morte de pelo menos 45 pessoas e pela tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff [veja aqui].
Veja vídeos em que Bolsonaro realiza falas contrárias aos Direitos Humanos
Segundo apuração jornalística divulgada nesta data, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mantém em sigilo as visitas recebidas em seu gabinete [1]. O veículo responsável pela apuração requereu, com fundamento na Lei de Acesso à Informação (LAI), a relação de pessoas com quem Lira se reuniu entre os meses de junho e julho deste ano, quando foram votados projetos de interesse do governo de Jair Bolsonaro [2]. A Câmara, porém, nega fornecer a informação, com base em um parecer produzido pela advocacia da Casa, o qual alega que o fornecimento ‘compromete a segurança’, além de sustentar que violaria a Lei Geral da Proteção de Dados Pessoais (LGPD) [3]. Por sua vez, a manutenção do sigilo contraria recomendação, firmada em parecer elaborado em maio de 2021 pela Controladoria Geral da União (CGU), que estabelece que os órgãos públicos devem dar publicidade aos registros de entrada e saída de pessoas de suas dependências [4]. O parecer da CGU, embora obrigue apenas o Executivo Federal, tem efeito pedagógico a outros Poderes na avaliação de especialistas, os quais também afirmam que a imposição de sigilo sobre encontros do presidente da Câmara é inconstitucional [5]. Vale lembrar que foi com base neste parecer da CGU que foi revelado um esquema de corrupção no Ministério da Educação, em maio deste ano [veja aqui]. A falta de transparência inclui, por exemplo, prefeitos e parlamentares que Lira recebe em seu gabinete para tratar de assuntos como a liberação de emendas, dentre elas aquelas do denominado ‘Orçamento Secreto’[veja aqui] [veja aqui]. Lira afirma, por meio de nota, que não tem ‘ingerência sobre as decisões administrativas da Casa’ ao se pronunciar sobre a apuração [6]. A imposição de sigilo, que também abrange as visitas recebidas por Lira em sua residência oficial, está associada, ainda, a uma reforma que permite que os visitantes do gabinete da Presidência da Câmara entram e saiam da Casa por um elevador privativo, sem acesso da imprensa ou do público em geral [7].
Leia mais sobre a relação entre transparência e democracia no Brasil
Governo Bolsonaro edita medida provisória (MP) que prorroga a execução de leis de fomento à cultura – Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc II – para 2023 e 2024, respectivamente [1]. A Lei Paulo Gustavo previa que o repasse de R$3,862 bilhões aos estados, municípios e Distrito Federal deveria acontecer em até 90 dias, no máximo, da publicação da lei [2]. A referida norma, que homenageia o artista Paulo Gustavo, que veio a óbito em decorrência da covid-19 e, prevê ações emergenciais para o incentivo à cultura em decorrência da crise econômica e social no setor ocasionado pela pandemia [3]. Por sua vez, a Lei Aldir Blanc II prorroga por cinco anos o benefício criado pela Lei Aldir Blanc I, de 2020, e prevê repasses anuais de R$3 bilhões da União para que os entes federativos realizem ações no setor cultural [4]. A norma prevê ainda que o repasse deverá ocorrer no próximo exercício – 2023 – e nos quatro anos seguintes [5]. A MP retira o caráter impositivo ao Poder Executivo de repassar os recursos de ambas as leis e, para tanto, se vale da expressão ‘fica a União autorizada’, em comparação, a redação original das leis preconizava ‘a União entregará’ [6]. Ainda, a medida condiciona o repasse às ‘disponibilidades orçamentárias e financeiras de cada exercício’ e, portanto, permite que o Executivo não execute os repasses sob o pretexto de falta de recursos no Orçamento da União [7]. Além disso, o governo apresenta um calendário de execução para os repasses das duas leis para 2023 e 2024. Especialista de gestão pública da cultura diz que a medida é ‘jeitinho que o governo federal deu em cima de um processo que já foi todo debatido. Numa canetada, ele fragiliza o planejamento. Sem obrigatoriedade do recurso, isso se torna uma disputa ano a ano’ [8]. Destaca-se que as leis passaram por todas as fases do processo legislativo nas duas casas – Câmara dos Deputados e Senado Federal [9]. A deputada Jandira Feghali (PC do B- RJ), autora das propostas das leis, afirma que é inconstitucional a modificação de lei complementar por medida, razão pela qual o Congresso deve derrubar a MP de Bolsonaro e conclui que ‘as duas leis têm fonte, orçamento claro, valor. Bolsonaro novamente faz da cultura inimiga’ [10]. Vale lembrar que Bolsonaro vetou integralmente ambas as leis, dificultando a sua aprovação, no entanto, o Congresso derrubou os vetos de Bolsonaro e publicou ambas as leis em julho de 2022 após mobilização intensa da sociedade civil [11]. O governo Bolsonaro já demonstrou descaso com políticas públicas do setor cultural em outros momentos, como nas investidas de Mário Frias – secretário da Cultura – e outras autoridades da base governistas contra a Lei Paulo Gustavo [veja aqui]; o enxugamento do sistema nacional de cultura [veja aqui];a paralisação na Ancine da análise de projetos audiovisuais passados e não lançamento de editais em 2019 e 2020; as censuras a projetos por posicionamento político-ideológico [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] .
Saiba mais sobre as políticas de incentivo à cultura no Brasil e veja mapeamento dos ataques às liberdades artísticas e à cultura ao longo do governo Bolsonaro