Jair Bolsonaro, presidente da República, diz que carta em defesa da democracia é ‘pedaço de papel’ [1] e que a iniciativa é um ‘movimento de poucos artistas que não recebem mais lei Rouanet e alguns sindicalistas que não têm mais imposto sindical’. Carta à democracia? Alguém está fazendo algum ato antidemocrático no Brasil? Alguém está desrespeitando a Constituição do Brasil? Alguém está pregando o golpe no Brasil? Isso aí é política’ [2]. Outras autoridades, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, minimizam os atos pró-democracia [3]. Nogueira afirma que a carta não tem influência além da ‘bolha da esquerda’ e que ‘se transformou em um comício, um pequeno comício’; já Heleno diz: ‘não tenho tempo para perder com isso, não. Acho isso uma bobagem muito grande’ [4]. As manifestações em defesa da democracia e do sistema eleitoral acontecem em capitais do país e contam com a presença de diversos setores da sociedade [5]. O evento que dá origem às manifestações ocorre na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP) e reúne milhares de pessoas no centro de São Paulo [6]. A data escolhida, 11 de agosto, marca a criação dos cursos de direito e homenageia o manifesto contra a ditadura militar, que aconteceu em 1977 também na Faculdade de Direito [7]. Para reitor da USP, os atos registram um anseio da sociedade ‘queremos eleições livres e tranquilas, queremos um processo eleitoral sem fake news ou intimidações. A universidade brasileira é o oposto do autoritarismo’ [8]. Mesmo não havendo citação direta a Bolsonaro, o presidente já disse se se sentir atacado pelo conteúdo da carta e a chama de ’cartinha’ [veja aqui]. A Carta surge em contexto em que o presidente e candidato à reeleição atacou sucessivas vezes o sistema eleitoral brasileiro. Por exemplo, neste ano, em fevereiro de 2022 [veja aqui] [veja aqui], disse que o ‘sistema eleitoral brasileiro não é da confiança de todos’ e que cabe às Forças Armadas ‘decidir se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura ‘ [veja aqui]; em maio [veja aqui] ameaça o TSE e seus ministros afirmando que resultados das eleições podem colocá-los em ‘situação bastante complicada’ [veja aqui] e defendeu uso de armas para preservar a democracia [veja aqui]; em junho, quando disse que ‘não podemos fazer eleições com suspeições’ se referindo às urnas eletrônicas [veja aqui].
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