A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) encerra mostra de arte após críticas de deputados e grupos bolsonaristas [1]. A exposição ‘Deslocamento’, de autoria do artista Carlos Barroso, exibe obras de arte política e de poesia virtual [2] e foi selecionada por meio de processo seletivo aberto a qualquer pessoa que cumpra os requisitos previstos [3]. Inaugurada no dia 05 e de visitação aberta ao público, a exposição chamou a atenção de deputados bolsonaristas apenas quando o ‘Movimento de Valores pelo Brasil (MOVA)’, grupo que reúne católicos de direita, publicou vídeo no qual alega que a mostra ofende a fé de cristã e que não se trata de arte [4]. O grupo critica obras da mostra que, de acordo com o porta-voz, configura ‘desrespeito à fé’, como a que retrata uma mão em oração com os dizeres ‘Sangue de Cristo’ se transformando em ‘Sangue de dízimo’, dentre outras [5]. Além do vídeo, o grupo registrou ocorrência na ALMG, pedindo a retirada da obra, a responsabilização do artista e organizou manifestação na Assembleia [6]. No dia seguinte à reclamação do MOVA, o deputado Carlos Henrique (Republicanos-MG), publicou vídeo em que acusa o artista de cometer crime de vilipêndio de objeto de culto e afirma que ‘como membro da mesa diretora da Assembleia, eu vou pedir providências e a primeira é retirar essas peças de arte’ [7]. A gravação do vídeo ocorreu no espaço da mostra no domingo (18), dia que a ALMG não é aberta ao público. O deputado também comentou em publicação nas redes sociais do MOVA que a Mesa Diretora deliberou que ‘a ‘obra’ seja retirada [8]. Na segunda (19), o artista recebe aviso da diretoria da Assembleia de que a mostra seria interditada e retirada com a justificativa de que as obras apresentavam um risco de segurança para a Casa [9]. Em entrevista, o artista diz: ‘Trabalho com arte há mais de 40 anos. Levei esta mesma exposição a Ouro Preto, com mais de 10 mil visitantes. Nunca houve reação dessa natureza’ [10]. Em reação, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais publica nota de repúdio à interdição da obra: ‘trata-se de um ato de censura imposto pela casa legislativa a uma obra de arte’ [11]. O Sindicato e veículos de imprensa solicitam informações sobre a retirada da mostra contrária à previsão do edital, mas não obtêm respostas da Assembleia [12]. A ALMG publica no site oficial da Casa fotos da manifestação contrária à exposição [13]. Vale lembrar outras ocasiões em que obras de arte e exposições foram censuradas no governo Bolsonaro [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. O presidente da República já afirmou que vetar obras culturais não é censura e sim ‘preservar os valores cristãos [14].
Leia guia de como identificar e se proteger da censura à liberdade de expressão artística e veja outras violações a esse direito no governo Bolsonaro