O presidente Jair Bolsonaro usa viagem oficial a Londres, realizada para acompanhar as cerimônias funerais da rainha britânica Elizabeth II, para realizar atos de campanha [1]. Na oportunidade, realiza discurso eleitoral a apoiadores na varanda da residência oficial do embaixador brasileiro na Inglaterra, em que afirma que será eleito no primeiro turno das eleições presidenciais e fala de temas de campanha como política de drogas, manutenção da criminalização do aborto e combate à ‘ideologia de gênero’ [2]. No discurso, Bolsonaro volta a usar o lema ‘Deus, pátria, família e liberdade’, associado ao integralismo brasileiro, movimento de extrema-direita da década de 1930 ligado ao fascismo [3][veja aqui]. O uso de evento oficial para fins de campanha gera reações de adversários políticos, dentre eles do ex-presidente Lula, seu principal concorrente na corrida presidencial, e da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), que o acusa de ‘abuso de poder político e econômico’ [4]. Na mesma data, a coligação ‘Brasil da Esperança’, formada pelo PT e outros 9 partidos políticos, e o partido União Brasil ajuízam ações contra o presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo que a corte impeça Bolsonaro de usar vídeos do discurso em qualquer material de campanha [5]. Segundo advogado que atua na ação ‘Bolsonaro confunde as figuras de presidente da República com a de candidato à reeleição, sequestrando atos oficiais da República brasileira para fazer campanha eleitoral’ [6]. No dia seguinte, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, acata o pedido e proíbe o uso das imagens do discurso do presidente na propaganda eleitoral, sob o fundamento de que ‘o acesso à Embaixada Brasileira, somente franqueado ao primeiro representado [Bolsonaro] por ser ele o Chefe de Estado, foi utilizada para a realização de ato eleitoral’ [7]. Vale lembrar que Bolsonaro já fez outros usos de atos ou meios oficiais para fins de campanha política, dentre eles: o uso de emissora de TV pública para atacar sistema eleitoral brasileiro [veja aqui]; o uso dos discursos realizados no bicentenário da Independência do Brasil [veja aqui]; o uso do discurso de abertura da Assembleia Geral, de 2022, da Organização das Nações Unidas [veja aqui]; o uso de sua residência oficial, o Palácio da Alvorada, para realizar lives com fins eleitorais [veja aqui].
Leia mais sobre o uso da máquina pública para fins eleitorais por Bolsonaro
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.