Governo Bolsonaro corta cerca de 60% da parcela do orçamento de 2023 dedicada a financiar o fornecimento gratuito de medicamentos pelo programa Farmácia Popular [1]. O programa – que, segundo especialistas, tem sua continuidade ameaçadas pelos cortes [2] – atende mais de 21 milhões de brasileiros, distribuindo sem custos 13 remédios usados no tratamento de doenças como asma, diabetes e hipertensão [3]. Também foram alvos de cortes orçamentários os programas de atendimento de saúde da população indígena, de educação e formação em saúde e de formação de profissionais para atenção primária [4]. As reduções contrastam com o aumento de 22% no valor do orçamento da saúde destinado às emendas de relator, conhecidas por Orçamento Secreto [veja aqui], bem como com o aumento de 13% na quantia voltada às emendas parlamentares individuais e de bancada impositivas, instrumentos através dos quais deputados, senadores e bancadas determinam, a despeito de deliberação do plenário da Casa, destinações específicas para o orçamento anual [5]. Nota publicada pelo Ministério da Economia confirma que a redução das verbas no programa de saúde visa a atender a ‘necessidade de alocação de recursos para reserva de emendas de relator’ [6]. Especialistas afirmam que os cortes orçamentários com destinação de verbas ao Orçamento Secreto têm finalidade eleitoral, bem como salientam que o investimento na Farmácia Popular está diretamente relacionado à melhoria da situação de saúde da população, à diminuição de internações e à maior facilidade de acesso aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) [7]. De acordo com a presidente da associação ProGenéricos, ‘há um desvio de finalidade do recurso de uma população que já é economicamente frágil’ e os cortes orçamentários ‘vão afogar o SUS com doença que não são tratadas’ [8]. Segundo apuração jornalística de 14/09, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) determina aos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Saúde, Marcelo Queiroga, que revertam os cortes, por receio de impactos eleitorais à campanha presidencial do atual mandatário [9]. Vale lembrar que, em 2020, o governo federal deixou de dar destinação a R$3,4 bilhões do orçamento da saúde dedicado ao combate da pandemia do covid-19 [veja aqui], além de não ter previsto qualquer valor para esta finalidade no orçamento do ano de 2021 [veja aqui].
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Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.