Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Governo anuncia novo bloqueio na verba da educação e ameaça funcionamento de Universidades

Tema(s)
Educação, Liberdade Acadêmica, Orçamento
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

Governo Bolsonaro envia ofício às Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) e anuncia bloqueio de R$1 bilhão nos recursos do Ministério da Educação (MEC). Deste montante, o contigenciamento para a educação superior o contingenciamento é de R$328 milhões [1]. Em nota pública, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) faz um balanço dos ataques à política fiscal da educação superior, afirmando que, em 2022, ‘R$ 763 milhões em valores que foram retirados das universidades federais do orçamento que havia sido aprovado para este ano’ [2]. O governo já havia realizado bloqueio de verbas em maio deste ano [veja aqui]. A verba bloqueada afeta as despesas discricionárias das instituições, como bolsas estudantis, energia, água, restaurantes e limpeza [3] Em reação ao contingenciamento, a Andifes convoca uma reunião extraordinária de seu conselho pleno e o diretor da entidade pronuncia que ‘as universidades ficam inviabilizadas com esse contingenciamento” [4]. A medida faz parte do bloqueio secreto de R$ 2,6 bilhões, imposto por decreto [5], sem detalhamento das áreas que tiveram cortes [6]. Conforme dados do Instituto Fiscal Independente (IFI), a área da educação é a mais afetada pelos bloqueios de verbas previamente aprovadas pela Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022, totalizando até o momento cerca de R$3 bilhões [7]. O reajuste do orçamento, dias antes das eleições para o Executivo e Legislativo federais e estaduais, ocorreu após a liberação de R$3,5 bilhões para as emendas do relator, conhecidas como ‘orçamento secreto’ [8]. Após intensas manifestações da comunidade acadêmica, às vésperas das eleições, Victor Godoy, o quinto ministro da Educação no governo, anuncia que as verbas serão desbloqueadas [9]. Vale lembrar outras ocasiões em que o governo Bolsonaro atacou a autonomia financeira das Ifes, por exemplo, em 08/19, propôs a redução de 18% dos recursos da pasta [veja aqui]; em 04/19, anunciou cortes gerais de 30% no orçamento das Ifes após ministro dizer que universidades fazem balbúrdia [veja aqui]; em 05/21, quando diversas universidades ameaçaram interromper atividades devido a cortes [veja aqui] e, em maio deste ano, quando bloqueou R$3,2 bilhões do orçamento da pasta [veja aqui]. A política fiscal do governo Bolsonaro resultou na gestão que mais cortou no orçamento da educação e da ciência em vinte anos[veja aqui] e no atraso de pagamento de bolsas no último mês do ano [veja aqui].

Leia análise sobre os impactos sociais do desinvestimento na educação e ciência e confira relatório que sistematiza os ataques à liberdade acadêmica e autonomia universitária no governo Bolsonaro

04 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Justiça solicita abertura de inquérito contra institutos de pesquisas eleitorais e conta com apoio de autoridades

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirma que pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar possíveis crimes cometidos por institutos de pesquisas eleitorais [1]. O pedido ocorre em um momento de intensificação das críticas por partes de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro – inclusive ministros e congressistas – aos institutos de pesquisas, que alegam alta disparidade entre os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, ocorrido em 02/10, e as previsões apresentadas nas pesquisas de intenção de voto [2]. Na mesma data, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, pede que apoiadores do presidente boicotem os institutos de pesquisa, por exemplo, não respondendo às perguntas [3]. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também critica os institutos e defende a regulamentação das pesquisas eleitorais pelo Congresso Nacional [4]. Segundo especialistas, o inquérito não tem fundamento jurídico e trata-se de uma ‘tentativa de intimidação’ [5]. Em nota, o instituto de pesquisa Ipec afirma que ‘vê com muita tranquilidade qualquer procedimento que vise dar transparência sobre seu trabalho’ e que as pesquisas ‘não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá’ [6]. Vale lembrar que, em 20/09, o presidente da República, Jair Bolsonaro, negou-se a conversar com jornalista que o questionou sobre as pesquisas eleitorais, afirmando que ‘se acredita em pesquisas, não vou falar contigo’ [7].

Leia mais sobre o papel e a importância das pesquisas eleitorais

04 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Economia retira R$1,2 bilhões da ciência e tecnologia, a despeito de não concordância do Congresso

Tema(s)
Ciência, Educação, Orçamento
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

Ministério da Economia (ME), do governo Bolsonaro, edita três portarias – nos dias 3, 5 e 8 de outubro, respectivamente – que retiram cerca de R$1,2 bilhão do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) [1]. A medida retira os recursos do MCTI, que podem ser remanejados para os ministérios da Economia, do Desenvolvimento Regional e do Trabalho e Previdência [2]. Questionado pela imprensa, a Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento, órgão vinculado ao ME, responsável pela edição das portarias, justificou que o orçamento do FNDCT em 2022 é maior do que em 2021 e “dado esse aumento do orçamento do fundo em relação ao ano anterior, presume-se que não deve haver interrupções nas pesquisas financiadas por ele” [3]. O Fundo apoia financeiramente programas e projetos prioritários de desenvolvimento científico e tecnológico nacionais e tem como fontes principais de receita os incentivos fiscais, empréstimos de instituições financeiras, contribuições e doações de entidades públicas e privadas [4]. O governo tentou realizar, no final de agosto, por medida provisória [5], cortes no orçamento do Fundo ao manejar a dotação prevista para a ciência para outras despesas, como as emendas do relator, conhecidas por compor o ‘orçamento secreto’ [veja aqui]. A medida provisória, que tentou retirar cerca de R$2,5 bilhões do Fundo, ficou conhecida como ‘MP anticiência’ e foi contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) [6] antes de ser derrubada pelo Congresso [7]. As portarias do ME realizam, na prática, a medida vetada pelo Congresso em agosto: a ampliação do orçamento do governo às custas da redução dos recursos destinados à ciência e à inovação tecnológica [8]. Em reação, organizações da sociedade civil e entidades científicas se manifestaram contra os cortes [9]. A Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (Ictp.br) publica nota argumentando a respeito dos danos que as portarias causam à ciência brasileira e alerta ‘restaram, por enquanto, apenas R$ 600 milhões, valor absolutamente insuficiente para honrar todos os compromissos, inclusive com vários editais públicos lançados, alguns até com resultados já publicados e divulgados’ [10]. A nota, assinada por outras organizações, conclui: ‘A sociedade brasileira poderá testemunhar o maior desvio de um governo em seus compromissos com a Ciência’ [11]. Vale lembrar que em 2022, o governo realizou diversos bloqueios das verbas da educação, como os feitos em maio [veja aqui], em outubro[veja aqui] e o mais recente, que resultou no atraso das bolsas, em novembro [veja aqui]. A política fiscal do governo Bolsonaro resultou na gestão que mais cortou no orçamento da educação e da ciência em vinte anos [veja aqui].

Leia nota da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento na íntegra e veja análise sobre os impactos na sociedade dos cortes na ciência e tecnologia

08 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro incita condutas ilegais a seus eleitores durante o 2º turno das eleições presidenciais

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente da República, Jair Bolsonaro, volta a suscitar dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral, especialmente sobre o segundo turno das eleições presidenciais que ocorrerão em 30 de outubro [1]. Na fala, Bolsonaro incita seus apoiadores a ‘permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado’, o que violaria a lei eleitoral [2]. O presidente ainda fomenta a desconfiança no processo eleitoral, citando possíveis irregularidades com o resultado do primeiro turno do pleito, no qual ficou em segundo lugar [3]. A fala integra um conjunto de ataques do presidente ao sistema eleitoral [veja aqui]: em março de 2020, voltou a acusar fraude nas eleições de 2018, mas sem apresentar provas [veja aqui], voltando em novembro do mesmo ano a atacar o sistema fazendo paralelo com a derrota de Trump, admirado por ele, nos Estados Unidos [veja aqui]. Em maio de 2021, o presidente chegou a dizer que não haveria eleições em 2022 caso não houvesse voto impresso [veja aqui][veja aqui], além de ser antidemocrático recusando apurações de inquéritos contra ele [veja aqui]. O presidente afirmou, em fevereiro de 2022, que o ‘sistema eleitoral brasileiro não é da confiança de todos’ e que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estava evitando dar respostas [veja aqui]. Vale lembrar também que Bolsonaro tem defendido a participação das Forças Armadas no processo eleitoral, como ‘último obstáculo contra o socialismo’ [veja aqui], principalmente na apuração final dos votos, que ocorre no dia das eleições [veja aqui].

Leia análise sobre os ataques às urnas por apoiadores de Bolsonaro

11 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Estadual

Assembleia Legislativa de Santa Catarina instala CPI para investigar realização de aborto legal

Tema(s)
Gênero e orientação sexual, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Santa Catarina

Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) instala Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar realização de aborto em menina de 11 anos que engravidou após ser vítima de um estupro [1]. A denominada ‘CPI do Aborto’, instalada a pedido da deputada Ana Campagnolo (PL-SC), busca investigar o cometimento de crime na realização do procedimento e se houve, de fato, o estupro alegado pela vítima [2]. Vale lembrar que a legislação garante que procedimento não é crime em três hipóteses: no caso de risco de morte materna, em casos de estupro e em caso de feto anencefálico [3]. Segundo apuração jornalística publicada em 12/10, seis do sete membros da CPI já se pronunciaram anteriormente contra o aborto, enquanto a comissão é criticada por criar insegurança jurídica em torno do aborto legal, dificultando pessoas vulneráveis de acessá-lo [4]. Em 02/09, organizações e entidades da sociedade civil oficiam a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), para que apure irregularidades na instalação da ‘CPI do Aborto’, denunciando que os parlamentares ‘pretendem inquirir, na condição de criminosos, profissionais de saúde, jornalistas e advogadas, os quais, cada qual dentro de suas atribuições, contribuíram para que a menina tivesse acesso ao aborto legal após as inúmeras violências institucionais sofridas’ [5]. Segundo a denúncia, a instação da CPI ‘promove sentimentos de pânico em torno do direito ao aborto legal e incentiva a perseguição política de profissionais de saúde que cumpriram seus deveres legais’ [6]. Vale lembrar que o Ministério da Saúde (MS) disponibilizou em sua biblioteca virtual e no site da Secretaria de Atenção Primária à Saúde cartilha que afirma que ‘todo aborto é um crime’ e que sugere uma investigação policial para os procedimentos feitos nos casos de excludente de ilicitude [red id=5564]. O governo federal também já agiu contra a autonomia feminina, como quando baixou o decreto que defende ‘direito à vida desde a concepção’ [veja aqui], bem como quando o Brasil, representado pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, assinou declaração internacional contra o aborto [veja aqui].

Leia mais sobre a relação entre a criminalização do aborto e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres

11 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro faz afirmação falsa de que adolescentes venezuelanas se prostituem e diz que ‘pintou um clima’ com meninas

Tema(s)
Criança e Adolescente, Gênero e orientação sexual, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Em entrevista a podcast, Jair Bolsonaro ao abordar tema recorrente na sua campanha à reeleição – acusação de que o Brasil se tornaria a Venezuela com a vitória de seu oponente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -, diz que ‘pintou um clima’ ao se referir a adolescentes venezuelanas e sugere que meninas são vítimas de prostituição infantil [1]. As falas são de relato do presidente sobre encontro com adolescentes em volta de moto em São Sebastião, região de Brasília: ‘Eu parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a sua filha, que tá nos ouvindo agora?’ [2]. Dias depois da fala, após insistências, Michele Bolsonaro, esposa do presidente, Damares Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Maria Tereza Belandria, embaixadora venezuelana, se reúnem, em sigilo, na casa de um pastor em Brasília, com as líderes comunitárias do projeto social que auxilia refugiadas venezuelanas [3]. Em reação, organizações da sociedade civil fazem nota de apoio à comunidade venezuelana e de repúdio a falas do presidente [4]. O deputado distrital Leandro Grass (PV) aciona a Procuradoria Geral da República (PGR) para apurar as falas do presidente [5]. Segundo o deputado a fala é problemática por diversos motivos, dentre eles, diz que ‘pintou o clima’ e ‘no sentido popular, pintar um clima significa que houve algum interesse e que isso teria sido recíproco. O Presidente, que possui 67 anos, afirma, em um podcast que possui certo alcance, que pintou um clima com adolescentes de 14 e 15 anos’ [6]. Além disso, o presidente insinua que prática de prostituição infantil, atividade ilícita, ocorria no local, mas não havia denunciado as atividades, o que pode configurar crime de prevaricação – inação diante de ato que funcionário público deveria fazer por deveres da função [7]. A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado agenda audiência pública para discutir as declarações de Bolsonaro [8] e aprova requerimento para que Polícia Federal e Ministério Público Federal prestem assistência e proteção às meninas venezuelanas envolvidas no caso [9]. Dias depois, Bolsonaro se defende das acusações alegando que foi na casa das venezuelanas, em 2021, para retratar indignação com a situação de imigrantes diante das restrições sanitárias: ‘Por que aquelas pessoas estavam se arrumando em plena pandemia? Pessoas pobres, que não tinham o que comer no Brasil, se sujeitando a quê? Isso foi o que nós mostramos’ [10]. Segundo a imprensa, Bolsonaro de fato realizou a live em 2021, mas não havia se pronunciado sobre supostos crimes de exploração sexual [11]. Em entrevista, uma das venezuelanas visitadas por Bolsonaro diz que presidente distorce a situação e que a casa abrigava uma ação social de cursos de estética [12]. Vale lembrar que em 2019, Bolsonaro fez apologia ao turismo sexual no Brasil [veja aqui] e já fez diversas falas de conteúdo discriminatório em relação às mulheres, como quando atacou jornalista com insinuações sexuais [veja aqui] [13].

Leia nota de repúdio de organizações da sociedade civil sobre o caso e saiba mais sobre a crise migratória na Venezuela

14 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Eduardo Bolsonaro, deputado federal, faz campanha em empresa e é investigado por assédio eleitoral a trabalhadores

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político, Trabalho
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Minas Gerais

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal e filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobe em palanque e faz campanha eleitoral a favor de seu pai para trabalhadores do frigorífico Rivelli, em Barbacena, município de Minas Gerais, estado com o segundo maior colégio eleitoral do país [1]. O ato, flagrado pela imprensa, é organizado pelos patrões da empresa, como constata investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT), e conta com estrutura de palanque e a audiência de cerca de 300 trabalhadores [2]. Segundo especialista, o assédio eleitoral no ambiente de trabalho ‘ocorre quando um empregador ameaça o funcionário com a perda do emprego, piora no ambiente laboral, ou ainda quando promete a ele benesses no trabalho em troca de voto’, a prática constitui crime eleitoral e trabalhista [3]. O assédio eleitoral também pode ocorrer em outras relações de autoridade, por exemplo, por funcionário público, como é o caso do deputado Eduardo Bolsonaro. Segundo o Código Eleitoral ‘é crime o servidor público valer-se da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar em determinado candidato ou partido’ [4]. Na apuração do MPT, a empresa diz que ‘apenas cedeu o espaço’ e afirma não saber ‘quem pediu, nem como foi realizada a solicitação’, no entanto, diz também que ‘os trabalhadores foram liberados para participação, mas não obrigados a permanecer no ato [5]. Antes do discurso de Eduardo começar, o diretor administrativo-financeiro do frigorífico, Paulo Richel sobe ao palanque para apresentar o convidado e diz a funcionários ‘o que o Bolsonaro está conseguindo é fazer a economia andar’ e, continua, ‘quanto mais a economia andar, mais a empresa crescer, mais oportunidades a gente vai ter [6]. Eduardo discursa contra o candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que disputa o segundo turno das eleições com Jair Bolsonaro (PL) e, dentre outras coisas, critica a Argentina e alega que se Lula ganhar, o Brasil passará pela crise do país vizinho: ‘Eu acabei de voltar de uma viagem da Argentina. Eu não sei se vocês sabem a situação lá, mas 40% da população da Argentina já está na linha da pobreza. E o presidente da Argentina e o ex-presidente Lula têm políticas muito semelhantes. Por exemplo, em aumentar o imposto de exportação. É justamente isso que está levando à crise da carne, lá na Argentina’, diz o deputado [7]. O frigorífico é denunciado ao MPT por crime de assédio eleitoral, o órgão inicia investigação e após audiência com diretores faz uma série de recomendações, que devem ser seguidas pela empresa [8]. Dentre elas, o MPT recomenda a publicação de mensagem em diversos meios, como grupos de WhatsApp, redes sociais da empresa, nas dependências de todos os estabelecimentos da investigada, manifestando que reconhece ‘o direito dos seus empregados de escolherem livremente seus candidatos nas eleições, independentemente do partido ou ideologia política’ [9]. Além disso, a empresa deve declarar que ‘não adota qualquer medida retaliatória, como a demissão em razão de opinião e escolha política partidária; e repudia qualquer tipo de comportamento que possa caracterizar violação à liberdade de consciência, de expressão e de orientação política.’ [10]. Eduardo Bolsonaro não responde aos questionamentos da imprensa sobre o caso [11]. De acordo com balanço do MPT, até o final do segundo turno o número de denúncias por assédio eleitoral pelos empregadores contra seus trabalhadores é de 2.556 casos, o que significa um aumento de 12 vezes em relação às eleições de 2018 [12]. Além disso, o número de empresas investigadas pelo crime aumentou em quase 20 vezes, indo de 98 em 2018 para 1.947 estabelecimentos em 2022 [13]. O estado de Minas Gerais registra o maior percentual de denúncias com 584 casos [14].

Veja relatório do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ouça podcast sobre casos de assédio eleitoral sofridos por trabalhadores nas eleições de 2022

18 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Judiciário
Nível
Federal

Juízes têm perfis de suas redes sociais suspensos por desinformação sobre eleições e pedido de votos

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de emergência
Violação da autonomia institucional

Três juízes tiveram suas contas de redes sociais suspensas por decisão inédita no tema da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) em razão de conduta irregular nas redes, como a divulgação de conteúdo falso sobre o sistema eleitoral, postagens político-partidárias e, até, pedido de votos a candidatos que concorrem o segundo turno das eleições presidenciais [1]. A manifestação político-partidária por membros do Poder Judiciário é uma prática vedada pela Constituição e por outras leis – Código de Ética da Magistratura e Resoluções do CNJ, como a que estabelece os parâmetros para o uso das redes sociais pelos membros do Poder Judiciário [2]. As decisões do CNJ são públicas e se referem a três magistrados [3]. Para o ministro Luiz Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, ‘a manifestação de pensamento e a liberdade de expressão são direitos fundamentais constitucionais do magistrado, mas a integridade de sua conduta, inclusive fora do âmbito estritamente jurisdicional, contribui para uma fundada confiança da sociedade na judicatura, o que impõe ao juiz restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral’ [4]. O primeiro caso é do juiz Fabrício Simão da Cunha Araújo, da 3ª Vara Criminal e da Infância e Juventude da comarca de Santa Luzia/MG, pela postagem em seu Twitter: ‘Trabalhei como juiz eleitoral nestas eleições. Pouco ou nada podemos fazer no sentido de garantir a lisura do pleito. Tudo vem pré-formatado de cima pra baixo do TSE. Nossa fiscalização na apuração é mínima ou inexiste. Somos meros espectadores’ [5]. No caso, corregedor do CNJ afirma que ‘a produção e difusão de informações falsas ou fraudulentas representam risco concreto a bens essenciais à sociedade e afetam de forma negativa a credibilidade do processo eleitoral brasileiro, deteriorando a capacidade de o eleitorado exercer seu direito de voto de forma consciente e informada’ [6]. O segundo caso é do desembargador Marcelo Lima Buhatem, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e presidente da Associação Nacional dos Desembargadores (ANDES) [7]. Segundo o CNJ, Buhatem é suspenso de duas redes sociais – Facebook e Twitter – ‘sobretudo em razão da reiteração das condutas, mesmo depois de já instaurado procedimento investigatório nesta Corregedoria’ [8]. A decisão cita, além de diversas publicações em redes sociais que ‘em tese, violam normas proibitivas aplicáveis à magistratura nacional’ ao ‘sugerir engajamento político-partidário em prol de um candidato ou em desabono a outro’ [9], a nota assinada por Buhatem, na condição de presidente da Andes [10]. Segundo a decisão, a nota se aproveita do episódio em que o ex-deputado Roberto Jefferson ataca a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia [11], para se solidarizar com Jair Bolsonaro, atacar jornalista e defender o presidente de acusações da imprensa [12]. Por fim, a decisão cita também matéria da imprensa [13] que relata a divulgação de fake news em grupos do WhatsApp pelo desembargador. A terceira magistrada a ter conta de rede social suspensa é a juíza Rosália Guimarães Sarmento, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) [14]. Segundo levantamento do CNJ, Sarmento é suspensa por conduta reiterada violadora de normas eleitorais, visto que a juíza postou mais de 70 mensagens com conteúdo político-partidário durante um período de quatro dias [15]. Nos tweets, a juíza declarou sua intenção de voto, pediu que seus seguidores votassem no mesmo candidato que ela e fez comentários negativos sobre o candidato adversário [16]. As três decisões determinam que as plataformas de redes sociais em questão – Twitter e Meta – suspendam o perfil dos magistrados ‘inclusive para prevenir novos ilícitos administrativos ou eleitorais’ [17], caso as plataforma descumpram o julgado, será multada em R$20.000,00 por dia de descumprimento [18]. Além disso, o CNJ determina outras providências como a instauração de processos disciplinares nos respectivos órgãos competentes [19].

Confira resolução do CNJ que estabelece os parâmetros para uso de redes sociais por membros do Poder Judiciário e leia pesquisa do CNJ sobre o uso das redes sociais por magistrados brasileiros

27 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Carla Zambelli, deputada federal, persegue homem com arma no dia anterior às eleições e descumpre lei eleitoral

Tema(s)
Controle de armas, Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Carla Zambelli (PL-SP), deputada federal, é filmada sacando uma arma e perseguindo um cidadão pelas ruas do bairro Jardim Paulista em São Paulo no dia anterior do segundo turno das eleições presidenciais e descumpre resolução do Tribunal Super [1]. O cidadão é o jornalista Luan Araújo que, ao sair de um chá de bebê de um amigo, se deparou com Zambelli e seus seguranças [2]. De acordo com Araújo, Zambelli estava tentando convencer um recepcionista de bar a votar no candidato a governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para o governo de São Paulo. A perseguição começa após um conflito verbal entre Luan Araújo e um amigo e o grupo de Zambelli [3]. Em vídeo, postado em suas redes sociais, a deputada diz ter sido hostilizada por ‘militantes de Lula’ e que ‘usaram um negro’ para atacá-la [4]. Segundo Zambelli, ela teria sido empurrada, cuspida e xingada por ‘vários homens’, e alega ter apontado o revólver na intenção de deter o sujeito até a chegada de policiais militares [5]. Em outro vídeo, editado e compartilhado por Zambelli, Araújo e um amigo aparecem xingando os bolsonaristas e exaltando Lula [6]. No entanto, filmagens, gravadas por transeuntes, revelam que Zambelli tenta agredir Araújo pelas costas após discutir com deputada, porém a deputada se desequilibra e cai no chão, contrariando a alegação de que teria sido empurrada [7]. Após se levantar, Zambelli e seus seguranças começam a perseguir Araújo pelas ruas. Durante a perseguição, Zambelli dispara sua arma: ‘atirei para o alto’. Araújo então tenta se abrigar dentro de um bar, onde é encurralado por Zambelli e seguranças. Em outro vídeo, a deputada entra no bar apontando sua arma para Araújo, pedindo que ele deite no chão e peça desculpas. O incidente tem fim quando Araújo deixa a cena e registra queixa em uma delegacia em São Paulo contra a parlamentar por ameaça e racismo [8]. O ato acontece um dia antes do segundo turno das votações para a presidência da República, integrantes da campanha de Bolsonaro afirmam que o ato de Zambelli é de responsabilidade exclusiva da deputada [9]. A deputada descumpre resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proibe o porte de armas por colecionadores, atiradores e caçadores (CACs) no dia das eleições, assim como nas 24 horas que antecedem e nas 24 horas seguintes ao dia votação [10]. Segundo Alexandre de Moraes, ministro do TSE, ‘principalmente pela aglomeração de pessoas, se justifica esse ‘habeas corpus’ preventivo. Eleições pacíficas são a essência da democracia’ [11]. No entanto, Zambelli diz ter descumprido conscientemente a ordem ‘resolução é ilegal, e ordens ilegais não se cumprem. Eu conscientemente estava ignorando a resolução e continuarei ignorando a resolução do senhor Alexandre de Moraes, porque ele não é legislador.’ [12]. Reeleita e a segunda deputada federal mais votada de São Paulo em 2022, Zambelli é considerada uma das principais figuras bolsonaristas no Legislativo que defende a pauta armamentista, sendo autora de projetos que facilitam a posse de armas e apoiadora do Pró-Armas, principal lobby do setor no país [13]. A deputada também ficou conhecida pelo negacionismo na pandemia e por incentivar as pessoas a não se vacinarem [veja aqui] [veja aqui].

29 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Polícia Rodoviária Federal realiza operações que prejudica o transporte de eleitores, descumprindo ordem do Tribunal Superior Eleitoral

Tema(s)
Conflito de poderes, Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) para em blitze pelo menos 610 ônibus fazendo transporte de eleitores no dia da votação do segundo turno [1]. A ação da PRF descumpre ordem do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), publicada no dia anterior, que proibia que a corporação realizasse qualquer operação relacionada ao transporte público de eleitores, sob pena do comentimento dos crimes de desobediência e crime eleitoral [2]. Diante do descumprimento da decisão, Alexandre de Moraes, ministro do TSE, intima o diretor da PRF, Silvinei Vasques, a interromper imediatamente as ações de fiscalização, sob pena de multa de R$100 mil por hora, além do afastamento da função e prisão [3]. Na decisão, Moraes também pede que Vasques explique as razões das operações policiais em desrespeito à proibição determinada pelo ministro no dia anterior [4]. Na mesma data, Vasques comparece ao TSE para prestar depoimento e afirma que as abordagens foram realizadas de acordo com o Código de Trânsito Nacional [5]. Após o depoimento, Moraes diz em entrevista que ‘não houve prejuízo aos eleitores no seu exercício do direito de voto’ [6]. Levantamento realizado pela imprensa mostra que o total de abordagens feita pela PRF na data da realização do 2º turno da eleição presidencial é mais do que o dobro em comparação ao 1º turno [7] e que cerca da metade delas ocorreu na região Nordeste, região em que o ex-presidente Lula, adversário do presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, tem votação expressiva [8]. Vale lembrar que, no dia anterior, Vasques postou em suas redes sociais pedido de votos para Bolsonaro [9]. Relembre-se também que o presidente foi responsável por diversos atos contra as eleições, inclusive quanto à credibilidade desta [veja aqui][veja aqui][veja aqui][veja aqui], chegando a ameaçar fazer uso das Forças Armadas [veja aqui].

Leia mais informações sobre a realização de operações da PRF durante o segundo turno das eleições presidenciais

30 out 2022
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro não reconhece publicamente vitória de Lula no segundo turno das eleições

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente da República, Jair Bolsonaro, completa um dia sem qualquer manifestação sobre a sua derrota e respectiva vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais [1]. Nesta data, Bolsonaro não teve compromissos oficiais divulgados, embora tenha realizado despachos tanto do Palácio da Alvora, como do Palácio do Planalto [2]. Vale mencionar a existência de uma tradição em que os candidatos derrotados reconhecem, ao vitorioso e por declaração pública, a vitória de seu adversário político [3]. Apesar disso, Lula, candidato vitorioso, afirmou, em discurso após o resultado das eleições, não ter recebido qualquer contato de Jair Bolsonaro: ‘em qualquer lugar do mundo, o presidente derrotado já teria ligado para mim reconhecendo a derrota. Ele, até agora, não ligou, não sei se vai ligar e não sei se vai reconhecer’ [4]. Mencione-se que líderes mundiais reconheceram a vitória de Lula logo após a divulgação do resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por exemplo: Joe Biden (Estados Unidos), Rishi Sunak (Reino Unido), Alberto Fernández (Argentina), Vladimir Putin (Rússia), Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal), Olaf Scholz (Alemanha) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) [5]. diversas autoridades públicas brasileiras também reconhecem a vitória de Lula, dentre eles o vice-presidente da República, Hamilton Mourão [6], e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) [7]. As dificuldades impostas por Bolsonaro à transição de governo, dentre elas a proibição do presidente de que comandantes da Forças Armadas tratem com interlocutores de Lula sobre transição e sobre nomes para substituí-los [8], leva o Tribunal de Contas da União (TCU) a montar comitê para acompanhar o processo de transição de governos [9]. Em 1/11, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin, afirma que ‘o presidente da República utilizou o verbo acabar no passado. Ele disse ‘acabou’. Portanto, olhar para frente’, sugerindo que Bolsonaro haveria aceitado a derrota para Lula [10]. Após a derrota Bolsonaro registra poucos compromissos oficiais e faz raras manifestações públicas [veja aqui]. Relembre-se que Bolsonaro foi responsável por diversos atos contra as eleições, inclusive quanto à credibilidade desta [veja aqui][veja aqui][veja aqui][veja aqui], chegando a ameaçar fazer uso das Forças Armadas [veja aqui].

Leia mais sobre a relação entre os atos de Bolsonaro e as manifestações antidemocráticas

31 out 2022
Mês Filtros