Ministério da Economia (ME), do governo Bolsonaro, edita três portarias – nos dias 3, 5 e 8 de outubro, respectivamente – que retiram cerca de R$1,2 bilhão do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) [1]. A medida retira os recursos do MCTI, que podem ser remanejados para os ministérios da Economia, do Desenvolvimento Regional e do Trabalho e Previdência [2]. Questionado pela imprensa, a Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento, órgão vinculado ao ME, responsável pela edição das portarias, justificou que o orçamento do FNDCT em 2022 é maior do que em 2021 e “dado esse aumento do orçamento do fundo em relação ao ano anterior, presume-se que não deve haver interrupções nas pesquisas financiadas por ele” [3]. O Fundo apoia financeiramente programas e projetos prioritários de desenvolvimento científico e tecnológico nacionais e tem como fontes principais de receita os incentivos fiscais, empréstimos de instituições financeiras, contribuições e doações de entidades públicas e privadas [4]. O governo tentou realizar, no final de agosto, por medida provisória [5], cortes no orçamento do Fundo ao manejar a dotação prevista para a ciência para outras despesas, como as emendas do relator, conhecidas por compor o ‘orçamento secreto’ [veja aqui]. A medida provisória, que tentou retirar cerca de R$2,5 bilhões do Fundo, ficou conhecida como ‘MP anticiência’ e foi contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) [6] antes de ser derrubada pelo Congresso [7]. As portarias do ME realizam, na prática, a medida vetada pelo Congresso em agosto: a ampliação do orçamento do governo às custas da redução dos recursos destinados à ciência e à inovação tecnológica [8]. Em reação, organizações da sociedade civil e entidades científicas se manifestaram contra os cortes [9]. A Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (Ictp.br) publica nota argumentando a respeito dos danos que as portarias causam à ciência brasileira e alerta ‘restaram, por enquanto, apenas R$ 600 milhões, valor absolutamente insuficiente para honrar todos os compromissos, inclusive com vários editais públicos lançados, alguns até com resultados já publicados e divulgados’ [10]. A nota, assinada por outras organizações, conclui: ‘A sociedade brasileira poderá testemunhar o maior desvio de um governo em seus compromissos com a Ciência’ [11]. Vale lembrar que em 2022, o governo realizou diversos bloqueios das verbas da educação, como os feitos em maio [veja aqui], em outubro[veja aqui] e o mais recente, que resultou no atraso das bolsas, em novembro [veja aqui]. A política fiscal do governo Bolsonaro resultou na gestão que mais cortou no orçamento da educação e da ciência em vinte anos [veja aqui].
Leia nota da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento na íntegra e veja análise sobre os impactos na sociedade dos cortes na ciência e tecnologia
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.