A Epicovid-2019 [1], primeiro estudo brasileiro responsável por investigar o número de infectados pelo novo coronavírus, tem sua continuidade ameaçada em razão do desinteresse demonstrado pelo Ministério da Saúde [2]. A pesquisa havia sido encomendada pela gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, sendo conduzida pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e financiada pelo Ministério da Saúde [3]. De acordo com os dados levantados pelo estudo, o número de infectados deve ser sete vezes maior em comparação ao registrado em estatísticas oficiais [veja aqui] [4]. A diferença se deve ao método adotado para a contagem, pois os dados oficiais só contam casos confirmados, enquanto a epicovid-2019 verifica a existência de anticorpos para a doença – presente mesmo em assintomáticos [5]. Em 15/07, o Ministério Público ingressa com ação solicitando que o Ministério da Saúde mantenha a pesquisa Epicovid-19, que já custou R$ 12 milhões à União [6]. Em 21/07, o Ministério encerra o financiamento da pesquisa e informa que dará continuidade aos estudos na área, mas ainda não definiu qual estudo será financiado [7]. Para o reitor da UFPel, Pedro Hallal, esse é um dos maiores estudos do mundo e será um ‘mico histórico’ interromper a pesquisa [8]. Com a interrupção, a Universidade divulga nota comunicando que estão em busca de novo financiamento [9] e, em 05/08, anuncia que a pesquisa será retomada com financiamento privado [10]. Vale lembrar que, em maio, membros da equipe da epicovid-2019 foram detidos e agredidos pela polícia e impedidos de realizar o estudo em 40 municípios [veja aqui]. Em 22/02/21, Hallal, ex-reitor da UFPel, publica artigo científico em revista internacional demonstrando os ataques à ciência brasileira e à má gestão da pandemia de covid-19 pelo governo Bolsonaro [11].
Leia sobre a abrangência do estudo da epicovid-2019 e o método adotado para a sua realização, e como a pandemia afeta a produção científica nas universidades do país.