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A aplicação da Lei de Segurança Nacional

Investigações por crimes contra a honra presidencial e ameaças à ordem pública pautam o uso recente da lei

Curadoria por Marina Slhessarenko Barreto Publicado em 04/11/2020
  • "Lei de Segurança Nacional"
  • Curadoria por Marina Slhessarenko Barreto
  • Publicado em 04/11/2020

Embora elaborada na ditadura militar, a Lei de Segurança Nacional (LSN) continua em vigor na ordem constitucional e vem sendo invocada ao longo dos anos. Mesmo com dúvidas sobre o alcance de sua recepção pela nova ordem constitucional e a existência de diversos projetos de lei sobre a matéria no Congresso Nacional, ainda não houve julgamento específico a esse respeito no Supremo Tribunal Federal, o que ocorreu com outras leis do período militar

No governo Bolsonaro, houve aumento expressivo de sua invocação, tanto no campo do discurso quanto no âmbito persecutório, isto é, na abertura de investigações e inquéritos policiais pelos Ministérios de Estado e Procuradoria-Geral da República. Só no primeiro ano de governo o número de inquéritos policiais instaurados com base na Lei de Segurança Nacional superou a casa das duas dezenas, fato inédito desde o ano 2000. E, em apenas cinco meses de governo em 2020, 15 novos inquéritos foram abertos, segundo a Agência de dados “Fiquem Sabendo“.

O que esses dados revelam? Se olharmos para quem invoca a lei, contra quem ela é invocada e por quê, o cenário que se forma é relativamente complexo e indica a convivência de concepções bastante diferentes sobre a abrangência legal, com usos e alvos muito diferentes entre si. 

Em primeiro lugar, diversos são os atores que a mobilizaram nesses últimos tempos, entre o presidente da República, o Procurador-Geral da República e Ministros de Estado, até atores da sociedade civil. É importante perceber que nem sempre esses atores a invocam já com vistas à efetiva instauração de inquéritos. O atual presidente, por exemplo, já defendeu que o ex-presidente Lula, ao chamá-lo de “miliciano” em 2019, poderia ser alvo da LSN, bem como o ex-ministro Sérgio Moro, por ter supostamente vazado relatórios sigilosos à imprensa. Só no primeiro caso houve instauração de inquérito, mas subsequente arquivamento. 

Em segundo lugar, os alvos também são bastante divergentes entre si. São contemplados diversos membros da sociedade civil, mas também atores estatais, como ministro do STF, deputados e funcionários públicos. Quanto aos civis endereçados, chama atenção a mira em dissidentes do governo, o que pode indicar estratégia de dissuasão à oposição, como também já ocorreu no período ditatorial brasileiro. Recentemente, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional aventou a possibilidade de ação contra uma associação de defesa de direitos indígenas por crime pautado na LSN, e o Ministério da Justiça solicitou instauração de inquéritos contra um cartunista e dois jornalistas, em razão de charge e coluna de jornal que supostamente afetariam a honra do presidente da República.

Seria incompleto dizer, contudo, que apenas opositores do governo são alvos da LSN. Na verdade, manifestantes favoráveis ao presidente também fazem parte desse rol e têm sido investigados, por exemplo, por perturbar a “ordem política e social”. Foram abertos inquéritos com base na lei e decretadas prisões temporárias contra manifestantes nos atos antidemocráticos de abril de 2020, no acampamento armado conhecido como “300 do Brasil” e nos ataques com fogos de artifício ao STF, por exemplo. À parte esses atores civis, deputados federais da base do governo, servidores federais e o ministro Gilmar Mendes também foram mirados. 

A LSN vem sendo mobilizada de maneira intensa e díspar nesses últimos meses. Atores políticos e da sociedade civil recorrem a ela contra opositores do governo e figuras que poderiam perturbar a “segurança nacional” em um sentido amplo e indeterminado. Tanto o lado que pende à ruptura institucional quanto o que preza pela manutenção da ordem democrática clamam pela LSN, o que aponta para seu caráter relevante.

Confira abaixo os casos aqui mencionados e outros relevantes de sua invocação.

 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Federal

STF instaura inquérito para apurar ameaças e fake news contra o próprio tribunal

Tema(s)
Conflito de poderes
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, instaura inquérito para apurar ameaças, ataques e veiculações de notícias falsas (fake news) contra os ministros da Corte, com tramitação em sigilo [1]. A abertura é realizada por conta própria do STF, sem pedido por parte do Ministério Público (MP) ou Polícia Federal (PF) – que são da praxe processual [2], o que gera questionamento de sua constitucionalidade pela Rede Sustentabilidade [3]. Desde a instauração do inquérito, que já foi prorrogado diversas vezes [4], inúmeras medidas que constrangem as liberdades dos investigados já foram tomadas, como buscas e apreensões – inclusive pautadas na Lei de Segurança Nacional [5] -, quebras de sigilo, suspensão de contas em redes sociais e realização de depoimentos [6]. A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifesta pelo arquivamento do inquérito [7], alegando falta de delimitação do objeto da investigação e dos investigados e incompatibilidade com o sistema penal acusatório, já que o próprio STF acusa e julga os fatos [8]. O pedido de arquivamento é rejeitado pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes [9]. Os argumentos mobilizados pela PGR também são apontados por especialistas do campo penal que criticam o inquérito pela amplitude de seu objeto [10], restrição à liberdade de expressão na medida em que desestimularia o debate público a criticar a atuação dos ministros e da Suprema Corte [11], e violação aos princípios do contraditório e ampla defesa, já que o sigilo do inquérito impossibilitaria que os advogados dos investigados tenham acesso às informações essenciais do processo [12]. Ao mesmo tempo, com a escalada de incerteza e violência institucional por conta de diversos protestos em favor do fechamento do STF e do Congresso Nacional – inclusive incentivados pelo próprio presidente da República [veja aqui] – a Rede Sustentabilidade altera sua posição e requer a extinção de seu pedido [13]. Nesse contexto, são mobilizados atos em favor do STF e do Congresso [14] e especialistas também apontam a importância dessas instituições para a democracia [15] [16]. Em junho de 2020, o STF decide pela legalidade do inquérito e sua prorrogação [veja aqui].

Leia análises sobre possíveis vícios de forma e conteúdo do inquérito das fake news, os variados usos do inquérito, os riscos trazidos para a liberdade de expressão, os efeitos dos bloqueios de aliados do governo nas redes sociais, e como o STF mudou sua própria opinião acerca do inquérito ao longo do tempo.

14 mar 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro ameaça aplicar Lei de Segurança Nacional contra discurso de Lula

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao site ‘O Antagonista’, afirma que os discursos do ex-presidente Lula após deixar a prisão podem vir a ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN) [1]. Nas palavras de Bolsonaro, ‘Temos uma Lei de Segurança Nacional que está aí para ser usada’ [2]. Editada na época da Ditadura Militar, a LSN prescreve crimes considerados contra a ordem política e social [3]. As declarações do presidente fazem referência a dois discursos de Lula no começo de novembro [4], focados na convocação da militância e em repúdio à Lava Jato, à Rede Globo, ao Ministro Sérgio Moro, à política econômica de Guedes e ao governo Bolsonaro e sua gestão ‘de milicianos’ [5]. Após a entrevista, Bolsonaro é criticado por especialistas, que afirmam não haver fundamentos jurídicos para o enquadramento [6]. Cerca de uma semana depois, Lula faz novo discurso ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) [7], ato que motiva o requerimento do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, para abertura de inquérito criminal para investigar o ex-presidente [veja aqui].

Leia as análises sobre a Lei de Segurança Nacional, sua aplicação hoje e como ela tem sido mobilizado pelo atual governo

11 nov 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Justiça requer abertura de inquérito para apurar calúnia do ex-presidente Lula ao presidente Bolsonaro

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Após discurso do ex-presidente Lula ao Movimento dos Atingidos por Barragens [1], em que afirma que haveria um miliciano no governo, responsável pela morte de Marielle Franco, violência contra pobres, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e mentiras contra ele, o Ministro da Justiça Sérgio Moro requer abertura de inquérito [2] para investigá-lo por calúnia. O caso ganha repercussão porque, após Lula ter sido ouvido pela Polícia Federal (PF) em 19/02/2020 [3], a instituição declarou descartada possibilidade de enquadramento das condutas na Lei de Segurança Nacional (LSN) [4]. Em 11/11/2019, porém, Bolsonaro afirmou que o discurso de Lula poderia ser enquadrado na LSN [veja aqui]. Com isso, espalha-se rumor de que Moro teria procurado enquadrar a conduta do ex-presidente na LSN [5], o que foi até ratificado pelo site do Ministério da Justiça e, depois, desmentido [6]. A defesa de Lula contesta o Ministério [7] e apresenta imagem do inquérito da PF em que se investiga o enquadramento da conduta do ex-presidente com base na LSN [8]. Em reação, juristas se manifestam contrariamente ao uso da LSN, considerada um dos resquícios da ditadura militar [9]. Em 21/05/2020 o inquérito é arquivado [10] sob justificativa de que as declarações de Lula não ameaçam a integridade nacional e o presidente [11]. Levantamento via pedido de Lei de Acesso à Informação [12] indica aumento do uso da LSN durante o governo Bolsonaro [13].

Leia a análise sobre o que é a Lei de Segurança Nacional e entrevista sobre sua aplicação hoje.

22 nov 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Sob primeiro ano do governo Bolsonaro, número de investigações sobre violações à Lei de Segurança Nacional bate recorde

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação apontam número recorde na utilização da Lei de Segurança Nacional (LSN) no ano de 2019, com abertura de 28 investigações para apurar supostos crimes cometidos contra a legislação [1]. A LSN foi criada durante a ditadura militar, listando crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social e serviu para perseguir opositores do regime [2]. Vigente até hoje, ela havia sido usada em poucas situações desde a redemocratização do país [3], observando-se, nos últimos três anos, 19 investigações abertas em 2018, 5 em 2017 e 7 em 2016 [4]. Especialistas apontam que os artigos da lei são subjetivos, o que facilita a utilização em larga escala [5], inclusive servindo para ‘intimidações políticas’ [6]. Apesar da lei ter origem em um regime de exceção, em novembro deste ano, Bolsonaro afirmou que a lei ‘está aí para ser usada’ [7] e indicou que o discurso contrário ao governo do ex-presidente Lula poderia ser enquadrado na LSN [veja aqui], havendo posterior abertura de inquérito criminal para investigá-lo após pedido do ministro da Justiça, Sergio Moro [veja aqui]. Em 2020, o uso da LSN deve bater novo recorde [8], já tendo servido para instaurar 15 inquéritos no 1º semestre [9], dentre eles, um que investiga chargista e jornalista que publicaram cartum crítico ao governo [veja aqui].

Leia as análises sobre o que é a Lei de Segurança Nacional, como ela vem sendo usada contra opositores do governo, como ela representa uma herança da ditadura e as indagações apontadas em parecer que podem levar ao seu questionamento junto ao Supremo Tribunal Federal.

31 dez 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Deputado aciona PGR contra a companhia de teatro

Tema(s)
Cultura, Liberdade Artística, Posicionamento político

Construção de inimigos

O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) aciona a Procuradoria Geral da República (PGR) para que seja aberto inquérito que investigue a peça ‘Precisamos Matar o Presidente’ da Companhia Blabonga de teatro por crime de incitação à violência contra o presidente [1]. De acordo com o deputado, a peça foi construída por ‘ódio ao presidente’, incita violência, prega o homicídio do chefe da nação e seu conteúdo pode ‘gestar atos criminosos em mentes vitimadas por ideologias’ [2]. Nas redes sociais o secretário especial da Cultura, Mário Frias, afirma que os integrantes do grupo ‘não são artistas, são bandidos’ e o secretário nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, escreve que a obra é ‘o tipo de peça que uma elite militante e doentia agora desesperada com dinheiro público promove nas últimas décadas’ [3]. O grupo teatral recebe diversos xingamentos e até ameaças de morte [4]. O diretor da peça, Davi Porto, chama o ato do deputado de censura prévia e afirma que as declarações dos secretários deveriam ‘representar toda a nação e não a seus interesses obscuros ou a um determinado grupo’ [5]. Ainda, o diretor afirma que o título da peça é ‘baseado no desejo de uma das personagens’ [6], que não faz referência direta ao presidente Jair Bolsonaro e que o termo ‘presidente’ pode se referir a um chefe de qualquer instituição ou ser uma metáfora [7]. Vale lembrar que outras duas peças de teatro foram canceladas, a ‘Caranguejo Overdrive’ [veja aqui] e a obra infantil ‘Abrazo’ [veja aqui], ambas por seu conteúdo político. Ainda, houve casos em que manifestações críticas ao presidente foram enquadradas na Lei de Segurança Nacional, como de colunista que escreveu artigo sobre a utilidade da morte do presidente [veja aqui] e o da drag queen que segurava a escultura da cabeça decapitada de Bolsonaro [veja aqui].

Leia a análise sobre como a política de investimento na cultura do governo federal afeta as produções teatrais.

01 mar 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro participa de ato pró-intervenção militar em crítica a outros poderes

Tema(s)
Conflito de poderes, Distanciamento social
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

No Dia do Exército, Bolsonaro participa de ato em defesa à intervenção militar em Brasília e gera aglomeração em frente ao Quartel-General do Exército [1]. Palavras de ordem exaltando-no, pedindo a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso são entoadas por manifestantes [2] e há agressão a jornalistas em duas cidades [3]. O presidente diz não querer negociar medidas de isolamento social dos Estados [4] e é depois criticado por sua atuação, vista como crime de responsabilidade e atentado à saúde pública por especialistas em direito e atores políticos [5]. No dia seguinte, o procurador-geral da República (PGR) pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigar atos pró-intervenção militar com base na Lei de Segurança Nacional, sem, no entanto, mencionar a presença de Bolsonaro em tais manifestações, o que é prontamente autorizado pelo Ministro Alexandre de Moraes [6]. Um dia depois, grupo de advogados solicita abertura de investigação ao STF contra o presidente em razão de sua adesão ao ato [7] e recusa de revelar resultados de exames de covid-19 [veja aqui]. Em 23/04, o Ministério Público de Contas pede apuração frente ao Tribunal de Contas da União sobre eventual uso de recursos públicos nos atos pró-intervenção militar e na manutenção do chamado ‘gabinete do ódio’ [8]. Após apuração durante segundo semestre de 2020, a Polícia Federal (PF) envia ao STF e a PGR relatório que afirma não encontrar indícios de crimes [9]. A PGR analisa se solicitará novas medidas de investigação à PF [10]. Em 09/04, Moraes decide prorrogar a investigação por 90 dias [11]. Em 04/06 a PGR pede ao STF o arquivamento do inquérito [12], o que intensifica a crise entre ele e Alexandre de Morares, Ministro do STF [13]. Em 01/07/21, Moraes arquiva o referido inquérito, mas abre nova investigação para apurar a existência de ‘organização criminosa digital’ com a ‘nítida finalidade de atentar contra a democracia e o Estado de Direito’ [14]. O presidente já havia participado de outros atos durante a pandemia [veja aqui] e agressões nesses atos a jornalistas se repetiram [veja aqui].

Leia as análises sobre o comportamento do presidente em comparação a outros líderes no mundo, as implicações de sua ida ao protesto, o enquadramento de manifestantes na Lei de Segurança Nacional e duas reportagens sobre os fatos – em inglês.

19 abr 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Diante de depoimento de Ex-Ministro Sérgio Moro, Bolsonaro justifica querer a superintendência do RJ por ser ‘seu estado’

Tema(s)
Administração, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

Após seu pedido de demissão, [veja aqui], em 2 de maio o ex-ministro Sergio Moro comparece à Polícia Federal de Curitiba para prestar depoimento [1] em investigação que apura se o Presidente tentou interferir na PF [veja aqui]. No dia, o Presidente Jair Bolsonaro o chama de ‘Judas’ e afirma que ninguém daria um golpe em seu governo [2]. A defesa do ex-juiz federal abriu mão do sigilo sobre o depoimento [3]. Segundo Moro depôs, o presidente teria afirmado querer apenas a superintendência da PF no Rio de Janeiro [veja aqui]; ainda, o ex-ministro diz que Bolsonaro teria dito em reunião com o primeiro escalão do governo, que foi gravada, querer interferir em todos os ministérios, além de tratar sobre a superintendência da PF do RJ [4]. Em 5 de maio, Bolsonaro acusa Moro de vazar informações sigilosas à imprensa, o que poderia resultar em enquadramento conforme a Lei de Segurança Nacional; também afirma que jamais pediu dados sobre inquéritos e que o RJ é ‘seu estado’ [5]. No mesmo dia, o STF requer que o governo apresente cópias das reuniões citadas por Moro [6], decisão da qual a Adovcacia Geral da União recorre [7]. Em 8 de maio, a Advocacia Geral da União entrega o vídeo ao STF. Um dia depois, o ministro Celso de Mello libera a gravação para a PGR, a defesa de Moro e a PF [8] [veja aqui]. Em 19/05 diretor-executivo da Polícia Federal presta depoimento sugerindo que a mudança no comando no Rio estava definida por Alexandre Ramagem e Bolsonaro [9].

Leia reportagem sobre Bolsonaro e a Polícia Federal do Rio de Janeiro e análise sobre o depoimento de Moro.

05 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Eduardo Bolsonaro diz que ruptura institucional é questão de ‘quando’ e não ‘se’ e sugere atuação executiva contra o STF

Tema(s)
Forças Armadas
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente, defende ‘medida energética’ por Jair Bolsonaro. A declaração é dada em entrevista ao canal ‘Terça Livre’, onde Eduardo também afirma que não é questão de ‘se’ haverá um ‘momento de ruptura’, e sim de ‘quando’ isso ocorrerá [1]. As falas se dão em contexto de críticas às decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Celso de Mello no processo sobre fake news . O dono do canal onde a fala foi proferida, Allan dos Santos, é um dos alvos da operação [2]. Em 28/05, Eduardo afirma em outra entrevista que seria ‘natural’ se a população recorresse às Forças Armadas (FAs) caso se sentisse insatisfeita com o Congresso e o STF [3]. Citando o jurista Ives Gandra, que defende intervenção militar com base no artigo 142 da Constituição Federal [4] (que foi alvo de outros embates no governo [veja aqui]), Eduardo afirma ainda que as FAs teriam um ‘poder moderador’ [5]. No mesmo dia, Jair Bolsonaro divulga em suas redes ‘live’ com Gandra para publicizar o artigo [6]. Celso de Mello envia em 29/05 para o procurador-geral da República notícia-crime contra o deputado federal por crime presente na Lei de Segurança Nacional [7], , e em 01/07 o órgão inicia apurações preliminares [8]. O presidente da Câmara dos Deputados afirma que os militares são responsáveis e ‘sabem o seu papel’ [9]; a oposição ao governo no Senado pede medidas da Casa contra as declarações e possibilidade de um golpe [10].

Leia as análises sobre a inexistência de intervenção militar constitucional, o artigo 142 da Constituição Federal, o texto de Ives Gandra, sua gênese e parecer da OAB sobre o artigo.

27 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Saúde recomenda omitir dados sobre escassez de insumos contra a covid-19 em reunião

Tema(s)
Informação, Saúde, Transparência
Medidas de emergência
Flexibilização de controle

Ata de reunião do Comitê de Operações de Emergência (COE) do Ministério da Saúde [1], composto não só por técnicos do ministério, mas também representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dentre outros órgãos, revela orientação para que não sejam divulgadas informações sobre falta de insumos e medicamentos à imprensa [2]. Apuração posterior da imprensa revela que, segundo a ata, há 267 insumos com risco de desabastecimento, muitos dos quais seriam importados e, portanto, deveriam ser discutidas medidas junto à Anvisa para a contenção do problema; a ordem para a não divulgação de informações, porém, não é atribuída a alguém em específico por meio da ata [3]. O evento se dá em contexto da interinidade de general da ativa no ministério, Eduardo Pazuello [veja aqui], subsequente ameaça de aplicação da Lei de Segurança Nacional caso haja vazamento de informações sobre seu gabinete [veja aqui] e perda de protagonismo do ministério no fornecimento de equipamentos para enfrentamento da covid-19 [veja aqui].

29 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Estadual

Deputado de São Paulo cria ‘gabinete do ódio’

Tema(s)
Informação, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
São Paulo

O Ministério Público de São Paulo (MP SP) abre inquérito civil para averiguar suposto ‘gabinete do ódio’ contra o deputado estadual Douglas Garcia (PSL) e Edson Salomão, seu chefe de gabinete e presidente do Instituto Conservador [1]. A investigação busca apurar se, durante o horário do expediente na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e com uso de recursos públicos, houve manifestação de ódio contra figuras públicas, divulgação de postagens do Instituto Conservador e incentivo a coleta de assinaturas para a formação do partido Aliança pelo Brasil (do presidente da República Jair Bolsonaro) [2]. Em 01/06, Garcia pede que enviem dados de pessoas que se autodenominam ‘antifascistas’ para seu endereço de e-mail e no dia seguinte grava vídeo com suposto dossiê [3], em contexto de protestos desses grupos contra o governo [veja aqui]. Com o vazamento de uma lista com os dados de cerca de 900 pessoas (cidadão comuns classificados como antifascistas) muitos atribuem ao deputado sua confecção e vazamento dos dados [4]. O MP SP irá investigar se houve uso da administração pública para a elaboração do dossiê [5] e deputadas do PSOL, partido da oposição ao PSL, pedem a cassação de Garcia [6]. O deputado nega que tenha elaborado o dossiê e afirmar ter entregue as informações à polícia [7]. Posteriormente, liga-se servidores do gabinete de Garcia à ataques de figuras como a parlamentar Joice Hasselman, vista como opositora à setores do governo Bolsonaro, além de instituições como o Supremo Tribunal Federal [8]. Em agosto, Garcia é condenado pela justiça paulista a pagar indenização de R$ 20 mil por conta do dossiê [9], e posteriormente ele afirma que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado federal, teria entregado cópia do dossiê para a Embaixada dos EUA [10]. Na sequência, Eduardo se torna réu de ação no STF, sob justificativa de que a entrega de cópia do dossiê viola a Lei de Segurança Nacional [11]. Em julho, ação sigilosa do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) monitora servidores antifascistas e repassa informações a outros órgãos do governo [veja aqui], e o STF, acionado sobre a ação, proíbe a elaboração de dossiês pelo MJSP [12].

Leia análises sobre o que é o antifascismo, o papel de Garcia no inquérito de fake news e comunicado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

01 jun 2020
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