Presidente Jair Bolsonaro nomeia, através de decreto [1], segundo colocado em lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário para a reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) [2]. O professor Paulo Vargas é nomeado novo reitor, após ter recebido 16 dos 58 votos do conselho. A primeira colocada obteve 26 votos, e outro candidato compartilhou o segundo lugar com Vargas, também com 16 votos [3]. Desde o governo Lula existia a tradição de o presidente da República nomear o primeiro colocado da lista tríplice, em atendimento à autonomia universitária [4] [veja aqui]. Vargas recebeu a notícia de sua nomeação com surpresa, já que esperava que a primeira colocada fosse nomeada: ‘foi uma notícia inesperada a da minha nomeação, em lugar do nome de Ethel, como seria óbvio e natural esperar’ [5]. Ethel, a primeira colocada na lista do conselho universitário e detentora de 67,5% dos votos da consulta realizada à comunidade acadêmica da instituição, seria a primeira mulher a assumir a reitoria da UFES [6]. Entidades sindicais [7], a Associação dos Docentes e o Diretório Estudantil da UFES criticaram a nomeação de Bolsonaro e demonstraram indignação com o desrespeito da vontade acadêmica [8]. Duas ações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) questionam as nomeações feitas por Bolsonaro e demandam que o Supremo fixe a obrigatoriedade das nomeações se aterem ao primeiro nome das listas tríplices: uma apresentada pelo Partido Verde (PV) [9] e outra pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) [10]. Na primeira das ações, os ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski já se posicionaram a favor da autonomia universitária [11]. Outros exemplos em que Bolsonaro nomeou segundos e terceiros colocados nas listas tríplices para reitorias das universidades federais aconteceram no Ceará [veja aqui], no Triângulo Mineiro [veja aqui], nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri [veja aqui], no Rio Grande do Sul [veja aqui] e no Piauí [veja aqui]. No fim de 2019, Bolsonaro editou Medida Provisória (MP) que alterou o processo de escolha dos reitores [veja aqui], e em 2020 outra MP possibilitou o ministro da Educação nomear reitores temporários durante a pandemia [veja aqui].
Leia análises sobre as intervenções de Bolsonaro nas universidades federais, sobre a atuação do Ministério Público na defesa da autonomia universitária, sobre outros ataques ao ensino superior brasileiro, e veja relatório de pesquisa que aponta as atuais condições da liberdade acadêmica no Brasil – em inglês.