O Exército Brasileiro, por meio de uma carta endereçada à editora-chefe da Revista Época, exige ‘imediata e explícita retratação’ de publicação jornalística [1]. Ela crítica coluna de opinião que afirma que as ações do governo Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no combate ao coronavírus fazem com que o Exército seja cúmplice de um massacre [2]. A carta assinada pelo General de Divisão Richard Fernandez Nunes, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, afirma que ‘a argumentação apresentada pelo articulista revela ignorância histórica e irresponsabilidade, não compatíveis com o exercício da atividade jornalística’ e chama o artigo veiculado na revista de ‘panfleto tendencioso e inconsequente’ [3]. Em resposta, a revista Época destaca os erros e omissões de Bolsonaro e de Pazuello na luta contra a pandemia, mas diz que o texto publicado reflete apenas o pensamento de seu autor, não podendo ser atribuída a culpa dessa má condução às Forças Armadas [4]. Além disso, a revista afirma que a publicação do artigo demonstra apenas o seu apreço pelo debate democrático e pela liberdade de expressão [5]. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) solidariza-se ao signatário do artigo, bem como à revista que o publicou, e ressalta que a carta de tom intimidatório representa uma ameaça à liberdade de expressão e ao direito à crítica [6]. A manifestação do Exército assemelha-se ao pedido de esclarecimento criminal contra o jornal Folha de São Paulo, ocorrido em julho de 2020 [veja aqui]. A tentativa de intimidar jornalistas tem ocorrido com frequência no governo Bolsonaro: recentemente, o ministro da Justiça André Mendonça afirmou que irá pedir a abertura de inquérito policial contra jornalistas [veja aqui]; foram abertos inquéritos com base na Lei de Segurança Nacional contra publicação de charges críticas ao presidente [veja aqui].
Leia análise sobre a ‘tentação autoritária’ dos militares na sua relação com a imprensa