Ao menos 20 estados do país anunciam medidas mais restritivas para o combate a pandemia da covid-19, como a restrição de circulação em vias públicas, limitação de funcionamento de atividades econômicas e fechamento de serviços não essenciais [1]. Dentre eles, 09 estados – Mato Grosso do Sul, Roraima, Pará, Piauí, Paraíba, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e São Paulo – decretam toque de recolher, ou seja, proibição de que pessoas permaneçam nas ruas após determinado horário [2]. O estado de Mato Grosso e a cidade do Rio de Janeiro também preveem a aplicação de multa em caso de descumprimento das medidas impostas por parte dos cidadãos [3]. E em 04 estados – Amapá, Sergipe, Maranhão e Bahia – são aplicadas restrições à venda de bebidas alcóolicas [4]. Além disso, cinco cidades – 04 delas no Ceará e uma em São Paulo – já decretaram o lockdown, isto é, a restrição mais rígida de circulação de pessoas, que só podem sair do confinamento por motivos emergenciais [5] [6]. O anúncio das medidas de restrição acontece uma semana após 14 governadores terem enviado carta ao presidente da República para que tome providências junto a organismos internacionais para ampliar a aquisição de vacinas contra covid-19 [7], após já terem, no mês passado, solicitado ao Ministério da Saúde uniformizar medidas contra a covid-19, o que não foi acatado [veja aqui]. Apesar da tendência geral, 03 estados – Rio de Janeiro, Tocantins e Alagoas – não adotam medidas coordenadas, deixando municípios desamparados [8]. Uma semana depois, o governador de São Paulo decreta em 645 municípios o ‘modo de emergência’ de 15/03 até 30/03, com restrições ainda mais rígidas às já aplicadas [9]. Na mesma semana, o governador do Rio de Janeiro baixa decreto com restrição das atividades econômicas e circulação de pessoas pelo período de uma semana [10]; e em 23/03 o prefeito carioca estipula até sanção de prisão para quem descumprir as restrições [11]. Apesar das medidas adotadas no começo de março, ao final do mês o país registra 312.299 óbitos pela doença, com recordes consecutivos de mortes diárias e 67 dias seguidos de média móvel acima da marca de mil mortes [12]. Ao mesmo tempo, ao final de março a cidade paulista de Araraquara que adota o lockdown desde 21/02 não registra nenhuma morte por covid-19 [13]. No início da pandemia, em abril e maio de 2020, diversos estados – Maranhão, Pará, Amapá, Tocantins, Ceará e Pernambuco – adotaram o lockdown [veja aqui] [veja aqui]. A medida mais restritiva de confinamento é amplamente rechaçada pelo presidente da República [veja aqui] [veja aqui] e por outros ministros do governo federal [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Ao passo que regiões adotam medidas de isolamento social, outras investem em tratamentos ineficazes e ações flexíveis de combate a pandemia da covid-19 [14]. Uberlândia (MG), é uma dessas cidades que se firma em ideais negacionistas para lidar com a escalada de casos, se tornando um exemplo a não ser seguido [15]. O prefeito Odelmo Leão (PP), aliado de Bolsonaro, aposta em distribuição gratuita de medicamentos incapazes de combater a doença e medidas de isolamento maleáveis, em meio a um sistema de saúde colapsado [16]. No dia 04 de março, Jair Bolsonaro visita Uberlândia, promove aglomerações e ressalta o seu apoio ao uso de medicamentos ineficazes, enquanto faltam leitos de UTI e enfermaria nos hospitais da cidade [17].
Leia análise sobre a utilização do lockdown como freio a novas variantes de covid-19 e entrevista com prefeito que adotou a medida mais restritiva.