Ministério da Saúde (MS) rejeita pedido de governadores e secretários da Saúde para uniformizar medidas contra covid-19 a nível nacional [1] [2]. Governadores mencionam a taxa de ocupação de leitos, que ultrapassa 70%, e temores com falta de remédio [3]; da mesma forma, o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) emite nota sugerindo toque de recolher nacional das 20h às 6h, medidas de fechamento de atividades econômicas, como bares e restaurantes, de locais de aglomeração pública como praias, aeroportos e até do transporte estadual, além da adoção de lockdown (medida de maior restrição) para locais cuja ocupação dos leitos hospitalares ultrapasse 85% [4]. A despeito da ausência de resposta do MS, pelo menos 20 estados anunciam na mesma semana medidas mais restritivas para o combate à pandemia [veja aqui]. Além disso, funcionários do MS já admitiram à imprensa que reconhecem a necessidade da adoção de medidas mais restritivas, mas que ‘Jair Bolsonaro não deixa’ [5]. Dois dias antes, inclusive, o presidente – que reiteradamente afirma que ‘faz sua parte’ no combate ao vírus [veja aqui] – fez postagem em suas redes sociais e nas redes de comunicação oficiais da União divulgando uma lista com os valores repassados pelo governo federal as demais unidades federação, publicação que é rechaçada em carta assinada por 16 governadores, os quais lembram que o repasse de dinheiro da União para os estados é ‘uma obrigação constitucional’ e que o montante enviado para área da saúde foi mínimo [6]. Em 04/03, governadores de 14 estados enviam carta a Bolsonaro para que busque auxílio de organismos internacionais na aquisição de vacinas [7]. O presidente não responde a carta, mas no mesmo dia faz declaração pública para apoiadores em Uberlândia (MG), afirmando que quem pede compra de vacina é ‘idiota’ e ironiza ‘só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] pra vender no mundo’ [8] [veja aqui]. Duas semanas após a primeira recusa, governadores oficiam novamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando que ele e o governo federal editem medidas mais restritivas de locomoção para a população brasileira e uma lei que regulamente a compra de vacinas pelas unidades da federação e pelos municípios [9]. Em janeiro, Pazuello cancelou reunião sobre vacinação com governadores [veja aqui] e os responsabilizou pelo atraso na entrega de vacinas aos estados [veja aqui]. Ao final do mês, ocorre a quarta troca de ministro da Saúde [veja aqui], mas o novo ministro, o médico Marcelo Queiroga, também se declara contrário à adoção de um lockdown nacional [10]. No mesmo dia das declarações de Queiroga o país registra 315.268 óbitos pela doença e picos inéditos na média de mortes, superando 2.000 vidas perdidas por dia [11].
Leia análises sobre divergências entre governadores na adoção de medidas para o combate da covid-19, sobre a situação dos leitos hospitalares no país e entrevista com cientistas políticas sobre a postura negacionista do presidente e seus interesses eleitorais.