Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Estadual

Desembargador do TJ-SP determina sigilo sobre licitação de obra do tribunal para evitar questionamentos

Tema(s)
Administração, Transparência
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
São Paulo

Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determina sigilo de processo sobre licitação para construção de nova sede do próprio tribunal [1]. Em nota publicizada pelo desembargador Ferraz de Arruda, o sigilo do processo é estipulado ‘considerando que a sua publicidade poderia comprometer o andamento procedimental’ e gerar motivos para ‘interpretações e eventuais pré-julgamentos que não serão apropriados para se alcançar uma decisão serena e equilibrada’ [2]. De acordo com a assessoria de imprensa do TJ-SP, a decisão pelo sigilo ocorre após o presidente do tribunal, Manoel Calças, manifestar a intenção de suspender a licitação [3]. A licitação é estimada em R$ 25,3 milhões, sendo uma das etapas para a construção da nova sede, com orçamento total estimado em R$ 1,2 bilhão [4]. A decisão de Arruda, que impossibilita inclusive que outros desembargadores do próprio órgão tenham acesso aos documentos da licitação, é criticada por outra desembargadora, por se tratar de tema de interesse público que envolve o erário estatal [5]. Ela afirma que o segredo de justiça é aplicável para casos que envolvem ofensas pessoais, ataques à honra subjetiva e cujas vítimas sejam pessoas vulneráveis, e não para o caso da licitação que trata de informações do Estado [6]. Especialista aponta que uma licitação pode ter partes em sigilo, mas que exigem justificativas plausíveis, e avalia a decisão de Arruda como ‘aberta’ [7]. Além da controvérsia sobre o sigilio do processo, o local almejado para a construção da nova sede se localiza em Zona Especial de Interesse Social (Zeis), em terreno reservado para a criação de moradias populares [8]. A prefeitura de São Paulo autorizou a licença licitatória ao considerar que a nova sede se enquadra como obra de ‘infraestrutura urbana’, com permissão via decreto [9]. Em novembro, Calças publica decisão que revoga a licitação ao considerar ser mais ‘prudente’ que a nova gestão do tribunal, com eleições para a presidência marcadas para o início de dezembro, possa decidir sobre a continuidade ou não do projeto [10]. Em razão da revogação, o processo que estava em sigilo é arquivado [11]. Em outra oportunidade, presidente do TJ-SP baixou portaria responsável por declarar informações do tribunal como ‘ativo’ a ser protegido, diminuindo transparência de informações [veja aqui].

Confira artigo acadêmico que explica o sistema licitatório a partir da Lei de Licitações

03 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro elogia PM que mata em serviço

Tema(s)
Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

O presidente Jair Bolsonaro, em campanha de lançamento do pacote anticrime [veja aqui], elogia policial militar que mata em serviço [1]. Segundo o presidente, a alta quantidade de autos de resistência – expressão utilizada para se referir a investigações de mortes provocadas por ação com uso da força policial – seria ‘sinal de que ele trabalha, que ele faz sua parte e não morreu’ [2]. Em relatório produzido pelo Monitor da Violência, é registrado aumento da letalidade policial de 2018 para 2019 – 120 mortes a mais no primeiro semestre de 2019 em comparação ao mesmo período no ano anterior [3]. Vale lembrar que essa não é a primeira vez que Bolsonaro defende o uso da força policial e minimiza seus efeitos decorrentes [veja aqui]. Além disso, o governo federal tem adotado uma série de medidas para flexibilização do Estatuto do Desarmamento [veja aqui] e das regras para responsabilização de agentes de segurança pública, como o projeto que visa a ampliação do conceito de excludente de ilicitude em operações de Garantia da Lei da Ordem [veja aqui]. Em dezembro, o presidente assina o indulto de natal que perdoa policiais condenados por crimes culposos [veja aqui]. No ano seguinte, o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos retira os dados sobre violência policial de relatório de denúncias alegando “inconsistências” [veja aqui].

Leia análises sobre os efeitos dos discursos do presidente sobre a violência policial, o funcionamento de órgãos de fiscalização e os dados de 2019 sobre mortes decorrentes de intervenções policiais.

04 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Cidadania exonera 19 servidores de departamento da Fundação Nacional de Artes (Funarte), e posteriormente recua da decisão

Tema(s)
Administração, Cultura
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

O ministro da Cidadania, Osmar Terra, por meio de Portaria [1], exonera 19 servidores, incluindo cargos comissionados, do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte), comandada pelo diretor Roberto Alvim [2] e vinculada, até então, ao Ministério da Cidadania [3]. Alvim, em um primeiro momento, afirma que não foi consultado a respeito das exonerações de todo o seu departamento e declara que isso provoca a paralisação dos trabalhos [4]. Depois de conversar com o assessor de Osmar Terra, diz ter havido um ‘ruído de comunicação’ e afirma que as alterações são uma oportunidade de reformular a equipe e colocar pessoas ‘leais ao governo’ [5]. Presidente da Associação de Servidores da Funarte demonstra preocupação e afirma que a medida vai contra a autonomia e princípios fundamentais da administração pública [6] e a Funarte declara que pretende estudar cada exoneração a fim de avaliar se irá solicitar anulação de algumas [7]. Em reação à medida, 11 deputados entram com uma representação no Ministério Público Federal para instaurar investigação sobre a legalidade das exonerações e se as ações configuram perseguição política e ideológica [8]. Em seguida (09/10), Osmar Terra revoga todas as exonerações [9]. Vale notar que Bolsonaro dá declaração em que afirma estar preparando mudanças na Funarte e na Agência Nacional de Cinema (Ancine) [veja aqui] e o governo exonera presidente da Funarte que criticou as ofensas do diretor do órgão à atriz Fernanda Montenegro [veja aqui], nomeando no lugar um defensor do conservadorismo na arte [veja aqui].

Leia a análise sobre as estratégias do governo Bolsonaro vistas como censura a produções culturais.

04 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ao ser indagado sobre a localização do ex-assessor de seu filho, Fabrício Queiroz, Bolsonaro responde em tom ofensivo: ‘tá com a sua mãe’

Tema(s)
Informação
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro, em conversa amistosa com apoiadores que o saudavam no portão do Palácio da Alvorada, é questionado por um ciclista sobre a localização de Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho e senador Flávio Bolsonaro [1]. Demonstrando irritação, o presidente responde duas vezes em tom ofensivo: ‘tá com a sua mãe’ [2]. Queiroz é acusado de esquema de corrupção com o filho do presidente [veja aqui] e, apesar de não ser considerado foragido pela Justiça, ficou desaparecido por meses e aumentou as desconfianças sobre os fatos investigados [3]. Em outras oportunidades, jornalistas questionam Bolsonaro sobre Queiroz e ele reage com tom agressivo e discriminatório, afirmando que repórter teria ‘uma cara de homossexual terrível’ [veja aqui] e que teria vontade de ‘encher’ a boca de repórter ‘com porrada’ [veja aqui]. Além disso, o presidente compartilha em rede social notícia falsa sobre intenção de jornalista de ‘arruinar’ sua família por cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Queiroz [veja aqui].

Leia a análise sobre as suspeitas de ligação entre Fabrício Queiroz e contas bancárias de integrantes da família Bolsonaro.

05 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro diz que vetar obras culturais não é censura e sim ‘preservar valores cristãos’

Tema(s)
Cultura, Liberdade Artística
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro, ao participar por videoconferência do 3º Simpósio Nacional Conservador, em Ribeirão Preto, nega acusações de que estaria promovendo censura nas produções culturais, mas declara que tomará medidas para preservar os ‘valores cristãos’ e da família na área [1]. Na ocasião, afirma que está preparando mudanças na Agência Nacional de Cinema (Ancine) e na Fundação Nacional de Artes (Funarte) e critica o fato de que tem ‘muita gente empregada lá em cargos de comissão desde o primeiro ano do governo Lula’ [2]. As declarações são dadas um dia depois da Caixa Cultural criar novas regras para avaliação de projetos culturais que inclui a verificação de posicionamento político de artistas [veja aqui]. De acordo com funcionários da Caixa de diversos estados, as mudanças permitem perseguição aberta a obras e autores [3]. No mês anterior, a instituição havia cancelado peça infantil com temática da repressão e ditadura [veja aqui]. Os episódios se alinham a um contexto de interferências na área cultural. Bolsonaro transfere conselho de cinema a ministério com gabinete no Palácio do Planalto e ameaça extinguir Ancine se não puder filtrar as produções [veja aqui], suspende edital federal para televisão pela presença de produções com temática LGBT [veja aqui] e diz que veda produções com temática LGBT na Ancine [veja aqui]. Além disso, o governo exonera presidente da Funarte que criticou as ofensas do diretor do órgão à atriz Fernanda Montenegro [veja aqui] e nomeia defensor do conservadorismo na arte [veja aqui].

Leia a análise sobre as estratégias do governo Bolsonaro vistas como censura a produções culturais.

05 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Institutos ambientais se unem para acelerar o procedimento de licenciamento ambiental que afeta Unidades de Conservação

Tema(s)
Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) em conjunto, através de Instrução Normativa [1], determinam prazos para acelerar procedimentos relacionados ao licenciamento ambiental que afetam Unidades de Conservação [2]. Alguns dos procedimentos e regras já existiam nas normas do Conama, no entanto, os prazos relativamente curtos, são novidade. Outra alteração instituída é a determinação ao Instituto Chico Mendes de somente apresentar opiniões sobre as licenças prévias. Em casos que houver requerimento de Licença de Instalação ou Licença de Operação, o Instituto será somente informado, sem que realize análises sobre o caso [3]. A nova normativa diminui a burocracia entre os institutos, favorecendo empresas interessadas em projetos de infraestrutura no país, incluindo aqueles que afetem Unidades de Conservação. Assim como as normativas que permitem a pesca esportiva [veja aqui] e que incentivam eventos em Unidades de Conservação , essa é mais uma medida que mitiga a proteção à essas áreas e segue a política de Bolsonaro de reduzir as áreas de conservação [4]. A pauta de afrouxo à fiscalização ambiental é cara ao governo; em 2020, o ministro da pasta inclusive afirma que o governo deveria se aproveitar do momento da pandemia para aprovar a flexibilização da regulação ambiental [veja aqui].

Leia as análises sobre a relação do governo Bolsonaro com as Unidades de Conservação e sobre a intenção do ministro do Meio ambiente em explora-las.

06 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro levanta suspeita de conspiração midiática para derrubar seu governo e critica a cobertura da imprensa

Tema(s)
Imprensa
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro critica a cobertura da imprensa, acusando-a de estar ‘o tempo todo mentindo, distorcendo, difamando’ e levanta suspeita de conspiração por parte dos veículos de comunicação para derrubá-lo, mas declara que vai ser difícil por ter ‘coro duro’ [1]. Na ocasião, chama o jornal Folha de S. Paulo de ‘esgoto’ por ter veiculado reportagem sobre possível desvio de recursos em sua campanha [2] – repetindo crítica feita no dia anterior sobre a matéria. O ataque também é direcionado ao Correio Braziliense por ter publicado informação de que o presidente pretende encaminhar projeto de reforma administrativa que prevê acabar com a estabilidade dos servidores [3], afirmando ser uma ‘patifaria’ [4]. No mesmo dia, Bolsonaro ainda critica o jornal O Globo, afirmando ser falsa a reportagem [5] que afirmava que o governo queria o fim do monopólio da Caixa como operador do FGTS e alega que o interesse da notícia foi colocar o governo contra as regiões Norte e Nordeste [6]. Em 2020, Bolsonaro declara haver conspiração contra a sua gestão por parte de Rodrigo Maia [veja aqui] e diz estar convencido de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ministro do Supremo Tribunal Federal e o governador João Doria (SP), aliaram-se para derrubá-lo [veja aqui]. Ele promove outros ataques à imprensa ao cancelar a assinatura com a Folha de São Paulo [veja aqui], excluí-la do edital do pregão eletrônico para contratação de assinaturas [veja aqui], publicar vídeo atacando emissora [veja aqui] e não renovar assinaturas de jornais impressos ao Palácio do Planalto [veja aqui]. No total, foram 116 ataques em 2019 [veja aqui] e 245 no primeiro semestre de 2020 [veja aqui].

Ouça sobre os ataques do presidente ao trabalho da imprensa.

07 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Ministro do Meio Ambiente nomeia Superintendente do Ibama na Paraíba sem qualificações técnicas ao cargo

Tema(s)
Administração, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
Paraíba

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nomeia Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) do Estado da Paraíba, sem as qualificações técnicas necessárias ao cargo [1]. A nomeação ocorre após a exoneração da maioria dos superintendentes regionais do Instituto [veja aqui]. Para o cargo em comissão, foi escolhido Arthur Martins Marques Navarro [2]. Segundo as exigências do decreto [3] que define critérios e o perfil para ocupação de cargos em comissão desse tipo, o nomeado deve possuir, ao menos, experiência profissional de três anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ao qual será indicado, ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança por dois anos ou possuir título de especialista, mestre ou doutor também nessa área [4]. Navarro é advogado pós-graduado em Direito e Processo Eleitoral e Mestre em Gestão Pública [5]. Sua atuação profissional relatada centra-se nas áreas de direito constitucional, eleitoral, tributário e administrativo e não há nenhuma alusão, no currículo, à experiência com temas ambientais [6]. Para o Ministério Público Federal (MPF), há indícios de que esta nomeação, entre outras, desrespeita as exigências legais de experiência profissional e acadêmica [7]. Navarro é exonerado em abril de 2021 e passa a ocupar a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) na Paraíba [8] [9]. Diversos comandos das superintendências do Ibama nos estados são ocupados ocupados por profissionais sem as devidas qualificações técnicas, a exemplo do Amapá [veja aqui], Amazonas [veja aqui], Bahia [red id=1349], Ceará [veja aqui], Espírito Santo [veja aqui], Maranhão , Pará [veja aqui] e Santa Catarina [veja aqui].

Leia análises sobre o Ibama e os conflitos em torno do órgão.

07 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Educação critica jornalista e promove ataques em redes sociais

Tema(s)
Gênero e orientação sexual, Imprensa
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Após publicação de notícia que critica o Ministro da Educação [1], Abraham Weintraub, a jornalista Isabela Palhares é alvo de mensagens violentas e ofensas misóginas em suas redes sociais [2]. Em postagem, Weintraub afirma que está ‘surpreendido pelo péssimo ‘jornalismo’ de Isabela Palhares, que infelizmente ‘trabalha’ no Estadão’ [3], utilizando termos entre aspas para ironizar e desqualificar o trabalho da jornalista [4]. Entidades jornalísticas publicam nota conjunta, na qual repudiam o ato do Ministro, afirmam que ‘não se trata de crítica, mas de ataque e tentativa de intimidação’ e que, ao identificar a jornalista, ‘deu instrumentos para que seus simpatizantes (…) a assediassem’ [5]. Por fim, as entidades ressaltam que os ataques pessoais a jornalistas promovem ambientes antidemocráticos e ‘agridem o direito à informação’ [6]. Em outras oportunidades, Weintraub chamou jornalista de ‘boca de esgoto’ [7] e se referiu a veículo de imprensa como ‘jornalismo prostituído’ [8]. No governo Bolsonaro são constantes os ataques a jornalistas, inclusive de caráter misógino, como os casos de Patrícia Campos Mello [veja aqui], Constança Rezende [veja aqui], Vera Magalhães [veja aqui] e Míriam Leitão [veja aqui].

Leia a análise sobre como os ataques à liberdade de expressão representam ameaça à Democracia e o balanço dos ataques de Bolsonaro à imprensa

07 out 2019
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Ministro do Meio Ambiente nomeia superintendente do Ibama no Pará sem qualificações técnicas ao cargo

Tema(s)
Meio Ambiente, Militarização
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
Pará

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nomeia Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) do Estado do Pará sem as qualificações técnicas necessárias ao cargo [1]. A nomeação ocorre após a exoneração da maioria dos superintendentes regionais do Instituto [veja aqui]. Para o cargo em comissão, foi escolhido o militar Walter Mendes Magalhães Júnior [2]. Segundo as exigências infralegais [3] para ocupação de cargos em comissão desse tipo, o nomeado deve possuir, ao menos, experiência profissional de três anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ao qual será indicado, ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança por dois anos ou possuir título de especialista, mestre ou doutor também nessa área [4]. Magalhães é policial militar de São Paulo aposentado e foi comandante da ROTA [5]. Não existem informação públicas de que ele já atuou na área ambiental [6]. Em fevereiro de 2020, já há 04 meses no cargo, Magalhães assina portaria que, na prática, elimina a necessidade de autorização prévia do Ibama para exportação de madeira do estado, regra estipulada em norma anterior do órgão [7]. Tal norma é modificada semanas depois pelo presidente do órgão, Eduardo Bim, que estendeu a flexibilização iniciada por Magalhães para os outros estados [veja aqui]. Em investigação realizada pela autoridade ambiental americana por conta de apreensão de carga de madeira exportada ilegalmente do Brasil [veja aqui], representante de madeireira afirma que ‘havia colocado alguém no escritório do Ibama em Belém para sentar lá todos os dias e garantir que as remessas fossem liberadas’ [8]. Em abril de 2020, o ex-PM é exonerado da superindentedência do Pará, que passa a ser ocupada por outro militar [veja aqui]. No mesmo mês, Magalhães é nomeado por Salles como Coordenador-Geral de Fiscalização Ambiental [9], cargo que exige as mesmas qualificações listadas acima [10]. Ele subsistui o fiscal Renê Oliveira, exonerado junto com outros servidores do Ibama após transmissão de reportagem sobre operação contra garimpo em terras indígenas [11] [veja aqui]. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), há indícios de que as duas nomeações de Magalhães, entre outras, desrespeitaram as exigências legais de experiência profissional e acadêmica [12]. Durante o governo Bolsonaro, centenas de cargos comissionados têm sido ocupados por militares [veja aqui]. Somente em órgãos socioambientais, o governo Bolsonaro contava, até outubro de 2020, com 99 militares em cargos comissionados [veja aqui]. As investigações das autoridades americanas foram o ponta pé inicial para a deflagração da operação Akuanduba pela Polícia Federal (PF), em maio de 2021 [13]. Além de ver indícios do cometimento de crimes por Bim e Salles [veja aqui], a PF afirma que Magalhães cometeu os crimes de facilitação de contrabando, advocacia administrativa, concessão de autorização em desacordo com as normas ambientais e obstáculo à fiscalização ambiental pelo poder público [14].

Ouça podcast que explica como funciona a exportação de madeira da Amazônia.

08 out 2019
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