O assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, faz gesto interpretado como sinal de grupo supremacista branco durante sessão do Senado [1]. O líder da oposição na casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerou como inaceitável a atitude de Filipe e pediu que ele fosse conduzido para fora do Palácio do Planalto, mas o pedido não é acatado [2]. Na sequência, Martins se manifesta em suas redes sociais, diz ser judeu, e afirma que por isso não faria um gesto supremacista branco; por fim, diz que estaria apenas ajeitando a lapela do seu terno [3]. Em reação, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, classifica a conduta como inapropriada e afirma que Filipe será investigado pela Polícia Legislativa [4]. O Senado aprova o ‘voto de censura’ contra o assessor especial, o voto não gera punição mas é uma maneira simbolica de repreender publicamente o gesto associado a supremacistas brancos [5]. O Museu do Holocausto repudia o gesto feito por Martins e o classifica como um símbolo de ódio [6]. Já o presidente Jair Bolsonaro diz aos seus apoiadores que irá exonerar Filipe após sua atitude, afimação até o momento não concretizada [7]. Em outras oportunidades, Bolsonaro citou bordão fascista durante live [veja aqui] e afirmou ser possível ‘perdoar’ o holocausto [veja aqui] ; ademais, o ex-secretário especial da Cultura veiculou vídeo sobre prêmio artístico com referências nazistas, fato que culminou em sua posterior demissão após repercussão negativa da situação [veja aqui].
Leia análises sobre como o sinal de ‘OK’ é utilizado por movimentos supremacistas e sobre como a expansão neonazista no país é preocupante.
Congresso Nacional (CN) aprova a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com o menor orçamento do século XXI para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) [1]. O texto aprovado apresenta redução de quase 40% da verba destinada à pasta nos últimos dois anos (período da gestão de Jair Bolsonaro no governo federal) [2]. O valor total de R$1,73 bilhão destinado pela LOA 2021 ao MMA representa queda de 27% em relação ao orçamento de 2020 e de 34% em relação ao de 2019 [3]. Segundo relatório elaborado pelo Observatório do Clima [4], o orçamento destinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos estatal estratégico na preservação do meio ambiente, foi reduzido 61,5% em comparação ao valor autorizado pela LOA de 2018, último ano em que o governo federal não foi conduzido pela gestão Bolsonaro [5]. Já o orçamento destinado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é reduzido em 10% em relação a 2020 [6]; o órgão é responsável pelo monitoramento via satélite do desmatamento amazônico e sofre investidas constantes do governo federal – Bolsonaro questionou reiteradamente os dados sobre desmatamento apresentados pelo instituto [veja aqui]. A LOA de 2021 é aprovada no CN com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal [7]. Desde o fim de 2020, organizações da sociedade civil criticaram o projeto e apontaram a necessidade de aumento orçamentário do MMA para a preservação ambiental [8], o que não foi atendido pelo CN [9]. Uma das diretoras do Greenpeace no Brasil afirma que ‘o orçamento aprovado não reflete os desafios que o país enfrenta e passa longe de garantir os recursos necessários para a proteção dos nossos biomas e para a saúde pública’ [10]. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara convida o ministro do MMA, Ricardo Salles, a prestar esclarecimentos sobre a redução orçamentária da pasta, a despeito do aumento nos níveis de desmatamento amazônico observado nos últimos anos [11]. Entre 2019 e 2020, o MMA fez cortes orçamentários no Ibama e ICMBio em mais de R$100 milhões [veja aqui], reduziu 95% do orçamento da Política Nacional sobre a Mudança do Clima [veja aqui], e Salles anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal por ‘falta de verbas’ [veja aqui].
Veja o relatório completo do Observatório do Clima e comparativos da atuação de órgãos de proteção ambiental nos últimos anos.
O Procurador-geral da República, Augusto Aras, retira da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) caso onde assessor de seu gabinete é investigado e o encaminha ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), segundo apuração divulgada pela imprensa nesta data [1].A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal (MPF), Elizeta de Paiva Ramos, afirma em ofício enviado ao CNMP que a mudança é uma manobra que pode ser utilizada ‘para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas’ de Aras, que poderia estar visando blindar seus aliados [2]. Ramos também afirma que a Corregedoria do MPF não concordou previamente com a mudança e que ela foi surpreendida pela opção de Aras [3]. O CNMP é um conselho hierarquicamente superior à Corregedoria do MPF, portanto pode eventualmente assumir investigações do segundo órgão; essa mudança, via de regra, só ocorreria se comprovado que a Corregedoria inicialmente responsável pela apuração do caso não possui independência suficiente para prosseguir com a investigação [4]. Ademais, ele é composto por representantes de diversos poderes e instituições [5] e, de acordo com apuração da imprensa, a maioria dos integrantes atuais são aliados de Aras [6]. Por outro lado, ele não possui maioria na Corregedoria do MPF – seis dos membros do órgão já assinaram ofícios criticando a falta de ação de Aras em relação a atuação do presidente Jair Bolsonaro no controle da pandemia do coronavírus [7]. O caso envolve inquérito administrativo aberto a pedido de Aras contra três investigadores que atuaram no grupo de trabalho da PGR na Operação Lava-Jato e que acabaram pedindo demissão por discordâncias com a gestão do Procurador-Geral [8]. Membros da equipe de investigação de Aras acusaram os ex-colegas por vazamento de informações à imprensa [9] sobre a delação premiada de Marcelo Odebrecht [10]. Após as acusações, um processo administrativo foi aberto pela corregedoria do MPF, que, por sua vez, passou a investigar a possibilidade do vazamento ter sido realizado por um dos auxiliares mais próximos de Aras, o procurador João Paulo Lordelo [11]. A corregedoria do MPF também solicitou informações ao chefe de defesa do gabinete de Aras, o procurador regional Alexandre Espinosa [12]. O plenário do CNMP referenda o pedido de Aras e autoriza a transferência do processo [13]. Em nota, o CNMP afirma que sua decisão de aceitar seguir com o prosseguimento do caso foi ‘estritamente jurídica e técnica’ [14]. A manobra ocorre em um contexto de mudança institucional do MPF, que na gestão de Aras encerrou as investigações baseadas no modelo de forças-tarefas [veja aqui].
Leia reportagem sobre a manobra do Procurador-Geral da Republica para proteger aliados.
Congresso Nacional (CN) corta 90% das verbas destinadas a produção do censo demográfico [1], para aprovar o projeto orçamentário de 2021, inviabilizando a realização da pesquisa [2]. O parecer final do orçamento federal, apresentado pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC), retira R$ 1,76 bilhão do Censo e destina apenas R$190,7 milhões, já autorizados, e outros R$ 50 milhões condicionados a possível aprovação de crédito suplementar pelo CN [3]. Após o anúncio do corte, a presidenta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pede exoneração do cargo [4]. Ela continuará no cargo até a transição para o novo presidente [5]. Três dias após a aprovação do corte orçamentário, o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE) protocola projeto de lei visando tornar crime de responsabilidade a não realização do Censo [6]. Especialistas afirmam que o Censo é fundamental para embasar as mais diversas políticas públicas do país, em áreas essenciais como saúde e educação [7]. O estudo também contribui com a elaboração de estratégias para combater o coronavírus, através do mapeamento de áreas mais sensíveis a covid-19 e construção de planos de vacinação [8]. Em carta aberta assinada por 55 entidades ligadas às políticas públicas de planejamento urbano, a descontinuidade de investimentos na realização do censo demográfico é considerada inaceitável em meio ao momento delicado que o país atravessa [9]. A Comissão Consultiva do Censo Demográfico assina documento pedindo a recomposição do orçamento e realização do Censo ainda em 2021, destacando também o descumprimento da Lei do Censo, que prevê a realização da pesquisa a cada dez anos [10]. O último Censo demográfico foi realizado em 2010 [11]. Em 2019, o IBGE já havia enunciado uma redução de 25% dos gastos previstos para o Censo de 2020, o qual foi adiado em razão da pandemia [veja aqui]. A ex presidenta do IBGE, Susana Guerra, que pediu demissão por não concordar com o corte no orçamento, diz que só o Censo é capaz de mensurar com precisão os impactos da crise sanitária causada pelo coronavírus [12].
Leia análise sobre os riscos da não realização do Censo demográfico.
Os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) enaltecem atitude de policial militar da Bahia que, durante episódio de surto psicótico, abriu fogo contra colegas de tropa em ponto turístico de Salvador e acabou morto [1]. No dia 28/03, o soldado Wesley Soares saiu de seu posto de serviço armado de um fuzil, dirigiu-se a ponto movimentado da cidade e passou horas atirando para cima e gritando frases como ‘não vou deixar (…) que violem a dignidade e a honra do trabalhador’ [2]. Após tentativas de negociação, ele disparou contra o pelotão que mediava a ocorrência e estes revidaram – Wesley foi baleado, chegou a ser socorrido, mas não resistiu [3]. Após o ocorrido, Kicis usa suas redes sociais para defender as ações do soldado, chamando-o de herói, e criticar o governador da Bahia: ‘morreu porque se recursou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa (…) Esse soldado é um herói (…) chega de cumprir ordem ilegal!’ horas depois, ela remove a postagem e diz que irá aguardar as investigações, reconhecendo a ‘fundamental hierarquia militar’ [4]. Zambelli faz postagem que usa a frase ‘Sempre é hora de fazer o que é certo’, de autoria de Martin Luther King para defender a atitude do soldado [5]. Eduardo Bolsonaro compartilha vídeo da situação e compara as medidas restritivas para controle da pandemia com um ‘sistema ditatorial’: ‘aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição (…) esse sistema ditatorial vai mudar (…) estão brincando de democracia achando que o povo é otário’ [6]. Outras pessoas alinhadas ao governo, como o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e o ex-deputado Roberto Jefferson também divulgaram comentários de endosso à atitude do soldado Wesley [7]. Jandira Ferghali (PCdoB-RJ), deputada da oposição, classifica as falas dos parlamentares como muito graves e fundamentadas em fatos não comprovados [8]. Essas manifestações acontecem em momento de escalada na disputa entre o governo federal e diversos governadores de estados, que se centra nas medidas de combate a pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Diante desse embate e os ataques frequentes dos apoiadores de Bolosonaro as ações dos Estados, dezesseis governadores reagem por meio de uma nota, na qual denunciam um aumento crescente de atos violentos e fake news contra a gestão estadual [9]. Vale lembrar que Kicis, Zambelli e Eduardo Bolsonaro são alvos do inquérito das fake news [veja aqui] e do inquérito que apura atos antidemocráticos [veja aqui].
Ouça sobre como o surto do polícial da Bahia foi politizado por apoiadores do Bolsonaro e leia sobre a instrumentalização das polícias pelo governo atual.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) – recém nomeada presidente da Comissão do Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados – divulga informações falsas sobre a preservação da Amazônia durante live com a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) [1] [2]. Zambelli ataca populações indígenas e originárias, declara que ‘o maior motivo do desmatamento ilegal são as pessoas que moram na Amazônia’ [3], o que é falso [4], e repete mentira já difundida pelo presidente Jair Bolsonaro em seu discurso na ONU de que ‘o índio e o caboclo’ são responsáveis pela queimadas na floresta [veja aqui]. A presidente da CMA também informa dados imprecisos sobre a preservação do bioma amazônico, dizendo que ‘85%,88% aproximadamente’ estariam preservados, o que não corresponde aos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que estima que 20% da floresta já foi desmatada e que a cobertura vegetal restante (80%) está sendo degradada por outras atividades humanas [5]. No ano anterior, o vice-presidente Hamilton Mourão também divulgou dados equivocados sobre as queimadas na Amazônia, subestimando dados oficiais do Inpe [veja aqui]. Por fim, Zambelli ataca ONGs, prática já adotada por Bolsonaro em outras ocasiões [veja aqui], e defende o presidente e o ministro do Meio Ambiente (MA), Ricardo Salles, afirmando que ambos adotariam uma política de ‘tolerância zero com o desmatamento’ [6], o que é duvidoso visto que Bolsonaro já disse que as queimadas são ‘mentira’ [veja aqui] e já afirmou existir no Brasil uma ‘psicose ambientalista’ [veja aqui]. Igualmente, o ministro do MA anunciou suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal durante a pior crise de desflorestamento em 2020 [veja aqui], já autorizou a produção em áreas de preservação ambiental permanente [veja aqui], cancelou a criação de bases de proteção florestal [veja aqui], entre outras práticas que enfraqueceram a pauta ambientalista.
Leia explicação sobre as queimadas na Amazônia e veja gráfico interativo sobre a evolução do desmatamento da floresta nos últimos 30 anos.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defende a abertura de templos religiosos e a realização de cultos [1] mesmo durante a pior fase da pandemia da covid-19 no país [2]. Segundo ele, a salvação da alma não é algo secundário e a igreja é responsável pelo bem estar físico e espiritual, pois também estamos vivendo uma guerra espiritual [3] O deputado afirma que a liberdade de culto é prevista na Constituição Federal e que um estado laico não pode restringir o funcionamento de igrejas [4]. Na mesma oportunidade [5], Eduardo critica governadores e prefeitos que, segundo ele, usam da pandemia para fechar igrejas e promover o desemprego e a fome [6]. Medidas de lockdown também são criticadas [7] e o deputado defende o tratamento precoce contra a doença [8] – que não é recomendado por entidades de saúde [9].
Especialistas argumentam que templos religiosos são locais de alto risco de contaminação [10], principalmente em um momento com altas taxas de transmissão e falência do sistema de saúde [11]. Três dias antes, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques concedeu de forma monocrática (individual) uma liminar liberando os cultos e missas presenciais [12] [veja aqui]. Em 08/04, o STF determinou que prefeitos e governadores têm autonomia para decidir sobre o assunto [13], decisão similar à de março de 2020 [veja aqui]. No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, pai do deputado, incluiu as atividades religiosas como serviço essencial [veja aqui]. Igualmente, em março de 2021, o Governador de São Paulo, João Dória, incluiu igrejas na lista de serviços essenciais no estado no contexto de adoção de medidas de combate ao coronavírus [veja aqui]. No dia seguinte a fala do filho, Jair Bolsonaro também critica as medidas de restrição aos templos religiosos [veja aqui].
Leia mais sobre os riscos de transmissão da covid-19 em templos religiosos (em inglês). Um levantamento que apontou mais de 650 casos relacionados a instalações religiosas nos EUA (em inglês), e análise sobre como uma Igreja se tornou um epicentro da doença na Coréia do Sul.
O deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ofende deputadas da Comissão Constitucional de Justiça (CCJ) ao dizer, em rede social, que ‘parece, mas não é a gaiola das loucas, são só as pessoas portadoras de vagina na CCJ sendo levadas a loucuras’ [1]. A fala do deputado gera revolta nas deputadas da Comissão e, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) informa que irá levar o caso para o Conselho de Ética da Câmara para que a fala seja considerada como crime comum [2] [3]. Em 13/04, os partidos PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB, além de 21 deputadas federais, protocola pedido de abertura de processo no Conselho de Ética, alegando que a fala do deputado foi ‘misógina’ e ‘desrespeitosa’, e pedem a cassação do mandato de Eduardo [4]. A secretaria da Mulher da Câmara também se manifesta, através de nota de repúdio, assinada pela deputada Dorinha Seabra (DEM–TO) [4] [5]. A atitude machista do deputado não é isolada – diversos membros do governo Bolsonaro já fizeram declarações no mesmo sentido [6]. Em outubro de 2019, a deputada Joice Hasselmann protocolou representação contra ele por ofensas, inclusive relacionadas à aparência [veja aqui]. A representação foi arquivada tempos depois [veja aqui]. Ainda, em março de 2021 o deputado foi condenado a indenizar jornalista Patrícia Campos Mello por ofensas relacionadas ao gênero da jornalista [7].
Leia análises sobre a misoginia na política e sobre as consequências do machismo estrutural no Brasil.
Presidente Jair Bolsonaro critica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou abertura da Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) para apurar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia da covid-19, e sugere perseguição política contra si [1]. Em 15/01/2021, 30 senadores demandaram a abertura da CPI, que dependia da instalação por parte do presidente do Senado; Rodrigo Pacheco, aliado do governo e eleito novo presidente no início de fevereiro, não deu prosseguimento ao pedido [2]. Em 08/04/2021, o ministro Luís Roberto Barroso do STF atendeu pedido liminar feito por senadores e determinou que Pacheco desse imediata abertura a CPI [3]. Após a decisão de Barroso, Bolsonaro ataca o ministro e o STF ao dizer que ‘não há dúvida de que há interferência do Supremo em todos os poderes’ [4] e que ‘falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial’, além de complementar que ‘o ministro (…) faz politicalha junto ao Senado Federal’ [5]. O presidente também afirma que a decisão seria ‘uma interferência sem cabimento no Legislativo para atingir o chefe do Executivo’ [6]. Na sequência, Barroso responde as falas de Bolsonaro: ‘na minha decisão, limitei-me a aplicar o previsto na Constituição, na linha de pacífica jurisprudência do STF’ e complementa dizendo que consultou todos os ministros da corte [7]. Já o STF emite nota afirmando esperar ‘espírito republicano’ dos demais atores políticos e que questionamentos ‘devem ser feitos nas vias recursais próprias’ [8]. Especialista aponta que o pedido de abertura da CPI atende aos critérios previstos na Constituição e que se trata de mecanismo constitucional de amparo às minoriais parlamentares, derivado do poder de fiscalização sobre a maioria parlamentar e o Executivo; além disso, outras decisões em sentido semelhante já foram tomadas pelo STF [9]. Em conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), gravada pelo senador e divulgada por ele nas redes sociais em 11/04, Bolsonaro solicita ampliação do objeto da CPI para também apurar a conduta de governadores e prefeitos, por temer a produção de ‘relatório sacana’ voltado a ‘perseguir’ somente o governo federal; o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) formaliza pedido ao Senado no sentido apontado por Bolsonaro [10]. Na mesma conversa, o presidente cobra de Kajuru a análise de pedidos de impeachment contra ministros do STF [11], e diz que se o senador não participar da investigação, teria que ‘sair na porrada com o bosta do Randolfe’ referindo-se ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de abertura da CPI [12]. Em 13/04, Pacheco cumpre a determinação do STF e anuncia a instalação da CPI, no entanto, inclui pedido para que a comissão também fiscalize o repasse de verbas federais a estados e municípios para ações de combate à pandemia [13].
Leia análises sobre como os ataques de Bolsonaro ao Supremo no caso da CPI impactam a relação institucional entre os poderes, sobre possíveis desdobramentos na arena legislativa, e ouça na íntegra a conversa entre o presidente e o senador Kajuru.
A Assembleia Legislativa de Rondônia aprova projeto de lei, de autoria do governador Marcos Rocha (sem partido), que retira proteção ambiental sobre 88% da reserva extrativista Jaci-Paraná e 50 mil hectares do Parque Estadual Guajará-Mirim [1]. O projeto expõe área de Floresta Amazônica correspondente à extensão dos municípios de São Paulo e Salvador à apropriação privada e ameaça tribos indígenas que vivem em isolamento voluntário [2]. Segundo levantamento, metade dos deputados que aprovam a lei são ligados a proprietários rurais [3]. Em 6/5, a WWF-Brasil, o Greenpeace e outras entidades ambientais enviam carta ao governador do Estado, pedindo que vete o projeto que consideram ser de ‘legalização da grilagem de florestas públicas e sua conversão em pastagens’ [4]. Em 19/5, em parecer, o Ministério Público estadual também orienta o governador a vetar da lei por violação à legislação ambiental [5]. Apesar disso, o governador Marcos Rocha sanciona o projeto em 21/5 [6]. O Ministério Público estadual ajuíza ação acusando a norma de ser inconstitucional [7]. A aprovação da lei é a maior redução na proteção ambiental já aprovada por um parlamento estadual [8] e acontece em contexto de produção de leis que estimulam grilagem de terras e desmatamento na Amazônia [veja aqui]
Ouça episódio de podcast que relaciona a preservação da Amazônia e a democracia.