Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo, Legislativo
Nível
Federal

Assessor da presidência faz gesto interpretado como supremacista durante audiência no Senado

Tema(s)
Posicionamento político, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, faz gesto interpretado como sinal de grupo supremacista branco durante sessão do Senado [1]. O líder da oposição na casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerou como inaceitável a atitude de Filipe e pediu que ele fosse conduzido para fora do Palácio do Planalto, mas o pedido não é acatado [2]. Na sequência, Martins se manifesta em suas redes sociais, diz ser judeu, e afirma que por isso não faria um gesto supremacista branco; por fim, diz que estaria apenas ajeitando a lapela do seu terno [3]. Em reação, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, classifica a conduta como inapropriada e afirma que Filipe será investigado pela Polícia Legislativa [4]. O Senado aprova o ‘voto de censura’ contra o assessor especial, o voto não gera punição mas é uma maneira simbolica de repreender publicamente o gesto associado a supremacistas brancos [5]. O Museu do Holocausto repudia o gesto feito por Martins e o classifica como um símbolo de ódio [6]. Já o presidente Jair Bolsonaro diz aos seus apoiadores que irá exonerar Filipe após sua atitude, afimação até o momento não concretizada [7]. Em outras oportunidades, Bolsonaro citou bordão fascista durante live [veja aqui] e afirmou ser possível ‘perdoar’ o holocausto [veja aqui] ; ademais, o ex-secretário especial da Cultura veiculou vídeo sobre prêmio artístico com referências nazistas, fato que culminou em sua posterior demissão após repercussão negativa da situação [veja aqui].

Leia análises sobre como o sinal de ‘OK’ é utilizado por movimentos supremacistas e sobre como a expansão neonazista no país é preocupante.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Congresso Nacional aprova menor orçamento do século para o Meio Ambiente

Tema(s)
Meio Ambiente, Orçamento
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Congresso Nacional (CN) aprova a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com o menor orçamento do século XXI para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) [1]. O texto aprovado apresenta redução de quase 40% da verba destinada à pasta nos últimos dois anos (período da gestão de Jair Bolsonaro no governo federal) [2]. O valor total de R$1,73 bilhão destinado pela LOA 2021 ao MMA representa queda de 27% em relação ao orçamento de 2020 e de 34% em relação ao de 2019 [3]. Segundo relatório elaborado pelo Observatório do Clima [4], o orçamento destinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos estatal estratégico na preservação do meio ambiente, foi reduzido 61,5% em comparação ao valor autorizado pela LOA de 2018, último ano em que o governo federal não foi conduzido pela gestão Bolsonaro [5]. Já o orçamento destinado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é reduzido em 10% em relação a 2020 [6]; o órgão é responsável pelo monitoramento via satélite do desmatamento amazônico e sofre investidas constantes do governo federal – Bolsonaro questionou reiteradamente os dados sobre desmatamento apresentados pelo instituto [veja aqui]. A LOA de 2021 é aprovada no CN com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal [7]. Desde o fim de 2020, organizações da sociedade civil criticaram o projeto e apontaram a necessidade de aumento orçamentário do MMA para a preservação ambiental [8], o que não foi atendido pelo CN [9]. Uma das diretoras do Greenpeace no Brasil afirma que ‘o orçamento aprovado não reflete os desafios que o país enfrenta e passa longe de garantir os recursos necessários para a proteção dos nossos biomas e para a saúde pública’ [10]. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara convida o ministro do MMA, Ricardo Salles, a prestar esclarecimentos sobre a redução orçamentária da pasta, a despeito do aumento nos níveis de desmatamento amazônico observado nos últimos anos [11]. Entre 2019 e 2020, o MMA fez cortes orçamentários no Ibama e ICMBio em mais de R$100 milhões [veja aqui], reduziu 95% do orçamento da Política Nacional sobre a Mudança do Clima [veja aqui], e Salles anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal por ‘falta de verbas’ [veja aqui].

Veja o relatório completo do Observatório do Clima e comparativos da atuação de órgãos de proteção ambiental nos últimos anos.

25 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

PGR dribla Corregedoria do MPF sobre processo que investiga seu assessor

Tema(s)
Administração, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

O Procurador-geral da República, Augusto Aras, retira da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) caso onde assessor de seu gabinete é investigado e o encaminha ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), segundo apuração divulgada pela imprensa nesta data [1].A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal (MPF), Elizeta de Paiva Ramos, afirma em ofício enviado ao CNMP que a mudança é uma manobra que pode ser utilizada ‘para o atendimento de expectativas pessoais ou políticas’ de Aras, que poderia estar visando blindar seus aliados [2]. Ramos também afirma que a Corregedoria do MPF não concordou previamente com a mudança e que ela foi surpreendida pela opção de Aras [3]. O CNMP é um conselho hierarquicamente superior à Corregedoria do MPF, portanto pode eventualmente assumir investigações do segundo órgão; essa mudança, via de regra, só ocorreria se comprovado que a Corregedoria inicialmente responsável pela apuração do caso não possui independência suficiente para prosseguir com a investigação [4]. Ademais, ele é composto por representantes de diversos poderes e instituições [5] e, de acordo com apuração da imprensa, a maioria dos integrantes atuais são aliados de Aras [6]. Por outro lado, ele não possui maioria na Corregedoria do MPF – seis dos membros do órgão já assinaram ofícios criticando a falta de ação de Aras em relação a atuação do presidente Jair Bolsonaro no controle da pandemia do coronavírus [7]. O caso envolve inquérito administrativo aberto a pedido de Aras contra três investigadores que atuaram no grupo de trabalho da PGR na Operação Lava-Jato e que acabaram pedindo demissão por discordâncias com a gestão do Procurador-Geral [8]. Membros da equipe de investigação de Aras acusaram os ex-colegas por vazamento de informações à imprensa [9] sobre a delação premiada de Marcelo Odebrecht [10]. Após as acusações, um processo administrativo foi aberto pela corregedoria do MPF, que, por sua vez, passou a investigar a possibilidade do vazamento ter sido realizado por um dos auxiliares mais próximos de Aras, o procurador João Paulo Lordelo [11]. A corregedoria do MPF também solicitou informações ao chefe de defesa do gabinete de Aras, o procurador regional Alexandre Espinosa [12]. O plenário do CNMP referenda o pedido de Aras e autoriza a transferência do processo [13]. Em nota, o CNMP afirma que sua decisão de aceitar seguir com o prosseguimento do caso foi ‘estritamente jurídica e técnica’ [14]. A manobra ocorre em um contexto de mudança institucional do MPF, que na gestão de Aras encerrou as investigações baseadas no modelo de forças-tarefas [veja aqui].

Leia reportagem sobre a manobra do Procurador-Geral da Republica para proteger aliados.

25 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Congresso Nacional reduz em 90% orçamento destinado ao Censo e inviabiliza sua realização

Tema(s)
Informação, Orçamento
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Congresso Nacional (CN) corta 90% das verbas destinadas a produção do censo demográfico [1], para aprovar o projeto orçamentário de 2021, inviabilizando a realização da pesquisa [2]. O parecer final do orçamento federal, apresentado pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC), retira R$ 1,76 bilhão do Censo e destina apenas R$190,7 milhões, já autorizados, e outros R$ 50 milhões condicionados a possível aprovação de crédito suplementar pelo CN [3]. Após o anúncio do corte, a presidenta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pede exoneração do cargo [4]. Ela continuará no cargo até a transição para o novo presidente [5]. Três dias após a aprovação do corte orçamentário, o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE) protocola projeto de lei visando tornar crime de responsabilidade a não realização do Censo [6]. Especialistas afirmam que o Censo é fundamental para embasar as mais diversas políticas públicas do país, em áreas essenciais como saúde e educação [7]. O estudo também contribui com a elaboração de estratégias para combater o coronavírus, através do mapeamento de áreas mais sensíveis a covid-19 e construção de planos de vacinação [8]. Em carta aberta assinada por 55 entidades ligadas às políticas públicas de planejamento urbano, a descontinuidade de investimentos na realização do censo demográfico é considerada inaceitável em meio ao momento delicado que o país atravessa [9]. A Comissão Consultiva do Censo Demográfico assina documento pedindo a recomposição do orçamento e realização do Censo ainda em 2021, destacando também o descumprimento da Lei do Censo, que prevê a realização da pesquisa a cada dez anos [10]. O último Censo demográfico foi realizado em 2010 [11]. Em 2019, o IBGE já havia enunciado uma redução de 25% dos gastos previstos para o Censo de 2020, o qual foi adiado em razão da pandemia [veja aqui]. A ex presidenta do IBGE, Susana Guerra, que pediu demissão por não concordar com o corte no orçamento, diz que só o Censo é capaz de mensurar com precisão os impactos da crise sanitária causada pelo coronavírus [12].

Leia análise sobre os riscos da não realização do Censo demográfico.

26 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo, Legislativo
Nível
Federal

Após morte de PM na Bahia, os deputados federais Bia Kicis, Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro criticam medidas de isolamento social e aumentam ofensiva contra os governadores

Tema(s)
Distanciamento social, Negacionismo, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) enaltecem atitude de policial militar da Bahia que, durante episódio de surto psicótico, abriu fogo contra colegas de tropa em ponto turístico de Salvador e acabou morto [1]. No dia 28/03, o soldado Wesley Soares saiu de seu posto de serviço armado de um fuzil, dirigiu-se a ponto movimentado da cidade e passou horas atirando para cima e gritando frases como ‘não vou deixar (…) que violem a dignidade e a honra do trabalhador’ [2]. Após tentativas de negociação, ele disparou contra o pelotão que mediava a ocorrência e estes revidaram – Wesley foi baleado, chegou a ser socorrido, mas não resistiu [3]. Após o ocorrido, Kicis usa suas redes sociais para defender as ações do soldado, chamando-o de herói, e criticar o governador da Bahia: ‘morreu porque se recursou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa (…) Esse soldado é um herói (…) chega de cumprir ordem ilegal!’ horas depois, ela remove a postagem e diz que irá aguardar as investigações, reconhecendo a ‘fundamental hierarquia militar’ [4]. Zambelli faz postagem que usa a frase ‘Sempre é hora de fazer o que é certo’, de autoria de Martin Luther King para defender a atitude do soldado [5]. Eduardo Bolsonaro compartilha vídeo da situação e compara as medidas restritivas para controle da pandemia com um ‘sistema ditatorial’: ‘aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição (…) esse sistema ditatorial vai mudar (…) estão brincando de democracia achando que o povo é otário’ [6]. Outras pessoas alinhadas ao governo, como o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e o ex-deputado Roberto Jefferson também divulgaram comentários de endosso à atitude do soldado Wesley [7]. Jandira Ferghali (PCdoB-RJ), deputada da oposição, classifica as falas dos parlamentares como muito graves e fundamentadas em fatos não comprovados [8]. Essas manifestações acontecem em momento de escalada na disputa entre o governo federal e diversos governadores de estados, que se centra nas medidas de combate a pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Diante desse embate e os ataques frequentes dos apoiadores de Bolosonaro as ações dos Estados, dezesseis governadores reagem por meio de uma nota, na qual denunciam um aumento crescente de atos violentos e fake news contra a gestão estadual [9]. Vale lembrar que Kicis, Zambelli e Eduardo Bolsonaro são alvos do inquérito das fake news [veja aqui] e do inquérito que apura atos antidemocráticos [veja aqui].

Ouça sobre como o surto do polícial da Bahia foi politizado por apoiadores do Bolsonaro e leia sobre a instrumentalização das polícias pelo governo atual.

29 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Deputada federal Carla Zambelli divulga dados falsos sobre preservação da Amazônia

Tema(s)
Informação, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) – recém nomeada presidente da Comissão do Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados – divulga informações falsas sobre a preservação da Amazônia durante live com a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) [1] [2]. Zambelli ataca populações indígenas e originárias, declara que ‘o maior motivo do desmatamento ilegal são as pessoas que moram na Amazônia’ [3], o que é falso [4], e repete mentira já difundida pelo presidente Jair Bolsonaro em seu discurso na ONU de que ‘o índio e o caboclo’ são responsáveis pela queimadas na floresta [veja aqui]. A presidente da CMA também informa dados imprecisos sobre a preservação do bioma amazônico, dizendo que ‘85%,88% aproximadamente’ estariam preservados, o que não corresponde aos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que estima que 20% da floresta já foi desmatada e que a cobertura vegetal restante (80%) está sendo degradada por outras atividades humanas [5]. No ano anterior, o vice-presidente Hamilton Mourão também divulgou dados equivocados sobre as queimadas na Amazônia, subestimando dados oficiais do Inpe [veja aqui]. Por fim, Zambelli ataca ONGs, prática já adotada por Bolsonaro em outras ocasiões [veja aqui], e defende o presidente e o ministro do Meio Ambiente (MA), Ricardo Salles, afirmando que ambos adotariam uma política de ‘tolerância zero com o desmatamento’ [6], o que é duvidoso visto que Bolsonaro já disse que as queimadas são ‘mentira’ [veja aqui] e já afirmou existir no Brasil uma ‘psicose ambientalista’ [veja aqui]. Igualmente, o ministro do MA anunciou suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal durante a pior crise de desflorestamento em 2020 [veja aqui], já autorizou a produção em áreas de preservação ambiental permanente [veja aqui], cancelou a criação de bases de proteção florestal [veja aqui], entre outras práticas que enfraqueceram a pauta ambientalista.

Leia explicação sobre as queimadas na Amazônia e veja gráfico interativo sobre a evolução do desmatamento da floresta nos últimos 30 anos.

31 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Eduardo Bolsonaro critica fechamento de templos e denuncia suposta ‘guerra espiritual’

Tema(s)
Conflito de poderes, Distanciamento social, Religião, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defende a abertura de templos religiosos e a realização de cultos [1] mesmo durante a pior fase da pandemia da covid-19 no país [2]. Segundo ele, a salvação da alma não é algo secundário e a igreja é responsável pelo bem estar físico e espiritual, pois também estamos vivendo uma guerra espiritual [3] O deputado afirma que a liberdade de culto é prevista na Constituição Federal e que um estado laico não pode restringir o funcionamento de igrejas [4]. Na mesma oportunidade [5], Eduardo critica governadores e prefeitos que, segundo ele, usam da pandemia para fechar igrejas e promover o desemprego e a fome [6]. Medidas de lockdown também são criticadas [7] e o deputado defende o tratamento precoce contra a doença [8] – que não é recomendado por entidades de saúde [9].
Especialistas argumentam que templos religiosos são locais de alto risco de contaminação [10], principalmente em um momento com altas taxas de transmissão e falência do sistema de saúde [11]. Três dias antes, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques concedeu de forma monocrática (individual) uma liminar liberando os cultos e missas presenciais [12] [veja aqui]. Em 08/04, o STF determinou que prefeitos e governadores têm autonomia para decidir sobre o assunto [13], decisão similar à de março de 2020 [veja aqui]. No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, pai do deputado, incluiu as atividades religiosas como serviço essencial [veja aqui]. Igualmente, em março de 2021, o Governador de São Paulo, João Dória, incluiu igrejas na lista de serviços essenciais no estado no contexto de adoção de medidas de combate ao coronavírus [veja aqui]. No dia seguinte a fala do filho, Jair Bolsonaro também critica as medidas de restrição aos templos religiosos [veja aqui].

Leia mais sobre os riscos de transmissão da covid-19 em templos religiosos (em inglês). Um levantamento que apontou mais de 650 casos relacionados a instalações religiosas nos EUA (em inglês), e análise sobre como uma Igreja se tornou um epicentro da doença na Coréia do Sul.

06 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Eduardo Bolsonaro xinga parlamentares mulheres

Tema(s)
Gênero e orientação sexual
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ofende deputadas da Comissão Constitucional de Justiça (CCJ) ao dizer, em rede social, que ‘parece, mas não é a gaiola das loucas, são só as pessoas portadoras de vagina na CCJ sendo levadas a loucuras’ [1]. A fala do deputado gera revolta nas deputadas da Comissão e, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) informa que irá levar o caso para o Conselho de Ética da Câmara para que a fala seja considerada como crime comum [2] [3]. Em 13/04, os partidos PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB, além de 21 deputadas federais, protocola pedido de abertura de processo no Conselho de Ética, alegando que a fala do deputado foi ‘misógina’ e ‘desrespeitosa’, e pedem a cassação do mandato de Eduardo [4]. A secretaria da Mulher da Câmara também se manifesta, através de nota de repúdio, assinada pela deputada Dorinha Seabra (DEM–TO) [4] [5]. A atitude machista do deputado não é isolada – diversos membros do governo Bolsonaro já fizeram declarações no mesmo sentido [6]. Em outubro de 2019, a deputada Joice Hasselmann protocolou representação contra ele por ofensas, inclusive relacionadas à aparência [veja aqui]. A representação foi arquivada tempos depois [veja aqui]. Ainda, em março de 2021 o deputado foi condenado a indenizar jornalista Patrícia Campos Mello por ofensas relacionadas ao gênero da jornalista [7].

Leia análises sobre a misoginia na política e sobre as consequências do machismo estrutural no Brasil.

08 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo, Legislativo
Nível
Federal

Bolsonaro critica decisão do STF que determinou abertura da CPI da covid-19 e sugere perseguição política contra si

Tema(s)
Conflito de poderes
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

Presidente Jair Bolsonaro critica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou abertura da Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) para apurar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia da covid-19, e sugere perseguição política contra si [1]. Em 15/01/2021, 30 senadores demandaram a abertura da CPI, que dependia da instalação por parte do presidente do Senado; Rodrigo Pacheco, aliado do governo e eleito novo presidente no início de fevereiro, não deu prosseguimento ao pedido [2]. Em 08/04/2021, o ministro Luís Roberto Barroso do STF atendeu pedido liminar feito por senadores e determinou que Pacheco desse imediata abertura a CPI [3]. Após a decisão de Barroso, Bolsonaro ataca o ministro e o STF ao dizer que ‘não há dúvida de que há interferência do Supremo em todos os poderes’ [4] e que ‘falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial’, além de complementar que ‘o ministro (…) faz politicalha junto ao Senado Federal’ [5]. O presidente também afirma que a decisão seria ‘uma interferência sem cabimento no Legislativo para atingir o chefe do Executivo’ [6]. Na sequência, Barroso responde as falas de Bolsonaro: ‘na minha decisão, limitei-me a aplicar o previsto na Constituição, na linha de pacífica jurisprudência do STF’ e complementa dizendo que consultou todos os ministros da corte [7]. Já o STF emite nota afirmando esperar ‘espírito republicano’ dos demais atores políticos e que questionamentos ‘devem ser feitos nas vias recursais próprias’ [8]. Especialista aponta que o pedido de abertura da CPI atende aos critérios previstos na Constituição e que se trata de mecanismo constitucional de amparo às minoriais parlamentares, derivado do poder de fiscalização sobre a maioria parlamentar e o Executivo; além disso, outras decisões em sentido semelhante já foram tomadas pelo STF [9]. Em conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), gravada pelo senador e divulgada por ele nas redes sociais em 11/04, Bolsonaro solicita ampliação do objeto da CPI para também apurar a conduta de governadores e prefeitos, por temer a produção de ‘relatório sacana’ voltado a ‘perseguir’ somente o governo federal; o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) formaliza pedido ao Senado no sentido apontado por Bolsonaro [10]. Na mesma conversa, o presidente cobra de Kajuru a análise de pedidos de impeachment contra ministros do STF [11], e diz que se o senador não participar da investigação, teria que ‘sair na porrada com o bosta do Randolfe’ referindo-se ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de abertura da CPI [12]. Em 13/04, Pacheco cumpre a determinação do STF e anuncia a instalação da CPI, no entanto, inclui pedido para que a comissão também fiscalize o repasse de verbas federais a estados e municípios para ações de combate à pandemia [13].

Leia análises sobre como os ataques de Bolsonaro ao Supremo no caso da CPI impactam a relação institucional entre os poderes, sobre possíveis desdobramentos na arena legislativa, e ouça na íntegra a conversa entre o presidente e o senador Kajuru.

08 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo, Legislativo
Nível
Estadual

Assembleia Legislativa e Governador de Rondônia aprovam lei que reduz mais de 200 mil hectares de unidades de conservação ambiental da Amazônia

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas, Regularização de Terras
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
Rondônia

A Assembleia Legislativa de Rondônia aprova projeto de lei, de autoria do governador Marcos Rocha (sem partido), que retira proteção ambiental sobre 88% da reserva extrativista Jaci-Paraná e 50 mil hectares do Parque Estadual Guajará-Mirim [1]. O projeto expõe área de Floresta Amazônica correspondente à extensão dos municípios de São Paulo e Salvador à apropriação privada e ameaça tribos indígenas que vivem em isolamento voluntário [2]. Segundo levantamento, metade dos deputados que aprovam a lei são ligados a proprietários rurais [3]. Em 6/5, a WWF-Brasil, o Greenpeace e outras entidades ambientais enviam carta ao governador do Estado, pedindo que vete o projeto que consideram ser de ‘legalização da grilagem de florestas públicas e sua conversão em pastagens’ [4]. Em 19/5, em parecer, o Ministério Público estadual também orienta o governador a vetar da lei por violação à legislação ambiental [5]. Apesar disso, o governador Marcos Rocha sanciona o projeto em 21/5 [6]. O Ministério Público estadual ajuíza ação acusando a norma de ser inconstitucional [7]. A aprovação da lei é a maior redução na proteção ambiental já aprovada por um parlamento estadual [8] e acontece em contexto de produção de leis que estimulam grilagem de terras e desmatamento na Amazônia [veja aqui]

Ouça episódio de podcast que relaciona a preservação da Amazônia e a democracia.

26 abr 2021
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