Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Aras se omite em relação aos sucessivos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral, a ministros e a tribunais e é cobrado por subprocuradores e parlamentares

Tema(s)
Conflito de poderes, Eleições
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, em nota emitida após reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Fux, omite-se em relação aos ataques do presidente Jair Bolsonaro [1]. Bolsonaro tem repetido falas golpistas [veja aqui], citado a possibilidade de atuar ‘fora das quatro linhas da Constituição’ [veja aqui], ameaçado as eleições em 2022 [veja aqui], atacado o próprio STF [veja aqui] e seus ministros, especialmente Luís Roberto Barroso, presidente do TSE [veja aqui], e Alexandre de Moraes, relator de inquérito que investiga Bolsonaro [veja aqui]. Na reunião, o PGR, que é ordinariamente responsável por pedir investigações contra o presidente, é cobrado para que cumpra seu papel institucional [2], mas sua nota se limita a afirmar que ele e Fux ‘renovaram o compromisso da manutenção de um diálogo permanente’ [3]. A omissão de Aras destoa da conduta de seus antecessores no cargo, que já se manifestaram contra o voto impresso em ações no STF [4] e provoca o lançamento de manifestor por 31 subprocuradores da República que cobram ação do PGR sobre ataques de Bolsonaro ao Judiciário [5] [veja aqui]; e, em 14/08, grupo de subprocuradores-gerais da República aposentados pede ao Conselho da PGR que investigue Aras por prevaricação [6], crime que ocorre quando um funcionário público dificulta ou falta com os deveres de seu cargo. Em 16/08, Aras pede o arquivamento de inquérito do STF sobre as declarações do presidente Bolsonaro contra as urnas eletrônicas [veja aqui] e informa a abertura de investigação preliminar, que tramita apenas internamente na PGR e não é submetida ao crivo do STF, inclusive para ser arquivada [7]. Em 18/08, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentam notícia-crime contra Aras por se omitir quanto aos ataques de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro [8]. Diante da omissão de Aras, o STF e TSE têm instaurado investigações contra o presidente sem provocação do Ministério Público, que deveria ocorrer em regra [veja aqui]. Em julho deste ano, Bolsonaro propôs a recondução de Augusto Aras ao cargo de PGR, desrespeitando a lista tríplice do MPF [veja aqui]. O PGR é responsável por investigações sensíveis ao Planalto e, apesar disso, tem conduta de alinhamento e blindagem do presidente [veja aqui], inclusive com a perseguição de opositores [veja aqui] [veja aqui]. Em junho, Aras solicitou o arquivamento do inquérito que investigava atos antidemocráticos [veja aqui].

Leia análise sobre a postura omissa do procurador-geral da República em relação às investigações contra o presidente Bolsonaro.

06 ago 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Subprocuradora-geral da República envia parecer ao Supremo Tribunal Federal em que defende Bolsonaro e questiona a eficácia do uso de máscaras contra a covid-19

Tema(s)
Negacionismo, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

A subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, em parecer [1] enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), põe em xeque a ‘eficácia da máscara de proteção como meio de prevenir a propagação do novo coronavírus’ [2]. No documento, Araújo defende o presidente da República Jair Bolsonaro e pede o arquivamento de queixas-crime apresentadas pelos partidos PT e PSOL, afirmando que Bolsonaro não cometeu crimes contra a saúde pública quando, por exemplo, deixou de usar máscara e promoveu aglomeração nas solenidades de que participou no Rio Grande do Norte, em 24/06, ocasião na qual ele também retirou a máscara de uma criança durante um evento com apoiadores [3] [veja aqui]. Araújo argumenta que ‘em relação ao uso de máscara de proteção, inexistem trabalhos científicos com alto grau de confiabilidade em torno do nível de efetividade da medida de prevenção’ [4]. A necessidade do uso de máscara, no entanto, é consenso na comunidade científica internacional e uma recomendação da Organização Mundial da Saúde como forma de evitar a transmissão do vírus e salvar vidas [5]. Infectologistas reagem ao parecer de Araújo, classificando-o como leviano [6] e um grupo de 301 pesquisadores brasileiros publica carta aberta contestando as afirmações da subprocuradora [7]. No mesmo dia, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirma que é contra a obrigatoriedade do uso de máscaras [veja aqui]. Em 18/08, a Associação Nacional dos Procuradores da República defende, em suas redes sociais, o uso de máscaras para conter a disseminação da covid-19 [8] e, no dia seguinte, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da covid-19, e Humberto Costa (PT-PE) apresentam representação contra a subprocuradora à Corregedoria Nacional do Ministério Público [9]. Juristas avaliam que o parecer de Lindora, que é servidora do Ministério Público, aproxima-se de uma peça de defesa do presidente da República, função que caberia à Advocacia-Geral da União [10]. Vale lembrar que, embora Araújo afirme não ver crime de Bolsonaro ao ignorar máscara, ela já pediu a abertura investigação contra desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo que desprezou item [11]. Esta não é a primeira vez que membros do MPF demonstram alinhamento e condescêndia com o governo federal [veja aqui], o procurador-geral da República, Augusto Aras, já pediu o arquivamento de diversos pedidos de instigação contra o presidente, tais como o inquérito que investigava atos antidemocráticos [veja aqui], a investigação sobre os cheques entregues à primeira dama [veja aqui] e a suspensão do inquérito que investiga Bolsonaro por prevaricação [veja aqui]. A subprocuradora Lindôra Araújo também foi responsável por abordagem atípica à Força Tarefa da Lava Jato, que causou demissão de procuradores da operação Lava Jato [veja aqui]. Vale lembrar que Bolsonaro tem cometido sucessivas violações às medidas sanitárias instituídas para o combate da covid-19 [veja aqui].

Leia mais sobre o parecer negacionista da PGR e sua divergência com os achados científicos acerca das máscara no combate à covid-19.

17 ago 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Em posicionamento conflitante com sua atual posição, cúpula do MPF impediu encaminhamento à Justiça Federal de pedido de prisão de Roberto Jefferson no ano passado

Tema(s)
Conflito de poderes, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

A Procuradoria Geral da República (PGR) atuou dificultar a prisão de Roberto Jefferson, presidente do PTB e aliado político do governo Bolsonaro, em dezembro do ano passado, segundo reportagem desta data [1]. O órgão estatal, independente do poder Executivo e responsável pela defesa dos interesses públicos da sociedade, usou de táticas processuais conflitantes para impedir a análise do pedido de prisão contra Roberto Jefferson pela Justiça Federal [2]. Inicialmente, o pedido de prisão solicitado pelo Ministério Público Federal, decorrente de uma investigação da Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) sobre as ameaças e ataques constantes à democracia e às instituições foi apresentado à Justiça Federal do DF, que enviou em dezembro de 2020 o caso para a sua correspondente no estado do Rio de Janeiro, onde Roberto Jefferson mora [3]. Ao ser instada a se manifestar, antes da decisão do tribunal, a PGR solicitou o envio do processo ao STF, alegando ser dele a competência do julgamento do processo [4]. O ofício enviado à Vara Federal de Três Rios (RJ) ainda continha um equívoco, ao citar que Jefferson era investigado nos inquéritos das fake news [veja aqui] e dos atos antidemocráticos – ambos em trâmite no STF – pois o político não foi citado pela corte nesta segunda investigação [5]. Entretanto, ao ser acionado pelo STF sobre o mesmo caso, já em agosto de 2021 – quando a prisão preventiva de Jefferson foi solicitada pela Polícia Federal e autoritzada pelo STF [veja aqui] – a Procuradoria argumentou que o caso deveria ser julgado pela jurisdição federal fluminense [6].

Entenda melhor sobre a função da PGR e sua atuação no governo Bolsonaro.

17 ago 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Procuradoria-Geral da República solicita arquivamento de denúncia, apresentada pela própria instituição, contra presidente da Câmara dos Deputados

Tema(s)
Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O vice-procurador-Geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que rejeite denúncia oferecida pela própria Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) [1]. A denúncia, decorrente de investigações da Operação Lava Jato, afirma que Lira haveria cometido o crime de corrupção passiva pelo recebimento de proprina no valor de R$1,6 milhão [2]. No pedido de arquivamento, a PGR alega não haver provas contra Lira e lamenta lhe ter causado ‘ônus processual superlativo’ [3]. Em 09/2020, o ministro Edson Fachin, relator do processo no STF, negou-se a acolher um pedido de mesmo conteúdo, sob fundamento de que, de acordo com a legislação, o Ministério Público não pode desistir de ações penais [4]. O pedido de arquivamento de ação oriunda da Lava Jato corrobora o desmantalamento da operação pela PGR, que foi responsável pelo pedido de demissão de procuradores [veja aqui] e, por consequência, do encerramento das forças-tarefa de São Paulo [veja aqui], do Paraná e do Rio de Janeiro [veja aqui]. Vale lembrar que, recentemente, Lira tem se mostrado alinhado com o presidente da República, Jair Bolsonaro [veja aqui][veja aqui], inclusive deixando de decidir acerca do prosseguimento dos mais de 130 pedidos de impeachment do presidente [veja aqui]. Bolsonaro, por sua vez, tem demonstrado influência sobre a atual gestão da PGR [veja aqui] e já afirmou, em 10/2020, que foi ele quem determinou o fim da Lava-Jato [veja aqui]; bem como, em 01/2021, insinou perseguição da operação à sua família [veja aqui].

22 set 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo, Judiciário, Legislativo, Ministério Público
Nível
Federal

Brasil cai em rankings que avaliam qualidade democrática e de combate à corrupção e à violência

Tema(s)
Administração, Economia, Eleições, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Brasil tem queda em rankings que medem a qualidade da democracia e da capacidade de combate à corrupção e à violência, segundo levantamento da imprensa desta data [1]. No ‘Índice de Democracia’, elaborado pelo grupo The Economist, o país, que ocupava a 47ª posição do ranking em 2010, passou ao 49º lugar em 2020 [2]. O índice considera as seguintes categorias: processo eleitoral e pluralismo; funcionamento do governo; participação política; cultura política e liberdades civis [3]. De acordo com especialista ligado à pesquisa, a queda está relacionada a escândalos de corrupção, os quais ele associa a ‘uma desilusão perigosa para o processo político, abrindo espaço para um ‘outsider’ como Bolsonaro’ [4]. Também foi registrada queda no ranking de capacidade de combate à corrupção, elaborado pela Transparência Internacional [5]. Neste ranking, feito com base na opinião de representantes do setor privado e analistas, o Brasil deixou a 72ª posição, registrada em 2007, passando a ocupar o 94º lugar em 2020 [6]. O relatório da instituição afirma que o país enfrenta ‘sérios retrocessos no combate à corrupção’ [7]. Vale lembrar que, em 06/2020, a mesma queda foi registra no Índice de Capacidade de Combate à Corrupção (CCC), produzido pela Americas Society/Council of the Americas e a Control Risks [veja aqui]. O levantamento da imprensa também aponta queda na avaliação brasileira no Índice de Paz Global, elaborado pelo Institute for Economics and Peace [8]. Neste ranking, que mede aspectos ligados à segurança no país, o Brasil passou da 97ª colocação, registrada em 2008, ao 128º lugar, em 2021 [9]. Há registros, ainda, de queda em rankings ligados a aspectos econômicos, tais como liberdade e complexidade econômicas, produtividade do trabalhador e renda per capita [10]. Em 10/2020, o Brasil teve recuo na percepção da liberdade de expressão e passou a ocupar 94ª posição em ranking mundial [veja aqui].

Leia relatórios que apontam queda do Brasil em rankings de qualidade da democracia (em inglês) e da capacidade de combate à corrupção e à violência.

02 out 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Polícia Federal intima professor e pesquisador do LAUT em investigação sobre texto crítico a atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal

Tema(s)
Imprensa, Liberdade Acadêmica, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O pesquisador do LAUT, colunista de jornal e professor, Conrado Hubner Mendes, é intimado pela Polícia Federal (PF) para prestar depoimento em uma investigação sobre um texto de opinião escrito por ele para o jornal Folha de São Paulo (FSP) [1]. A investigação decorre de um ofício do ministro do STF, Nunes Marques, que pediu providências à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre possíveis crimes de calúnia, injúria e difamação contra ele em um texto escrito por Conrado [veja aqui]. O ofício foi enviado em junho deste ano e declarou que o professor ‘faz afirmações falsas e/ou lesivas’ à figura do ministro [veja aqui]. O artigo nomeado ‘O STF come o pão que o STF amassou’ [2], publicado em abril deste ano, tece críticas à decisão de Nunes Marques em autorizar cultos e missas [veja aqui] durante a pandemia da covid-19; posteriormente a decisão foi derrubada pelo plenário da corte [3]. No texto, Conrado caracteriza a decisão do ministro como um ‘episódio que não se resume a juiz mal-intencionado e chicaneiro, que num gesto calculado para consumar efeitos irreversíveis, driblou o plenário e encomendou milhares de mortes’ [4]. Em maio deste ano, Conrado já havia sido processado criminalmente pelo Procurador Geral da República Augusto Aras, por suposto crime de injúria, difamação e calúnia contra ele, no texto de opinião ‘Subscrevemos: poste, servo, omisso’, publicado pelo colunista no jornal FSP [veja aqui]. Na época, Aras também enviou uma representação contra o pesquisador à comissão de ètica da Universidade de São Paulo (USP), sob alegação de que as colocações de Conrado ‘exorbita da crítica ácida para flertar com o escárnio e a calúnia’ [veja aqui]. Vale ressaltar que tanto a representação contra Conrado na Universidade tanto a queixa-crime apresentada na Justiça Federal foram indeferidas, sob justificativa de que o texto do colunista não ofende a honra do procurador da República [veja aqui] [veja aqui]. Outros jornalistas, como Hélio Schwartsan [veja aqui], Celso Rocha de Barros [veja aqui] e Ricardo Noblat [veja aqui] também foram investigados por criticarem o governo atual.

Leia sobre as consequências da perseguição de Conrado por criticar figuras do governo.

18 out 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Procurador-Geral da República ajuiza ação no STF para diminuir poderes das Defensorias Públicas

Tema(s)
Prisões, Sistema penal e socioeducativo
Medidas de estoque autoritário
Restrição a direitos fundamentais

O Procurador-Geral da República (PGR), Augusto Aras, apresenta ação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para limitar a atuação da Defensoria Pública da União [1]. No pedido, o procurador defende a proibição às defensorias de solicitar documentos, informações e diligências de outros órgãos públicos [2]. Aras, até então, já moveu 22 ações na Corte questionando legislações estaduais e federais que preveem o poder de requisição das defensorias [3]. Ao Supremo, o PGR alega haver desproporcionalidade nas prerrogativas de defesa entre advogados privados e a Defensoria, pois aqueles não teriam esse poder [4]. A investida é foco de diversas críticas de juristas, ativistas e de membros da própria PGR, dado que a Defensoria Pública é o principal e muitas vezes o único meio de acesso de cidadãos pobres ou em situação de vulnerabilidade à assessoria jurídica, segundo levantamento da própria defensoria [5]. Defensores também criticam a iniciativa, pois a prestação desse serviço à população seria inviabilizada [6]. Segundo eles, a estrutura precarizada das defensorias estaduais e federal, e o baixo contingente de servidores – desproporcional ao volume assistencial demandado ao órgão – já afetam seu trabalho de defesa [7]. Nove das ações propostas pela PGR tramitam atualmente no STF, entretanto, a principal delas – que possivelmente indicará a decisão dos demais pedidos na Corte – está paralisada por pedido de maior tempo para análise do ministro Alexandre de Moraes [8]. Além da atuação contra a Defensoria Pública, Aras já atuou em outros casos que envolviam a diminuição do acesso público a informações das instituições governamentais da qual faz parte [veja aqui].

Entenda melhor o papel das Defensorias, como funciona o poder de requisição e os argumentos contra e a favor desse instrumento.

12 nov 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

Presidente da OAB tem microfone cortado após criticar Bolsonaro, em evento moderado pela subprocuradora-geral da República

Tema(s)
Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, tem microfone cortado durante painel mediado pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo [1]. Felipe estava fazendo um discurso fervoroso quanto a necessidade de lutar pela democracia e quanto ao seu descontentamento com o governo federal e com a política econômica e social do Brasil [2]. Ele adotou uma postura fortemente opositora no que concerne às ações de resistência do governo no combate a pandemia de covid-19, além disso também evidenciou o avanço da insegurança alimentar no país, da precarização do trabalho e da desigualdade social [3]. Minutos antes do microfone ser cortado, a subprocuradora havia alertado Felipe sobre estar excedendo o limite de tempo previsto para a fala [4]. Após o corte abrupto que ainda não se sabe por quem foi comandado, Felipe é ovacionado por aplausos [5]. Posteriormente, Lindôra retoma a fala e declara que não entendeu o ‘discurso político’ de Felipe [6]. A subprocuradora é vista como um braço direito do procurador da República, além de ser reconhecida por ter decisões alinhadas ao governo Bolsonaro; em 2020, Lindora foi responsável pela abordagem atípica na Operação Lava Jato [veja aqui]. Este ano, a subprocuradora enviou parecer ao STF colocando em xeque à eficácia das máscaras como meio de prevenção da covid-19, em ação que pedia o indiciamento de Bolsonaro por crime contra a saúde pública diante das inúmeras presenças do presidente em aglomerações sem o uso de máscaras [veja aqui].

Leia sobre como a Procuradoria-Geral da República endossa discursos de Bolsonaro.

16 nov 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Estadual

Após operação policial no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro, oito corpos são achados no local

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro realiza operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, e oito pessoas são encontradas mortas em uma região de manguezal do bairro [1]. A Polícia Civil identifica seis das oito vítimas [2] e, segundo a corporação, duas não tinham passagens pela polícia [3]. A ação do Bope na comunidade é realizada após a corporação receber informações de que um policial militar havia sido morto em um patrulhamento na região [4]. Durante a operação, os policiais apreenderam munições de fuzil, carregadores e uniformes camuflados [5]. O Governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro disse que ¨ Ninguém vai camuflado para o mangue trocar tiro com a polícia de airsfoft… Se foi completamente vestido camuflado trocar tiro com a polícia no mangue, certamente coisa boa não estava fazendo”. Moradores do Complexo do Salgueiro relatam que os corpos apresentam sinais de tortura e que a ação foi uma chacina [6], uma das testemundas afirma que uma das vitimas estava com a garganta ‘raspada de faca’ e um tiro que entrou pelas costas e saiu pela barriga [7]. — as vítimas foram atingidas, por pelo menos 47 tiros de fuzil na cabeça e no tórax [8], segundo reportagem da Globo os policiais que participaram da operação dispararam um total de 1.514 tiros [9]. Entidades de defesa de direitos humanos como a Defensoria Pública, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, cobraram investigações rigorosas e que o caso ainda está mal explicado [10]. Os assassinatos ocorrem durante período em que o Supremo Tribunal Federal (STF) restringiu as operações policiais no Rio de Janeiro a casos excepcionais por conta da pandemia da covid-19 [11]. Desde então, as polícias ficaram obrigadas a informar ao Ministério Público a ocorrência das operações e o que justificou a excepcionalidade, entretanto o Ministério Público afirma que as polícias Militar e Civil não têm o dever de comunicar ações rotineiras ao órgão [12]. A Polícia Civil investiga o motivo de a Polícia Militar não ter comunicado a operação no Complexo do Salgueiro à Delegacia de Homicídios de Niterói ou ao Ministério Público [13]. Mesmo com a decisão do STF, outras chacinas ocorreram recentemente [veja aqui] no Rio de Janeiro, durante operações policiais elogiadas pelo presidente Bolsonaro [veja aqui].

Leia análise sobre as operações motivadas por vingança.

23 nov 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

100 dias depois de publicado, relatório da CPI da Covid não resulta em nenhum inquérito

Tema(s)
Saúde, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, não solicita a abertura de nenhuma investigação para investigar os funcionários do alto escalão do governo – dentre os quais estão o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, e outros quatro ministros -, após cem dias depois da publicação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid [veja aqui][1]. Vale notar que Aras foi nomeado por Bolsonaro em 2019, sob fortes críticas da categoria, uma vez que seu nome estava fora da lista tríplice elaborada pela Associação Nacional do Ministério Público [veja aqui] [2]. Parlamentares temem que a postura do PGR seja proposital e nada seja feito para responsabilizar o governo em relação aos crimes verificados na Comissão [3]. De acordo com Simone Tebet (MDB-MS), senadora que atuou na CPI, ‘o PGR não tem se mostrado solícito em relação a essa pauta, retardando de forma injustificada o avanço’ [4]. Renan Calheiros (MDB-AL), também membro da Comissão, afirma que a postura do procurador já era esperada, por isso, na tentativa de pressioná-lo, o colegiado decidiu entregar diretamente ao procurador a parte do relatório referente aos agentes que possuiam foro por prerrogativa de função [5]. Em mais uma tentativa de pressão para que o procurador exerça a sua função, os parlamentares criam a Frente Parlamentar ‘Observatório da Pandemia’, que trabalha junto à Comissão de Direitos Humanos do Senado, para dar efetividade aos trabalhos desenvolvidos pela CPI [6]. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anuncia em suas redes sociais que irá recolher assinaturas com o objetivo de protocolar um pedido de impeachment contra Aras e continuará o diálogo com outras instituições que receberam o relatório [7]. Em nota, Aras afirma que nenhum dos processos sob sua responsabilidade estão parados e que enviou ao STF todas as manifestações sobre indiciados que possuem prerrogativas de foro [8]. Aras apenas pediu a abertura de inquério no STF quando a ministra Rosa Weber o questionou, após receber notícia crime de senadores [9]. Ainda assim, em março, Aras pede pede o arquivamento de três apurações contra Bolsonaro, que ocorrem no Supremo, com base no relatório da CPI, mas a ministra Rosa Weber recusa o pedido [10]. As apurações investigam o cometimento de crimes nvolvem os crimes de charlatanismo, emprego irregular de verba pública e prevaricação no curso da pandemia [11]. Em julho, o Senado aciona o STF para que o PGR e a vice-procuradora, Lindôra Araújo, sejam investigados por crime de prevaricação, alegando que as autoridades não realizam atos de seu trabalho por interesses políticos e pessoais [12]. Segundo a peça enviada ao Supremo, ‘a atuação da gestão Aras após quase 3 anos deixa evidente o modus operandi da blindagem: abertura de procedimentos preliminares para não envolver a Polícia Federal, que participaria, se houvesse inquérito aberto, e, após o caso esfriar, pedir para arquivar. A conduta sorrateira, sempre ganhando tempo para, após, arquivar, sem jamais ter sequer aberto um inquérito, deve ser combatida’ [13]. Vale lembrar outras ocasiões em que Aras agiu conforme interesses de Bolsonaro [veja aqui].

Entenda melhor o que faz o PGR

05 fev 2022
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