Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Presidente da República e Ministro da Saúde associam colapso em Manaus ao clima e à falta de tratamento precoce

Tema(s)
Ciência, Negacionismo, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos
Estado
Amazonas

O presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, atribuem ao clima e à falta de ‘tratamento precoce’ o colapso no sistema de saúde em Manaus [1]. Pazuello afirma que ‘no período chuvoso, a umidade fica muito alta e você começa a ter complicações respiratórias’ e que Manaus não teve uma ação efetiva no ‘tratamento precoce’ [2]. Bolsonaro diz que foi preciso ‘intervir’ na cidade porque não foi realizado o ‘tratamento precoce’ [3]. Em relação ao clima, médicos afirmam o oposto do Ministro: o tempo mais seco agrava os problemas respiratórios, não a umidade [4]. No que se refere ao suposto ‘tratamento precoce’, estudos apontam falta de eficácia e riscos de reações adversas com o uso desses medicamentos [5]. A capital do estado do Amazonas sofre com o desabastecimento de oxigênio e vive recorde de mortes por covid-19 [veja aqui]. Segundo cientistas, o colapso seria evitável se medidas de restrição à circulação de pessoas fossem tomadas com antecedência [6] – o que foi combatido por apoiadores de Bolsonaro [veja aqui]. A defesa de medicamentos sem eficácia por parte do governo Bolsonaro é constante desde o início da pandemia: o presidente minimizou o perigo da segunda onda de covid-19 [veja aqui], fez várias declarações em defesa da cloroquina [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] e de vermífugo como efetivos para combater a covid-19 [veja aqui], enquanto Pazuello aprovou protocolo para uso da cloroquina [veja aqui] [veja aqui].

Leia análises sobre o ‘tratamento precoce’ estimulado pelo governo Bolsonaro e os possíveis efeitos colaterais da terapia sem comprovação científica.

14 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual, Federal

Capital do Amazonas tem desabastecimento de oxigênio e recorde de mortes por covid-19

Tema(s)
Conflito de poderes, Distanciamento social, Saúde
Medidas de emergência
Restrição a direitos fundamentais
Estado
Amazonas

Hospitais de Manaus sofrem desabastecimento do estoque de oxigênio após recorde de hospitalizações por covid-19 e aumento da demanda por insumos [1]. No dia anterior, a cidade registrou 2.221 internações, o maior número desde o primeiro pico da doença em abril de 2020 [2]. Segundo governo do estado, o consumo médio diário de oxigênio na rede estadual de saúde aumentou 06 vezes [3]. Diante da falta de oxigênio, moradores da cidade se mobilizam para comprar os próprios cilindros de oxigênio e garantir que seus parentes infectados não morram [4]. Pesquisador da Fiocruz afirma que diante da crise, ‘os hospitais viraram câmaras de asfixia’ e alerta para sequelas cerebrais mesmo para aqueles que conseguirem sobreviver [5]. Além de buscar auxílio da Força Aérea Brasileira (FAB) para transferência de cilindros de oxigênio, o governo amazonense providencia a transferência de bebês prematuros para outros estados [6]. No entanto, o governador, Wilson Lima, afrouxou a restrição para o funcionamento de atividades econômicas na época do natal por pressão de comerciantes e somente voltou a decretar toque de recolher com o fim dos estoques de oxigênio [7]; além disso, o governo federal determinou o aumento de imposto sobre cilindros de oxigênio em dezembro, só zerando-o novamente em 16/01 [veja aqui] [8]. Lima admite que ‘os próximos dias serão difíceis’, mas diz não se arrepender de ter flexibilizado as restrições [9]. Igualmente, o presidente da República afirma que ‘nós fizemos a nossa parte’ e defende o uso de medicamentos sem eficácia comprovada [10]; o vice-presidente também declara que ‘o governo está fazendo além do que pode’ [11]. Levantamento revela que a capital do Amazonas foi a segunda cidade a receber menos investimento do governo federal para o combate ao coronavírus, sendo investidos somente R$1.063 por habitante, em contraste com cidades do país que chegaram a receber R$4.000 por morador [12]. Em 15/01, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) determina que o governo federal apresente em 48h um plano de enfrentamento ao colapso hospitalar em Manaus [13]. No mesmo dia, procurador do Ministério Público Federal declara que irá investigar as mortes decorrentes da falta de oxigênio e a ocorrência de improbidade administrativa por parte dos gestores [14]. Em 18/02, a Advocacia Geral da União (AGU) informa ao STF que autoridades do Ministério da Saúde (MS) teriam realizado reuniões com autoridades locais do sistema de saúde do Amazonas no começo de janeiro e que o governo federal estaria ciente do possível colapso sanitário 10 dias antes do agravamento da crise [15]. Em 23/01, a Procuradoria Geral da República (PGR) acata representações de partidos políticos e solicita a abertura de inquérito contra o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para que seja investigada conduta omissiva do ministro e seus auxiliares, pedido que é acatado pelo STF em 25/01 [16] [17]. Em 26/01, levantamento revela que auditoria do Tribunal de Conta da União (TCU) concluiu que o MS utilizou recursos do Sistema Único de Saúde para compra de 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina – medicamento sem eficácia comprovada – durante a crise de falta de oxigênio em Manaus [18] [veja aqui]. A conclusão do TCU é reforçada por declarações de Pazuello em defesa de suposto ‘tratamento precoce’ durante a crise em Manaus [veja aqui]. Em 26/01, o MS nega as informações concedidas pela AGU e diz que Pazuello teria recebido a primeira informação do secretário estadual de saúde do Amazonas em 08/01, tendo ‘conhecimento do colapso de oxigênio apenas no dia 11 de janeiro’ [19]. Em fevereiro, Pazuello participa de audiência pública no Senado que discute abertura de CPI para investigar atuação do governo federal durante a pandemia, oportunidade em que nega novamente omissão da pasta no Amazonas [20]. Em 07/03 furo da imprensa revela e-mail enviado por empresa multinacional responsável pelo abastecimento de oxigênio hospitalar no Amazonas, solicitando ao MS ‘apoio logístico imediato’ para transporte de cilindros de oxigênio em 11/01, o qual tampouco foi atendido [21].

Leia análises sobre a piora da crise de oxigênio em Manaus, a possibilidade de responsabilização do presidente e de autoridades locais e entenda as possíveis consequências do inquérito que investiga o ministro da Saúde

14 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Governador do AM decreta toque de recolher no estado

Tema(s)
Administração, Distanciamento social
Medidas de emergência
Restrição a direitos fundamentais
Estado
Amazonas

Governador do Amazonas (AM), Wilson Lima (PSC), decreta toque de recolher em todo estado como medida para frear o avanço da covid-19 na região [1]. A medida restritiva pode durar 10 dias, nos horários de 19h até as 6h da manhã [2]. A capital amazonense sofre um colapso no sistema de saúde com aumento nos casos de covid-19, falta de leitos de UTI, escassez de oxigênio hospitalar [veja aqui], e transferências de pacientes para outros estados do país para internação [3]. No inicio do ano passado, o estado sofreu duramente a primeira onda da pandemia no país, e já no fim do ano, após pressão para liberar o comércio não essencial, Wilson Lima optou pelo relaxamento nas medidas restritivas [4]. Isso criou o cenário de caos na região, de acordo com a secretária de Saúde de Manaus, Shadia Fraxe [5]. O colapso na saúde do estado ocorre em meio a descoberta de nova variante da covid-19 com origem no AM [6]. O governador afirmou que o AM ‘está clamando, pedindo por socorro’ [7]. O Ministério da Saúde comunica o reforço no atendimento ao estado, com contratação de mais profissionais de saúde, e abertura de novos leitos no Hospital Universitário Getúlio Vargas, da Universidade Federal do Amazonas [8]. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, coloca seu país a disposição do AM para fornecimento do oxigênio [9]. Vale lembrar que a Prefeitura de Manaus está sendo fortemente pressionada pelo Ministério da Saúde, sob comando do ministro Eduardo Pazzuello para distribuir remédios para ‘tratamento precoce’ [veja aqui] [veja aqui], cuja eficácia não foi comprovada [10]. A medida é adotada durante período de agravamento da pandemia em todo Brasil – alguns meses depois, em março de 2021, outros 20 estados anunciaram toques de recolher e medidas mais restritivas [veja aqui].

Leia análise que discute a insuficiência do toque de recolher durante a pandemia.

14 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Novo assessor do Ministério da Saúde diz que se a situação em Manaus piorar as pessoas vão ‘morrer na rua’

Tema(s)
Administração, Saúde
Medidas de emergência
Restrição a direitos fundamentais
Estado
Amazonas

O assessor do especial do Ministério da Saúde (MS), general Ridauto Fernandes, diz que pacientes acometidos pelo coronavírus ‘vão morrer na rua’ [1]. A frase foi dita em referência aos 600 pacientes que aguardam atendimento nas UTI’s do Sistema Único de Saúde em Manaus [2]. O militar da reserva, recém nomeado para o MS, afirma em reunião da comissão externa do coronavírus na Câmara que a dificuldade no atendimento se deve a falta de oxigênio e complementa : ‘Abre o leito, bota o paciente e ele vai morrer asfixiado no leito. E aí, vai adiantar abrir o leito?’ [3]. Fernandes também diz que desde o dia 28 de setembro o governo federal sabia que a situação em Manaus se agravaria e que precisaram esperar ‘alguns dias’ até que a transição dos prefeitos ocorresse no município [4]. Mais de 350 pacientes infectados com a nova cepa do coronavírus foram transferidos para outros estados por falta de vagas [5]. Marcelo Campêlo, secretário estadual de Saúde do estado de Manaus, diz que nova variante do coronavírus afeta crianças e grávidas de forma mais potente [6]. Acerca de um mês atrás o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu que já sabia da falta de oxigênio que causou o colapso no sistema de saúde [veja aqui].

Leia análise sobre a situação da falta de oxigênio em Manaus.

28 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Justiça determina que Polícia Rodoviária Federal monitore redes sociais para identificar ‘ações adversas’ à imagem do governo no Amazonas

Tema(s)
Informação, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Amazonas

Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) solicita em documento que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitore redes sociais para ‘reduzir danos a imagem’ do governo federal em meio a ações de contenção do colapso sanitário no Amazonas [1]. Segundo apuração da imprensa nesta data, o MJSP teria determinado que a PRF acompanhe diversas redes sociais a fim de identificar ‘ações adversas’ à imagem do auxílio federal prestado em Manaus (AM) [2]. Em nota, a PRF alega que a ação pertence ao ‘plano de ação constante na matriz de responsabilidades relacionada ao apoio ao município de Manaus’, além de negar ter recebido ordem do MJSP [3]. A instituição ainda afirma que o procedimento de monitorar redes sociais é padrão, inclusive, em outras abordagens [4]. A determinação ocorre em contexto de desabastecimento de oxigênio e recorde de mortes pela covid-19 na capital amazonense [veja aqui], e faz parte de relatório de monitoramento produzido pelo governo para atualizar informações solicitadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) acerca do plano de combate à pandemia do coronavírus [5] [veja aqui]. Durante o colapso de saúde em Manaus, o presidente Jair Bolsonaro culpou o governo amazonense e a prefeitura de Manaus pelo aumento de casos [veja aqui], e o Ministério da Saúde associou o colapso ao clima e à falta de ‘tratamento precoce’ [veja aqui]. Em outras oportunidades, a prática de monitoramento de redes sociais também foi utilizada pelo governo Bolsonaro: órgãos do governo federal alertaram seus servidores sobre o uso de redes sociais com finalidade crítica ao governo [veja aqui] e a Controladoria-Geral da União baixou nota técnica permitindo a punição de servidores que se manifestarem nas redes sociais em ‘desalinhamento’ às condutas do governo [veja aqui].

29 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Chefe da PF no Amazonas solicita investigação contra ministro do Meio Ambiente e é exonerado

Tema(s)
Administração, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional
Estado
Amazonas

Alexandre Saraiva, chefe da Polícia Federal (PF) do Amazonas encaminha notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando investigação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do senador Telmário Mota (Pros-RR) por atrapalharem medidas de fiscalização ambiental [1]. Saraiva alega que Salles obstruiu apreensão de madeira ilegal, se referindo à operação da PF em dezembro do ano passado que bateu recorde histórico de apreensão de toras de madeira no Pará [2], e que o ministro dificulta a fiscalização ambiental e patrocinando interesses privados [3]. No mesmo dia, o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, exonera Alexandre Saraiva do cargo [4] e o substitui pelo delegado Leandro Almada [5], a justificativa oficial é de que o delegado já era sondado sobre a mudança [6]. Mensagens de celular trocadas por madeireiros investigados pela PF em inquérito sobre apreensão de madeira ilegal citam Alexandre como um ‘alvo a ser abatido’ [7]. Após receber a notícia sobre a exoneração, Saraiva critica Salles e reafirma que o ministro ‘promove a defesa de infratores ambientais’ [8]. Sub-procurador do Ministério Público (MP) do Tribunal de Contas da União (TCU) pede para que o TCU avalie o afastamento cautelar de Ricardo Salles do Ministério do Meio-Ambiente [9], o pedido do MP é baseado na notícia-crime encaminhada por Saraiva ao STF [10]. Vale notar que Salles já fez discurso apoiando madeireiros [veja aqui] e que recentemente se reuniu com empresários alvos da operação de maior apreensão de madeira da história [11]. Outras medidas do atual governo também favoreceram atividades ilegais de madeireiros, como a decisão do presidente do Ibama que extinguiu a necessidade de autorização do órgão para exportação de madeira do Brasil [veja aqui] e solicitou que o governo norte-americano aceitasse carregamento de madeira brasileira exportada sem autorização legal [veja aqui] e a flexibilização de multas sobre a compra de madeira ilegal [veja aqui].

Veja como a decisão de exoneração demonstra ausência de preocupação com a imagem da PF pelo novo diretor-geral da corporação, e como, um ano após a reunião ministerial em que Sérgio Moro alegou interferência na PF, o presidente dá as cartas na corporação.

15 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro afirma que fica do lado de quem ‘não é muito chegado em ICMBio’, dias depois brigadistas do órgão são assaltados em Estação Ecológica

Tema(s)
Meio Ambiente, Segurança e meio ambiente
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos
Estado
Amazonas

O presidente da República Jair Bolsonaro critica novamente o trabalho do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) [1]. Durante live, afirma que enquanto esteve no Amazonas [veja aqui], encontrou com indígenas que gostam do trabalho do órgão de proteção ambiental, mas outros que antipatizam com o trabalho desempenhado; em seguida afirma ‘fico do lado daquele pessoal que não é muito chegado em ICMBio, para deixar bem claro’ [2]. Ele continua a transmissão defendendo que é preciso realizar novo ‘redirecionamento no instituto’, pois ‘sente na região que algumas comunidades sofrem uma influência (…), por parte de ‘brancos’, vamos assim dizer, e por parte de instituições’ [3]. A live é gravada em um pelotão de fronteira dentro das terras Yanomami (AM/RR), que têm enfrentado a invasão de quase 20 mil garimpeiros ilegais na região, que promovem a contaminação das águas com mercúrio, a destruição de margens de rios, dentre outros danos [4] [veja aqui]. Dias após a live, uma base do ICMBio é alvo de ataques em Roraima, em que homens armados levam quadriciclos e motores de popa [5]. No dia seguinte ao ataque, três brigadistas do órgão são alvo de uma emboscada na base da Estação Ecológica de Maracá, às margens do rio Uraricoera, em que oito pessoas fortemente armadas e encapuzadas rendem e mantém os brigadistas como reféns, alem de roubar barcos apreendidos de garimpeiros pelo órgão e ameaçar de matar qualquer fiscal do ICMBio [6]. A unidade alvo do ataque é vizinha a Terra Indígena Yanomami invadida e explorada ilegalmente pelos garimpeiros [7]. Nos anos anteriores, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente já fizeram atos em apoio a infratores e predadores do meio ambiente; em 2019, o ministro do Meio Ambiente fez discurso apoiando madeireiros, duas semanas após ataques sofridos pelo Ibama em terras indígenas [veja aqui]; em 2020, o governo ajuizou ação a favor da regularização de desmatadores na Mata Atlântica [veja aqui]. Alem disso, funcionários de órgãos do meio ambiente são frequentemente afetados com exonerações e transferências: servidor público é exonerado do cargo apos multar Bolsonaro por pesca irregular [veja aqui];diretores do Ibama são exonerados [veja aqui]; dois oficiais de área de proteção ambiental em Alagoas são realocados após multarem o presidente da Embratur [veja aqui]; especialista em biologia marinha do ICMBio, critico da política de desmonte da proteção ambiental, foi transferido [veja aqui].

27 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro visita terra indígena Yanomami, tira a máscara, gera aglomeração e posa para fotos com cocar

Tema(s)
Distanciamento social, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Amazonas

Bolsonaro faz sua primeira visita como presidente da República a terras indígenas, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e além de promover aglomeração e retirar máscara perto das pessoas, ainda utiliza um cocar nas fotos [1]. O evento ocorre durante inauguração de uma ponte de madeira que liga o município de São Gabriel da Cachoeira à comunidade Yanomami em Maturacá [2]. Embora os indígenas sejam um dos grupos de risco mais prejudicados pela pandemia, o presidente retira a máscara ao se aproximar de um grupo com cerca de 200 indígenas [3]. Em outro momento, ainda sem a máscara de proteção, Bolsonaro cumprimenta indígenas com aperto de mão, contrariando novamente as recomendações sanitárias [4]. Nas fotos é possível observar que o presidente usa um cocar na cabeça como um acessório para fins estéticos [5], atitude que reproduz um misticismo folclórico no tratamento dos povos indígenas no Brasil [6]. A ponte foi construída pelo Exército e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) para facilitar o acesso às terras Yanomami, que tem sido um dos principais alvos da mineração ilegal e da contaminação por covid-19 em decorrência das atividades de garimpo na região [7], contexto que é desconsiderado pelo presidente em seu discurso e ações na comunidade [8]. Em nota, o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), afirma que Bolsonaro ignora os problemas do povo Yanomami que atualmente enfrenta a covid-19, com mais de 1.000 indígenas mortos pelo vírus [veja aqui], e as ações do garimpo ilegal [9]. Neste mês, outra comunidade Yanomani em Roraima enfrenta os frequentes ataques de garimpeiros ilegais sem receber proteção do governo [veja aqui].

Leia análise sobre os garimpos, a covid-19 e os problemas enfrentados pelo povo Yanomani.

27 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

PM do Amazonas mata ao menos 7 pessoas após assassinato de sargento

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Amazonas

A polícia militar do Amazonas (AM) é responsável pela morte violenta de pelo menos 7 jovens negros ou com ascendência indígena na cidade de Tabatinga, fronteira com a Colômbia [1]. As mortes ocorrem horas após um sargento Michael Flores, 36 anos, ser assassinado na região portuária da cidade [2]. Os rapazes Bruno Aguela, 17 anos, Antonio Rengifo Vargas, 20 anos, Clisma Ferreira, 17, Gabriel Pereira Rodrigues, 18, Manoel Braz, 27 anos, são encontrados com sinais de tortura, e outros dois rapazes permanecem desaparecidos [3]. A ação ilegal ainda conta com invasões a domicílio, abordagens truculentas com ameaças aos familiares dos jovens, imposição da lei do silêncio e adulteração de atestado de óbito [4]. Em uma das invasões, os familiares relatam que os policiais anunciaram ‘Agora é a lei do Bolsonaro: bandido bom é bandido morto‘ [5]. Um dos jovens é visto dentro de uma viatura e em seguida é encontrado morto no lixão da cidade, com sinais de violência sexual e tortura [6]. Outros PMs agem à paisana para evitar identificação [7]. Os corpos, com laudos adulterados, são enterrados todos no mesmo dia em razão das ameaças; apenas a família de uma das vítimas realiza um velório [8]. Essa ação truculenta tem efeitos para além da fronteira, onde integrantes Rondas Ostensivas Cândido Mariano (ROCAM) são denunciados à Polícia Nacional da Colômbia, por ameaçar cidadãos colombianos [9]. Em razão disso, o consulado colombiano orienta os familiares a não procurarem pela a polícia brasileira [10]. Autoridades colombianas informaram que foram registrados 59 assassinatos em Tabatinga desde o início do ano, sendo a terceira chacina imputada à PM durante o governo de Wilson Lima (PSC), ex-apresentador de programa policial que se elegeu com discurso aliado a Bolsonaro [11]. A morte dos rapazes pelas mãos da polícia ocorre no momento em que a letalidade policial tem apresentado índices muito altos Brasil [veja aqui], mesmo durante o isolamento social decorrente da pandemia [veja aqui]

Leia análise sobre as chacinas no pais como uma resposta a morte de policiais.

13 jun 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Relatório revela queda histórica no número de embargos aplicados sobre áreas desmatadas durante governo Bolsonaro

Tema(s)
Administração, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
Amazonas

Estudo publicado nesta data revela que o número de embargos nos estados da Amazônia caiu 85% em 2020 em comparação a 2018 [1]. O embargo -suspensão imediata do uso da área, proibição da comercialização daquilo que foi produzido no local e cobrança de multas- é um dos principais mecanismos de combate ao desmatamento por gerar prejuízo econômico imediato ao infrator. Em 2020 o número de desembargos – 500 – foi superior aos embargos – apenas 385 -; em 2018 houveram 2.589 embargos e 2.413 em 2019, indicando uma queda histórica no indicador [2]. Apesar da redução dos embargos houve um grande aumento do desmatamento ilegal no governo Bolsonaro: entre agosto de 2019 e maio de 2021 mais de 58 mil hectares de mata em unidades de conservação foram devastados [3]. O estudo também aponta que a instauração do processo de conciliação para infrações ambientais [veja aqui] contribuiu para a redução das atuações por infrações ambientais [veja aqui], das multas ambientais e dos processos julgados [veja aqui] [4]. Entre 2012 e 2018 foram registradas anualmente em média 4.620 infrações ambientais, enquanto em 2019 e 2020 a média foi de 2.610 [5]. No período de 2014 a 2018 foram julgados em média 5.300 processos por ano e 688 multas pagas em média; por sua vez em 2019 e 2020, somente 113 e 17 casos foram julgados e destes somente 74 e 13 multas foram pagas, respectivamente [6]. Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) atualmente possui apenas 591 fiscais e há mais de 2 mil cargos vagos no instituto [7]. Segundo o estudo, as mudanças no processo de fiscalização e embargo ambiental refletem na ‘impunidade’ do desmatamento ilegal [8]. Durante o governo Bolsonaro, ao menos 125 atos administrativos colocaram em risco a proteção ambiental do país [veja aqui]; em 12/05, o governo federal foi denunciado à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico por desmantelar as políticas socioambientais brasileiras [veja aqui]; e houve grandes reduções orçamentárias na pasta do Meio Ambiente [veja aqui] e no Ibama [veja aqui].

Leia sobre o que são áreas embargadas, o estudo na íntegra e análise sobre o desmonte ambiental no governo Bolsonaro.

14 jun 2021
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