A Secretaria de Educação de Rondônia (Seduc) determina por meio de memorando o recolhimento de 43 obras literárias de bibliotecas de escolas estaduais sob a justificativa de ‘conteúdo inadequado’ para crianças e adolescentes; entre as obras listadas pode-se citar clássicos brasileiros como ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ de Machado de Assis, e ‘Macunaíma’ de Mário de Andrade [1]. Em resposta à Folha de São Paulo, o secretário da Seduc, Suamy Vivecananda, nega a prática e, em seguida, afirma que ‘não tinha conhecimento da medida’ e determina o não recolhimento dos livros [2]. A ação é criticada pela Academia Brasileira de Letras e outras organizações [3]. No dia seguinte, o Ministério Público Federal instaura procedimento para investigar a atuação da Seduc [4]. A medida ocorre um mês após o presidente Bolsonaro declarar que livros didáticos ‘são um montão de amontoado de muita coisa escrita’ [veja aqui]. Vale lembrar que em setembro de 2019, ocorreram episódios semelhantes no Rio de Janeiro [5] e em São Paulo [6], com determinações para o recolhimento de materiais educativos (gibis e livros didáticos), em razão de conteúdo relacionado à identidade de gênero e à orientação sexual.
Leia análises sobre autoritarismo e censura de livros na história.
A Assembleia Legislativa de Rondônia aprova projeto de lei, de autoria do governador Marcos Rocha (sem partido), que retira proteção ambiental sobre 88% da reserva extrativista Jaci-Paraná e 50 mil hectares do Parque Estadual Guajará-Mirim [1]. O projeto expõe área de Floresta Amazônica correspondente à extensão dos municípios de São Paulo e Salvador à apropriação privada e ameaça tribos indígenas que vivem em isolamento voluntário [2]. Segundo levantamento, metade dos deputados que aprovam a lei são ligados a proprietários rurais [3]. Em 6/5, a WWF-Brasil, o Greenpeace e outras entidades ambientais enviam carta ao governador do Estado, pedindo que vete o projeto que consideram ser de ‘legalização da grilagem de florestas públicas e sua conversão em pastagens’ [4]. Em 19/5, em parecer, o Ministério Público estadual também orienta o governador a vetar da lei por violação à legislação ambiental [5]. Apesar disso, o governador Marcos Rocha sanciona o projeto em 21/5 [6]. O Ministério Público estadual ajuíza ação acusando a norma de ser inconstitucional [7]. A aprovação da lei é a maior redução na proteção ambiental já aprovada por um parlamento estadual [8] e acontece em contexto de produção de leis que estimulam grilagem de terras e desmatamento na Amazônia [veja aqui]
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Assembleia Legislativa de Rondônia (RO) aprova mais diminuições nas unidades de conservação do estado (UCs) [1]. A mudança é realizada por meio de dois projetos de lei complementar: um deles revoga a criação do Parque Estadual Ilha das Flores, que compreenderia 89.789 mil hectares; e o outro reduz limites de extensão da Reserva do Desenvolvimento Sustentável do Limoeiro, ao sul do estado [2]. As alterações são promovidas após a mesma assembleia aprovar redução na proteção ambiental que afetou mais de 200 mil hectares de UCs antes protegidos [veja aqui] [3]. A Assembleia também revogou a criação do Parque Estadual Ilha das Flores, criado por lei aprovada em maio deste ano, como meio de ‘compensação’ para essa redução anterior nas áreas de reserva [4]. Ambas as propostas foram discutidas em menos de 10 minutos e aprovadas pela maioria dos parlamentares [5]. Comunidades tradicionais e os povos indígenas atingidos por essas alterações não são consultados, mas invasores que se estabeleceram nestas UCs de forma ilegal são beneficiados [6]. Os projetos ainda dependem da sanção do Governador Marcos Rocha (PSL) [7]
O deputado estadual de Rondônia Geraldo da Rondônia (PSC) defende que a polícia militar (PM) possa decapitar e esquartejar autores de crimes [1]. Durante sessão na Assembleia Legislativa de Rondônia (ALER), o deputado diz: ‘vai lá, corta a cabeça do meliante, deixa sem cabeça, sem braço e sem perna’, tendo também apresentado projeto de lei de lei para que policiais sejam autorizados a portar facões para esquartejar criminosos [2]. A fala se dá quando o deputado comenta o que segundo ele deveria ser feito com suspeito de assassinar policial no estado [3]. O deputado eleito em 2018 tem seu mandato marcado por episódios violentos e em dezembro de 2020 foi denunciado por uma bailarina por lesão corporal, constrangimento ilegal e abuso de autoridade [4]. No início deste ano, Geraldo foi novamente denunciado, mas dessa vez por desacato contra profissionais da saúde, ele teria invadido o Hospital Municipal de Ariquemes e insultado os profissionais, além de entrar, sem autorização, na ala onde estavam internados pacientes da covid-19, usando a máscara incorretamente [5]. Vale lembrar que nesta data, Geraldo da Rondônia teve diploma cassado por financiamento ilícito da campanha eleitoral [6]. Falas violentas contra infratores também já foram feitas por outros políticos; em 2019, o então governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse que manteria ‘um míssil’ para explodir traficantes na favela [veja aqui], elogiou atuação que matou 15 pessoas [veja aqui], afirmou, ao comentar o aumento das mortes nas operações, que a ‘polícia mandou recado’ [veja aqui] e, após lamentar a morte de Ágatha Félix, menina de 8 anos assassinada por PM no Complexo do Alemão, declarou que a política de segurança do Estado estava no ‘caminho certo’ [veja aqui]. Em 2019 o presidente Jair Bolsonaro também comparou ‘bandidos’ a baratas [veja aqui] e elogiou policial que mata em serviço [veja aqui].
O governo de Rondônia sanciona lei [1] que proíbe o uso da linguagem neutra nas escolas estaduais da circunscrição; de acordo com o texto, fica ‘expressamente proibida a linguagem neutra na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas, assim como em editais de concursos públicos’ [2]. Ainda, a lei menciona que as instituições de ensino e os professores que não obedecerem à determinação estão sujeitos a sanções [3]. Segundo o governo, a lei busca ‘medidas protetivas ao direito dos estudantes ao aprendizado da língua portuguesa de acordo com a norma culta’ [4]. O deputado Eyder Brasil, autor do projeto da lei sancionada, declara que a linguagem neutra é uma ‘aberração’ e uma ‘deturpação’ da língua portuguesa [5]. A Associação Brasileira de Linguística emite nota afirmando que ‘práticas legislativas’ desse tipo impõem ‘silenciamentos, desconsideram as complexas relações entre língua e sociedade e interferem na construção de uma política educacional emancipadora e reflexiva’ [6] [7]. De acordo com advogado, a lei é inconstitucional, pois viola o direito ao desenvolvimento pleno educacional e fere competência legislativa da União [8]. No mês seguinte, o Ministro Edson Fachin suspende liminarmente a lei, sob os argumentos de que fere a competência privativa da União de legislar sobre normas gerais de ensino e ‘constitui nítida censura prévia’, sendo incompatível com a liberdade de expressão [9]. Dias depois de publicada a lei, a Secretaria Especial da Cultura proíbe uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei de Incentivo à Cultura [veja aqui]. Meses antes, o Secretário especial da Cultura criticou o uso do pronome ‘todes’ pelo Museu da Língua Portuguesa e ameaçou cortar verbas do espaço [veja aqui].
Leia a análise sobre o conteúdo da lei que proíbe a linguagem neutra nas escolas estaduais de Rondônia e leia mais sobre gênero neutro, pessoas não-binárias e quais os obstáculos e benefícios da linguagem neutra.