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A credibilidade do sistema eleitoral brasileiro sob ataque

A deslegitimação e ataques às urnas eletrônicas como estratégia de governo

Curadoria por Isabela Soares Bicalho Publicado em 23/09/2021
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  • Curadoria por Isabela Soares Bicalho
  • Publicado em 23/09/2021

No ano em que a implementação das urnas eletrônicas ao sistema eleitoral brasileiro completa 25 anos, a sua confiabilidade e segurança são alvos de ataques e questionamentos, diante da ascensão da pauta de implementação do voto impresso no país. A tentativa de modificar o sistema eleitoral brasileiro é vinculada a uma ação reiterada do governo de descredibilizar as eleições e a funcionalidade das urnas eletrônicas, que já foram consideradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como símbolo da democracia brasileira. 

Desde 2019, Bolsonaro já afirmava a existência de fraudes nas eleições e sugeria que o sistema eleitoral não era confiável. Entretanto, em 2021 os ataques ao sistema eleitoral brasileiro se tornaram mais incisivos e constantes por sua parte e de seus aliados. Em diversas ocasiões, Bolsonaro afirmou que a forma atual de organização das eleições permite fraudes, sem nunca ter apresentado provas para tanto, disse que não haveria eleições caso não houvesse a adoção do voto impresso, vinculou o TSE a irregularidades eleitorais e proferiu ofensas à atuação do presidente da instituição, o ministro Luís Roberto Barroso. 

As alegações são parte de uma estratégia que deslegitima o processo eleitoral como um todo e afeta o funcionamento e a relação entre as instituições brasileiras. Em face dos ataques, o TSE emitiu notas desmentindo as afirmações sobre fraude e afirmando a segurança e auditabilidade das urnas eletrônicas. Em resposta mais forte às ofensas de Bolsonaro, o tribunal chegou a instaurar duas notícias-crime contra ele, após o presidente promover uma transmissão ao vivo com inúmeros ataques às eleições e vazar um inquérito policial que investigava possíveis irregularidades eleitorais no pleito. Em meio ao tensionamento das relações, partidos políticos, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal também se movimentaram em uma tentativa de preservar as relações entre os poderes. 

Vale salientar que Bolsonaro não promove tais ataques sozinho e conta com aliados que ocupam outras posições estratégicas para auxiliá-lo a descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro: é o caso da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL). Kicis é presidente da comissão que discutiu a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que previa a implementação do voto impresso e já utilizou verbas parlamentares para impulsionar e promover ataques às urnas eletrônicas nas redes sociais, figurando como uma das maiores apoiadoras da modificação do sistema eleitoral. Por sua vez, Lira endossou o apoio de Bolsonaro ao voto impresso sob justificativa de que é necessário “uma auditagem mais transparente das eleições” e foi chamado de ‘pai do voto impresso’ pelo presidente da República. 

Com o apoio de ambos, o debate foi além do plano retórico, no momento em que a PEC sobre o voto impresso foi posta em votação no plenário da Câmara dos Deputados, mesmo após ter sido rejeitada na comissão especial que discutia o assunto. Ao incluir a votação na pauta da Câmara, Lira argumentou que diante das manifestações a favor do voto impresso no país, era necessário que a questão fosse decidida na “alçada máxima de decisão” dos poderes. Apesar da mobilização de deputados da base bolsonarista, a proposta não obteve os votos necessários para sua aprovação. 

Mesmo diante da derrota no Congresso e das respostas do TSE,  o presidente e seus aliados seguem minando a confiança da população nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral, o que reforça a crescente tensão entre os poderes. Entre os ataques e ofensas mais recentes, vale ressaltar a fala do deputado e líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR), que afirmou que o TSE pagaria um preço alto no futuro por se posicionar contra o voto impresso. 

A utilização da tática de adotar uma postura ofensiva contra o sistema eleitoral, por meio de alegações contra a lisura e justeza das eleições, e ter como resultado uma crescente tensão política, é uma tendência perceptível também em outros lugares do mundo. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes mesmo da finalização da contagem de votos nas eleições em 2020, já endossava vigorosamente a tese de que o sistema eleitoral estadunidense havia sido fraudado. O mesmo argumento foi usado pela candidata Keiko Fujimori no Peru, após a vitória de seu opositor, Pedro Castillo, ao cargo. No Brasil, as afirmações de fraude feitas pela ala governista também guardam relação com a tentativa de construção da figura de inimigo em torno de seus opositores políticos: Bolsonaro já declarou que Dilma Rousseff não ganhou o pleito de 2014 e que o ex-presidente Lula só ganharia as eleições de 2022 por meio de fraude.

Além disso, os ataques ao sistema eleitoral também apareceram durante as manifestações pró-governo realizadas no dia 07/09/21, incitadas por Bolsonaro sobre bases autoritárias e ofensivas aos demais poderes, em especial aos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. O tema apareceu tanto nas declarações de Bolsonaro durante o evento, quanto em cartazes de seus apoiadores, que expunham pedidos de contagem pública de votos na eleição de 2022 e ofensas diretas aos ministros do STF, ao TSE e às urnas eletrônicas. 

Abaixo, leia mais sobre os ataques de Bolsonaro e seus aliados ao sistema eleitoral brasileiro e ao Tribunal Superior Eleitoral proferidos desde 2020, que contribuíram para o desenvolvimento de um clima de tensão permanente entre os poderes da República e para a fragilização da democracia.

 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro volta a falar em fraude nas eleições de 2018

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Presidente Jair Bolsonaro afirma, mesmo sem apresentar provas, que houve fraude no processo eleitoral de 2018 e defende que, se não fosse a fraude, teria sido eleito ainda no primeiro turno. O presidente sustena a necessidade de aprovação de um sistema de apuração de votos seguro e enfatiza o perigo da esquerda retornar ao poder em 2022 [1]. Um dia após a afirmação, no entanto, o presidente se esquiva da apresentação de provas que sustentem sua acusação e volta a atacar o processo eleitoral, ao dizer que não existe um brasileiro sequer que confie na licitude do sistema eleitoral brasileiro [2]. Essa não foi a primeira vez em que Bolsonaro alega ter existido fraude. Em 2018, ainda como candidato presidencial, ele disse que teria vencido Fernando Haddad (PT) no primeiro turno e defendeu o retorno à votação em cédulas impressas [3].

09 mar 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro volta a descreditar o sistema eleitoral brasileiro

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro descredita o sistema eleitoral brasileiro e afirma que pretende apoiar projetos no Congresso Nacional com o objetivo de ‘ter um sistema confiável’ em 2022, ano das próximas eleições presidenciais [1]. A fala de Bolsonaro ocorre durante as eleições nos EUA, na qual o presidente Donald Trump, líder político admirado por Bolsonaro, é derrotado [2]. Trump afirma, sem apresentar provas, que existiram fraudes no processo eleitoral que o derrotou [3]. Bolsonaro defende o voto impresso como meio para ‘contar os votos de verdade’ [4]. O presidente já afirmou, mais de uma vez, mesmo sem apresentar provas, que houve fraude no processo eleitoral de 2018 e que se não fosse a fraude teria sido eleito no primeiro turno [veja aqui]. Existe atualmente um Projeto de Emenda Constitucional (PEC), de autoria da deputada governista Bia Kicis (PSL-DF), que propõe inserir na Constituição a obrigatoriedade de expedição de cédulas físicas nas votações de eleições ou plebiscitos [5]. Em 2015, emenda a um projeto de lei, de autoria do então deputado Jair Bolsonaro, foi aprovada instituindo o voto impresso [6]. Entretanto, a norma foi derrubada no pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por violar o princípio da eficiência da Administração Pública, dado os elevados custos para sua implementação, e por colocar em risco o segredo do voto [7]. Segundo projeções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a impressão dos votos nas eleições brasileiras teria um custo de aproximadamente R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos ao longo de dez anos [8]. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirma que retornar ao voto impresso ‘seria um retrocesso’, pois as urnas eletrônicas são plenamente confiáveis [9]. No dia 07/12, o presidente volta a dizer que o sistema eletrônico de eleições é suscetível a fraudes e defender o voto impresso [10]. Bolsonaro diz que ‘está conversando com lideranças do Parlamento’ sobre a possibilidade de implementar nas próximas eleições [11].

Leia análise sobre a adoção do voto impresso nas eleições.

05 nov 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro sugere que sistema eleitoral brasileiro não é confiável

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro afirma que ‘temos que ter um sistema de apurações que não deixem dúvidas’ [1]. A afirmação ocorre no contexto de eleições municipais – para as quais ele mesmo fez campanha, investigada judicialmente [veja aqui] -, no dia seguinte à divulgação dos resultados, e sugere descrédito ao sistema eleitoral brasileiro. Na ocasião, diz também que desconhece exemplo de sistema eleitoral similar ao do Brasil [2] e ressalta a utilização do voto impresso, como também já fez logo quando da eleição presidencial norte-americana [veja aqui]. Segundo dados de centro de pesquisa especializado no tema que considera 178 países, ao menos 31 países utilizam o voto eletrônico similar em eleições [3]. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso critica o posicionamento presidencial e diz que ‘toda urna divulga, de forma impressa ao final do horário de votação, os resultados e os números de cada candidato’ [4]. Vale lembrar que, em março deste ano ele também já afirmou, mesmo sem apresentar provas, que houve fraude no processo eleitoral de 2018, e se não houvesse a fraude, teria sido eleito no primeiro turno [veja aqui].

Leia explicação sobre os motivos pelos quais a urna eletrônica é segura.

16 nov 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro volta a falar em fraude e defende voto impresso

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente afirma que ‘ninguém pode negar’ irregularidades na corrida eleitoral dos Estados Unidos (EUA) [1]. Após a vitória de Joe Biden ser oficializada nas eleições para presidência norte-americana, Bolsonaro insiste em dizer que a disputa foi fraudulenta [2]. A alegação falsa também ocorre por parte de apoiadores de Trump que invadiram o Capitólio, Congresso dos EUA, por serem contra o resultado da eleição [3]. No Palácio da Alvorada, Bolsonaro reforça a ideia de que o Brasil terá problemas piores que os EUA se não adotar o voto impresso [4]. O presidente afirma ter acontecido problemas, como pessoas mortas votando, mas essa afirmação foi desmentida por autoridades eleitorais dos Estados Unidos [5]. Bolsonaro também critica o bloqueio das redes sociais de Donald Trump, que havia demonstrado apoio às invasões do Capitólio pelas mídias [6]. Em resposta a um apoiador, diz também ter acontecido fraude nas eleições brasileiras em 2018 [7]. Bolsonaro afirma ter indícios de que ganhou no primeiro turno naquele ano, mas até o momento não apresentou nenhuma prova [8]. Ainda em resposta a apoiadora, Bolsonaro volta a proferir ofensas à imprensa [9], o que é cogde 2020 onde a sonaro não se mostrou contrário à invasão ao Capitólio [10]. Na mesma semana, Bolsonaro não comentou o episódio, afirmando apenas que não comentaria por ser ‘ligado a Trump’ [11]. Além disso, foi uma das últimas lideranças mundiais a admitir a vitória de Joe Biden nas eleições após 38 dias do resultado ter sido apurado e projetado [12]. Vale ressaltar que Bolsonaro e Donald Trump desempenharam uma postura política alinhada, principalmente em relação ao combate a pandemia da covid-19 [veja aqui] e, reiteradamente, Bolsonaro disse que fraudes ocorreram em sua eleição em 2018 [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], fazendo a defesa de uso do voto impresso. Mesmo antes de se eleger presidente, ele já fazia críticas nesse sentido [13]. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por outro lado, garante a ‘absoluta confiabilidade, segurança e, sobretudo, auditabilidade do sistema eletrônico de votação’ [14].

Veja análise do debate acerca do voto impresso no Brasil em referência as eleições de 2022 e sobre a gravidade da invasão do Capitólio nos EUA – em inglês

06 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro das Relações Exteriores endossa suspeita de fraude eleitoral nos EUA

Tema(s)
Eleições, Relações internacionais
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao comentar nas redes sociais sobre a invasão ao prédio do Congresso dos Estados Unidos, o Capitólio, defende os protestos de apoiadores do ex-presidente norte-americano Donald Trump e declara que ‘duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia’ [1]. Ao mesmo tempo, o ministro e também lamenta as quatro mortes que ocorreram durante o acontecimento e defende que seja apurada a participação de ‘elementos infiltrados’ entre apoiadores de Trump [2]. Especialistas criticam as manifestações de Araújo ao considerarem-nas pouco convencionais em relação à diplomacia brasileira, como questionar a legitimidade do processo eleitoral estadunidense [3]. O ministro ainda escreve, em seu Twitter, que as manifestações contra ‘elementos do sistema político’ são preenchidas por ‘cidadãos de bem’ [4]. O ministro também relaciona, de forma indireta, as manifestações que resultaram na invasão do Capitólio com os protestos realizados por apoiadores de Bolsonaro em 2020 contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) [5] [veja aqui] [veja aqui]. Escreve que ‘Há que perguntar, a propósito, por que razão a crítica a autoridades do Executivo deve considerar-se algo normal, mas a crítica a integrantes do Legislativo ou do Judiciário é enquadrada como atentado contra a democracia.’ [6]. Em nota, a Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros, manifesta seu mal-estar em relação às declarações de Araújo e também pela desgastada relação do governo brasileiro com o atual presidente norte americano, Joe Biden [7]. Vale notar que quatro meses antes, Araújo acompanhou o Secretário de Estado estadunidense em visita da fronteira brasileira com a Venezuela em ação para impulsionar a comunicação de Trump no contexto da corrida eleitoral dos EUA [veja aqui].

Ouça podcast sobre a invasão do Congresso dos EUA, entenda os efeitos da política Trumpista e como toda essa movimentação implicou na militarização da cerimônia da posse de Biden. Leia também análises sobre a reação do Congresso e discussão sobre os vínculos de Trump com uma política fascista.

07 jan 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro diz que se não tiver voto impresso, não haverá eleição

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro afirma, em live nas redes sociais , que ‘se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleição! E completa, ‘acho que o recado está dado’ [1]. A declaração responde uma entrevista do dia anterior, na qual Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal, aponta para riscos de judicialização do resultado das eleições e avalia que ‘o nosso sistema de voto em urna eletrônica é totalmente confiável’ [2]. No dia 09/05, Bolsonaro volta a defender o voto impresso e reitera ‘ganhe quem ganhar, mas na certeza, e não da suspeição da fraude’ [3]. Atualmente está em tramitação um projeto de lei [4], de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), que prevê a impressão de cédulas eleitorais [5]. Por meio de suas redes sociais, a deputada convida Barroso para um ‘debate’ sobre o voto impresso [6]. A declaração se relaciona com uma série de outros ataques do presidente ao sistema eleitoral brasileiro, ele fez acusações de ocorrência de fraudes nas eleições de 2018 [veja aqui], mencionou a construção de um ‘sistema confiável’ [veja aqui] e que ‘não deixe dúvidas’ [veja aqui] para as eleições de 2022, além de ressaltar a importância do voto impresso e alegar que no Brasil teremos problema piores, no contexto da invasão do Capitólio, Congresso dos Estados Unidos, por apoiadores do ex-presidente Trump contrários à sua derrota eleitoral [veja aqui]. Em 13/05, Bolsonaro afirma que Arthur Lira (PP-1L) é o ‘pai do voto impresso’ [7], após o presidente da Câmara dos Deputador ler ato de instação da comissão que analisará o assunto [8]. No mesmo dia, Barroso assegura a confiança nas unas eletrônicas e diz que ‘nunca se documentou uma fraude sequer’ [9].

Veja análise do debate acerca do voto impresso no Brasil e os principais argumentos sobre o tema.

06 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Câmara instala comissão para discutir voto impresso, após defesas reiteradas do presidente e críticas ao modelo de voto atual

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Câmara dos Deputados instala comissão especial para debater a proposta de Emenda Constitucional (PEC) que pretende implantar a impressão do voto nas eleições, plebiscitos e referendos [1]. A PEC é de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e propõe que cédulas físicas sejam expedidas após o voto para que o eleitor confira e deposite em uma urna para fins de checagem [2]. A deputada justifica que adoção do voto eletrônico impresso é uma ‘solução internacionalmente recomendada’ e que a urna eletrônica ‘tem sido alvo de críticas constantes e bem fundamentadas no que se refere à confiabilidade dos resultados apurados’ [3]. Kicis usa verba parlamentar para pagar empresas que divulgam conteúdos sobre o projeto de voto impresso [4]. Entre as informações divulgadas há questionamentos sem evidências e fake news sobre o caráter fraudulento do sistema eleitoral atual [5], esquema semelhante a utilização de verba pública pelo governo para financiar canais do Youtube que veiculavam manifestações antidemocráticas [veja aqui] O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirma que o voto eletrônico é um ‘sistema íntegro e que tem permitido a alternância de poder sem que jamais se tenha questionado de maneira documentada e efetiva’ [6] que as urnas provem ‘eleições limpas, seguras, transparentes e auditáveis’ [7] e a implementação do voto impresso seria um ‘atraso, como voltar aos orelhões’ [8]. Em comemoração aos 25 anos da urna eletrônica, o TSE lança campanha com objetivo de reforçar a segurança do voto eletrônica como pilar democrático [9]. Em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia declarado a inconstitucionalidade de uma norma ordinária que previa a instauração do voto impresso nas eleições [10]. O presidente da República constantemente expressa apoio ao voto impresso e acusa o sistema eleitoral brasileiro de fraudulento e inseguro [11]. Em 2020, Bolsonaro afirmou diversas vezes que as eleições de 2018 foram fraudadas e que tinha provas concretas de que havia ganho ainda no primeiro turno [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], mas não apresentou as provas que confirmam a adulteração [12]. Em 06/01 desse ano, Bolsonaro declarou que fraudes haviam ocorrido nas eleições dos EUA, afirmação já desmentida pelas autoridades estadunidenses, e que aconteceria o mesmo no Brasil se não houvesse a adoção do voto impresso nas próximas eleições [veja aqui]. Em 06/05, Bolsonaro diz que ‘se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleições’ [veja aqui]. No dia 14/05, Bolsonaro volta a apoiar o voto impresso e afirma que Lula ‘só ganha na fraude o ano que vem’ [veja aqui]. Em nota enviada aos veículos de comunicação, o TSE sinaliza que mesmo que haja aprovação do voto impresso pelo Congresso Nacional, há a possibilidade de não ser implantado para as eleições de 2022 por ser um processo demorado [13].

Leia sobre o projeto que prevê voto impresso nas próximas eleições e entenda a discussão sobre a adoção do novo modelo de votação.

13 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro afirma que Lula só ganharia as eleições de 2022 por meio de fraudes e defende a adoção do voto impresso

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Presidente da República, Jair Bolsonaro, declara que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva só ganharia as eleições de 2020 por meio de fraude [1]. Durante cerimônia de entrega de títulos de propriedade rural no Mato Grosso do Sul, Bolsonaro afirma: ‘A gente vai aprovar o voto impresso (…) porque o bandido foi posto em liberdade, foi tornado elegível (…), para ser presidente na fraude’ [2], em referência a anulação das condenações do ex-presidente [veja aqui]. Em 13/05, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, instalou comissão especial para debater a proposta de implantação do voto impresso nas eleições [veja aqui]. Frequentemente, Bolsonaro expressa apoio ao voto auditável e acusa as urnas eletrônicas atuais de inseguras: em 2020, ele afirmou que as eleições de 2018 haviam sido fraudadas e que detinha provas concretas de que havia ganho no primeiro turno [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], mas não apresentou as provas [3]. Em 06/05, ele declara que ‘se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleições’ [veja aqui]. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), garante que o sistema eleitoral atual é ‘eficiente, seguro e auditável’ [4] e que a adoção do voto impresso seria um ‘atraso, como voltar ao orelhão’ [5]. Em 15/05, Bolsonaro novamente afirma que ‘se não tivermos o voto auditável, esse canalha pela fraude ganha as eleições do ano que vem’, em referência ao ex-presidente Lula [6].

Leia sobre a segurança das urnas eletrônicas e entenda as estratégias de quem defende o voto impresso.

14 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Chefe da Abin exalta ‘voto auditável’ em redes sociais

Tema(s)
Eleições, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Alexandre Ramagem, chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – e ex-diretor-geral da polícia federal [veja aqui] -, defende o voto auditável em rede social [1]. Segundo ele: ‘voto auditável significa segurança ao pleito eleitoral e evolução das urnas eletrônicas. Assegura integridade e transparência aos resultados do sufrágio universal’ [2]. Atualmente está em tramitação uma proposta de Emenda Constitucional (PEC) para implementar o voto impresso, com a impressão de cédulas para que o eleitor confirme sua escolha [veja aqui]. Ramagem também parabeniza o relator da PEC, Filipe Barros (PSL-PR) [3]. Segundo especialistas, a impressão do voto coloca em risco o sigilo eleitoral e aumenta as chances de coerção de eleitores [4]. A fala se assemelha à defesa de Jair Bolsonaro ao voto impresso [veja aqui] [veja aqui] e outros ataques feitos por ele ao sistema eleitoral, como acusações de de fraudes nas eleições de 2018 [veja aqui], o presidente também defende a construção de um ‘sistema confiável’ [veja aqui] e que ‘não deixe dúvidas’ [veja aqui] para as eleições de 2022.

Veja os principais argumentos no debate sobre o voto impresso.

15 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro volta a dizer que houve fraude nas eleições de 2018 e que tem provas que confirmam a irregularidade

Tema(s)
Eleições
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Presidente Jair Bolsonaro questiona novamente o resultado das eleições de 2018 [1]. Durante evento evangélico, Bolsonaro afirma que foi eleito no 1o turno e que tem provas materiais que demonstram a irregularidade do pleito eleitoral [2]. Em reação, Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), declara que ‘nunca houve fraude documentada’ e que ‘se o presidente da República (…) tiver provas tem o dever cívico de entrega-las ao Tribunal’ [3]. Bolsonaro já colocou em dúvida a justeza do processo eleitoral brasileiro reiteradas vezes [4]. Ainda como candidato, ele disse que havia vencido Fernando Haddad (PT) no primeiro turno [veja aqui]. Em março de 2020, Bolsonaro não só afirmou que havia tido fraude nas eleições de 2018, como também declarou que detinha provas que comprovavam adulteração dos resultados e que estas seriam mostradas em breve [veja aqui]. Contudo, até hoje ele não apresentou as supostas evidencias que confirmem a fraude eleitoral [5]. Em janeiro desse ano, o presidente alegou falsamente que também houve irregularidades nas eleições dos Estados Unidos e que caso o Brasil não adote o voto auditável terá problemas semelhantes aos que ocorreram nos EUA [veja aqui]. Bolsonaro em diversas ocasiões defende a adoção do voto impresso nas eleições de 2022 [6]. Inclusive, já chegou a afirmar que caso não houvesse a utilização do voto auditável as eleições não seriam realizadas [veja aqui]; e que a utilização do voto auditável seria uma forma de barrar possíveis fraudes empenhadas pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva em 2022 [veja aqui]. Em maio desse ano, a Câmara dos Deputados instalou comissão para discutir voto impresso [veja aqui], mesmo com o TSE afirmando que o sistema de urnas eletrônico é seguro [7] e que a proposta do voto auditável aumentaria o risco de fraudes [8].

Leia sobre como Bolsonaro ainda insiste em acusações falsas sobre ocorrência de fraudes nas eleições de 2018 e como a movimentação a favor do voto auditável pode desestabilizar ideais democráticos. Entenda a discussão do voto impresso no Brasil e como funcionam as urnas eletrônicas.

09 jun 2021
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