Como o governo federal vem contribuindo para agravar processos discriminatórios raciais em políticas públicas e arenas informais
Em 20 de novembro de 2019, o palácio do Planalto não marcou qualquer cerimônia para celebrar o dia da Consciência Negra, o que era tradição nas presidências passadas desde a redemocratização. No dia anterior, na Câmara dos Deputados, o deputado governista Coronel Tadeu (PSL-SP) quebrou placa comemorativa à data, que denunciava a violência policial contra a população negra, sob justificativa de que ela seria uma ofensa aos policiais do país.
O cenário de omissões e ataques diretos à população negra segue seu curso em 2020, com políticas discriminatórias que atingem diversos campos de disputa. Membros do governo, como o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o próprio presidente Jair Bolsonaro, já fizeram declarações consideradas racistas. O governo também nomeou como presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que declarou não existir “racismo real” no país e, que no dia da Lei Áurea, fez críticas a Zumbi dos Palmares.
Os discursos discriminatórios proferidos na alta cúpula do governo brasileiro espelham situação perversa no país. A violência racial é patente no cotidiano brasileiro. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2019 foram registrados 11.467 casos de injúria racial e 1.265 casos de racismo no Brasil. Uma primeira tentativa legal de coibir discursos que reproduzem a lógica de subjugação de seres humanos com base na raça, etnia ou cultura data de 1951, foi a chamada Lei Afonso Arinos. Mais tarde, a Constituição de 1988 estabeleceu o racismo como crime inafiançável, imprescritível e sujeito à prisão. Mesmo com a previsão de punição, pesquisa recente revela que a despeito do alto número de denúncias, o Judiciário impõe barreiras interpretativas para o reconhecimento da violência racial alegando, em muitos casos, a falta de provas ou a ausência de comprovação da intenção de discriminar.
Além de serem alvos de discursos discriminatórios, negros também sofrem tratamento desigual em políticas públicas. Neste ano, a situação se exacerbou com a pandemia e o aprofundamento de vulnerabilidades entre grupos já historicamente discriminados. Diversos estudos mostram a maior incidência do coronavírus na população negra e outros grupos injustamente subalternizados, o que reclamaria que tais grupos fossem destinatários de atenção primária para a formulação de políticas de enfrentamento à pandemia. No país, porém, este não foi o caso: a proporção de óbitos entre a população negra era 40% maior, em comparação com a população branca. Em razão das omissões do governo em relação à crise sanitária, inclusive, grupo de representação de quilombolas ajuizou ação no STF. Como defende Márcia Lima, pesquisadora do núcleo AFRO-Cebrap:
A desigualdade racial fica ainda mais explícita quando se discute segurança pública e atuação policial. Conforme o FBSP, nas intervenções policiais que resultaram em mortes, 79,1% das vítimas eram pretas e pardas. Dos dados depreende-se que a taxa de mortalidade de pessoas negras por ações policiais é 183,2% maior que a de pessoas brancas. Segundo Paulo César Ramos, também pesquisador do AFRO-Cebrap:
Apesar da redução no fluxo de pessoas nas ruas durante a pandemia, a letalidade policial na cidade de São Paulo aumentou consideravelmente. No Rio de Janeiro, mesmo tendo havido suspensão de operações policiais em comunidades durante a pandemia, a letalidade policial também aumentou no período em comparação com o ano anterior. Diversos jovens negros compõem este triste quadro de mortes, ao qual se somaram a indignação internacional contra a violência policial nos EUA e a profusão de protestos antirracistas e pró-democracia no Brasil que foram desmobilizados de forma violenta pela polícia.
Veja a seguir a seleção de atos informais e formais do governo federal que expressam o aprofundamento das desigualdades raciais no Brasil entre 2019 e 2020.
O presidente Jair Bolsonaro veta campanha publicitária do Banco do Brasil dirigida à população jovem e com o objetivo de representar a diversidade racial, sexual e de gênero no Brasil [1]. O comercial estava no ar desde o início de abril e apresentava atrizes e atores negros e uma jovem transexual [2]. Após reclamações de Bolsonaro feitas ao presidente do banco, a veiculação do vídeo é suspensa e o banco demite o diretor de Comunicação e Marketing [3]. Em 24/04, o governo envia comunicado às empresas estatais determinando a submissão prévia de toda publicidade à avaliação da Secretaria de Comunicação Social (Secom) [4] [veja aqui]. Dois dias depois, o governo resolve recuar e afirma que a Secom ‘não observou a Lei das Estatais’ porque não cabe à administração direta intervir no conteúdo de publicidade [5]. Bolsonaro se pronuncia afirmando que ‘a massa quer respeito à família’, que dinheiro público não deve ser usado desse modo e que vídeo contrariava ‘agenda conservadora’ de seu governo [6]. Em maio, o Ministério Público Federal ajuíza ação contra a União por censura, racismo e homofobia, solicitando a veiculação do comercial e 51 milhões em indenização para que seja aplicada em campanha de conscientização de enfrentamento ao racismo e à LGBTQfobia [7]. No mesmo mês, Bolsonaro critica ‘turismo gay’ [veja aqui] e, em maio, baixa decreto que exclui preocupações com turismo LGBT [veja aqui]. Também, nomeia novo presidente na Fundação Palmares que defende não existir ‘racismo real’ no país [veja aqui]. Em maio de 2020, o Banco do Brasil volta atrás na decisão de retirar propaganda de site acusado de compartilhar ‘fake news’, após crítica feita por Carlos Bolsonaro, filho do presidente [veja aqui].
Leia as análises sobre a intervenção do governo na comunicação, os retrocessos para a população LGBT+ em 2019 e o racismo estrutural vivenciado no país.
O Ministério das Relações Exteriores publica edital que exclui da lista de conhecimentos exigidos para a prova de ingresso na carreira diplomática conteúdos referentes às políticas econômicas dos governos petistas [1], que previam comparações nos dois mandatos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e efeitos positivos das políticas distributivas de renda no governo de Dilma Rousseff [2]. As alterações também incluem a supressão de menção a gênero e raça do item que trata das políticas de identidade [3]. Professores encaram as exclusões como um retrocesso e possível ‘orientação ideológica’ nas modificações [4]. Vale notar que as mudanças estão alinhadas com outras posturas adotadas pelo Ministério, quando o ministro Ernesto Araújo exclui curso sobre América Latina de formação de diplomatas [veja aqui], chancela a retirada de menção a direitos LGBT em documento [veja aqui] e reforça matriz ‘antigênero’ da política externa brasileira [veja aqui]. Além disso, o Itamaraty orienta diplomatas sobre gênero ser apenas sexo biológico [veja aqui], censura informações sobre política de gênero até 2024 [veja aqui] e o governo Bolsonaro, ao se candidatar para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, omite temas fundamentais como ‘gênero’, ‘tortura’ e ‘migração’ [veja aqui].
Leia a análise sobre a política antigênero do governo Bolsonaro.
No Twitter, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, se refere ao grupo de assessores e funcionários do Partido dos Trabalhadores (PT) que ganhou prêmio da Mega-Sena [1] como ‘tigrada’ [2]. O PT promete afirma que irá processar o Ministro pelo ocorrido [3]. A mensagem é criticada, pois o termo é racista e remete ao passado escravocrata [4]. A expressão refere-se aos escravizados que eram obrigados a carregar tonéis com fezes e urina para despejá-los em local apropriado. O conteúdo, cheio de ureia e amônia, escorria em suas costas formando manchas, por isso, eram chamados de ‘tigres’ [5]. Weintraub empregou o termo anteriormente para se referir a Guiherme Boulos, político que foi candidato à presidência pelo PSOL [6], e continua a utilizá-lo, inclusive na ocasião de sua saída do país ao deixar o Ministério [7] . Em outro episódio relacionado ao vocabulário e conteúdo das falas de Weintraub, em abril de 2020, o Supremo Tribunal Federal acata pedido da Procuradoria Geral da República para investigar o Ministro por crime de racismo devido à publicação sobre chineses no Twitter [veja aqui]. O inquérito foi motivado pela notícia-crime reportada por Vinicius Wu, historiador afro-sino-brasileiro [8]. Em junho de 2020, após a demissão do então Ministro, e consequente perda de foro privilegiado, o processo passa a tramitar na primeira instância [9].
Leia mais sobre expressões racistas da língua portuguesa.
Wilson Witzel (PSC), governador do estado do Rio de Janeiro, afirma que a política de segurança do estado está no ‘caminho certo’ após lamentar a morte de Ágatha Félix, garota de oito anos que, segundo testemunhas, foi morta por um policial no Complexo do Alemão [1]. A declaração se dá em coletiva de imprensa, em que o governador também culpa o crime organizado pelo ocorrido [2]. Três dias depois, Witzel baixa decreto que retira o critério que considera a diminuição de ‘óbitos por intervenção policial’ de sistema para cálculo de bônus salarial de policiais civis e militares [3]. Vale lembrar que no mês de abril Witzel afirmou não ter críticas à atuação das Forças Armadas ao alvejarem carro de músico com 80 tiros [veja aqui]. Entidades da sociedade civil [4] e internacionais [5] denunciam o fato e partidos denunciam a política de segurança pública de Witzel ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) [6]. O presidente Jair Bolsonaro não se pronuncia sobre a morte da menina [7] e o ministro Augusto Heleno, da Segurança Institucional, afirma que somente o governador precisa se manifestar e não o presidente [8]. Em novembro, a Polícia Civil indicia um cabo por homicídio doloso pela morte da menina [9]. Em 03/12/19 o Ministério Público apresenta denúncia [10] e poucos dias depois o policial vira réu [11]. No ano seguinte, após o aumento da violência policial e mais mortes de crianças na pandemia da covid-19 [veja aqui], o Supremo Tribunal Federal (STF) suspende as operações policiais em favelas no Rio de Janeiro [veja aqui].
Leia análises sobre o caso e cenário de policiais no país, terrorismo de estado e o caso, a impunidade nas operações da Polícia, a situação das crianças no Complexo do Alemão e governadores e segurança pública.
O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) quebra placa com charge do cartunista Latuff que denuncia a violência policial contra a população negra e compõe exposição em homenagem ao Dia da Consciência Negra no Câmara dos Deputados [1]. A composição era formada pela imagem de um policial que acabara de atirar em um jovem negro algemado e pela frase ‘genocídio da população negra’ [2]; e ainda afirmava que os negros são as principais vítimas da ação letal da polícia e o perfil predominante nas prisões [3]. O deputado argumenta: ‘Eles fizeram o protesto deles, eu fiz o meu. O cartaz era nitidamente ofensivo aos policiais do país’ [4] e finaliza afirmando que ‘a gente precisa colocar limites nas coisas’ [5]. Nas redes sociais, Tadeu publica imagem em defesa dos policiais que seriam ‘guardiões da sociedade’ [6]. A charge também foi criticada por outros deputados pertencentes à ‘bancada da bala’ [7]. No entanto, a maioria dos deputados repudiam a ação de Tadeu, acusam-no de racismo e afirmam que irão representar no Conselho de Ética da Câmara [8]. Latuff afirma que o parlamentar está promovendo a censura [9]. Questionado sobre os acontecimentos, o Presidente Jair Bolsonaro afirma que não irá comentá-los e o Palácio do Planalto não marca nenhuma cerimônia de celebração para o dia da Consciência Negra [veja aqui] [10]. Em dezembro, o Conselho de Ética da Câmara instaura processo contra Tadeu [11]. Em outros momentos, Bolsonaro [veja aqui] e o Ministro da Educação [veja aqui] utilizam expressões racistas e o presidente da Fundação Palmares afirma que não há ‘racismo real’ no país [veja aqui].
Ouça os podcasts sobre o passado e presente da consciência negra e a relação entre racismo e violência policial. E leia as análises sobre como democracias fortes controlam suas forças policiais e como a violência policial constitui uma política do Estado brasileiro. Veja também infográfico com números da violência contra negros no Brasil.
O Palácio do Planalto não marca nenhuma cerimônia para celebrar o dia da Consciência Negra, comemorada no dia 20 de novembro em razão da morte de Zumbi dos Palmares, líder da luta pela igualdade racial no Brasil [1], e o Presidente Jair Bolsonaro não publica nada em suas redes sociais, diferentemente do que fez no Dia da Bandeira e no Dia Internacional da Mulher [2]. Nos governos Temer [3], Dilma [4], Lula [5] e Fernando Henrique [6], a data sempre foi relembrada por iniciativas institucionais do Palácio do Planalto, em discursos dos ex-presidentes ou nas suas redes sociais. No mesmo dia, deputado federal quebra placa com charge que denuncia a violência policial contra a população negra em exposição e Bolsonaro prefere não se manifestar [veja aqui]. Em dezembro, Sergio Camargo, nomeado por Bolsonaro para ocupar a presidência da Fundação Palmares, defende o fim do Dia da Consciência Negra, pois a data promoveria ‘vitimismo e ressentimento racial’ e seria restrita a ‘minorias empoderadas pela esquerda’ [7]. Camargo também já afirmou que não há ‘racismo real’ no Brasil [veja aqui]. Em 2020, Camargo ironiza Zumbi e enaltece a data comemorativa da Lei Áurea (13 de maio), que coloca em primeiro plano a princesa Isabel em detrimento de outras personalidades que lutaram pela abolição da escravidão [veja aqui]. Em outros momentos, Bolsonaro [veja aqui] e o Ministro da Educação [veja aqui] utilizam-se de expressões racistas.
Leia mais sobre o que é consciência negra e sobre o Dia da Consciência Negra e veja documentário sobre o tema; ouça também sobre o passado e presente da consciência negra.
O Governo Federal nomeia Sérgio Camargo como presidente da Fundação Palmares [1], instituição responsável pela promoção e preservação da cultura afro-brasileira e pelo reconhecimento de territórios quilombolas [2]. Camargo, militante bolsonarista, tem postagens afirmando que ‘sente vergonha e asco da negrada militante’ [3] e que não haveria racismo verdadeiro no Brasil [4]. Entidades do movimento negro protestam contra a indicação de Camargo ao cargo [5]. Em 04/12, a Justiça Federal suspende a nomeação de Camargo, decisão que é alvo de recurso [6]. No dia 12/02, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Noronha, suspende a decisão e permite a nomeação de Camargo [7], decisão que é alvo de novo recurso pela Defensoria Pública da União, que afirma que a nomeação de Camargo serviria para causar danos à proteção da igualdade racial [8]. Em 05/08 a Corte Especial do STJ mantém a decisão de Noronha e confirma Camargo na presidência [9]. Já como presidente da Fundação, Camargo ironiza a figura de Zumbi dos Palmares [veja aqui], chama o movimento negro de ‘escória maldita’ [veja aqui] e anuncia decisão de lançar ‘selo não-racista’ para pessoas ‘perseguidas’ pelo movimento negro [veja aqui].
Leia análises sobre o que significa a nomeação de Camargo na agenda do governo, racismo e o governo Bolsonaro, e a sociedade civil diante governo Bolsonaro.
Em ação da Polícia Militar (PM), nove jovens entre 14 e 23 anos são mortos em baile funk que acontecia em Paraisópolis [1]. Segundo versão da PM, a entrada na favela acontece na procura de dois homens que estariam disparando contra policiais em uma moto; os oficiais teriam reagido aos ataques e causado tumulto, que resultou na morte das vítimas [2]. Já na versão de frequentadores do baile e moradores não teriam existido tiros ou moto na festa; a polícia teria encurralado quem estava no baile, o que causou o pisoteamento das vítimas [3]; além disso, eles teriam agredido fisicamente os frequentadores da festa [4]. Investigações posteriores feitas pela Corregedoria da PM, em relatório divulgado em 03/2020, não apontam ações ilegais por parte dos policiais [5]: embora admitam que as mortes foram fruto da ação policial, teriam ocorrido em ‘legítima defesa’ [6]. Ademais, no relatório consta que os pais dos jovens seriam parcialmente responsáveis pelas mortes [7]. João Doria (PSDB), governador do estado, afirma inicialmente que a ‘política de segurança pública não vai mudar’ [8]; entretanto, após divulgação dos relatos e vídeos, muda sua postura e afasta 38 policiais [9], além de prometer que o caso seria acompanhado por uma comissão externa — o que não acontece [10]. Posteriormente, há desentendimentos entre ele e o comandante-geral da PM, o que leva à troca da chefia da tropa [11]. A sociedade civil reage, havendo protestos [12] e críticas de chargistas à violência policial, as quais viram objeto de ação judicial pela Associação de Militares meses depois [veja aqui]. No ano seguinte, a letalidade policial em São Paulo apresenta aumento de 31% nos quatro primeiros meses do ano [veja aqui], além de o número de mortes cometidas por policiais em serviço ter aumentado em11,52% [13]. Em agosto de 2020, o Ministério Público de São Paulo se manifesta no sentido de existirem indícios suficientes para apresentação de denúncia por homicídios dolosos, isto é, com intenção de matar, por parte dos policiais envolvidos na operação. A Promotoria informa que a denúncia deve ser apresentada em no máximo 60 dias [14]. Em junho de 2021, a Polícia indicia 9 policiais por homicídio culposo na ação [15], o caso ainda não está encerrado [16].
Leia análises sobre as últimas horas de vida de uma das vítimas, a política de pressão a bailes funk, o impacto da ação da PM sobre a festa em Paraisópolis, reação da sociedade civil e como a desigualdade pode impactar no modo de atuação da polícia.
O presidente Jair Bolsonaro, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, afirma que o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), que é negro, teria ‘dado uma queimadinha’ ao demorar dez meses para nascer [1]. A declaração de cunho racista foi marcada por tom de brincadeira e risos em conversa com a participação do Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Aludindo ao fato do deputado ter se elegido em 2018 com o nome de ‘Hélio Bolsonaro’, mesmo sobrenome do presidente [2], Bolsonaro ainda afirma que o deputado é seu ‘irmão que demorou a nascer’, e caso contrário ‘ele seria minha cara’ [3]. A declaração se dá dois meses depois da nomeação por Bolsonaro do novo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, para o qual ‘não há racismo real no Brasil’[veja aqui].
Leia entrevista sobre o racismo estrutural no Brasil.
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, baixa portaria [1] que extingue sete órgãos colegiados da organização [2]. A mudança afeta o Memorial Quilombo dos Palmares – que perde seu comitê gestor – e outras comissões relacionadas à governança, à atividade financeira, e à transparência de dados e à sustentabilidade na gestão e logística da Fundação, aumentando o poder de decisão de Camargo sobre tomada de decisões no órgão [3]. Em reação, o movimento negro publica nota de repúdio nas redes sociais, a qual classifica a portaria como ‘autoritária’ e ‘altamente perigosa’ [4]. Comunidades quilombolas também se colocam contrárias a extinção dos conselhos [5]. Segundo ex-funcionário da fundação, Camargo teria tomado a atitude ‘para agradar’ Bolsonaro [6], o qual também extinguiu inúmeros mecanismos de participação da sociedade [veja aqui]. Duas semanas depois, o Partido dos Trabalhadores (PT) apresenta ao Ministério Público Federal (MPF) uma representação contra Camargo, pedindo a abertura de investigações [7]. Vale lembrar que após a indicação de Camargo ao cargo, a Justiça Federal suspendeu sua nomeação dezembro de 2019, decisão que foi revertida em fevereiro pelo Superior Tribunal de Justiça [8]. Ressalte-se, ainda, que Sérgio Camargo diverge de políticas para o combate ao racismo [veja aqui] e se opõe ao movimento negro [veja aqui].
Leia análise sobre como o presidente da Fundação Palmares se contrapõe a políticas raciais e de enfrentamento do racismo